por Robinson Cavalcanti
Este tem sido um ano particularmente significativo para a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL): tivemos Consulta Continental em El Salvador, Nacional em São Paulo e Regional em Alagoas, e uma série de encontros em outros países. Entre a teologia da libertação e o neofundamentalismo, uma nova geração de pastores e líderes opta pela teologia da missão integral da Igreja. Isso foi perceptível, inclusive, na última Consulta do programa “Fé, Ética e Economia” do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Buenos Aires, sob o tema “Globalizando a Vida Plena”. Esses fatos apontam para o caráter bíblico e histórico, e para a relevância dessa corrente de pensamento, dentro do espírito e do Pacto de Lausanne: evangelismo, comunhão, sã doutrina, ação social, inculturação, profetismo e assim por diante.
Este tem sido um ano particularmente significativo para a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL): tivemos Consulta Continental em El Salvador, Nacional em São Paulo e Regional em Alagoas, e uma série de encontros em outros países. Entre a teologia da libertação e o neofundamentalismo, uma nova geração de pastores e líderes opta pela teologia da missão integral da Igreja. Isso foi perceptível, inclusive, na última Consulta do programa “Fé, Ética e Economia” do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Buenos Aires, sob o tema “Globalizando a Vida Plena”. Esses fatos apontam para o caráter bíblico e histórico, e para a relevância dessa corrente de pensamento, dentro do espírito e do Pacto de Lausanne: evangelismo, comunhão, sã doutrina, ação social, inculturação, profetismo e assim por diante.
Gostaríamos, porém, de destacar alguns desafios para a nova geração de cristãos holísticos, nestes tempos de globalização e de pós-modernidade.
O desafio do resgate e da atualização da história
René Padilla, um dos principais pensadores da FTL, nos falava recentemente da sua alegria com a atual revitalização, e que a sua principal preocupação era com o desconhecimento histórico, tanto em relação ao legado reformado quanto à caminhada do próprio movimento. Resgatar o passado é recuperar um conteúdo (fatos, autores, idéias, temas) que permite a sua atualização e a sua aplicação ao presente.
Por outro lado, vale ressaltar que, até certo ponto, a década de 90 foi uma espécie de “década perdida” para a nossa corrente, com a maioria dos seus seguidores inerte pelo medo da patrulha, da censura e da discriminação por parte dos neofundamentalistas, paralisando o possível e necessário trabalho teológico, pastoral e profético. Medo do emprego analítico de ferramentas da filosofia e das ciências humanas. Medo de enfrentar, em suas agendas, temas agora abordados pela nova geração: a nova ordem geopolítica e geoeconômica internacional, gênero, raça, sexualidade, inculturação, profetismo, sanidade, ideologias, ecologia, ética, estética, ontologia etc.
Uma identidade evangélica deve nascer desse processo, em contraste com os desvios, exageros, teorias e radicalismos da nossa época.
O desafio das questões internas da Igreja
A questão central dos nossos tempos é de natureza eclesiológica. O que é a Igreja? Qual a sua natureza? Qual a sua organização? Qual a sua missão? Como a Igreja se entendeu a si mesma nestes dois mil anos? Como resistir, com fidelidade e criatividade, às ondas de novidades, particularmente as de origem estrangeira? É necessário discutir estas e outras questões, como o personalismo de estrelas, caciques e “apóstolos”; o escandaloso e freqüente divisionismo de denominações e “ministérios”; a domesticação aos sistemas seculares de poder; a “prosperidade” e a “batalha espiritual” como negação da Reforma Protestante; a Igreja como comunidade terapêutica ou como comunidade patogênica (sectarismo, individualismo, legalismo). Terá a Igreja algum impacto sobre o século 21?
O desafio das questões externas à Igreja
Há um desafio no campo das idéias e propostas em voga: a) o secularismo hedonista, com o seu consumismo e a busca frenética de bens materiais e status; b) a “religião civil”: reduzida aos ritos de passagem (batismo, casamento, enterro, inaugurações, colações de grau) e a “moral social”, descarnada de transcendência e de discipulado; c) o fanatismo dos fundamentalismos e dos misticismos, expressões doentias e perigosas da experiência religiosa.
Qual será a nossa contribuição para a civilização, com a crise dos paradigmas da modernidade: bondade natural, progresso, razão e utopias globais?
O desafio da nova (des)ordem internacional
O fim da Guerra Fria (EUA versus URSS) em 1989 nos trouxe um cenário semelhante ao fim das Guerras Púnicas (Roma versus Cartago): o monopólio geopolítico e militar, um novo e ameaçador império, sem oponentes, deixando todo o mundo fragilizado e vulnerável às novas “legiões”. A opção unilateral dos Estados Unidos implica a não assinatura de qualquer tratado internacional que o submeta a organismos multilaterais. A chamada “doutrina Bush” afirma: a) os interesses dos Estados Unidos sempre em primeiro lugar; b) a definição pelos Estados Unidos do que é o “bem” e o “mal”; c) o direito aos norte-americanos de realizarem “ataques preventivos”; d) O direito dos norte-americanos à eliminação de pessoas, instituições, regimes e Estados que lhes sejam obstáculos. Declinam a soberania nacional e a soberania popular. Os governantes são apenas “gerentes confiáveis”, inclusive em choque com a opinião pública. A vinculação do império com o fundamentalismo protestante procura legitimar uma “missão civilizadora” (fé e império), com ameaça tanto para os infiéis (islâmicos, por exemplo), quanto para os hereges (cristãos patriotas não-fundamentalistas).
O desafio das realidades nacionais
São vários os desafios pela frente: a resistência de diversos países em defesa de sua autodeterminação e de sua autonomia cultural (equivale dizer, de suas identidades); a situação dos oprimidos e dos excluídos; a perda de direitos sociais; o lugar dos países e dos blocos regionais na nova (des)ordem. No caso brasileiro, temos as limitações, os compromissos, os parceiros do novo governo federal e suas contradições, ambigüidades e reticências; a participação de novos aliados (ex-adversários), o “esquecimento” dos aliados históricos, a cooptação de quadros dirigentes, a despolitização do debate em torno de um projeto nacional, a desmobilização das bases, o tecnicismo, o “realismo”, o abandono de teses históricas e a repressão aos fiéis a essas teses. Aonde nos levará tudo isso? A um “salto de qualidade” ou a um novo capítulo da “circulação das elites” (Pareto)? E o que virá depois: populismo, ditadura ou “parceria com o império”?
Percebemos que o Senhor da História está levantando uma nova geração de convertidos comprometidos, disponibilizando-os com discernimento e poder, notificando-os dos riscos do martírio. Uma geração com maior liberdade epistemológica e maior abertura temática, crendo que “um mundo novo é possível” e que “uma Igreja nova é imprescindível”. Uma Igreja disposta a fazer história e devolver esperanças, marcada pela coragem e não pelo medo. Aberta ao que de bom vier de quaisquer correntes, mas disposta a denunciar e a se afastar do mal nelas contido.
À nova FTL, aos novos militantes da teologia da missão da igreja resta pela frente a única tarefa que cabe aos cristãos: “mudar o mundo” (Finney). Conseguirão? Permanece válido o pensamento: “É melhor se arriscar fazendo, do que não errar por não fazer”.
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