sábado, 26 de maio de 2007

Ensinos do Reino

Lá repousaremos e veremos, veremos e amaremos, amaremos e louvaremos. Eis o que estará no fim sem fim. E que outro é o nosso fim senão chegar ao reino que não tem fim?
Santo Agostinho

Do ensino do Reino à Confissão:

Os evangelhos focalizam como os discípulos começam a apreciar quem Jesus é e os desafios à fé que Jesus faz como resultado disso. Milagre e ensino sobre o Reino servem para apontar para um Jesus intimamente ligado ao governo de Deus e à esperança prometida. É um Jesus em quem se pode confiar mesmo em face de enorme oposição.

Por que parábolas?

A réplica de Mateus observa que aos discípulos foi “permitido” ou “dado” (por Deus) saber os mistérios do Reino dos céus, mas a eles (os de fora) isso não foi dado. Marcos fala de um “mistério” singular e unificado do Reino de Deus dado aos discípulos, enquanto “aos que estão fora tudo é dito por parábolas”.

Talvez o mais importante e distintivo traço deste capítulo seja que o evangelista, mediante as palavras de Jesus que ele registra nos versículos 10-15, deixa claro, como não o fazem os outros evangelistas, que Jesus adotou deliberadamente o método de ensinar por parábolas num particular estágio do seu ministério com o fim de reter mais ampla verdade sobre Si e sobre o reino dos céus, privando disso as multidões que se tinham mostrado surdas à suas reivindicações e que não foram responsivas aos seus apelos. Até então Ele usava as parábolas como ilustrações, caso em que o sentido delas era evidenciado pelo contexto em que eram ditas. De agora em diante, quando se dirige à multidão incrédula, fala somente em parábolas [34], que privadamente interpreta para os seus discípulos.

Hoskyns observou com verdade, “Entende-las depende de reconhecer a Jesus como o Messias e de reconhecer o reino de Deus que está irrompendo em seu ministério

As parábolas do tesouro escondido e da pérola:

Elas afirmam que o Reino é tão valioso que vale a pena vender tudo que se tem para assegurar a posse dele. Quer seja um tesouro que um trabalhador do campo encontrou por caso quer seja uma pérola que um comerciante consegue comprar, todo esforço dever ser feito para conseguir esse precioso item. O que encontrou por caso o tesouro faz planos para recuperá-lo, ao enterrá-lo antes de comprar o campo.

Consideração: No judaísmo, a compra de um campo tornava o comprador dono de tudo que tivesse dentro dele.

Interpretações concernentes ao Reino de Deus:

O Reino dos Céus significa o domínio dos céus (Deus) sobre a terra e refere-se de forma direta ao Reino teocrático de natureza terrena prometido a Israel do Antigo Testamento. Somente o evangelho de Mateus nos fornece o aspecto judaico do Reino. Quando Jesus anunciou que o Reino dos Céus estava próximo, estava se referindo ao reino teocrático terreno prometido a Israel.

O mistério do Reino dos Céus, mencionado em Mateus 13, representa a esfera da profissão de fé cristã – ou cristandade – que e á forma assumida pelo domínio de Deus sobre a terra entre os dois adventos de Cristo.

O Reino de Deus é o domínio real de Deus, que tem dois momentos; um é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento na missão histórica de Jesus, e o outro é a consumação no final dos tempos, inaugurando o século futuro.

O Reino dos céus:

Jesus não quer dizer literalmente que o reino é semelhante a um agricultor que semeia o seu trigo ou a um negociante que procura pérolas. O que Ele quer dizer é que, na situação única surgida com o advento do reino dos céus em sua Pessoa e em suas ações, existe algo que é análogo à situação que pode ocorrer quando um agricultor faz a sua semeadura ou quando um negociante está em busca de pérolas de grande valor.

Finalmente, porque o reino dos céus é a única realidade duradoura, e o seu valor é incalculavelmente precioso, a pessoa realmente ávida por obter os seus benefícios, uma vez confrontada com ele, prontamente e cheia de alegria fará o sacrifício que for necessário, seja a perda de bens, amigos, ou até mesma perda da própria vida. Este é o ensino das parábolas gêmeas da pérola custosa e do tesouro escondido.

O Reino escatológico:

A vinda do Reino de Deus significará a destruição total e final do diabo e de seus anjos [Mateus 25: 41], a formação de uma sociedade redimida que não se mistura com o mal [Mateus 13: 36-43] e a comunhão perfeita com Deus no banquete messiânico [Lucas 13: 28-29]. Neste sentido, o Reino de Deus é um sinônimo para o século futuro.

O Reino com um dom presente:

Se o Reino de Deus é o dom da vida conferido ao seu povo quando ele manifesta seu governo na glória escatológica, e se o Reino de Deus é também o domínio de Deus invadindo a história antes da consumação escatológica, segue-se que podemos esperar que o domínio de Deus no tempo presente produza uma benção preliminar ao seu povo. É isto o que de fato verificamos. O Reino não é apenas um dom escatológico que pertence ao século futuro, é também um dom que pode ser recebido no presente.

O tesouro:

O único pensamento presente em ambas às parábolas é que o Reino de Deus é de valor inestimável e deve ser buscado acima de todas as outras posses. O Reino de Deus é aquilo que deve ser buscado, o qual, uma vez encontrado, representa a satisfação de todas as necessidades [Lucas 12:31].

O fato mais marcante na proclamação que Jesus fez do Reino foi sua irrupção presente na história em sua própria pessoa e missão. O elemento que dá sentido a essas parábolas é o fato de que Reino estava presente entre os homens de um modo inesperado, de uma forma que poderia ser facilmente ignorado e desprezado.

Por isso, todo pecado resulta de não darmos valor supremo à glória de Deus – essa é a própria essência do pecado. No entanto, se o reino não pode ser obtido por nossas próprias obras, ele é uma dádiva à qual devemos dar o maior valor.

A importância do Reino:

Por medida de segurança os tesouros eram normalmente enterrados. A circunstância que provavelmente se insinua aqui é a do camponês que, enquanto trabalhava o campo de um rico latifundiário, encontrou um tesouro e o enterrou novamente antes que o proprietário da terra o reclamasse para si. O camponês, então, aplicou no campo todos os seus esforços, visando garantir para si o tesouro. Naturalmente, histórias de tesouros perdidos circulavam entre os pobres. Jesus se inspira aqui no mesmo filão popular para impressionar seus ouvintes e os levar a procurar um tesouro bem maior que qualquer outro sobre a Terra.

  • A do tesouro escondido no campo. Muitos recebem o evangelho apressadamente porque olham apenas para a superfície do campo. Todos os que esquadrinham as Escrituras podem encontrar nelas a Cristo e a vida eterna [João 5: 39], descobrirão porque o tesouro deste campo o torna extremamente valioso, e se apropriarão dele a qualquer custo. Ainda que nada possa ser dado como pagamento pela salvação, todavia, muito deve dar-se por amor a ela.
  • O homem pode comprar ouro muito caro, mas não este campo valioso. Quando o pecador convicto vê a Cristo como Salvador da graça, tudo mais perde o seu valor para seus pensamentos.


O Reino dos céus – Onde Cristo reina:

O Reino só existe onde Cristo reina, concedendo salvação e recebendo homenagem.

"A conversão é o que acontece no coração quando Cristo se torna para nós uma arca do tesouro de alegria santa. A fé salvadora é a convicção do coração de que Cristo é totalmente confiável e supremamente desejável. O que há de novo em um convertido ao cristianismo é o novo gosto espiritual pela glória de Cristo”.

Benção total e exigência total:

Quando Jesus falou sobre o Reino de Deus, ele não estava se referindo à soberania geral de Deus, seu domínio sobre a natureza e a história. Referia-se àquela regra específica sobre seu povo, a qual ele mesmo inaugurara e a qual se inicia na vida do indivíduo quando este se humilha, arrepende-se, se sujeita a Deus e nasce de novo. O Reino de Deus é Jesus Cristo governando sobre seu povo em benção total e exigência total.

Buscar “em primeiro lugar o Reino de Deus” é desejo praticar isto na vida como um todo – em casa, no casamento e família, na moralidade pessoal, na vida profissional, na ética nos negócios, na conta bancaria, no estilo de vida, na cidadania - , em que, alegre e livremente, submetemos tudo isso a Cristo.

A parábola e a nossa vida:

Essa parábola descreve como alguém se converte e é levado para dentro do reino dos céus. A pessoa descobre um tesouro e é impelida pela alegria a vender tudo o que tem para adquirir esse tesouro. O reino dos céus é a morada do Rei. O anseio de estar ali não é um desejo de ter um terreno no céu, mas de ser companheiro do Rei. O tesouro no campo é a comunhão com Deus em Cristo.

Implicações: Quando nos voltamos para Cristo, encontramos o tesouro que a tudo satisfaz. Achamos o prazer eterno do nosso coração. Todavia, você está vendo o que isso implica? Implica que aconteceu algo em nosso coração antes do ato da fé. Implica que sob e por trás do ato de fé que agrada a Deus foi criado um novo gosto. Um gosto pela glória de Deus e pela beleza de Cristo. Eis que nasceu a alegria!

Aplicações: Antes o que nós apreciávamos era comida, amizades, produtividade, investimentos, férias, lazer, jogos, leituras, compras, sexo, esportes, arte, televisão, viagens, mas não Deus. Ele era uma idéia – até que boa – e um tema para discussão, mas não era um tesouro de prazer. Mas a luta acabou. Daríamos tudo pela garantia de viver para sempre na presença dessa glória.

Contudo, antes da confiança vem o anseio. Antes da decisão vem o prazer. Antes da entrega vem a descoberta do tesouro.

Conclusão:

Essa parábola diz que para entrarmos no reino dos céus nossa conversão dever ser profunda, e convertemo-nos quando Cristo se torna para nós uma arca do tesouro de alegria santa.

Portanto, a compra do campo não precisa implicar que a salvação ou Cristo ou o reino são comprados por nós. Precisa apenas implicar que o tesouro do reino é mais valioso do que tudo o que temos e que devemos estar dispostos a abrir mão de tudo para ter o reino.

Como disse João Calvino no século XVI:

O sentido direto das palavras é que o evangelho não está recebendo a honra que lhe é devida enquanto não o colocarmos acima de todas as riquezas, prazeres, honras e conforto do mundo; e, de fato, que devemos estar tão contentes com as bênçãos espirituais que ele promete que deixamos de lado tudo o que nos pode afastar dele. Isso porque aqueles que aspiram pelo céu precisam estar livres de todos os empecilhos.