por Ricardo Barbosa *
Um dos riscos que pastores, educadores e pais enfrentam sempre é o de achar que os outros é que precisam aprender, nunca eles. Os pastores estão sempre pregando para os outros, fazendo apelos para os que ainda não se converteram ou não se consagraram. É difícil ver um pastor fazendo apelo para si mesmo; os pais, da mesma forma. Estão sempre preocupados em disciplinar seus filhos, mas dificilmente sujeitam-se a qualquer disciplina. Dizem que os filhos precisam aprender a obedecer, mas quase nunca obedecem a ninguém. Os professores e educadores, em sua grande maioria, fazem o mesmo.
Este é um risco contra o qual luto sempre. Minha tendência é ler a Bíblia para os outros; pregar contra os erros e pecados dos outros; orar pela transformação dos que andam por caminhos falsos. Resisto em incluir-me entre aqueles contra os quais proclamo o Evangelho de Cristo. Contudo, sei que o que conta não é o que ensino, mas o que aprendo - a pessoa sempre precede aquilo que fala. É por isso que o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, pede a ele que se lembre, não das coisas que aprendeu, mas de quem aprendeu. Para Paulo, o mestre era a lição.
Tenho aprendido que a única possibilidade de amar e seguir amando é quando reconheço e aceito o grande e incondicional amor de Deus por mim. A certeza de ser amado, aceito e reconhecido me dá a segurança de que preciso para entrar no mundo e amar os homens, mesmo sabendo que muitos me abandonarão e rejeitarão. Dá-me também a segurança de que posso servi-los sem esperar qualquer retribuição ou forma de compensação.
Tenho aprendido que só posso perdoar quando reconheço que o meu pecado e minha enorme dívida para com Deus e para com a humanidade foram completamente perdoados e esquecidos pela graça de Jesus Cristo. Somente quando o enorme fardo que pesa sobre mim é tomado pelo Senhor posso ver-me livre para ajudar meus irmãos a carregarem seus pesados fardos e oferecer a eles o mesmo perdão que recebi de Cristo. O perdão e o amor não são virtudes minhas; são minha resposta ao que Deus fez e tem feito por mim.
Tenho aprendido a olhar mais para minhas fraquezas do que para as próprias forças e competências. Não tem sido fácil, mas hoje sei que não haverá crescimento ou transformação pessoais se eu não for capaz de reconhecer minhas próprias feridas e fraquezas. Aprendi com o apóstolo Paulo que, quando sou fraco, aí é que sou forte, e de que são as minhas fraquezas que me levam sempre de volta à oração e à dependência de Deus. São elas que me despertam todos os dias para suplicar por uma força que não tenho - para clamar a Deus, mais uma vez, por misericórdia e compaixão.
Tenho aprendido a aceitar meus limites e minha humanidade. Já cansei de tentar ser o que não sou, de querer atender a demandas e expectativas dos outros. Quero viver como um homem, lutando contra minhas ambigüidades, enfrentando meus pecados; mas também amando e celebrando a vida, os amigos, a graça, o amor, a fé. É possível que isto leve alguns a se decepcionarem comigo, mas não pretendo abrir mão do que sou e deverei ainda ser diante de Deus e dos homens.
Tenho aprendido que a oração é uma amizade com Deus. Que não se trata de um recurso utilitário através do qual adquirimos bênçãos. É um convite para uma comunhão que nos traz a segurança do amor divino e, na medida em que ela se torna mais pessoal e íntima, mais nos transforma à imagem e semelhança de Cristo.
Tenho aprendido que a amizade é uma das poucas coisas que carregamos conosco por toda a vida. Ter um amigo - alguém que nos compreenda e com quem podemos compartilhar os segredos da alma, alguém que nos aceita e ama sem querer nos mudar, mas que também não se conforma com nossos erros e pecados - é coisa rara nos dias de hoje, é uma dádiva divina que temos que guardar como um tesouro.
Tenho aprendido a amar a Igreja. Não refiro-me aqui aos seus programas ou peso institucional, mas sim ao grupo de irmãos e irmãs com quem compartilho a fé e a vida, ao corpo de Cristo. Quanto mais me envolvo com ela e conheço suas alegrias e esperanças, dores e feridas, mais reconheço o quanto preciso dela para continuar crescendo diante de Deus e dos homens.
Tenho aprendido a dar valor às coisas pequenas, aos gestos simples, aos passos tímidos e vacilantes daqueles que lutam para andar e seguir adiante, e às descobertas que trazem nova luz à fé. Como diz o salmista, não ando à procura de grandes coisas, muito pelo contrário - tenho aprendido que as grandes coisas começam com uma suave brisa e que a vida não é feita apenas de grandes acontecimentos, experiências extraordinárias ou revelações bombásticas, mas de eventos comuns e rotineiros onde, através da oração, reconhecemos a presença de Deus, que não apenas dá sentido à nossa rotina, mas também abre os nossos olhos para contemplarmos sua graça e amor.
Tenho aprendido que o amor de minha esposa e filhos, vivido e provado nas rotinas ordinárias da nossa casa, são instrumentos da providência divina que preservam minha saúde espiritual e emocional. Tenho aprendido que a vida doméstica protege-me das ilusões e seduções criadas pela propaganda e me mantém atento ao que é real e verdadeiro.
Estas são algumas lições que tenho aprendido. Que Deus continue nos abençoando.
* Ricardo Barbosa é ministro da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília.
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