domingo, 28 de novembro de 2010

Tanques, Copa do Mundo, Olimpíada… Ou: poeta da paz vira lírico do tanque de guerra...


por Reinaldo Azevedo

Eu compreendo o esforço do governo federal, do governo estadual e, sim, da imprensa para evidenciar ao mundo que se está fazendo, no Rio, a opção pela ordem e que a bandidagem será vencida. O trabalho é hercúleo: além do narcotráfico, há as milícias, que têm tudo para ser outra questão incontornável dentro de alguns anos. Longe de mim achar que é tarefa fácil levar estado a essas áreas. Sei que não é. Mas se pode fazer isso do modo certo e do modo errado. O que me incomoda, e muito!, é que o governo do Rio e a Secretaria de Segurança Pública, ao colher os efeitos de seus erros, estejam sendo tratados como visionários de uma nova ordem. Isso é simplesmente mentira!

Beltrame tem de explicar por que se prendem quase 200 supostos soldados do narcotráfico em menos de uma semana e não se prendeu praticamente ninguém durante a instalação das tais UPPs; ele tem de explicar por que se apreendem duas toneladas de drogas em cinco dias e nem um papelote de pó ou um a trouxinha de maconha durante meses. Qual é?

Sim, teremos Copa do Mundo e Olimpíada pela frente. São eventos gigantescos, que mobilizam interesses bilionários. Como falhou o marketing da “ocupação humanista das favelas” — limpinha e sem efeitos colaterais —, então se opta pelo padrão “lei & ordem”. E o governo federal se apressou em dar uma resposta. Sem as disputas, estaríamos amarrados àquela cascata de sempre, que sustenta a origem social da violência e bobagens afins.

Antes, Cabral fazia poesia sem dar um tiro. Como lembrei num post de ontem, o Ministério do Turismo até deu início a um programa para transformar favela pacificada em atração… Sinceramente? Acho que isso desrespeita mais o pobre do que o próprio narcotráfico. É uma espécie de tráfico da dignidade alheia, sabem? O poeta da paz se tornou o lírico do tanque de guerra.

Nenhum comentário: