Fico impressionado com a capacidade de alguns na suposta pretensão de achar solução para tudo.
Certa vez ouvi de um pai com dificuldades com o filho de que não existe receita pronta para aprender a ser pai. Isto é a pura verdade.
Na dimensão complexa da vida a dinâmica é a mesma. Cada ser humano é um universo desconhecido. Não posso achar-me no direito de numa conversa curta decifrar os códigos dos problemas juntamente com a solução.
Uma pessoa diante da dor não quer saber de respostas prontas. É um tremendo absurdo o que se faz nos gabinetes pastorais. A dor sempre tem uma causa. Quem disse isso? Será que ninguém viveu a dor de uma saudade sem saber o motivo? A dor de perder alguém sem causa alguma? A dor insuportável de viver? Gosto de pensar aqui no ilustre escritor que foi C. S. Lewis. Ele escreveu uma obra fantástica chamada “O Problema do Sofrimento”. No entanto, ele não sabia de nada. Nunca tinha de fato experimentado uma dor penetrante que cria morada na alma e assume a postura de uma ditadura em que tudo agora está debaixo da sua tutela. Após uma experiência traumática ele mudou as convicções. Reformulou conceitos. Destruiu a receita. Acabou com a lista de respostas. Deus não estava mais presente na religião doentia que afirma solução para tudo. Nem Deus tem respostas para tudo. Se tiver, pelo menos não diz.
Estou cansado de ouvir e ter que conviver com pessoas que condenam o ato de lamentar, duvidar, gritar e brigar com Deus. Onde está isso nas Escrituras que é pecado? Os chamados grandes profetas sempre se lamentaram e discutiram com Deus sobre questões da própria vida e da sociedade. Celebro a ousadia de Lewis quando afirmou categoricamente assim: “... onde está Deus? [...] volte-se para Ele, quando estiver em grande necessidade, quando toda outra forma de amparo for inútil, e o que você encontrará? Uma porta fechada na sua cara”. Assim é a vida.
Mostrar paciência para aqueles que acham que a dor tem que ser negada e desvalorizada, pois não a reconhecem como parte da vida, não é uma tarefa fácil.
Reafirmo. A igreja não tem respostas prontas. A igreja ainda é pré-copernicana em sua atitude com relação à dor, sofrimento e a morte. A imagem medieval do céu e do inferno não foi substituída por nada mais realista, ou mais terno. Talvez, para aqueles que estão convencidos de que somente os cristãos que partilham seus pontos de vista são salvos e irão para o céu, às velhas idéias ainda sejam adequadas.
Contudo, para a maioria de nós, que vemos um Deus de muito mais amor do que um deus tribal que somente faz zelar por seu pequeno grupo há mais coisas necessárias. Deus não crias para depois destruir. Sempre que ouço sobre as formas de consola que a religião oferece, eu desconfio de que aquele que anuncia não faz a mínima idéia do que diz.
Não há como não concordar quando Jung afirmou que não se vem à vida sem a dor.
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