quinta-feira, 17 de março de 2011

“Deus” a gosto do freguês...



Para alguns teólogos a culpa toda sobre as diversas interpretações bíblicas e as posições acerca de Deus repousa sobre Lutero. Ele afirmou de forma categórica a livre interpretação das Escrituras de que todo ser humano pode ter acesso a Bíblia e interpretá-la. Porém, isto é um grande engano. A responsabilidade está no próprio ser humano que fantasia Deus a sua moda.

Encontramos nos escritos de filósofos, teólogos e socialistas uma caricatura de Deus. Um ser impessoal e que não está nem aí para o mundo. Nos escritos de Schleiermacher a teologia passou a ser o estudo da experiência religiosa do homem e não o estudo de Deus. A relação do homem com Deus está pautada nas subjetivas experiências. Schleiermacher fantasiou muito a relação com o divino a forçar a barra para a interpretação de textos bíblicos numa tentativa de se comunicar com o autor do texto sagrado e entrar na sua mente. Algo bem parecido com John Locke. Estas ações estão presentes hoje na busca de experiências inverídicas com o sagrado.

Para Bultmann a teologia deveria começar com uma nova interpretação da Escritura, guiada pela filosofia existencial. Segundo Bultmann, o homem do século XX não pode mais aceitar os milagres como aparecem nas Escrituras – o homem moderno não pode mais crer na ressurreição corporal, em anjos, demônios, céu e inferno. Fico a pensar em que Deus Bultmann acreditava e buscava. Sermões altamente piedosos, mas o negava no seu dia a dia e principalmente na cátedra.

Na compreensão de Tillich ele afirmou que a teologia deveria começar com uma análise da situação humana. Para perceber Deus e a sua revelação o ponto de partida é o homem. Uma leitura complicada por fazer do homem a medida de todas as coisas.

Para Feuerbach os mistérios sobrenaturais da religião fundamentam-se em verdades naturais bastante singelas. Os seres humanos criaram seus deuses, que incorporam as concepções idealizadas pelos seres humanos, reflexos de suas aspirações, necessidades e temores. Os sentimentos humanos não têm ligação alguma com Deus. É de origem puramente humana, assim como é distorcido pela imaginação humana exacerbada. Se o sentimento é o veiculo ou o meio fundamental da religião, logo a natureza de Deus é nada mais do que uma expressão da natureza desse sentimento. A essência divina, comprometida por meio do sentimento é, na verdade, nada mais do que a essência do sentimento, maravilhado e encantado consigo mesmo – nada mais do que autoembriaguez e autocontentamento.

Para Feuerbach Deus é uma projeção do homem. O ser humano externa algo que chama isso de Deus. Feuerbach defende que toda espécie de divindade é uma fantasia humana.

Freud tira muito de suas idéias de Feuerbach e passou a compreender Deus e a religião como uma necessidade humana que se vincula ao estado infantil de desamparo e à nostalgia do pai suscitado por tal necessidade. O Deus justo e a natureza benevolente são as mais nobres sublimações de nosso complexo paternal, pois, o homem, na impossibilidade de imaginar um mundo sem pais, cria falsificações da imagem do universo no qual se sente desprotegido.

Faço esta pequeníssima análise histórico-teológica para verificar que os liberais e ateus inventam seus “deuses”. Tenho visto e acompanhado que alguns teólogos brasileiros refazem uma suposta nova leitura da Bíblia quando na verdade não passam de papagaios – repetem velhas heresias.

Alguns chegaram a ponto de chamar o Deus soberano e senhor de “diabo”. O Deus que sabe de todas as coisas não pode ser um “Deus de amor”. Ora, isto não é inventar um “Deus a seu gosto”? É totalmente impossível não reconhecer o governo e poder de Deus em toda a Bíblia. Reconheço que é mais fácil criar um “Deus” não revelado para basear a vida em possibilidades e especulações.

O ser humano sempre criará um “Deus” a seu gosto. Entendo que não é fácil aceitar e se render ao Deus revelado nas Escrituras e encarnado na pessoa de Jesus Cristo. Para se render a ele é preciso viver o que Lutero disse – Deixa Deus ser Deus. Geralmente não fazemos isso. Respondemos por Deus e dizemos o que Deus faz e deixa de fazer. Será que o dominamos assim? Percebo muito mais uma tentativa de dominação de Deus nos liberais do que nos conservadores. Os conservadores reconhecem e aceitam que Deus está no controle e descansam nisso. Os liberais arrumam justificativas e argumentos para provar algo sobre o que Deus não é e do que Deus não faz.

São os liberais da teologia que defendem o seu “Deus”. Os conversadores dificilmente fazem isso. O Deus revelado e encarnado não necessitada de ajuda humana para se explicar a humanidade. O Deus dos liberais, este sim necessita, pois é um Deus impotente e precisa responder a razão de não ter feito alguma coisa.

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