domingo, 28 de novembro de 2010

Fome ainda atinge 11,2 milhões no País...


por Felipe Werneck, no Estadão:

Pelo menos 11,2 milhões de brasileiros passavam fome ou estavam sob risco iminente de não poder comer por falta de dinheiro, aponta o IBGE no estudo Segurança Alimentar, com dados de 2009. Na primeira edição da pesquisa, em 2004, o número era de 14,9 milhões. São 3,7 milhões de pessoas a menos em "situação de insegurança alimentar grave", uma queda de 24,8% em cinco anos. No período, a população do País aumentou 5,5%.

O estudo divulgado ontem foi feito em convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Para o IBGE, o impacto do Bolsa-Família foi o principal fator para a redução do número de brasileiros que passam fome. O aumento do salário mínimo seria o segundo motivo.

"A queda foi muito importante, mas ainda há 11,2 milhões de pessoas que precisam ser vistas e cuidadas", diz a gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, Maria Lucia Vieira. "O objetivo é eliminar essa preocupação".

O secretário executivo do ministério, Rômulo Paes de Sousa, avalia que "o ganho foi excepcional para um período tão curto". Segundo ele, o objetivo do governo é acabar com a fome no País, mas a "supressão completa desse temor leva tempo". Para Sousa, a permanência de mais de 11 milhões de pessoas na situação grave deve ser relativizada. "A questão da insegurança alimentar aparece inclusive no país mais rico do mundo, os Estados Unidos", afirma. "Quando comparamos o Brasil com países que têm economia semelhante e investimento também em política social, como o México, a nossa situação é muito mais favorável", argumenta.

Segundo a pesquisa, apenas 65,8% dos brasileiros estavam em condição de segurança alimentar em 2009, ante 60,1% em 2004. Ou seja, no ano passado mais de um terço da população (34,2%) estava em situação de insegurança. São pessoas que apresentavam alguma restrição alimentar ou, pelo menos, preocupação com a possibilidade de ocorrer restrição por falta de dinheiro para comprar comida. Esse grupo se dividia em três categorias: 20,9% com insegurança leve, 7,4% com moderada e 5,8% na situação grave (11,2 milhões de pessoas). Do total na última classificação, 1 milhão eram crianças de 0 a 4 anos. Em 2004, a situação grave atingia 8,2% da população.

O representante do ministério citou dados do México para afirmar que, lá, 62% encontram-se em situação de insegurança alimentar (leve, moderada e grave). "Nos EUA, a insegurança alimentar moderada e grave era de 5,7% em 2008, antes da crise", afirma Rômulo. "A informação que temos é que a situação piorou em função da crise, por causa do aumento do desemprego."

O IBGE aponta forte associação entre condição alimentar e rendimento das famílias: 58,3% dos domicílios do País na situação de insegurança moderada ou grave tinham até meio salário mínimo per capita ou nenhum rendimento. O estudo também mostra que os porcentuais de insegurança alimentar são mais altos nos domicílios com maior densidade por dormitório.

A gerente da pesquisa ressalta que a redução ocorreu principalmente nos domicílios onde havia crianças, na região Nordeste e na área rural. "O foco do Bolsa Família são domicílios com limitação de renda e com crianças", explica ela. "Se o programa social estiver sendo encaminhado adequadamente, o impacto deve ter sido até mais importante do que o do salário mínimo", diz Maria Lucia.

O IBGE aplicou um questionário com 14 perguntas sobre insegurança alimentar nos domicílios investigados na Pnad. As respostas foram dadas com base na experiência dos entrevistados nos três meses anteriores. Não foi calculado, porém, o porcentual de famílias com insegurança alimentar que eram atendidas pelo Bolsa Família em 2009.

Revisão. O diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Francisco Menezes, defendeu uma "revisão permanente" do benefício do programa. "Acho que o Bolsa Família teve papel grande, porque existem famílias que não têm renda ou ela é muito baixa. Nesse sentido, está bem focado. Mas hoje o valor médio transferido é de até R$ 94, ainda abaixo da linha de pobreza extrema", avalia.

"Defendo uma revisão permanente. Hoje, isso ocorre às vezes. Deveria ser tal como é com salário mínimo, a cada ano. Ainda não é suficiente, mas ajuda muito." Para Menezes, o resultado do estudo mostra que o "progresso foi muito significativo, porque não é fácil fazer a redução".

"Vejo com esperança quando a presidente eleita diz que o foco principal dela vai ser enfrentar a pobreza extrema. Isso é factível, mas vai exigir não só continuidade dessas políticas como capacidade de integração cada vez maior para que se possa de fato erradicar a insegurança alimentar grave."

Tanques, Copa do Mundo, Olimpíada… Ou: poeta da paz vira lírico do tanque de guerra...


por Reinaldo Azevedo

Eu compreendo o esforço do governo federal, do governo estadual e, sim, da imprensa para evidenciar ao mundo que se está fazendo, no Rio, a opção pela ordem e que a bandidagem será vencida. O trabalho é hercúleo: além do narcotráfico, há as milícias, que têm tudo para ser outra questão incontornável dentro de alguns anos. Longe de mim achar que é tarefa fácil levar estado a essas áreas. Sei que não é. Mas se pode fazer isso do modo certo e do modo errado. O que me incomoda, e muito!, é que o governo do Rio e a Secretaria de Segurança Pública, ao colher os efeitos de seus erros, estejam sendo tratados como visionários de uma nova ordem. Isso é simplesmente mentira!

Beltrame tem de explicar por que se prendem quase 200 supostos soldados do narcotráfico em menos de uma semana e não se prendeu praticamente ninguém durante a instalação das tais UPPs; ele tem de explicar por que se apreendem duas toneladas de drogas em cinco dias e nem um papelote de pó ou um a trouxinha de maconha durante meses. Qual é?

Sim, teremos Copa do Mundo e Olimpíada pela frente. São eventos gigantescos, que mobilizam interesses bilionários. Como falhou o marketing da “ocupação humanista das favelas” — limpinha e sem efeitos colaterais —, então se opta pelo padrão “lei & ordem”. E o governo federal se apressou em dar uma resposta. Sem as disputas, estaríamos amarrados àquela cascata de sempre, que sustenta a origem social da violência e bobagens afins.

Antes, Cabral fazia poesia sem dar um tiro. Como lembrei num post de ontem, o Ministério do Turismo até deu início a um programa para transformar favela pacificada em atração… Sinceramente? Acho que isso desrespeita mais o pobre do que o próprio narcotráfico. É uma espécie de tráfico da dignidade alheia, sabem? O poeta da paz se tornou o lírico do tanque de guerra.

Proposta de Rendição...



COMUNICADO – RIO DE PAZ



O Rio de Paz, movimento da sociedade civil, que luta pela redução de homicídio no Brasil, vem por meio desse comunicado, propor às autoridades públicas do Estado do Rio de Janeiro, que seja feita uma proposta de rendição aos narcotraficantes que se encontram na comunidade do Complexo do Alemão, dando-lhes um prazo para deporem literalmente as armas e entregarem-se à polícia, antes que haja a provável operação policial que está para ocorrer, cujo objetivo é libertar aquela localidade do domínio territorial armado de uma facção criminosa.

Os motivos desse pedido relacionam-se aos seguintes fatos:

1. O possível efeito emocional e dissuasório da ação inédita, realizada no dia de ontem, pelas forças policiais em parceria com a Marinha brasileira, sobre a vida dos membros da facção criminosa que atua naquela localidade.

2. A preservação de centenas de vidas, uma vez que, a probabilidade de banho de sangue é concreta, caso haja resistência por parte dos narcotraficantes. O Rio de Paz quer evitar, entre outras coisas, cenas de pais e mães carregando no colo corpo ensangüentado de filho morto.

3. O aspecto moral da questão. Oferecer-lhes a proposta de rendição, que preservaria vidas humanas, é atitude que melhor se harmoniza ao espírito que deve reger as relações humanas no Estado Democrático de Direito.


O Rio de Paz ressalta o êxito das decisões tomadas pela Poder Público, após a crise que se estabeleceu no campo da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro: A Vila Cruzeiro foi retomada sem derramamento de sangue; O extenuante trabalho das nossas polícias na tentativa de restabelecer a ordem pública; A conjugação de esforços com as forças armadas brasileiras; e O compromisso com a transparência, com todas as autoridades da área de segurança, colocando-se à disposição dos meios de comunicação para que a sociedade receba esclarecimento.

O Rio de Paz entende que, em momento tão crucial da história da nossa cidade, a população deve estar ao lado do seus governantes, para que seja debelado o problema histórico e crônico do terror impingido pelas facções criminosas. Não é momento para divisões. A vitória do Estado é a vitória de toda uma sociedade, que está farta da barbárie e de enterrar seus mortos.

O mundo está de olho no Rio de Janeiro, torcendo para que encontremos solução para a crise da segurança pública, mas atento a fim de saber se o nosso procedimento será de povo civilizado. Estamos diante de grande aceno à democracia: nunca tantos anelaram pela vitória sobre o crime organizado. Estamos diante de grande ameaça à democracia: nunca tantos quiseram a vitória sobre o crime organizado a qualquer preço. A mínima possibilidade de vitória sem derramamento de sangue impõe o dever imperioso de darmos chance à solução pacífica. Pode parecer romântico, mas antes de tudo trata-se de uma demanda da razão e do amor”, declara Antônio C. Costa, presidente do Rio de Paz.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma paixão enorme por Jesus Cristo, o Nazareno...


Já ouvi várias posições teológicas e esclarecimentos acerca da cruz de Cristo. Alguns dizem que é a ponte. Outros que é a ligação de Deus com terra, por ser vertical.

Olho para a cruz e vejo as mãos estendidas de Jesus. Estendidas para o pecador. A mão de Jesus segura a do pecador e a outra segura a do Pai. Desta forma Jesus mantém o pecador ligado ao Pai.

As mãos estendidas de Jesus inspiram grandes artistas. Esta imagem revela beleza deste ato tão singelo. Não era médico, mas curou os doentes. Não era advogado, mas conhecia a Lei. Não foi escritor. Não conheceu livros, nem compôs poemas. A única sentença que escreveu foi uma linha sobre a areia, que desapareceu no mesmo dia.

Jesus influiu sobre o maior número de vidas do que todos os escritores juntos. A história da sua vida impactou nações. As palavras de Jesus tornaram-se o tema de milhares de sermões. As palavras de Jesus refletiam beleza, significado e graça.

As palavras de Jesus são jóias literárias. Shakespeare, Milton e Emerson curvaram-se diante de sua presença.

Jesus Cristo é a mais alta Personalidade, incorporando os mais altos ideias de todas as profissões e vocações. Ele é a síntese do melhor, o ápice do mais alto, a sumidade do mais elevado, o superlativo do supremo.

Em Jesus os homens das mais diversas profissões, vocações, raças, posições e classes vêem melhor. Aí está por que Jesus abrange a todos. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Na pessoa de Jesus o homem encontra a resposta para os seus problemas, a satisfação para os seus desejos, o desfrutar de suas lutas, o gozo de seus sonhos, a realização de seus apetites e a harmonia de sua alma.

Ele é o Amigo dos pobres. Curador do doente. O Mestre perfeito. O Filósofo incomparável. O Ideal dos ideias. O Rei dos reis. Mas acima de tudo isto – ele é o glorioso e o magnificente redentor.

Jesus é a única pessoa que aparece no cenário da história, a qual não pode ser melhorada. Todo homem na história, não importa a sua capacidade, poderia ser aperfeiçoado. Qualquer pessoa que tenhamos encontrado na nossa experiência, seja o mais admirável dos homens, pode ser melhorado.

Jesus, O Nazareno, a quem ninguém poderá adicionar qualquer coisa no sentido de melhorar a sua vida, a sua mente, a sua ética. Em Jesus Cristo tem um Ser a quem os nossos corações e mentes, e vontades podem dizer: Venha o teu reino, faça-se a tua vontade [Mateus 6.10].

sábado, 20 de novembro de 2010

Universidade Mackenzie: Em Defesa da Liberdade de Expressão Religiosa...



A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O fim do Cristianismo no Oriente Médio?

O bombardeio brutal de uma igreja em Bagdá pode ser a gota d'água para sua comunidade minoritária de dois mil anos.



Gritando "Matar, matar, matar," homens-bomba do Estado Islâmico do Iraque, uma organização militante ligada à Al Qaeda no Iraque, invadiram uma igreja caldeia em Bagdá, no domingo. Um porta-voz do grupo alegou posteriormente que eles o fizeram para "acender o pavio de uma campanha contra os cristãos iraquianos." A queixa mais premente dos invasores parece relacionada a uma exigência de que duas muçulmanas, supostamente mantidas contra sua vontade em monastérios coptas egípcios, fossem liberadas. Quando forças do governo iraquiano tentaram libertar aproximadamente 130 paroquianos que tinham sido feitos reféns, os terroristas - que já tinham matado a tiros alguns dos fiéis - detonaram seus cinturões e granadas, massacrando pelo menos metade da congregação.

Mas o massacre em Bagdá é apenas o exemplo mais espetacular da discriminação e perseguição crescentes às comunidades cristãs nativas do Iraque e do Irã, as quais agora estão em meio a um êxodo maciço, sem precedentes na época moderna, enquanto enfrentam uma maré montante de militância islâmica e chauvinismo religioso varrendo a região.

Os cristãos são o maior grupo religioso minoritário não-muçulmano, tanto no Iraque como no Irã, com raízes no Oriente Médio que remontam aos primeiros dias da fé. Alguns seguem a Igreja Ortodoxa Apostólica Armênia. Outros filiam-se à tradição siríaca de 2 mil anos, representada principalmente pela Igreja Católica Caldeia do Iraque e por falantes de aramaico, geralmente conhecidos como assírios, tanto no Iraque como no Irã.

Líderes muçulmanos iranianos e iraquianos afirmam que as minorias religiosas de seus países são protegidas. Em setembro, o ex-presidente iraniano, o Aiatolá Akbar Hashemi Rafsanjani, reassegurou ao patriarca da Igreja Assíria do Oriente de que no Irã as minorias religiosas são respeitadas e protegidas. Entretanto, os membros das denominações cristãs, bem como seus pares judaicos, zoroastristas, mandeanos e bahá'ís, não se sentem seguros. Um membro do Conselho Nacional de Igrejas no Irã, Firouz Khandjani, lamentou em agosto: "Estamos sofrendo a pior perseguição" em muitas décadas, incluindo a perda do emprego, das casas, das liberdades e de vidas," ele diz."Temos medo de perder tudo."

No Iraque, as comunidades cristãs caldeia e assíria têm testemunhado uma violência crescente da parte dos muçulmanos contra seus bairros, filhos e locais religiosos, desde a invasão dos Estados Unidos. Nem os pastores estão a salvo - dois morreram no recente ataque a bomba em Bagdá; muitos foram mortos por iraquianos sunitas e xiitas, desde 2003. No Irã, outros clérigos, incluindo membros das igrejas armênia, protestantes e católica, vêm sendo presos, sequestrados, mantidos em cárcere, torturados ou mesmo sumariamente executados há três décadas.

"Muitos cristãos de Mosul têm sido sistematicamente visados e não se sentem mais seguros lá," disse Laurens Jolles um representante da UNHCR (agência de refugiados da ONU) em 2008, depois que mulheres caldeias foram estupradas enquanto seus maridos, inclusive o arcebispo Paulos Faraj Rahho, eram torturados e mortos, num aviso aos cristãos para abandonarem suas casas e empregos. No Irã, clérigos cristãos tem sido o alvo - Tateos Mikaelian, um dos pastores mais graduados da Igreja Evangélica Armênia de São João, em Teerã, foi assassinado em 1994, bem como o bispo Haik Hovsepian Mehr, que liderava a Igreja das Assembléias de Deus.

Por que os cristãos? Das muitas justificativas oferecidas pela Al Qaeda, outros grupos fanáticos do Iraque e mulás linha-dura do Irã, uma é a mais repetida: os cristãos indígenas são representantes dos "cruzados" ocidentais. Já em 1970, o Aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu uma fatwa acusando os cristãos do Irã de "trabalharem com americanos imperialistas e governantes opressores para distorcer as verdades do Islam, desencaminhar os muçulmanos e converter nossos filhos." Temendo uma reação contra suas vidas e instituições, os cristãos têm feito esforços para provar sua lealdade, como quando assírios iranianos escreveram em setembro ao líder supremo, o Aiatolá Ali Khamenei, denunciando os cristãos americanos que desejavam queimar Corões como "inimigos de Deus."

Mas as raízes do declínio cristão no Oriente Médio remontam a séculos. No Irã, a intolerância contra todas as minorias não-muçulmanas teve uma forte guinada negativa do século 16 em diante, com a xiitificação do Irã pela dinastia Safávida. O século XX testemunhou pogroms contra armênios, assírios e gregos cristãos no Império Otomano e noroeste do Irã. Sob os xás Phalavis, os assírios, armênios, judeus, zoroastristas e bahá'ís reconquistaram alguns de seus direitos e chegaram a representar os elementos de modernização da sociedade do século 20. Mas a Revolução Islâmica de 1978 ceifou todos estes avanços. O preconceito e a opressão agora ocorrem com impunidade.

Os números falam por si: A população de não-muçulmanos no Irã caiu em dois terços ou mais, desde 1979. Do Irã, estes grupos fogem para a Turquia e Índia - muitas vezes com risco das próprias vidas, através das regiões de fronteira assoladas pela violência, entre o Iraque e o Paquistão. O número de cristãos assírios no Irã encolheu de 100 mil, em meados dos anos 70, para aproximadamente 15 mil hoje, mesmo a população do país tendo saltado de 38 milhões para 72 milhões durante o mesmo período. No Iraque, os cristãos estão fugindo em multidões. Estatísticas da ONU indicam que 15 por cento de todos os refugiados iraquianos na Síria sejam de origem cristã, embora representassem apenas 3 por cento da população quando as tropas dos Estados Unidos entraram, em 2003. O Alto Comissariado para Refugiados da ONU estima que entre 300 000 e 400 000 cristãos foram forçados a deixar o Iraque desde 2003. E os cristãos saem porque a mensagem dos militantes sunitas e dos aiatolás xiitas é cristalina:"vocês não têm futuro aqui".

Agora há uma alarmante possibilidade de que não haverá significativas comunidades cristãs no Iraque ou no Irã por volta do fim do século. Os governos nacionais e das províncias, as organizações muçulmanas patrocinadas pelo governo e os grupos islâmicos radicais estão se apossando das escolas, dos centros de reunião, dos locais históricos e das igrejas dos cristãos. Incentivos pessoais e econômicos são oferecidos aos que aderem ao Islam. Mês passado, o Vaticano promoveu um grande evento para encontrar meios de aliviar esta crise, observando que "os cristãos merecem ser reconhecidos por suas contribuições inestimáveis (...) seus direitos humanos devem ser respeitados, inclusive o direito à liberdade de culto e à liberdade de religião."

Há uma tênue luz de esperança. Em 5 de agosto, o Senado americano aprovou a Resolução 322, que expressa preocupação com as minorias religiosas do Iraque. A rápida, embora mal-sucedida tentativa do governo iraquiano de resgatar os reféns cristãos, neste domingo, parece ter sido em resposta à pressão americana - nenhuma intervenção oficial iraquiana havia ocorrido em ataques anteriores.

No Irã, entretanto, a perseguição aos cristãos continua sem dar trégua. Dois pastores evangélicos, presos em operações repressoras após as eleições presidenciais, podem ser condenados à pena de morte. Um pastor assírio foi preso e torturado em fevereiro de 2010 e também será julgado.

A resolução do Senado observou que "ameaças contra as mais diminutas minorias religiosas (...) ameaçam (...) uma sociedade diversa, pluralista e livre," palavras também aplicáveis, em sua total extensão, ao Irã. Será que o governo de Mahmoud Ahmadinejad vai ouvir este apelo? É duvidoso. Mas uma coisa é certa: Se o mundo não defender a liberdade religiosa aberta e vigorosamente, ele, Ahmadinejad, não precisará fazê-lo.





Eden Naby é historiador cultural do Oriente Médio. Ela lecionou na Universidade de Wisconsin e na Universidade de Harvard. Seu livro sobre os cristãos assírios será publicado em 2011.

Jamsheed K. Choksy é professor de Estudos Iranianos e Internacionais na Universidade de Indiana e membro do Conselho Nacional de Humanidades.



Fonte: http://www.midiasemmascara.org/

Confissões de Uma Ex Esposa de Pastor...




Por Uma Menina do Reino



Ela tinha 20 e ele 27 anos.


Ambos não sabiam que o outro existia.


Ela, nova convertida e cheia de alegria por ter sido encontrada pelo Caminho, pela Verdade e pela Vida.


Ele, não lembro exatamente agora, onde estava.


Ela veio a conhecer o mundo evangélico depois da sua compreensão da Verdade, que foi acontecendo enquanto caminhava pela vida, à sós com Deus. Deus a encontrou fora de qualquer religião, isso para ela é como um troféu. Tudo simples, apenas ela, o Evangelho e o Espírito.


Dois anos se passaram.


Ambos encontraram-se, então, numa pequena congregação que logo depois se tornou “igreja”, pois passou a preencher os requisitos requeridos no Manual Legislativo da denominação da qual havia passado a ser membro.


Ele, pastor denominacional e de família protestante “da mais alta linhagem teológica”, de 3º ou 4º geração, enfim, um invejável pedigree.


Ela, uma “trabalhadora de última hora”, ex-católica não praticante, sem família no ambiente religioso evangélico.


Ele, pastor formado em excelentes instituições, o totem da sua família.


Ela, a uma-boca-a-mais-na-mesa de uma família toda arrebentada, pais separados, mas, que na busca sedenta por Deus, com Ele encontrou-se aos 20 anos.


Ele e ela encontraram-se.


Em pouco tempo, casaram-se.


Ela...


Ela ainda acredita que apesar dos enganos da Religião, casou por amor.


Ele...


Não sei ao certo. Talvez tenha casado com ela pela cruel pressão psicológica que uma comunidade religiosa exerce sobre um pastor com quase 30 anos, ainda solteiro.


Ela tornou-se, então, uma nova convertida chamada por todos de Esposa-de-Pastor.


Esse foi seu único nome por muito tempo.


Ela, bem...


Ela nunca conseguiu deixar-se formatar pelo modelo de esposa-de-pastor.


Assim...


A comunidade religiosa não a aceitou. Começou a oprimi-la desde o início, houve uma rejeição coletiva da pessoa dela por ela não enquadrar-se nos padrões do que deve ser uma esposa-de-pastor segundo os moldes desse mundo evangélico doente.


Ela não conseguia entender simplesmente nada do que acontecia, as hostilidades gratuitas, os gritos agressivos em público contra ela, o fato de ser pauta na reunião do conselho da igreja por não conseguir estar presente sempre, as humilhações de senhoras em reuniões de senhoras.


Angústias profundas e ela adoeceu seriamente. Deprimiu-se com o fardo pesado que as pessoas da religião colocaram sobre seus ombros. Os domingos, que antes eram alegres, tornaram-se sufocantes, cheios de ansiedade, febres e outras somatizações.
Ela perdeu a alegria e ele também.


Ela...


Quanto mais deprimida ficava, mais humilhada era, pois correspondia cada vez menos às expectativas dos membros da “igreja” que tem a fixação de que mulher de pastor tem que ser, pelo menos, presidente de alguma sociedade feminina, pois isto “... a tornará mais feliz!”, era o que para ela diziam.


Ela refugiou-se no trabalho com crianças.


Ele, que sempre foi mais ele-pastor do que ele-mesmo, pois ser pastor era algo a que ele apegou-se mais do que ser ele próprio em primeiro lugar, perdeu-se de si mesmo diante dos olhos dela.


Ele deixou-se ser consumido pela instituição, que é pesadíssima e opera de maneira diametralmente oposta à simplicidade da proposta do Evangelho.


Ela, para minimizar tensões no lar, ouvia calada no café da manhã, no almoço, no jantar e em todas as horas do dia as lutas do pastorado dele, que giravam quase sempre em torno da burocracia da denominação, litígios no meio da comunidade e tribunais eclesiásticos, enfim, até a alma dela fadigar.


Ela adorava quando o dia terminava, pois ficava a sós com Deus buscando um pouco de alívio.


Ela chorava, pois via tudo desmoronar.


Ele foi adoecendo da doença chamada Religião sob os olhos dela e ficando uma pessoa cada vez mais agressiva.


Ela percebeu. Advertiu-o sobre o cultivar do amor entre eles. Ele não ouvia mais. Estava absorvido por tudo que dizia respeito à Santa Madre Igreja Protestante.


Ele tornou-se por dentro seco e frio como a Constituição da denominação à que servia, e servia como quem serve a um ídolo.


Ele, cujo Nome Próprio havia se tornado cada vez mais em Sr. Pastor-Ordenado-da-Igreja-Tal, não tinha paz em um segundo de sua vida.


Ela sempre questionou o que via e ouvia, e, calada e em oração, conferia coisa com coisa no coração.


Ela foi tornando-se cada vez mais convicta de que havia algo errado, pois não havia o Amor em nenhum lugar na “igreja” da qual ele era pastor, modo simples de aferição das coisas dado pelo Mestre, Amor, que é a marca da comunidade dos discípulos de Jesus.


Ela viu que tudo aquilo era antítese do Evangelho de Jesus e disse para si mesma observando, um certo dia, o ajuntamento de pessoas que apenas digladiavam-se o tempo todo no dia a dia da vida comunitária, e causavam danos umas às outras:


“Ou eu pago o preço alto e faço a ruptura com tudo isto aqui, e mantenho minha lucidez, ou me torno mais uma nessa linha de produção de gente adoecida e diluída na personalidade.”


Ele adoecia cada vez mais e era cada vez mais agressivo com ela. Ela passou a temer a companhia dele.


Ela havia cansado de lutar sozinha para manter acesa a última fagulha de sentimento que ainda existia.


Ele, adoecido, humilhava-a.


Ela estava traumatizada e sua alma em ruínas.


...


Tudo acabou.


Ambos seguem seus caminhos sozinhos.


Ela recupera devagar a alegria por ter sido encontrada pelo Caminho, pela Verdade e pela Vida. Tem o Evangelho, somente, como lâmpada para os pés e luz para o seu caminho.


Ela quase não tem notícias dele.


Ele, ouvi falar, estava novamente falando de um púlpito para algum ajuntamento de gente, pela denominação que lhe dá Nome e Sobrenome.



Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2010/11/confissoes-de-uma-ex-esposa-de-pastor.html

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Calvinismo não é a questão, Regeneração é | Paul Washer

Uma nova terminologia para ignorar a história da teologia...



Leio os jornais e revistas e percebo a variação de modas e estilos de vida. As propostas variam de acordo com o freguês. Algumas modas vão e vem. Outras passam rapidamente e são esquecidas. Estilistas na sua criatividade tentam reinventar algo do passado com alguns aspectos modificados para ter uma aparência mais moderna.

Leio as obras teológicas e os pensamentos dos novos teólogos modernos. Infelizmente não há diferença com o estilo do mercado da moda.

Está em debate a chamada teologia da Missão Integral da Igreja. Ora, a missão da igreja nunca foi integral? Somente agora a igreja preocupa-se com a totalidade da vida humana e a realidade de toda criação? Não. Grande engano quem defende isto. Pensar desta forma é ignorar toda contribuição que nos foi legada por nossos pais na fé.

Ouvir o discurso da Missão Integral na boca de alguns teólogos leva-me a pensar que a roda foi inventada agora. São pessoas inteligentes que utilizam deste discurso. Tenho certeza que conhecem a história, mas não a valorizam. Martyn Lloyd-Jones disse num encerramento de uma conferência teológica em 1969 sobre a possibilidade de se aprender com a história. O notável filósofo alemão Hegel chegou a afirmar que o que aprendemos da história é que não aprendemos nada com a história. Isto é um fato.

Temos uma nova terminologia para ignorar a história da teologia. A proposta da Missão Integral é boa. Não estou desfavorecendo a sua reflexão. Apenas não concordo de que este conceito seja novo. Não concordo sobre a desvalorização da história. Não aceito a possibilidade de rejeitar aqueles que mudaram a visão do mundo ocidental por suas inúmeras contribuições a favor da humanidade.

PENSAMENTO CRISTÃO REFORMADO SOBRE A POLÍTICA

A igreja entende que a sua ligação com o estado é zero. Sim, mas a igreja não pode estar em momento algum isenta de toda movimentação socioeconômica do país. Principalmente quando se trata do futuro da nação. A eleição de um tirano deve mobilizar a igreja para uma atitude radical para conscientizar a população dos riscos que virão.

O estado está para beneficiar o povo. Numa compreensão teológica, o estado é instituído por Deus para governar a sociedade visando o seu bem-estar. Um governo que não atende as necessidades básicas do povo, não pode ser considerado um governo real.

O homem foi criado para a paz e uma vida boa, mas o pecado maculou o maravilhoso propósito de Deus. A idéia de um poder constituído é exatamente trazer a ordem da criação. No plano de Deus não haveria na terra desigualdades sociais, exploração, guerra, mas harmonia e justiça. Seria uma terra sem estratificação social e nem fronteiras nacionais. A terra de Deus era uma terra para os homens, com todos nela trabalhando e dele se beneficiando, sem egoísmos privativistas.

A verdadeira teologia bíblica é bem clara sobre isto. Ela se opõe contra todo sistema opressor. Não é o povo que os serve, mas o governo e toda a sua política estão para o serviço do povo. Um Estado que não é servo do povo não pode ser legitimado. A pessoa que chega ao poder e perverte o direito do cidadão pode ser considerado ditador e um governo diabólico.

Os cristãos de hoje não olham com atenção devida para os fatos sociais que os nossos pais na fé olharam. Neste sentido Nietzsche está certo em criticar os cristãos com o ideal de duplicação de mundos. A visão bíblica cristã de hoje abre mão deste mundo em busca de um mundo superior. Isso nada mais é que uma inversão de valores. O modelo sócio-político-econômico da legislação mosaica, vontade de Deus, nos aponta um dinamismo existencial, uma possibilidade concreta de, no aqui e agora, vivermos algo do reino e de seus valores. O povo de Deus deve assumir a sua humanidade, criando instituições sociais adequadas.

Deve ficar bem claro que o cristão não foi criado para o céu, mas para a terra. A experiência do reino messiânico é para uma terra transformada, onde a vida possa ser vivida em sua plenitude e integralidade.

COMPREENSÃO DA TEOLOGIA REFORMADA SOBRE O SER HUMANO E A SOCIEDADE

A história da humanidade mostra o quanto o homem desconsidera o seu próximo. O ser humano tem uma capacidade de ver no outro um inimigo. Não entende que é parte com ele em tudo na criação. Falta esta compreensão de organismo vivo. Todos interligados.


Os teólogos e pastores do passado entendiam a vida social baseada na interpretação bíblica. Todo tipo de engajamento visava cumprir o mandamento divino – zelar, cuidar, honrar e respeitar a vida humana e tudo o que implica o bem-estar do homem.

A Reforma Protestante ocorrida no século XVI não foi somente um movimento espiritual e eclesiástico. Teve também aspectos e dimensões políticas e sociais. Existiu uma preocupação com o tema social e o valor da vida humana.

Zwínglio abriu um asilo para todos os indigentes enfermos. Aconteceu uma reforma social em que o ser humano foi o alvo. Em 1520, um decreto do Conselho Zuriquense reorganiza a assistência. Os donativos e contribuições foram centralizados e distribuídos por funcionários juramentados. Após a uma supressão, em 1525, dos conventos, os bens destes eram destinados ao atendimento dos pobres em suas necessidades. A mendicância é proibida e o asilo recebe, além de pessoas enfermas, os indigentes, a quem se distribuem recursos em dinheiro e em espécie. Instala-se uma rouparia e todos os dias às primeiras horas da manhã, um caldeirão já estava à disposição de quantos desejassem um prato de sopa. Em cada bairro, havia um eclesiástico e um leigo para obter as informações necessárias e coletavam os donativos. Sopas populares foram instituídas para os estudantes necessitados. As igrejas e paróquias rurais assumiam o cuidado de seus indigentes e não fazê-los buscar auxílio em outros lugares. Deve ser destacado para a memória de Zwínglio, que ele foi o responsável da abolição da servidão nos campos, no tempo da guerra dos camponeses, e a destinação dos dízimos aos indigentes e aos enfermos. Já no dia 10 de agosto de 1535 havia o Conselho decidido fazer um inventário dos bens eclesiásticos. No dia 29 de novembro, Zwínglio decreta a fundação de um Hospital Geral, que se implanta no antigo convento de Santa Clara. Esta instituição de assistência é dotada dos rendimentos dos sete hospitais e asilos antigos, de todas as igrejas, capelanias, paróquias, mosteiros e confrarias.

Calvino espelhou-se na obra realiza em Zurique e aplicou em Genebra o mesmo feito. Em 1535, é fundado o Hospital Geral, destinado a dar assistência aos enfermos, aos pobres, aos órfãos e aos idosos. Durante a terrível peste bubônica que devastou Milão, o amor heróico do Cardeal Borromeo distinguiu-se brilhantemente na coragem que ele manifestou em suas ministrações aos moribundos; mas durante a peste bubônica, que no século XVI atormentou Genebra, Calvino agiu melhor e mais sabiamente, pois não apenas cuidou incessantemente das necessidades espirituais dos doentes, mas ao mesmo tempo introduziu medidas higiênicas até então incomparáveis, pelas quais as ruínas da praga foram interrompidas. Depois, em consideração à penúria de víveres, a pobreza de uma parte da população e a avareza de outra, medidas de ordem econômica foram tomadas imediatamente contra o monopólio e a especulação para colocar os produtos básicos da alimentação ao alcance de todas as pessoas.

O protestantismo de tradição reformada alfabetizou o homem da sua época, dando-lhe acesso a um mínimo de instrução. Libertou-o de uma série de vícios danosos à sua saúde, nocivos à sua capacidade de trabalho, e o conduziu às virtudes de uma vida sóbria. Integrou o homem em uma comunidade, que é também um grupo de ajuda mútua. Ensinou que o homem deve buscar seu papel social como uma vocação, um chamado de Deus. Entendeu que a atividade econômica e financeira deve ser um direito de todos, sem privilégio ou exclusividade por parte do Estado ou da Igreja.

Portanto, reafirmo a posição de que não há nada de novo. Um legado nos foi deixado. Temos que honrar o suor e o sangue que os pastores do passado derramaram. Se facilmente é ignorada a tradição teológica o que se dirá dos principais fundamentos da fé cristã.

A nossa espiritualidade não pode estar restringir à devoção diária. É preciso mostrar esta fé para uma sociedade chafurdada no caos.

Precisamos ter a compreensão de que a obra de Cristo restaura uma sociedade falida, desorganizada e perdida.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cristãos são agredidos por não deixarem o cristianismo...



BANGLADESH (45º) - Em outubro um cristão de 63 anos, foi agredido junto de seu filho mais novo, por se recusarem a voltar ao islamismo. No mesmo período em uma vila das proximidades, outro cristão também foi agredido e roubado pelo mesmo motivo, no sudoeste de Bangladesh.

Aynal Haque, de 63 anos, voluntário da organização cristã Way of Life Trust, disse ao Compass Direct News que seus irmãos e parentes, juntamente com os aldeões muçulmanos agrediram ele e seu filho de 22 anos, Lal Miah, em 09 de outubro, quando eles se recusaram a renegar o cristianismo.

A família vive na vila Sadhu Hati Panta Para, no distrito de Jhenaidah, cerca de 250 quilômetros a sudoeste de Dhaka.

Haque foi convocado em 09 de outubro para uma reunião com cerca de 500 homens e mulheres de várias aldeias e relatou: "Eles tentaram nos forçar a se desculpar por nosso erro de aceitar o cristianismo e também tentaram nos obrigar a voltar ao islamismo. Eu lhes disse: "Enquanto houver fôlego em nossos corpos, não vamos rejeitar o cristianismo. "Quando negamos fomos severamente agredidos."

No dia seguinte (dia 10 de outurbo) em Kola, uma aldeia a cerca de cinco quilômetros bateu num amigo cristão de Haque e roubaram sua loja de sementes. Tokkel Ali, de 40 anos, contou que cerca de 20 pessoas chegaram em sua loja por volta das 11h e uma "multidão invadiu e começou a me agredir, jogando minhas sementes por todos os lados", disse.

Ali perdeu a consciência e a multidão arruaçou seu estabelecimento, além de roubarem 24.580 taka, e sua bicicleta. Ele disse que não se atreveu a abrir queixa por quaisquer encargos. "Se eu abrir qualquer processo ou queixa contra eles,morrerei."



Tradução: Carla Priscilla Silva
Fonte: http://www.portasabertas.org.br/noticias/noticia.asp?ID=6652

Mais ataques contra cristãos em Bagdá uma semana depois do massacre...


IRAQUE (17º) - Outro ataque foi feito contra cristãos no Iraque uma semana depois do massacre na Catedral Sírio-Católica de Nossa Senhora da Salvação, em Bagdá. Dois cristãos foram mortos dia 7 de novembro: Louay Daniel Yacoub, 49 anos, estava em frente ao seu apartamento quando estranhos atiraram matando-o. O outro cristão foi morto no mesmo dia, mas sua identidade é desconhecida. O tiroteio foi mencionado pela fonte local da AsiaNews, por questões de segurança em anonimato.

A comunidade muçulmana expressou sua solidariedade e proximidade para com os cristãos sob ataque no Iraque. Em 5 de novembro, durante as orações de sexta-feira, todos as mesquitas em Kirkuk condenaram o “ataque bárbaro” contra a igreja na capital.

O prefeito e o xeique das tribos árabe, curdos e turcomanos, expressaram condolências e solidariedade com o arcebispo caldeu da cidade.

No dia seguinte, os líderes sunitas e xiitas do norte da cidade do Iraque também condenaram fortemente, lado a lado com o arcebispo Louis Sako, a carnificina que matou mais de 50 pessoas em Bagdá em 31 de outubro. Os líderes religiosos muçulmanos têm clamado pela preservação do “mosaico do Iraque” de grupos e religiões étnicas.

O mesmo líder chamou pelos muçulmanos para proteger os cristãos, que são um modelo de lealdade, “e lançou um apelo para todos os iraquianos não sucumbirem ao medo e não deixar seu país”.

Governo iraquiano

A violência no Iraque acelerou com a formação do novo governo iraquiano, adiado por oito meses depois das eleições. De acordo com o porta-voz do governo Ali Al Dabbagh, um acordo executivo de unidade nacional está pendente.

O primeiro ministro xiita Nouri Al-Maliki foi reconfirmado, depois de ganhar o apoio do secular sunita-xiita Iraqiya Party comandado pelo rival ex-primeiro ministro Iyad Allawi, e vencedor das pesquisas em março. O último “conduzirá o Parlamento”, como interlocutor, enquanto Jalal Talabani da Aliança Curda permanecerá chefe do estado.

Os EUA ainda não confirmaram a notícia, mas encorajam as autoridades iraquianas a formarem um governo “inclusivo”.

Os cristãos em Bagdá tiveram no final de semana a primeira reunião na Catedral Sírio-Católica de Nossa Senhora da Salvação depois do massacre de 31 de outubro. O interior estava sem nenhum banco, ao longo do corredor centenas de velas foram derrubadas no chão, formando uma grande cruz no meio na qual foram colocados os nomes das 46 vítimas do massacre dos fiéis no domingo.

“Hoje, oramos pelos agressores que atacaram nossa igreja e mataram nossos padres e sacerdotes Wassim e Thader.” disse o sacerdote Mukhlas Habash em seu sermão, citando os nomes de dois padres de 32 e 27 anos mortos há sete dias. Suas faces sorridentes são exibidas em pôsteres nas paredes enegrecidas e perfuradas de balas da catedral.


Tradução: Tatiane Lima
Fonte: http://www.portasabertas.org.br/noticias/noticia.asp?ID=6662

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Urgente: Pastor que denunciou ligação entre Bispo Manoel Ferreira e Rev. Moon sofre prisão...


Julio Severo

Dilma Rousseff mal ganhou a eleição e seus aliados se sentem tão fortalecidos que agora estão dispostos a destruir toda a oposição. O Pr. Enoque Lima, que é pastor dentro da denominação da Asssembleia de Deus onde o Bispo Manoel Ferreira é presidente, acaba de ser preso, conforme comunicado que recebi agora há pouco da esposa dele.

Ela estava no serviço agora à tarde quando recebeu telefonema da prisão do marido. Ela não sabe detalhes, mas afirma saber que a prisão tem relação com Manoel Ferreira.

Conforme meu blog vem denunciando durante mais de dois anos, Ferreira tem tido ligações com o Rev. Moon, da seita Igreja da Unificação. Nessas denúncias, meu blog sempre usou vídeos preparados pelo Pr. Lima.

Peço oração pela segurança e livramento do pastor que ousou denunciar o escândalo da figura maior da denominação dele.

Quem estiver em Goiás e puder ajudar juridicamente, favor entrar em contato comigo.

Peço também que todos copiem, baixem e espalhem os vídeos do Pr. Enoque Lima que estão no meu blog, antes que a “justiça” que prendeu o Pr. Lima venha atrás do meu blog.


Fonte: juliosevero.blogspot.com

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A vida não tem receita...



Fico impressionado com a capacidade de alguns na suposta pretensão de achar solução para tudo.

Certa vez ouvi de um pai com dificuldades com o filho de que não existe receita pronta para aprender a ser pai. Isto é a pura verdade.

Na dimensão complexa da vida a dinâmica é a mesma. Cada ser humano é um universo desconhecido. Não posso achar-me no direito de numa conversa curta decifrar os códigos dos problemas juntamente com a solução.

Uma pessoa diante da dor não quer saber de respostas prontas. É um tremendo absurdo o que se faz nos gabinetes pastorais. A dor sempre tem uma causa. Quem disse isso? Será que ninguém viveu a dor de uma saudade sem saber o motivo? A dor de perder alguém sem causa alguma? A dor insuportável de viver? Gosto de pensar aqui no ilustre escritor que foi C. S. Lewis. Ele escreveu uma obra fantástica chamada “O Problema do Sofrimento”. No entanto, ele não sabia de nada. Nunca tinha de fato experimentado uma dor penetrante que cria morada na alma e assume a postura de uma ditadura em que tudo agora está debaixo da sua tutela. Após uma experiência traumática ele mudou as convicções. Reformulou conceitos. Destruiu a receita. Acabou com a lista de respostas. Deus não estava mais presente na religião doentia que afirma solução para tudo. Nem Deus tem respostas para tudo. Se tiver, pelo menos não diz.

Estou cansado de ouvir e ter que conviver com pessoas que condenam o ato de lamentar, duvidar, gritar e brigar com Deus. Onde está isso nas Escrituras que é pecado? Os chamados grandes profetas sempre se lamentaram e discutiram com Deus sobre questões da própria vida e da sociedade. Celebro a ousadia de Lewis quando afirmou categoricamente assim: “... onde está Deus? [...] volte-se para Ele, quando estiver em grande necessidade, quando toda outra forma de amparo for inútil, e o que você encontrará? Uma porta fechada na sua cara”. Assim é a vida.

Mostrar paciência para aqueles que acham que a dor tem que ser negada e desvalorizada, pois não a reconhecem como parte da vida, não é uma tarefa fácil.

Reafirmo. A igreja não tem respostas prontas. A igreja ainda é pré-copernicana em sua atitude com relação à dor, sofrimento e a morte. A imagem medieval do céu e do inferno não foi substituída por nada mais realista, ou mais terno. Talvez, para aqueles que estão convencidos de que somente os cristãos que partilham seus pontos de vista são salvos e irão para o céu, às velhas idéias ainda sejam adequadas.

Contudo, para a maioria de nós, que vemos um Deus de muito mais amor do que um deus tribal que somente faz zelar por seu pequeno grupo há mais coisas necessárias. Deus não crias para depois destruir. Sempre que ouço sobre as formas de consola que a religião oferece, eu desconfio de que aquele que anuncia não faz a mínima idéia do que diz.

Não há como não concordar quando Jung afirmou que não se vem à vida sem a dor.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Impureza sexual: tem cura?...



Guilherme de Carvalho


Outro dia tive uma conversa estimulante, mas também algo abaladora com um pastor, no final de uma palestra sobre educação. Na palestra eu havia mencionado um princípio do pensamento reformacional -- a ideia de que não há contradições estruturais na ordem criada. Assim, não há contradição essencial entre, por exemplo, a esfera da justiça e a da moral, ou entre a esfera estética e a esfera da fé, e assim por diante. Porém, uma das minhas alegações fez acenderem luzinhas no painel dos presentes, incluindo no do amigo pastor: a de que não haveria contradição estrutural entre as esferas biológica e psíquica e a esfera moral.

Ao término da exposição ele reagiu prontamente com uma questão muitíssimo prática: a tentação sexual: “Há pouco eu aconselhei um homem envolvido em adultério. O casal está aos poucos se refazendo, e a esposa está disposta a perdoar; quanto ao marido, ele deixou claro para mim que amava a sua esposa. Ele simplesmente foi fraco e caiu. Não lhe faltava amor; faltavam-lhe forças para resistir à tentação sexual. Mas isso não implica em uma contradição entre o nível biológico e o nível moral?”.

Sem dúvida, as impressões do pastor refletiam um lugar-comum da imaginação evangélica: a tentação seria uma fraqueza interna ao campo sexual, a ser vencida por meio de uma resistência ao desejo sexual, seja por uma intervenção diretamente biológica (arrancar os olhos, ou outra coisa, eventualmente) ou por uma equilibração psíquica. De um modo ou de outro, espera-se que o desejo sexual distorcido seja controlado. Mas se, enfim, perdemos o controle, é porque falta disciplina no trato com o desejo. Precisamos disciplinar o corpo, basicamente; dobrá-lo pela supressão do desejo.

Pois bem; essa é uma das mais falsas verdades que os cristãos gostamos de espalhar. É uma verdade, sim, que o corpo deve ser disciplinado, e o desejo controlado; não é o “domínio próprio” um fruto do Espírito? Entretanto, é uma baita falsidade que possamos controlar os desejos assim mecanicamente, ou mesmo “cirurgicamente”.

Imagine o mundo sem o pecado


Façamos alguns exercícios de imaginação cristã; imaginemos o mundo sem pecado. Nesse paraíso, Adão tem desejos de todos os tipos, incluindo os desejos sexuais. Esses desejos têm uma base instintiva biopsíquica, e são acionados automaticamente por sinais óbvios: a forma do corpo da fêmea, certas cores, certos cheiros etc. Adão está sujeito a tais estímulos exatamente como qualquer outro macho de sua espécie, sendo que sua sexualidade, nesse nível, tem forte analogia com a de outros animais.

Porém, Adão não é apenas um animal, feito de pó como todos os outros. Adão é o pó com o sopro divino, é o portador da imagem de Deus. De algum modo essa imagem está impressa no mesmo pó do qual as outras criaturas foram feitas, e entre as características particulares que Adão apresenta está a sua função moral. Adão é capaz de um altruísmo perfeito, muito além do altruísmo de cães e golfinhos. Ele é capaz de amar de forma pura, reconhecendo na forma da fêmea não um corpo adequado ao acasalamento, mas a superfície material de uma pessoa; não como mero objeto, mas como evento dotado de profundidade pessoal, como um Tu que precisa ser amado incondicionalmente por meio do trato que se dispensará ao seu corpo.

Teríamos aqui uma contradição estrutural? Haveria aqui um choque da dinâmica biopsíquica contra a dinâmica moral? Penso que temos excelentes razões para crer que não; não apenas razões teológicas (tudo o que Deus criou é bom), mas também filosóficas. Vou lançar mão aqui da noção de sobredeterminação utilizada em ontologia (a teoria sobre a natureza da realidade). O conceito não é muito complicado, mas exige alguma atenção.

Sobredeterminações ontológicas


A ideia de sobredeterminação ontológica é a ideia de que a dinâmica própria de um nível superior da realidade não contradiz, mas sobredetermina a dinâmica de um nível inferior. Um exemplo clássico disso é a relação entre a dinâmica biótica seus processos químicos subjacentes. A matéria, como se sabe, se associa ou se desassocia segundo leis físico-químicas, e essas leis por si mesmas não produzem seres vivos. Por outro lado, seres vivos apresentam processos exclusivos em relação aos seres inanimados; processos como a reprodução, o metabolismo, e a conservação de informação complexa.

Naturalmente, para realizar todos estes processos, os seres vivos dependem de processos físico-químicos, que seguem leis físico-químicas. Porém, se as moléculas que compõe a estrutura de uma célula viva apenas obedecessem a leis físico-químicas, ela se desfaria. As moléculas da célula obedecem às leis físico-químicas dentro de restrições e especificações impostas pela dinâmica biológica do organismo, segundo modos absolutamente improváveis, de um ponto de vista puramente químico. Quando as moléculas da célula seguem apenas as leis físico-químicas, sem nenhum controle biótico, ela se desfaz -- porque, obviamente, ela está morta. Dizemos, portanto, que há na célula uma sobredeterminação das leis bióticas sobre as leis físicas.

A sobredeterminação moral


Ora, o mesmo vale para outros níveis da realidade. Há uma sobredeterminação psíquica sobre os processos biológicos do ser humano; e uma sobredeterminação sociológica sobre processos psíquicos; e no final da escala, uma sobredeterminação religiosa e moral sobre todos os níveis estruturais do ser humano. As normas de um nível superior de função humana não contradizem as normas do nível inferior, mas lhe dão formas particulares, habilitando-as a existirem no nível superior. Pense nas moléculas da célula: pela “obediência” às leis bióticas, elas deixam de ser apenas “matéria”, e se tornam parte de um ser vivo.

Ora, o que queremos dizer com isso é que é preciso ser um animal para ser um homem; no entanto essa é uma condição “necessária, mas não suficiente”. A vontade moral e a capacidade humana de amar opera por meio de sua estrutura sexual, mas a transcende, elevando o corpo do homem à condição de espírito, de pessoa. Porém, assim como a célula pode morrer entregando suas moléculas às leis brutas do mundo físico-químico, o homem pode morrer moralmente entregando o seu corpo aos estímulos biopsíquicos. O humano no homem pode ser negado e perdido por falta de vontade.

Onde se localiza, então, a falha da impureza sexual? Não no nível sexual, seja em seu aspecto biológico ou psíquico, mas no nível moral. Quando pecamos por impureza sexual, não pecamos por excesso de sexualidade, por excesso de desejo sexual, ou por excesso de estímulo sexual (primariamente falando), mas por falta, por ausência. E aqui estamos simplesmente sendo Agostinianos: o pecado é a privação do bem. O problema da impureza é a ausência moral, não o excesso sexual.

Um Truísmo?


Estaríamos nós dizendo o óbvio? Sim e não. Sim, porque isso é simplesmente o que as Escrituras e a tradição ensinam. Não, porque isso não é de modo algum a teologia moral popular no meio cristão. Pensemos na conversa com o pastor, que mencionamos antes. Ele afirmou com grande convicção que o marido traidor, no fundo, amava a sua esposa. Ele caiu por ser fraco, não por falhar no amor.

À luz do que acabamos de considerar, no entanto, eu diria que não. Com certeza, o marido traidor amava a sua esposa; mas ele não a amava o suficiente. Na verdade, ele não caiu por fraqueza sexual (ou excesso de desejo sexual), mas por falta de amor. Não foi isso o que nos disse o Apóstolo? “O amor não faz mal ao próximo”. Jesus não caiu e não cairia nessa tentação, não porque não tivesse os mesmos desejos sexuais, mas porque ele saberia olhar para cada pessoa envolvida com amor de verdade.

Sejamos específicos: aquele que adultera deixa de amar à sua esposa e de considerá-la como pessoa de valor infinito. E deixa também de amar à sua “amante”, tratando-a egoisticamente. Aquele que procura a prostituição, seja ela real ou virtual, não ama aqueles que estão escravizados ao mercado sexual, e tampouco ama a si mesmo; pois se sujeita a ser manipulado e explorado por indivíduos que não tem um pingo de respeito ou preocupação com o seu destino, desde que esvaziem os seus bolsos.

De modo algum eu pretendo dizer com este argumento que não exista o vício sexual; mas sustento que até mesmo o vício tem os seus começos na falta de amor genuíno pelo outro. Todo aquele que sofre com a impureza sexual deve saber, e dizer para si mesmo claramente, que ele não é um pobre coitado, aprisionado por impulsos sexuais e por uma dinâmica biopsíquica ultimamente má inventada por um Criador maldoso. Mil vezes não. A concupiscência existe, sim; mas é uma erva daninha. Ela só cresce quando o amor está ausente. E quando ele está presente, alguma coisa forçosamente mudará. É por isso que Santo Agostinho pôde declarar com tanta confiança: “Ama e faze o que quiseres”.

Problemas oftalmológicos


De acordo com Jesus, a impureza é uma doença dos olhos, de certo modo; um problema oftalmológico, mas altamente infeccioso, a ponto de ele receitar a amputação: “Se o teu olho de faz tropeçar, arranca-o”. Porém, Jesus sabia o que dizia. Ele deixou claro que o que contamina o homem é o que sai do seu coração, não o que entra pela sua boca. A doutrina da “amputação” é uma referência metafórica à mudança dos olhos.

O ser humano tem sérios problemas com os olhos. E eu quero chamar a atenção dos meus companheiros, os homens. Recentemente recebeu alguma cobertura o resultado de uma pesquisa feita na universidade de Princeton, sobre os padrões de resposta neurológica de homens diante de imagens de mulheres. O que Susan Fiske, a diretora da pesquisa descobriu, é que as imagens de mulheres com teor erótico ou sensual, e especialmente as imagens de partes específicas do corpo sem a revelação da face, despertam as mesmas áreas do cérebro masculino tipicamente associadas ao uso de ferramentas e objetos inanimados, ao mesmo tempo em que desativam as partes associadas às relações sociais.

Ou seja, de algum modo a nossa sociedade desenvolveu uma forma de desassociar o interesse sexual da sensibilidade moral a partir da nossa forma de olhar as mulheres. Fomos literalmente submetidos a um maciço treinamento pavloviano para nos acostumarmos a olhar mulheres como objetos, como superfícies materiais sem profundidade pessoal. Nas palavras de Susan Fiske, “eles não as estão tratando como seres humanos tridimensionais”.

Isso é o que acontece quando suprimimos a nossa intuição moral e deixamos de ver pessoas diante de nós. Restam apenas corpos impessoais.

Olhar com amor


Como, então, o amor se manifesta, no que tange à impureza sexual? De novo quero apelar para Paulo: “Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza” (1Tm 5.1).

Paulo sabia muito bem o que estava dizendo. Ninguém pode alegar (a não ser, é claro, em casos evidentemente patológicos) que não sabe o que significa olhar para uma mulher linda e não cobiçar. Basta ter mãe ou irmã -- ou filha, eu diria. Todos nós sabemos muito bem o que é olhar alguém que, biologicamente falando, poderia ser apenas um objeto sexual, mas simplesmente não sentir interesse sexual por causa do amor, de uma relação de respeito e cuidado em que o outro é verdadeiramente reconhecido como pessoa e valorizado incondicionalmente. O amor faz a gente ter um olhar diferente.

Como é que o jovem Timóteo olharia para uma moça com “toda a pureza”? Olhando-a como se fosse uma irmã de sangue. Paulo nos convida aqui a usar a imaginação, e considerar as moças como se fossem irmãs. Ou seja, tomando-as como pessoas, não como objetos. Isso demandará uma revolução, nos dias de hoje, em que somos ensinados a enxergar os corpos humanos como bonecos de plástico. Jovens e adultos, homens e mulheres, olhando para seus pares, amigos e semelhantes como pessoas -- não como nacos de carne, como pernas, bundas e peitos, mas como gente, como humanos com faces, como superfícies físicas de pessoas reais.

Honestamente, preciso dizer a todos os meus companheiros pecadores que não há uma cura completa para essas doenças do olhar, até que a nossa ressurreição seja consumada. Porém, há o que Schaeffer chamava de “cura substancial”. A impureza no olhar tem cura de verdade, embora seja um caminho difícil; pois amar de verdade é ainda mais difícil que reprimir desejos.

Mas, enfim, não há vitória na “pureza” obtida à custa de repressão do desejo. É inútil congelar uma célula morta para que ela não se desfaça. A única solução genuína e de longo prazo para o problema da impureza sexual é ter amor nos olhos.

Parodiando Santo Agostinho, eu diria: “Ama e olha como quiseres”.



Guilherme Vilela Ribeiro de Carvalho, pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte, é obreiro de L’Abri no Brasil e presidente da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares. É também organizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação e membro da associação Christians in Science (CiS). guilhermedecarvalho.blogspot.com/


Fonte: www.ultimato.com.br/conteudo/impureza-sexual-tem-cura/1