No período em que cursei o seminário teológico deparei-me com um divórcio incabível – teoria x prática. Alguns pensavam muito bem teologicamente, mas a vida não estava coadunada com o conhecimento. Assim agia eu também. Sendo que o pensamento influencia o viver. Uma pessoa que tem convicções bem definidas e as defende e não põe em prática, essa pessoa sofre de algum desvio mental, doutrinário, intelectual ou espiritual. De qualquer forma, não entendo a separação da vida com a mente. Quando o conhecimento é saudável ele não gera dificuldades na sua exposição. Portanto, o bom conhecimento é tranqüilamente transmissível por intermédio de uma vida coerente.
Conheci um professor no seminário que escreveu um livro assim chamado: “Teologia Para que?”. Por que estudar teologia? Tem algum propósito nisso? Ela tem algum significado? Se o estudante de teologia não vê propósito nela, não há razão de estudá-la. Se cursar teologia para depois jogar tudo fora, também não houve significado algum no tempo perdido. Lembro-me das palavras de alguns colegas que diziam – para que vou usar a teologia no ministério? Isso não servirá de nada outros diziam.
Existe um problema de reduzir este estudo tão rico ao ambiente acadêmico. A teologia se aplica a cada área da vida. O teólogo haverá de responder questões complexas, delicadas e dolorosas da vida. Em outros momentos haverá de se calar. Mas como compreender esta dinâmica? Não se pode desperdiçar algo que é capaz de mexer com as entranhas do ser humano.
O problema pode estar no fato de que muitos reduzem o estudo teológico para os chamados grandes pensadores. O pastor deve ser um exímio teólogo. As suas pesquisas devem ser usadas. Os seus tratados devem ser aplicados. As pessoas carecem disso. A vida pede isso. Por isso, resolvi pontuar algumas convicções que devem ser aplicadas e compreendidas na teologia prática. A teologia tem a sua razão de ser. A teologia é assim entendida por mim:
Teologia como experiência de vida
A minha pequena caminhada de estudos levou-me a refletir o grande desafio da integração entre teoria e prática. Esta convicção se deve ao fato de que minhas experiências práticas tenham sido em contextos em que a vida não estava presente. Passei por alguns estágios na graduação de teologia com pessoas de nível social desfavorecidas. Freqüentei casas que não pode receber o nome de lar. Tinha que levar uma palavra de vida e esperança. Pessoas que dividiam o espaço com as suas próprias fezes. Certa feita, num enterro, eu tive que reconhecer o corpo no IML (situação horrível). Depois tive que vestir o cadáver (situação complicada e fora dos padrões higiênicos). Foi nesse ambiente – "morte-vida" – que comecei a entender o propósito rico da teologia. Ouvia várias experiências de pessoas que eram capazes de sonhar independente da condição de extrema limitação. Outros tinham perdido famílias em acidentes drásticos. Na grande maioria havia traços de doenças psiquiátricas que se misturavam com demandas espirituais. Em outro momento conheci casos de vários jovens que foram mortos pelo tráfico.
A convivência com este binômio "morte e vida" parece interminável. As experiências fazem com que a teologia se torne viva. São exatamente esses momentos difíceis que trazem a reflexão necessária – como a graça de Deus pode dar sentido a tudo isto? Perguntas infindáveis surgem. A leitura sobre a vida e a teologia de homens como Martinho Lutero, William Cowper, David Brainerd, Karl Barth, Dietrich Bonhoeffer e C.S. Lewis foram à ferramenta de Deus para modelar a minha prática teológica, pastoral e educacional numa teologia que além de exalar vida tenha a própria vida como experiência.
Teologia como experiência de paixão
No período dos meus estudos e no meu envolvimento com as pessoas e com a igreja de Cristo, uma descoberta de caráter singular em minha vocação veio à tona: não consigo amar pela metade. O contexto da dor é capaz de deixar marcas indeléveis na vida. Isso faz com que o amor seja mais profundo. De fato o amor é fonte de cura. O combate ao ódio, inveja, ciúmes, rancor e amargura está no poder avassalador do amor. Algo que aprendi e me fez crescer é que em algum momento as palavras e as formulações teológicas irão faltar. Descobri então neste momento de falta de respostas que o amor é necessariamente suficiente.
Uma vez que você se lança e se entrega à vida algo das pessoas passa a fazer parte da sua vida. Principalmente quando se sofre com que sofre. O grande teólogo Santo Agostinho de Hipona, através de suas "Confissões", revela que teologia, paixão e amor deveriam andar de mãos dadas.
Teologia como experiência de Silêncio e de Mistério
Conheci um professor no seminário que escreveu um livro assim chamado: “Teologia Para que?”. Por que estudar teologia? Tem algum propósito nisso? Ela tem algum significado? Se o estudante de teologia não vê propósito nela, não há razão de estudá-la. Se cursar teologia para depois jogar tudo fora, também não houve significado algum no tempo perdido. Lembro-me das palavras de alguns colegas que diziam – para que vou usar a teologia no ministério? Isso não servirá de nada outros diziam.
Existe um problema de reduzir este estudo tão rico ao ambiente acadêmico. A teologia se aplica a cada área da vida. O teólogo haverá de responder questões complexas, delicadas e dolorosas da vida. Em outros momentos haverá de se calar. Mas como compreender esta dinâmica? Não se pode desperdiçar algo que é capaz de mexer com as entranhas do ser humano.
O problema pode estar no fato de que muitos reduzem o estudo teológico para os chamados grandes pensadores. O pastor deve ser um exímio teólogo. As suas pesquisas devem ser usadas. Os seus tratados devem ser aplicados. As pessoas carecem disso. A vida pede isso. Por isso, resolvi pontuar algumas convicções que devem ser aplicadas e compreendidas na teologia prática. A teologia tem a sua razão de ser. A teologia é assim entendida por mim:
Teologia como experiência de vida
A minha pequena caminhada de estudos levou-me a refletir o grande desafio da integração entre teoria e prática. Esta convicção se deve ao fato de que minhas experiências práticas tenham sido em contextos em que a vida não estava presente. Passei por alguns estágios na graduação de teologia com pessoas de nível social desfavorecidas. Freqüentei casas que não pode receber o nome de lar. Tinha que levar uma palavra de vida e esperança. Pessoas que dividiam o espaço com as suas próprias fezes. Certa feita, num enterro, eu tive que reconhecer o corpo no IML (situação horrível). Depois tive que vestir o cadáver (situação complicada e fora dos padrões higiênicos). Foi nesse ambiente – "morte-vida" – que comecei a entender o propósito rico da teologia. Ouvia várias experiências de pessoas que eram capazes de sonhar independente da condição de extrema limitação. Outros tinham perdido famílias em acidentes drásticos. Na grande maioria havia traços de doenças psiquiátricas que se misturavam com demandas espirituais. Em outro momento conheci casos de vários jovens que foram mortos pelo tráfico.
A convivência com este binômio "morte e vida" parece interminável. As experiências fazem com que a teologia se torne viva. São exatamente esses momentos difíceis que trazem a reflexão necessária – como a graça de Deus pode dar sentido a tudo isto? Perguntas infindáveis surgem. A leitura sobre a vida e a teologia de homens como Martinho Lutero, William Cowper, David Brainerd, Karl Barth, Dietrich Bonhoeffer e C.S. Lewis foram à ferramenta de Deus para modelar a minha prática teológica, pastoral e educacional numa teologia que além de exalar vida tenha a própria vida como experiência.
Teologia como experiência de paixão
No período dos meus estudos e no meu envolvimento com as pessoas e com a igreja de Cristo, uma descoberta de caráter singular em minha vocação veio à tona: não consigo amar pela metade. O contexto da dor é capaz de deixar marcas indeléveis na vida. Isso faz com que o amor seja mais profundo. De fato o amor é fonte de cura. O combate ao ódio, inveja, ciúmes, rancor e amargura está no poder avassalador do amor. Algo que aprendi e me fez crescer é que em algum momento as palavras e as formulações teológicas irão faltar. Descobri então neste momento de falta de respostas que o amor é necessariamente suficiente.
Uma vez que você se lança e se entrega à vida algo das pessoas passa a fazer parte da sua vida. Principalmente quando se sofre com que sofre. O grande teólogo Santo Agostinho de Hipona, através de suas "Confissões", revela que teologia, paixão e amor deveriam andar de mãos dadas.
Teologia como experiência de Silêncio e de Mistério
"Para falar de Cristo é preciso estar em Silêncio" (Bonheffer)
É parte da tradição teológica a dimensão da fé, da transcendência que extrapola os conceitos, mas não os anula. A dimensão do "mistério", como dizia Karl Rahner, ou o "totalmente outro", como dizia Paul Tillich relembra à teologia a sua dimensão mistérica e misteriosa. Por vezes, a forma bem coerente de falar do Mistério é através do silêncio contemplativo, da adoração desejosa, da degustação Téo-lógica. Em contexto de dores, limites e perdas, o silêncio contemplativo pode ser um lindo caminho da experiência divina.
Justamente aqui reside a problema do ser humano – necessidade de explicar tudo. Na própria manifestação de Cristo está o mistério. A compreensão da encarnação do verbo deve ser um ensinamento para que venhamos a exercitar o silêncio. Santo Agostinho na sua obra “Trindade”, obra esta que levou quatorze anos para escrever, ele disse no final da sua obra: “diante deste mistério (trindade) me coloco de joelhos com a mão na boca e dou glórias a Deus” (paráfrase do autor).
Num velório não há palavras. Para um câncer não há conselhos pretensiosos. Para uma família destruída pelo vício não há outra opção a não ser o choro. A experiência de se calar e contemplar deve ser exercida com mais freqüência. Há situações em que o próprio Deus se cala. Ele sabe muito bem exercer o silêncio. Que ele seja o grande mestre nesta tarefa.
Teologia como experiência de Busca da Verdade
O ponto de partida deve ser a teologia cristã. Este conceito absoluto é difícil de ser entendido uma vez que a verdade no contexto atual é a soma das verdades. A busca pela verdade acaba sendo uma tarefa impossível, pois toda verdade é contextualizada e aberta às reformas. Verdade é uma construção constante e para toda vida. Neste sentido, é preciso delimitar a busca para a área que este encontro pela verdade aconteça – As Escrituras – sendo assim o meu labor teológico é à busca da verdade sobre o relacionamento entre Deus e o ser humano, entre o ser humano e a natureza e entre todas as coisas criadas. Portanto, eu faço teologia para entender melhor as verdades em que creio. Como dizia Anselmo de Cantuária: "Creio para entender e entendo para crer".
Teologia como experiência de crises
Via de regra, a crise gera uma desestabilização. A desconstrução deve ser conjuntamente uma experiência de construção. Não pode ficar sem nada aquilo que foi a ruína. Um novo monumento deve ser erigido. Há uma dinâmica cíclica na (re)formulação teológica – à medida que há a desconstrução há a construção, e à medida que há construção há a desconstrução. Este trabalho conduz-me ao encontro com Deus e com a minha vocação na sociedade. Ao fazer este movimento sou favorecido da visão crítica da própria teologia e de seus postulados. Um senso de insatisfação impera na minha mente e no meu coração.
A teologia da crise é uma etapa importante que não pode ser deixada de lado. Porque a palavra crise faz parte da dinâmica humana. Ao contrário de abafar e desconsiderar as crises, elas são um caminho para que o ser humano cresça e assim tenha condições de produzir teologia em consonância com a vida e com os principais dilemas e perguntas que estão presentes no mundo atual.
Teologia como experiência de Serviço e humildade
A experiência comunitária da Trindade é revelada na prática de vida do homem Jesus de Nazaré. Na Trindade o Pai serve o Filho, o Filho serve o Pai, o Espírito Santo é vínculo de amor, comunhão e serviço na Trindade. Jesus traz esta realidade para a vida humana. Não existe um momento sequer na vida de Jesus em que a palavra serviço não esteja inserida. O roteiro da vida de Jesus é assim: ele nasce, ele cresce, ele vive, se relaciona, ama, morre e ressuscita servindo. A interpretação teológica feita pelas primeiras comunidades cristãs analisa toda sua vida como evento de grande serviço salvífico. Dentro desse macro contexto, toda vida de Jesus se torna ponto de chegada e de partida para a salvação. A integralidade da salvação trazida por Cristo é vista como reconciliação do ser humano com Deus que se mostra numa vida de total serviço aos outros. O teólogo cristão, como intérprete desse fundamento, é convidado também a se envolver neste discipulado. Inspirado na integralidade da vida de Cristo um desafio surge – trabalhar a teologia como experiência de serviço. Como teólogo do serviço, a vida de Jesus traz a lembrança constantemente o cuidado para não usar o conhecimento teológico como instrumento de arrogância ou veículo que torna as pessoas dependentes incondicionais de minhas supostas verdades. Por esse viés, a teologia começa a ocupar um lugar privilegiado na vocação do serviço. Toda formação intelectual está em função do serviço.
Teologia como experiência de Deus
Essa teologia é da escuta. Rubem Alves escreveu um artigo excelente sobre a “Escutatória” a arte de ouvir. Poucas pessoas sabem deste dom – ouvir. Muitos falam e poucos ouvem. Na escuta é possível encontrar Deus. As pessoas irão falar sobre o que Deus tem feito em suas vidas. A cultura irá dizer que existe a graça comum de Deus que age na vida de tantos outros e brilha a sua glória. As confissões dos recém convertidos trarão luz para uma compreensão sobre Deus que até então era inexistente.
A experiência de Deus que a teologia pode proporcionar não parte simplesmente das respostas prontas e acabadas. É um constante diálogo entre os fundamentos da teologia cristã e a forma como o ser humano narra sua própria experiência de Deus.Esta é a contribuição que a teologia oferece – um redirecionamento da relação do ser humano com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Uma construção de um mundo digno, inclusivo, respeitoso e solidário é possível então, a partir desta perspectiva.
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