quarta-feira, 14 de maio de 2008

O culto reformado é corporativo...

Ian Hamilton*

Inicialmente precisamos entender que o culto reformado nunca teve uma única expressão. A tradição reformada envolve os reformadores do século XVI, como Calvino, Beza, e os reformadores do século XVII, os puritanos. Não há apenas uma expressão definida. Dentro do espectro reformado sempre existirão aqueles que tem uma tendência maior segundo os princípios de Genebra, com sua liturgia mais estruturada e participativa, e os que defendem uma liturgia mais simples como a de Westminster. Isso nos lembra que a tradição reformada tem sido corporativa e comprometida com o principio regulador. A tradição reformada sempre quer exercer uma vontade graciosa de concordar e também discordar. Calvino expressa isso no livro IV das Institutas quando trabalha com as diferentes formas de culto encontradas entre igrejas igualmente comprometidas com a verdade de Deus. Ele diz: “Se deixarmos o amor ser o nosso guia tudo estará à salvo”. Isso não vem dos lábios de qualquer pessoa. Até parece algo fraco. Mas o espírito pacífico e compreensivo de Calvino não é uma concessão à fraqueza, pois ele não era fraco, isso todos sabem. Isso ele nunca foi, mas ao dizer estas palavras ele estava expressando o seu compromisso com a postura corporativa da tradição reformada. Estava expressando seu compromisso de manter a unidade do Espírito e os laços da paz.

Nós freqüentemente esquecemos que a Assembléia de Westminster e os grandes puritanos, que tanto admiramos, tinham uma grande variedade de pensamentos [nas questões eclesiológicas]. Todos estavam comprometidos com o cerne das Escrituras, mas tinham diferenças. Mesmo os escoceses como Samuel Rutherford e outros que estavam convencidos da forma presbiteriana de governo da igreja por achá-la bíblica (é bom lembrar que não era fácil a um escocês mudar facilmente de opinião), estavam desejosos, naquela ocasião, de acolher os irmãos mais ‘fracos’ [os congregacionais].

Precisamos muito nos nossos dias restabelecer a verdadeira postura corporativa que marcou os reformados e os puritanos. Isso não é um apelo à falta de comprometimento verdadeiro, mas um apelo para que olhemos e enxerguemos além dos nossos próprios horizontes e abracemos toda tradição verdadeiramente reformada... suportando as nossas diferenças (que sejam reformadas) mas abraçando um ao outro no “evangelho reformado”. Tradição reformada é corporativa.


* Ministro na Londoun Church em Newmilns, Escócia. Extraído do “Os princípios fundamentais do culto reformado” em Jornal os Puritanos, Ano VIII – nº 2 – Abril / Junho 2000, p. 24.



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