Apocalipse 3. 14-22
Alguns
preferem a independência. O brado de D. Pedro I ecoa até hoje nos lábios de
muitos cristãos – “Independência ou Morte!”. Declaradamente muitos assumiram a
independência de Deus.
O
verbo depender é bem sugestivo. Depender do que? Esta é a pergunta crucial que
deve ser feita. Do que você depende? Onde está a ancora da sua vida? O
que mantêm você firme?
- Será que
somos o que parecemos ser? – [v.17]
· Vivemos de
aparência – Deve
haver uma preocupação com o coração cada vez mais distante, mais abstrato, mais
centralizado naquilo que não é Deus, mais dependente das propagandas e
estímulos religiosos, mais interessado no consumo espiritual do que numa
relação pessoal com Deus [1 Samuel 16.17 – “O
Senhor, contudo, disse a Samuel: “Não considere sua aparência nem sua altura,
pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o
Senhor vê o coração”].
· As pessoas
aparentam ser felizes, mas são infelizes – O medo, a ansiedade e a solidão são os
sentimentos mais comuns numa sociedade tecnológica, individualista e
burocrática. São mais comuns porque substituímos a intimidade pela tecnologia,
acreditamos mais na burocracia do que nas pessoas e vamos nos tornando mais
individualistas e menos afetivos. Diante deste quadro, o medo de amar, de não
ser amado, do abandono, da traição, da morte e do fracasso intensificam-se, a
ansiedade cresce e a solidão torna-se nossa companheira.
· Aparenta ser
rico, mas é miserável – O ateu crente é o que mais que cresce entre nós. Ele vai à igreja,
canta, ora e chega até a contribuir. É religioso e gosta de conversar sobre os
temas da religião. Contudo, a relevância de Cristo, sua morte e ressurreição
para a vida e a devoção pessoal é praticamente nula. O ateu moderno não é mais
somente aquele que não crê, mas aquele para quem Deus não é relevante.
· Aparenta ter
uma boa visão, mas é cego – Hoje, o ateu não é mais aquele que não crê, mas aquele que não
encontra relevância para Deus na sua rotina. O novo ateísmo não precisa negar a
fé; apenas cria substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do
seu Salvador.
· Aparenta usar
uma roupa fina e moderna, mas está nu
Até que ponto a nossa vida é real?
- Deus
sendo substituído pelas coisas – [v.17 “não preciso de
nada”]
·
Não será que vivemos numa era do determinismo
tecnológico?
A tecnologia cria brinquedos que nos afastam da incoveniente presença de
pessoas. É o lazer virtual. Não precisamos mais de um parceiro para jogar xadrez,
tênis ou baralho: o computador faz isto com diferentes graus de dificuldade,
permitindo até que você se irrite sem ofender alguém.
Jacques Ellul reconhece brilhantemente que a sociedade tecnológica vem
substituindo a intimidade pela tecnologia. As máquinas, computadores,
televisores e meios de comunicação vão substituindo as conversas de sala, o
convívio da cozinha, o contato físico.
Não podemos ser tecnólotras e muito menos tecnofóbicos.
- Os riscos da
independência de Deus – [vv.15-16]
· Doença
do século é a solidão – Deus nos criou, homem e mulher, à sua imagem e semelhança. Noutras
palavras, fomos criados por Deus para, na semelhança com ele, nos
relacionarmos, viver em comunhão. Intimidade é o nome que damos para esta forma
de relacionamento.
·
O
modo de viver é baseado no reflexo e não por reflexão – Para suprir a necessidade intrínseca da nossa
humanidade na busca por intimidade, esta mesma sociedade que impõe sobre nós o
medo, a ansiedade e a solidão usa os recursos da tecnologia, criando uma
intimidade impessoal e ilusória. Os programas mais procurados na televisão são
àqueles que expõem a intimidade de pessoas anônimas ou famosas. As revistas que
mostram a intimidade da casa de uma personalidade, que descrevem os ambientes
mais aconchegantes e mostram os cenários privados criam em nós a falsa sensação
de intimidade.
· Temos
a nova “onda” de mais crentes e menos discípulos – Tornamo-nos mais dependentes de nós do que de
Deus, acreditamos mais na eficiência do que na graça, buscamos mais a competência
do que a unção, cremos mais na propaganda do que no poder do evangelho. Tenho
ouvido falar de igrejas que são orientadas por profissionais de planejamento
estratégico. Estudam o perfil da comunidade, planejam seu desenvolvimento,
arquitetam seu crescimento e, de repente, descobrem que funcionam, crescem, são
eficientes, e não dependem de Deus para nada do que foi planejado. Com ou sem
oração a igreja vai crescer, vai funcionar. Deus tornou-se irrelevante. Tornamo-nos ateus
crentes.
· Os valores e
decisões são estímulos externos e não internos – Como reação, tentamos criar alguma forma
de intimidade, mas não sabemos fazer isto, a não ser através de novas técnicas.
Precisamos de técnicas para um desempenho sexual mais satisfatório, de um
manual que nos ensine os dez passos para conquistar uma pessoa, técnicas para
uma boa amizade, para uma vida de oração, para um testemunho cristão eficaz, para
ter um matrimônio perfeito, criar filhos felizes e obedientes, passos de como
conseguir a plenitude do Espírito Santo e muitos outros “como fazer” que
entopem as prateleiras das livrarias e o cardápio dos congressos. A sociedade
moderna vem criando os métodos e as técnicas que reduzem nossa necessidade de
Deus, a dependência dele e a relevância da comunhão com ele.
- Qual é a
ilusão da tecnologia? – [v.17]
Presumimos que:
o
Se temos boa música, temos verdadeira adoração.
o
Se temos bons projetos, temos uma missão.
o
Se temos boa estrutura eclesiástica, temos uma boa igreja.
o
Se temos uma boa equipe de formação acadêmica e intelectual, temos uma
boa funcionalidade e eficiência nos trabalhos da igreja.
Este é um novo quadro que começa a ser pintado nas igrejas cristãs. Saem
de cena os grandes heróis e mártires da fé do passado e entram os apáticos e
acomodados cristãos modernos. Aqueles cristãos que entregaram suas vidas à
causa do Evangelho, que deixaram-se consumir de paixão e zelo pela Igreja de
Cristo, que viveram com integridade e honraram o chamado e a vocação que
receberam do Senhor, que sofreram e morreram por causa de sua fé, convicções e
amor a Cristo, fazem parte de uma lembrança remota que às vezes chega a nos
inspirar.
Jesus apresenta uma lista de conselhos para que sua igreja siga – [v.18 –
“Dou-lhe este conselho”]
- Ouro
refinado
(puro) – Significa fé.
o
O que significa viver pela fé numa sociedade informatizada, tecnológica e
globalizada?
o
As dinâmicas da vida tem as suas surpresas.
o
Sem fé não é impossível operar milagres. Sem fé é impossível agradar a
Deus [Hebreus 11.1].
o
Agradar a Deus é viver como Cristo viveu.
- Roupas
brancas
– Significa santidade.
o
Santidade como separação e contraste.
o
A roupa revela uma nova identidade.
o
Uma nova roupa testifica que somos sal (preservação) e luz (revelação) do
mundo.
o
Na troca da roupagem duas coisas estão em foco:
1.
A vida não é contida. Somos o reflexo daquilo que amamos.
2.
As convicções não são suficientes para confirmar o discipulado com
Cristo.
- Colírio – Significa visão do
Espírito Santo.
o
O Espírito Santo deve nos conduzir a verdade.
o
Os recursos desta sociedade produzem ilusão e maquia a realidade.
o
A visão do Espírito Santo é importante para nos tirar da Disneylândia da
fé.
o
O “espírito deste século” produz uma visão deturpada do sucesso,
segurança e prazer.
o
A visão do Espírito Santo nos leva a enxergar os acontecimentos à luz da
eternidade.
A sutileza do novo ateísmo é que ele não precisa negar a fé, apenas cria
substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do seu Salvador.
Este ateu está muito mais presente entre nós do que imaginamos.