João 5:24
“Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (NVI)
Alguns preferem a independência. O brado de D. Pedro I ecoa até hoje nos lábios de muitos cristãos – “Independência ou Morte!”. Declaradamente muitos assumiram a independência de Deus.
O verbo depender é bem sugestivo. Depender do que? Esta é a pergunta crucial que deve ser feita. Do que você depende? Onde está a ancora da sua vida? O que mantêm você firme?
Se você abrir as páginas dos jornais constatará o aumento da dependência das drogas, do álcool, do sexo, dos variados vícios. Não há possibilidade para o ser humano viver sem que dependa de algo. A vida é feita de teias que são capazes de sustentar as demandas da vida.
A moda da sociedade que está em crise é depender dos terapeutas. Os consultórios estão abarrotados de gente. Para aqueles que sofrem de insônia, o remédio é a solução. Na atual crise global os bancos tem sido a grande dependência dos endividados. A dificuldade está no que você depende. O lugar que você cria raízes pode levá-lo a uma situação pior do que você já está.
O que significa depender? É estar sujeito, ser dominado, permanecer ligado. João deixa claro que a vida vem pela morte, a vida eterna para quem é de Deus passa pela morte do Filho de Deus. Como se apropriar dessa dádiva de Deus? A resposta de João é: Crendo. João usa o verbo crer 98 vezes. Para João o substantivo fé não é comparável ao poder do verbo crer. O verbo requer uma ação. A partir destes significados desejo estabelecer alguns critérios que as Sagradas Escrituras ensinam sobre uma vida eternamente dependente de Deus.
A sua dependência deve ser...
1) A Palavra de Cristo – “[...] Quem ouve a minha palavra [...]”
Exatamente aqui surge a primeira barreira para muitos. Ouvir a palavra de Deus é meditar, refletir, examinar e aplicar. As pessoas não gastam ou investem tempo neste exercício. É muito mais fácil receber algo pronto. Esta geração sucateou o valor imensurável das Escrituras.
A decadência espiritual inicia-se com a falta de leitura da Bíblia. Não há possibilidade de lutar desarmado. É contra todas as leis humanas e físicas correr com fome. É um contra-senso caminhar no deserto e não sentir sede.
Implicação: A igreja, neste momento, precisa de homens e mulheres que sejam ousados. Afirma-se que necessitamos de avivamento e de um novo movimento do Espírito; Deus sabe que precisamos de ambas as coisas. Entretanto, Ele não haverá de avivar negligentes e displicentes. Não encherá uma igreja que virou as costas para o seu Espírito.
Aplicação: Novamente a pergunta surge – do que você depende? A igreja suspira por pessoas que se consideram sacrificáveis na batalha da alma, pessoas que não podem ser amedrontados pelas ameaças de morte, porque já morreram para as seduções deste mundo. Tais pessoas estarão livres das compulsões que controlam os mais fracos. Não serão forçados a fazer as coisas pelo constrangimento das circunstâncias; sua única compulsão virá do íntimo e do alto. Mas isto somente acontece quando a Palavra de Deus é valorizada.
A minha interpretação da Palavra de Deus está na vida de Jesus Cristo. Partindo do pressuposto do Evangelho de João, a Palavra de Deus é Cristo. Leiamos atentamente o que diz João 5:39 – “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito [...]”. O que Jesus quer dizer com isto? Todo o Pentateuco e os Profetas falam a respeito dele. Portanto, estudar de Gênesis a Apocalipse é ter um encontro marcante com Jesus Cristo. Sabe qual é a razão de você desconhecer o poder e a glória de Cristo? A falta de leitura, estudo e meditação na Palavra de Deus. Percebam o que diz Colossenses 3:16 – “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo [...]”. Se entendemos que a palavra de Cristo é o conjunto de palavras proferidas por Jesus Cristo ao longo de sua vida, como registradas nos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), temos que admitir que nos falta um conhecimento adequado destas palavras. Não é isto que o texto diz. No entanto, devemos reconhecer a nossa ignorância e nos aplicar ao conhecimento da palavra de Cristo. Idealmente, teríamos que tê-las memorizadas, o que não encontro eco no estilo de nossas vidas determinado pela sociedade em que vivemos. Como isto não é possível, precisamos pelo menos saber onde encontrar os textos de que precisamos. Sobretudo, precisamos ler as palavras de Cristo. Precisamos meditar nas palavras de Cristo. Se nós lermos a palavra de Cristo, a palavra de Cristo habitará em nossos corações.
Destaque do evangelho: João refere-se a Jesus 14 vezes como “a Palavra” (o Verbo). Os gregos faziam uma distinção entre a palavra falada, a língua e a escrita com a palavra que ficava com a pessoa. A partir disso, Cristo é a Palavra que fica no ser humano. Não é o homem que possui a Palavra, mas é a Palavra, Cristo, que possui o homem. Há poder na Palavra de Deus. A Palavra quase tem existência própria quando vemos que “a palavra do Senhor veio” sobre este ou aquele profeta.
E o que faz a Palavra de Cristo em nós?
1. É a palavra de Cristo que nos gera de novo, isto é, faz-nos nascer de novo, faz-nos redimidos, lava-nos, faz-nos ter a mente d´Ele.
A Palavra de Cristo – A sua Palavra traz vida eterna (cf. 6:63, 68) e purificação [15:3], ou julgamento [12:47]. Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz [8:47].
Ouvir a palavra de Jesus é idêntico a ouvir a palavra de Deus. Mas o que significa “ouvir”? Ouvir, neste contexto, como acontece com freqüência em outras passagens, inclui crença e obediência. A crença é declarada, e seu objeto é aquele que enviou Jesus. Então, a fé colocada no Filho é colocada no Pai que o enviou. Portanto, aquele que crê e ouve dessa forma tem a vida eterna e não será condenado. O crente não vai ao julgamento final, mas deixa a corte divina já absolvido. Esta é uma afirmação contundente do evangelho de João.
Os benefícios da palavra de Cristo são inesgotáveis: 1) Uma qualidade de vida melhor; 2) Relacionamentos saudáveis; 3) Esperança para o futuro; 4) Sabedoria para lidar com questões complicadas; 5) Luz para os momentos da escuridão da alma. Enfim, a lista é imensa.
Exortação: Esse tipo de vida cristã é extremamente necessária, se queremos ter novamente, em nossos púlpitos, pregadores cheios de poder, ao invés de mascotes. Homens livres pelo poder do evangelho que servirão a Deus e à humanidade através de motivações elevadas demais, a partir de uma visão de mundo transformada pela luz do evangelho.
A sua dependência deve ser...
2) A fé que provêm de Cristo – “[...] crê naquele que me enviou [...]”
Algo precisa ficar claro aqui – a nossa fé não é fruto da nossa justiça ou de obras. Este é um grande alento para corações desesperados como o nosso. Não podemos ter fé em nossa fé. A sua fé deve ser no Cristo da fé. É Jesus que compartilha com você a fé que ele tem no Pai. Isso acontece com o derramar do Espírito Santo em nossos corações. No ato da conversão imediatamente somos selados pelo Espírito de Deus e no mesmo instante a fé é depositada no coração. Mediante a isto, o cristão vive pela fé. A sua fé é alicerçada no autor e consumador da fé (cf. Hebreus 12:2). No instante em que creio eu me sinto completamente preenchido e tomado pelo objeto de minha fé. O que me interessa não é mais “eu com minha fé”, mas aquele em que eu creio. Quando eu penso nele e olho para ele, então sinto que tudo vai melhorar. O alento é justamente a nossa incapacidade de ter fé e mesmo assim sermos portadores de uma fé que tudo pode. Este poder não pertence a nós. Não nasce em nós. Não provém de nós. Não é a nossa oração que é poderosa. Tudo provêm de Cristo. Ele é poderoso para responder a nossa oração. Tamanha é à força desta fé que o apóstolo João diz – “O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” [I João 5:4].
Nós, em nosso esplendor e nossa miséria, não estamos mais sós. Deus vem ao nosso encontro e ele vem a nós como nosso Senhor e nosso Mestre. Nos bons e nos maus dias, em nosso desregramento ou nossa honestidade, vivemos, agimos e sofremos nessa posição de reencontro. Esta é a ligação da fé. Eu não estou só. Deus vem ao meu encontro. Em todas as circunstancias, eu estou com ele. Esse é o alento.
Este encontro com Deus é o encontro com a Palavra da graça que Deus pronunciou em Jesus Cristo. A fé fala de Deus Pai. Ela afirma esse Deus que é Uno em si, que realizou sua vontade de amor, seu amor gratuito e incondicional pelo homem, por todos os homens, conforme a sua graça.
Portanto, confessar o Pai e o Filho é dizer que Deus é o Deus da graça. Isso implica em que nós não podemos provocar a comunhão com ele: nós não a criamos e não criaremos jamais. João diz a respeito do Filho, Jesus Cristo, que ele “dá a vida a quem ele quer” [v.21]. É ele, em sua bondade totalmente gratuita, em sua liberdade soberana, que desejou ser o Deus do homem, nosso Deus. Quando Deus diz: minha graça está sobre vós – eis a Palavra de Deus, o conceito central de todo o pensamento cristão. A Palavra de Deus é a Palavra de sua graça. Isto gera fé em nosso coração.
Implicação: O maior obstáculo à fé é simplesmente essa eterna presunção e também essa angústia que subsistem no coração. As pessoas não amam viver pela graça. Há sempre em você alguma coisa que se insurge violentamente contra a graça. Muitos não amam receber a graça, você amaria, no máximo, atribuí-la a você mesmo. A vida humana é feita desse vai-e-vem entre o orgulho e o desespero, que apenas a fé pode eliminar. Se formos libertos é graças a uma ação que não depende de nós.
A fé não é uma opinião que se poderia trocar por uma outra. Aquele que crê apenas durante um tempo não sabe o que é a fé, pois crer supõe uma relação definitivamente estável. Estar na fé: trata-se de Deus e do que ele fez por nós de uma vez por todas. Isso não evita, por certo, que ocorram enfraquecimentos da fé. Aquele que acreditou uma vez crê para sempre.
Uma outra questão é: devemos nos agarrar totalmente a Palavra de Deus. A fé não concerne a um setor particular da vida denominado religioso, ela se aplica à existência em sua totalidade, a exterior como a interior, a corporal como a espiritual, as zonas sombrias como as claras.
A sua dependência deve ser...
3) A vida eterna que Cristo garante – “[...] tem a vida eterna e não será condenado [...]”
Como o Filho garante a vida? Através da sua Palavra, porque toda palavra que ele pronuncia tem autoridade. Portanto, ouvir atentamente a palavra e obedece-la é reconhecer a autoridade de Jesus Cristo e glorificar o Pai que o enviou. Esta Palavra é toda a mensagem do Filho ao mundo.
Implicação: A oferta da salvação implica julgamento daquele que rejeita a oferta. É impossível separar as duas coisas. Assim, de um ponto de vista, Jesus não veio para julgar ninguém, mas trazer a salvação, e quem crê é salvo.
Nós possuímos responsabilidade. Não podemos fugir da responsabilidade por nossos atos, e uma parte do motivo da vinda de Jesus foi nos fazer assumir essa responsabilidade – em outras palavras, nos trazer julgamento.
A pessoa que vive da palavra de Cristo, que é o próprio Cristo, recebe a garantia de não entrar em juízo. Quem crê não precisa esperar até o último dia para ouvir o veredito favorável do juiz. Ele já foi pronunciado. Quem crê também não precisa esperar até o último dia para experimentar a essência da ressurreição. Aqui e agora já passou da morte para a vida.
Exemplo do poder da Palavra de Cristo: O incidente do paralítico no tanque de Betesda é um sinal desta verdade. Assim como recebeu a cura física através da palavra poderosa de Cristo, é por esta palavra que qualquer pessoa recebe a vida no plano espiritual. A palavra de Cristo tem um poder vivificante.
A idéia do texto é em primeiro lugar levantar aos que estavam mortos no pecado, dando-lhes uma nova vida e, sem seguida, levantar os mortos dos sepulcros. Neste sentido, anelamos para que a sua voz chegue aos corações que estão mortos em pecados, para que possam fazer as obras do arrependimento, e prepararem-se para o dia solene.
Cristo levanta os mortos e concede vida. Esse é um de seus grandes e singulares poderes. Por isso, o texto diz: o filho salva, o filho julga, o filho condena, o filho concede vida a quem quiser, o filho tem a verdade, o filho tem o poder. O que este evangelho diz é que não existe diferença de autoridade, poder, glória, honra e louvor entre o Pai e o Filho. Ambos são dignos de honra, reconhecimento e glória.
Existimos aqui na terra, em estado de contradição entre a cruz e a ressurreição. Rodeados pela decadência, ainda assim esperamos a perfeição. Por isso, precisamos crer e depender do poder da ressurreição de Cristo que restaurará o nosso estado. Por vivermos da Palavra de Cristo e por estarmos alicerçados na fé salvadora a morte não tem poder sobre nós. Nada pode nos assustar. Já estamos com Cristo unidos pelo seu Espírito que habita em nós. Já triunfamos com Cristo. Na eternidade já comemos do banquete que o Pai ofereceu para os seus filhos. Não ser condenado por Deus é ser justificado pela fé em Cristo. Podemos afirmar a nossa condição de justos na justiça de Cristo. Tudo isso nos garante a herança do Pai. Tudo o que pertence ao Filho, Jesus Cristo, pertence a nós também. Somos co-herdeiros com Cristo.
Que a sua oração seja: “E agora, ó Deus, concede-me a graça de aproveitar as riquezas de tudo o que a ressurreição de Jesus significa”.
Destaques e Aplicações Finais:
Destaques
Deixar de honrar o Pai é deixar de honrar o Filho. O mesmo acontece de modo inverso.
Crer está intrinsecamente ligado ao Evangelho.
É em Jesus que Deus vem ao nosso encontro. Quando dizemos: creio em Deus, significa concretamente: creio no Senhor Jesus Cristo.
Aplicações Finais
Aquele que crê na Palavra de Deus deve se agarrar nela apesar de tudo àquilo que se opõe a essa Palavra.
A fé é a confiança que permite que nos mantenhamos nele, nas suas promessas e nos seus mandamentos. Manter-se em Deus é abandonar a si mesmo e viver da certeza da sua promessa.
“Eu creio” significa “tenho confiança”. Não é mais em mim mesmo que devo ter confiança. Não necessito mais de me justificar, de me desculpar, de me salvar, de preservar a mim mesmo. Esse esforço terrível do homem para se manter a si mesmo e para se atribuir uma razão a si mesmo, esse esforço se torna um esforço sem sentido. Eu creio, não em mim, mas em Deus.
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