terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

A cultura carioca e a Bíblia

É de causar esponto dentro da realidade atual, que o cartão postal do Brasil, seja a cidade mais hospitaleira e receptiva do mundo, de acordo com as pesquisas.
A cultura carioca tem tudo de bom, como diz o dialeto popular. É impressionante o carisma, o bom humor, o sorriso e descontração do carioca. É quase que impossível um carioca não fazer piada da realidade que o cerca, aliás, ele faz piada de tudo que acontece na vida, tanto dele quanto de outros.

Quando Jorge Ben Jor diz que o Rio de Janeiro continua lindo, não é simplesmente da beleza que contém, mas sim do aprimoramento que o carioca concede a esta beleza.
Não somos conhecidos meramente pelo samba, mulatas, futebol e carnaval, mas pelo jeito descontraído de viver.

O turismo tão presente no Rio é pela alegria que os cariocas transmitem aos seus visitantes.
Passear no calçadão de Copacabana, Ipanema e Barra da Tijuca, coisas que já fiz e adorei, não é a satisfação de contemplar somente a criação deste Deus tão glorioso, mas de poder olhar para o carioca e verificar que independente das guerras nos morros, das balas perdidas e dos constantes assaltos, ele podem sorrir, entrar no mar e ao sair com a alma lavada, não digo no sentido de salvação, mas uso termo popular, ele renasce para enfrentar o corre-corre do dia a dia.

Mas o que tem haver esta cultura carioca com a Bíblia? A Bíblia nos chama em Filipenses para sempre nos alegrarmos no Senhor. Você pode sair na rua e encontrar um carioca mesmo o cara estando desempregado, o fato de mora em uma favela perigosíssima, você então pergunta – E aí como você está? Ele responde tudo bem graças a Deus, e vai ficar melhor por meio dele. Eu já cansei de ouvir isto.
Fui à casa de uma pessoa, que por sinal é carioca, enquanto ela não compartilhava tudo o que tinha comigo, ela não descansou. Queria que eu comesse tudo, e como um bom seminarista não recusei. É a proposta central de Atos – é o bem comum – assim como os reformados vivem.

E o que dizer quando o apóstolo Tiago não orienta a confessarmos os nossos pecados uns para os outros. Isso acontece quase que direto comigo. Eu não conheço a pessoa, nunca vi tão magro e nem tão gordo, a pessoa chega e começa a desabafar-se, ela conta a sua vida toda para uma pessoa que ela nunca viu na vida.

Os cariocas preservam tanto a comunhão, que o incrédulo aceita o convite de ir à igreja com o seu amigo, por medo de perder a amizade. Isso é cristianismo dentro da cultura carioca. Não percebemos isto, e muitos não aceitam, por ser uma cultura também muito promiscua, mas o conceito de criação, queda, restauração e redenção estão presentes na cultura carioca.

Um dos grandes problemas que as igreja cariocas enfrentam e este é motivo que elas não crescem, é de não aproveitarem o jeito de o carioca ser e implantar na igreja. Não estou afirmando para comungarmos dos conceitos pecaminosos desta cultura, mas aquilo que ela apresenta de valores cristãos.

Algo de interessante é que os cariocas estão muito longe de serem influenciados pela teologia liberal, por enquanto. Cada dia mais cresce igrejas evangélicas no estado do Rio, não quero entrar nos méritos de qualidade da igreja e nem a sua teologia, mas a cada dia cresce o número de pessoas que se filiam a uma igreja evangélica, não houve esta ruptura com o sagrado. Uma outra abordagem da teologia liberal que foi manifesta, é a visão pessimista da realidade. É por isto que percebo que esta teologia não ganhará força no solo carioca, porque digo isto? Como mencionei acima, os cariocas têm uma visão de futurística. Para o carioca o presente tanto quanto o futuro nos reservam uma melhora, uma tranqüilidade, uma reorganização do caos, o que podemos chamar de restauração com a implantação do reino de Cristo, ou os efeitos da vitória de Cristo na cruz que são derramados no coração daqueles que tem fé. Como dizia Lutero com respaldo bíblico, que a salvação é pela fé e a esperança está intrinsecamente ligada com a fé. Ora, isto é que está presente na vida do carioca. A banda Jota Quest expressou isto muito bem em uma canção que diz – “Vivemos esperando o dia em que seremos melhores... melhores no amor, melhores na dor...melhores em tudo”. Porque nós esperamos isto? Porque de alguma forma cremos que um dia não haverá mais lágrimas, mais dor, mais sofrimento, um dia tudo cessará. Estamos na espera deste dia, desde quando nascemos.

Preciso ressaltar aqui que somos completamente influenciados pela cultura portuguesa e africana, que embora esteja geograficamente no continente europeu, onde se desenvolveu toda a cultura e teologia liberal, os portugueses nem querem saber disto. Tanto é que outro fator que marca a Europa são as guerras – Alemães, Ingleses e Espanhóis são os que gostam de guerras, mas os portugueses preferem o comercio e as festas. Os africanos são felizes, embora com todas as guerras civis que enfrentam, eles conseguem cantar e viver alegres. E quando olhamos para o Rio de Janeiro, o que mais temos são a divulgação do comércio e as constantes festas.

O carioca como um bom brasileiro é da paz, que é outro princípio bíblico. A nossa cultura consegue trabalhar com pensamentos diferentes. Vamos pensar na funcionalidade desta cultura – Flamenguista senta tranquilamente com Vascaíno.

Um ponto importante é que no estado do Rio de Janeiro existe uma constante presença de outras culturas e raças, isto em outros ambientes de inter-relação de grupos distintos é uma relação de atritos e distanciamentos, mas aqui no Brasil e principalmente no Rio damos um jeito. Existe uma amálgama de inter-relacionamento no Brasil que não está presente em nenhum outro lugar. De fato, a nosso cultura é peculiar, não o simples fato de sermos da América Latina, nós somos diferentes. Por isto, o carioca é o cara mais gente boa da realidade brasileira, ele vive um relacionamento pessoal tranquilamente.

Precisamos de uma releitura da realidade. Se quisermos ganhar o povo carioca para Cristo, é preciso ver o que este povo já tem de Cristo. Se quisermos ver a igreja cheia, precisamos então, colocar em prática o jeitão carioca de ser, no bom sentido, para alcançá-los falando a mesma linguagem, não no método de Michael Focault que dizia que a linguagem não é um meio de comunicar informações, mas de ditá-las e de convencer quem nos ouve, mas de trocar informações e aprender com esta cultura tão rica e valiosa na qual estamos inseridos, e mostrar para os cariocas que eles têm e muito dos princípios bíblicos na sua cultura.

A marca da esperança é presente no brasileiro-carioca, enquanto que em outros países, o cara consegue abandonar toda esperança de vida e se senta em uma praça e começa a usar drogas, como no caso da Suíça e Holanda, enquanto que no Brasil temos um grande slogan que é digno de nota dez – “Sou brasileiro, não desisto nunca”. Isto é marca da perseverança dos santos permeando a nossa cultura. Vejamos bem, o cara ganha pouco, vive numa pindaíba imensa, pega ônibus lotado e às vezes o mesmo ônibus é assaltado, cheio de dificuldades, o país cheio de problemas na política, e aí você chega e diz – e aí leque, qual é? E ele diz - tranqüilidade brother. Somente um maluco diz isto. É a nossa perspectiva bíblica que não queremos assumir, é que nos faz dizer – não fica triste não, tudo vai melhorar, tudo vai dar certo. A bela canção diz – “A vida vai melhorar, a vida vai melhorar”. É a injeção escatológico do primeiro século aplicada na cultura carioca-brasileira, que independente de tudo de ruim que estava acontecendo, a fé era o que fazia a igreja acreditar que tudo iria melhorar.

Portanto, devemos reconsiderar a nossa cultura e olharmos para ela com o prisma bíblico e cristalino do cristianismo que não é etnocêntrico, mas que valoriza e retira o que tem de bom na cultura.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sei que o texto já é antigo, contudo só o alcancei hoje e me identifiquei com cada linha. Parabéns! Peço permissão para colocá-lo em meu blog (carabemestranho.blogspot.com) com a devida referência, é claro!