quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O Coma Andante - Não há ambigüidade: Fidel é um dos maiores assassinos da história...

Por Reinaldo Azevedo


Tenho um pouco de vergonha da minha profissão. Com as exceções de sempre e de praxe, afirmo de modo categórico: está tomada por pusilânimes, por idiotas, por cretinos incapazes de escolher entre o bem e o mal, entre a democracia e a ditadura, entre a vida e a morte. Li, quero crer, tudo o que a imprensa relevante publicou, no Brasil e no mundo, a respeito da renúncia de Fidel Castro, que deixou formalmente a presidência de Cuba, depois de uma ditadura de 49 anos. Não fiz uma contabilidade, mas creio que 90% dos textos apelam a uma covardia formidável: seu legado seria ambíguo; Fidel nem é o herói de que falam as esquerdas nem o facínora apontado pela direita. Até parece que ele é apenas um objeto ideológico sujeito a interpretações. Não por acaso, esquece-se de abordar, então, o seu legado segundo o ponto de vista da democracia.

A mais estúpida de todas as leituras é aquela que poderia ser assim sintetizada: “Fidel liderou uma ditadura, mas melhorou os índices sociais”. Isso que parece ingênuo, de uma objetividade crua e descarnada de qualquer ideologia, é, de fato, uma impostura formidável; aí está a fonte justificadora do mais assassino de todos os regimes políticos jamais inventados pela humanidade. A ditadura comunista viria, assim, embalada pelo mito da reparação social: "Não se tem liberdade, mas, ao menos, há saúde e educação para todos". Pergunto: uma ditadura de direita, então, se justificaria segundo esses mesmos termos?

Mas atenção! Não se trata apenas de criticar esse postulado indecente que aceita trocar liberdade por conquistas sociais. O milagre social da revolução cubana foi criado em cima de mentiras objetivas. Em 1952, Cuba tinha o terceiro PIB per capita da América Latina. Em 1982, estava em 15º lugar, à frente apenas de Nicarágua, El Salvador, Bolívia e Haiti. A fonte? La Lune et le Caudillo, de Jeannine Verdes-Leroux. O livro, de 1989, tem o sugestivo subtítulo de “O sonho dos intelectuais e o regime cubano”. Estuda como se implantou e consolidou o regime comunista no país entre 1957 (a revolução é de 1959) e 1971. Não foi só essa mentira. Ao chegar ao poder, Fidel afirmou que 50% da população da ilha era analfabeta. Mentira! Em 1958, a taxa era de 22%, contra 44% da população mundial.

Um ano depois da revolução, já não havia mais no governo nenhum dos liberais e democratas que também haviam combatido a ditadura de Fulgêncio Batista. Tinham renunciado ao poder, estavam exilados ou mortos. Logo nos primeiros dias da revolução, antes mesmo que se explicitasse a opção pelo comunismo, Fidel e sua turma executaram nada menos de 600 pessoas. Em 1960, pelo menos 50 mil pessoas oriundas da classe média, que haviam apoiado a revolução, já haviam deixado Cuba. Três anos depois, 250 mil. A Confederação dos Trabalhadores Cubanos, peça-chave na deposição do regime anterior, foi tomada pelos comunistas. Em 1962, imaginem, a CTC cobra de Fidel a “supressão do direito de greve”!!! O principal líder operário anti-Batista, que ajudou a fazer a revolução, David Salvador, foi encarcerado naquele ano.

Só nos anos 60, o regime de Fidel fuzilou entre 7 mil e 10 mil pessoas. Caracterizá-lo como um assassino não é uma questão de gosto, mas de fato; não se trata de tomar essa característica como parte de seu legado supostamente ambíguo. Não há nada de ambíguo em fuzilar 10 mil. É coisa de facínora. Como é incontroverso que ele e seu amiguinho, o Porco Fedorento Che Guevara, criaram campos de concentração na ilha, os da UMAP (Unidade Militar de Apoio à Produção), formados por prisioneiros políticos, que chegaram a 30 mil!!! Ali estavam religiosos, prostitutas, homossexuais, opositores do regime, criminosos comuns... Os movimentos gays, que costumam ser simpáticos à esquerda, deveriam saber que a Universidade Havana passou por uma depuração anti-homossexual. Isso mesmo. Em sessões públicas, os gays eram obrigados a reconhecer seus “vícios” e a renunciar a eles. As alternativas eram demissão e cana (em sentido literal e metafórico).

Segundo O Livro Negro do Comunismo, desde 1959, estima-se em 100 mil o número de pessoas que passaram pela cadeia ou pelos “campos” de reeducação no país. Os fuzilamentos são estimados entre 15 mil e 17 mil pessoas.

Quando Fidel fez 80 anos, escrevi neste blog o seguinte:

Em 1961, estima-se que Cuba tivesse 6,5 milhões de habitantes. Nada menos de 50 mil já tinham fugido da ditadura para o exílio. Ou seja: 0,77% da população. Isso não impediu, é claro, que José Dirceu fosse buscar abrigo na ilha quando veio o golpe militar. Ali ganhou uma nova cara e consta que treinou guerrilha — há quem diga que nunca deu um tiro. Em 1964, o Brasil tinha 80 milhões. Se os militares tivessem feito aqui o que o ditador cubano fez lá, nada menos de 616 mil brasileiros teriam ido embora. Cuba tem hoje 11 milhões de habitantes. Desde 1959, foram executadas na ilha 17 mil pessoas — não se sabe quantas morreram nas masmorras. Só os reconhecidamente executados são 0,154% da população. Postos os números em termos brasileiros, dada uma população atual de 180 milhões, os mortos seriam 277.200. Só nos primeiros cinco meses da revolução, foram sumariamente executadas 600 pessoas (0,0092% da população). É pouco? No Brasil de 1964, isso significaria 7.360 mortes logo de cara.
Os 21 anos de ditadura militar brasileira mataram, em números superestimados, 424 pessoas, incluindo os guerrilheiros do Araguaia. Desse total, por razões comprovadamente políticas, foram 293 pessoas. Os números sobre o Brasil estão no livro Dos Filhos Deste Solo, do petista e ex-ministro de Lula Nilmário Miranda. Em Cuba, de 1959 para cá, passaram por prisões políticas 100 mil pessoas (0,9% da população atual). Em Banânia, isso representaria 1.620.000 pessoas. Essa é a democracia que um grupo de petistas estava — ou está — se preparando para saudar no próximo dia 13 de agosto, quando Fidel faz (ou faria) 80 anos, 47 dos quais à frente de uma das ditaduras mais fechadas e sanguinárias no planeta. Mais detalhes no texto A América Latina e a Experiência Comunista, de Pascal Fontaine, que integra O Livro Negro do Comunismo – Crimes, Terror e Repressão (Editora Bertrand Brasil), recebido com um silêncio covarde e cúmplice por aqui. E também em Loué Soient nos Seigneurs, de Régis Debray (Editora Gallimard), que conheceu de perto, em Che Guevara, parceiro de Fidel, “o ódio eficaz que faz do homem uma eficaz, violenta, seletiva e fria máquina de matar”.
Nota: ainda hoje, as prisões cubanas são um exemplo acabado da degradação humana. A totalidade dos presos de Fidel preferiria, sem sombra de dúvidas, dividir celas com os terroristas de Guantánamo. Mas o mundo, claro, acha Bush um bandido e pára quando discursa o ditador de opereta."

Então...
Viram só? Por que os nossos ditadores, que não passam de soldadinhos de chumbo perto da máquina de matar que foi Fidel Castro, também não têm reconhecida a sua herança ambígua, não é mesmo? Já imaginaram. “Há quem diga que o general Emílio Médici foi um ditador, mas, para alguns, foi um verdadeiro herói...” Não! Isso os nossos jornalistas isentos jamais dirão.

Lembram-se daquela reação canalha à matéria de VEJA que evidenciava, com fatos, que o porco fedorento Che Guevara era um assassino? Pois é. Até hoje, há vagabundo que ainda a cita como exemplo de “falta de equilíbrio e de isenção”.

Cobram de nós a isenção diante de um dos maiores assassinos da história.

PS: No alto deste texto, vocês vêem um quadro, publicado pela VEJA em 20 de dezembro de 2006, com os mortos por 100 mil de algumas ditaduras. Os números de Cuba, do Arquivo Cuba, estao subestimados. Outras apurações independentes (leiam acima) apontam que o número de mortos está entre 15 mil e 17 mil. Mesmo assim, vejam lá, a ilha do Coma Andante é líder absoluta no campeonato na morte.

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