Augustus Nicodemus
Estou surpreso com o recrudescimento do liberalismo teológico em nosso país. Na Europa onde nasceu, o método histórico-crítico, a hipótese documentária quanto à formação do Antigo Testamento, as críticas da fonte e literária, foram há muito abandonadas, embora substituídas por métodos e perspectivas igualmente perniciosas para a fé evangélica. Aqui no Brasil todavia, as idéias de Wellhausen, Strauss, Bultmann e um monte de alemães do século passado continuam a ser ensinadas nos seminários e escolas de teologia como se fossem a última novidade, a expressão máxima da “exegese científica”. O que é de estranhar, pois liberais sempre detestaram coisas antigas e sempre defenderam que cada geração deve fazer sua própria teologia.
Acredito que a difusão do velho liberalismo aqui em nossas terras se deve em primeiro lugar ao pentecostalismo, que providenciou a clientela para os cursos de teologia e ciências da religião moribundos e deficitários das denominações evangélicas históricas e das universidades públicas. Após terem crescido e conquistado o Brasil, pentecostais e neopentecostais resolveram estudar – e à semelhança de Israel no passado, que adorava os deuses dos povos conquistados por ele, foram buscar os mestres, os cursos e os livros das denominações evangélicas numericamente inexpressivas, sem se perguntar por que elas estavam se esvaziando no decorrer dos anos.
A possibilidade de reconhecimento pelo MEC dos cursos de teologia dos seminários maiores das denominações aumentou ainda mais a procura pelos estudos formais. Pastores e obreiros evangélicos passaram a ser instruídos por professores de teologia que nunca foram pastores de igrejas, nunca cuidaram de almas, e que não tinham o menor escrúpulo em acabar com a “fé inocente” dos que acreditavam em tudo que a Bíblia dizia.
Não sou contra a educação teológica – acho que nem precisava dizer isso, depois de ter obtido três graus na área de teologia, escrito mais de uma dezena de livros acadêmicos, ensinado em escolas de teologia e universidade e ter sido diretor de seminário e de uma escola de pós-graduação em teologia. Todavia, sou contra a propaganda enganosa feita pelos adeptos do método histórico-crítico de que o mesmo é científico; sou contra a premissa deles de que para realmente entendermos a Bíblia temos de nos livrar do pressuposto da fé; sou contra a representação falaciosa que fazem dos conservadores, como idiotas e burros sem capacidade intelectual; sou contra a zombaria e escárnio deles contra a doutrina da inspiração, infalibilidade e inerrância das Escrituras; sou contra a hipocrisia dos que não acreditam em nada e que aos domingos, para manter um emprego em uma igreja, pregam como se a Bíblia fosse a Palavra de Deus.
As coisas nem sempre acontecem da mesma forma em todos os lugares. Se acontecessem, não seria difícil profetizar quanto ao futuro do evangelicalismo brasileiro, a continuar como vai, e na direção que vai: a secularização das escolas de teologia e a morte de suas igrejas.
Todavia, tenho esperança, pois ao mesmo tempo em que o liberalismo teológico penetra profundamente nos maiores grupos evangélicos, cresce o interesse de outros desses grupos pela fé reformada. Nunca houve tanta demanda e tanta procura da parte dos evangélicos por livros, sermões, eventos e material reformado como hoje. A semeadura do trigo irá de alguma forma contrabalancear aquela do joio. Essa é a minha oração.
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