terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Feliz Ano Novo e Novas Postagens...

Quero agradecer pela contribuição de cada leitor. Foi um ano muito bom. Aprendi bastante com os leitores.

Este é o meu último post de 2008. Externo a minha imensa satisfação de poder contar com leitores tão dedicados, compreensivos, generosos e talentosos. Este blog não existiria sem vocês. O que é um blog sem leitores? Os blogueiros que criticaram-me durante este ano devem saber. Eu não sei.

Foi um ano de discussões quentes. Os meus “inimigos” contribuíram para a propagação do meu blog. Jamais me coloquei no lugar do meu adversário. Mas agradeço pela divulgação do blog.

Já defendi e volta a defender o meu lugar de direito. Este lugar em que exerço o meu pensamento. É preciso que haja um espaço público, livre e democrático em que possa ser postado o que se pensa e o que se vê. Não pode existir uma fiscalização barata e (i)moral de denominação, igreja, pastores ou frustrados para cercear a liberdade de expressão. Este blog continuará na mesma linha. Se for necessário, irá levantar a voz e denunciar a podridão que muitos gostam de empurrar para debaixo do tapete.

Devo voltar somente no dia 15 de janeiro. Espero que até lá eu possa estar com novas informações e artigos novos.

Desejo a todos um feliz ano novo. Que 2009 seja repleto da graça de Cristo e cheio de vitórias. Deus na sua infinita bondade conceda a todos o desejo do coração.

Anelo para que a vida, a criação e o ser humano sejam valorizados, respeitados e preservados neste próximo ano.

Até a volta

Ano Novo - Uma Oração Puritana

Ó SENHOR,

Os dias passados de nada me servem, exceto os que foram passados

na tua presença, em teu serviço, para tua glória.

Que a tua graça me preceda, siga, guie, sustente,

santifique, e auxilie a cada hora,

que em momento algum eu possa me apartar de ti,

mas seja guardado pelo teu Espírito

provendo cada pensamento,

falando em cada palavra,

dirigindo cada passo,

fazendo toda obra prosperar,

edificando cada linha de fé,

e fazendo-me desejoso de

espalhar teu louvor,

testificar teu amor,

levar adiante teu reino.

Lanço meu barco sob as águas desconhecidas deste ano,

tenho tu, ó Pai, como meu porto,

tu, ó Filho, como meu leme,

tu, ó Santo Espírito, enchendo minhas velas.

Guia-me ao céu com meus lombos cingidos,

minha lâmpada acesa,

meu ouvido aberto aos teus chamados,

meu coração cheio de amor,

minh’alma livre.

Dá-me tua graça para minha santificação,

teus confortos para encorajamento,

tua sabedoria para ensino,

tua mão direita pra guia,

teu conselho para instrução,

tua lei para julgamento,

tua presença para equilíbrio.

Que o meu temor seja temor a ti,

e teus triunfos sejam minha alegria.


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A Precariedade de Debatedores...

Existi uma grande confusão com o termo “debate”. Alguns confundem debater com polemizar. São coisas distintas.

O primeiro grande filósofo – Sócrates – não escreveu nada. Sócrates priorizava a fala.

O dialogo socrático é mais que escrever diálogos filosóficos. É uma experiência de seres humanos crescendo intelectual e espiritualmente, e de cidadãos pensando em conjunto. Não se limita expor a “verdade”, mas coloca dúvidas – cria uma comunidade de pensantes.

Num contexto tão aberto que a nossa sociedade vive não se debate com maestria. O debate perdeu o vigor.

Participo de vários encontros teológicos, filosóficos, sociológicos, antropológicos e literários, mas o debate não está presente. As pessoas criam polemicas uns com os outros. E com o auditório. Polemica vem da palavra da grega polemos, “guerra”. Polemistas vão a batalha. Cada um se aferra a suas posições e tenta destruir o outro. Alguns encontros que eram para ser de debates tornam-se campos de batalha. O polemista, tão comum hoje no Brasil, é uma caricatura do debatedor. Repete sempre o mesmo.

O verdadeiro debatedor não tem compromisso com uma idéia só. Ele também tem a coragem de rever suas posições e reformula-las. É com o movimento do pensar, sempre livre.

Por que nossos acadêmicos mais polemizam do que debatem? Fazem caricatura da posição alheia. Atacam o outro, atribuindo-lhe o que ele não disse. Isso preocupa. Nosso país infelizmente ainda é pobre em Filosofia. Faz mais história dela do que, propriamente, Filosofia. Talvez tudo isso ocorra pelo simples fato de que o nosso país ainda não tenha o prazer de pensar. Porque, quando se gosta de pensar, não importa quem ganhe: o bom é discutir, é poder mudar de idéia.

Poesia está em tudo...

Muitos não entendem a presença da poesia nas mais distintas áreas da vida. Pensar. Refletir. Racionalizar. Arte. Enfim, poesia é a fonte inspiradora para a criatividade. Ele inspira o novo. Há aqueles que não gostam da poesia na teologia. Acreditam estes que a poesia diminui o valor rico da teologia. Pelo contrário, grandes teólogos poetizam. Em qualquer corrente teológica haverá poesia.

Para um novel estudante de filosofia, sendo este o meu caso, a poesia precisa fazer parte da minha vida com mais intensidade. Filosofar é poetizar. Xenófanes mostra que, no nascimento da filosofia grega, a linguagem poética era um instrumento comum de expressão de pensamento de cunho filosófico, e que os limites entre Filosofia e poesia, embora nos pareçam tão evidentes hoje, eram, do ponto de vista dos modos do discurso, bastante tênues.

Nietzsche, por exemplo, em seu primeiro livro O Nascimento da Tragédia (1872), entendia os diálogos platônicos como o protótipo do romance. Nesse sentido, assim como Xenófanes, também Platão se insere na tradição retórico-poética grega, e esse aspecto muitas vezes é negligenciado. Descurar da forma como Platão escreve sua filosofia é o mesmo que ler poesia sem atentar para os aspectos do texto.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Bizarro: O que a sociedade diz a respeito?


Pela primeira vez um homem vai sentir a dor do parto. Isso mesmo, um homem ficou grávido.

Mas como isso é possível?

Thomas Beatie, o homem grávido, era uma mulher no passado, e fez uma operação para trocar de sexo, porém não retirou o útero.

Ele e sua esposa Nancy decidiram ter um filho, porém sua esposa não podia engravidar, então resolveram fazer uma inseminação artificial no Thomas.

“Querer ter um filho biológico não é um desejo feminino ou masculino, é um desejo humano”, disse Thomas Beatie, e “eu sou um transexual, legalmente um homem, e legalmente casado com Nancy, conto com todos os direitos federais de um casamento”.

Antes de conseguir engravidar, Thomas e Nancy sofreram muito preconceito por parte das pessoas que o casal procurou para ajudá-los a ter um filho.

“Médicos nos discriminaram, nos mandando embora por causa de crenças religiosas. Profissionais de saúde se recusaram a me chamar por um pronome masculino ou reconhecer Nancy como minha esposa. Recepcionistas riram da gente”.

O pior de todos foi o irmão de Thomas que disse sem dó do casal: “Vai nascer um monstro”!

Depois de passar por 9 médicos eles decidiram fazer uma inseminação caseira, após terem acesso a um banco de esperma.

Antes de Thomas ficar grávido, os vizinhos do casal os consideravam um casal normal, trabalhador e apaixonado, inclusive a família de Nancy sequer sabia que ele era um transexual.

“Apesar de minha barriga estar crescendo com um nova vida dentro de mim, estou estável e confiante sendo um homem que sou. De forma técnica, me vejo como minha própria ‘mãe de aluguel’, apesar de que minha identidade como homem é constante. Para Nancy, sou o marido dela carregando nosso filho.”

E o primeiro homem a ficar grávido no mundo finalizou dizendo: “Estou me sentindo incrível!”

sábado, 20 de dezembro de 2008

Obama defende convite a Pr. Rick Warren para posse...


O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu ontem sua decisão de convidar o pastor de ideologia conservadora Rick Warren a fazer uma oração durante a cerimônia de posse em 20 de janeiro.

A decisão, anunciada na quarta-feira, gerou mal-estar entre os democratas mais progressistas e entre as organizações pró-direitos dos homossexuais, que criticam as posições de Warren contra as uniões gay e que esperavam que Obama os apoiasse mais.

Em coletiva de imprensa hoje em Chicago para apresentar vários nomes de sua equipe econômica, Obama disse ser um “firme defensor dos direitos dos homossexuais”.

No entanto, ressaltou que também considera importante “que os americanos se unam, apesar das diferentes opiniões em torno de questões sociais”.

Obama lembrou também que o pastor, que dirige a “megaigreja” de Saddleback, nos arredores de Los Angeles, o convidou a fazer um discurso há dois anos com pleno conhecimento de que mantêm pontos de vista muito diferentes.

Warren, que encontrou durante a campanha eleitoral tanto Obama como seu adversário, o republicano John McCain, estará acompanhado nas orações pelo reverendo Joseph Jones, um destacado integrante do movimento a favor dos direitos civis e fundador da Conferência de Liderança Cristã Sulista junto a Martin Luther King.

Segundo Obama, durante os quatro dias de festas para celebrar a posse, estarão presentes “uma ampla gama de opiniões” e “assim que deve ser”.

Fonte: Último Segundo

Ensaio sobre a Cegueira...

por Contardo Calligaris

Gosto dos romances e dos filmes apocalípticos, ou seja, das histórias em que algum tipo de fim do mundo (guerra nuclear, invasão extraterrestre, epidemia, etc.) nos força a encarar uma versão laica e íntima do Juízo final. Nessa versão, Deus não avalia nosso passado, mas, enquanto o mundo desaba, nosso desempenho mostra quem somos realmente. No desamparo, quando o tecido social se esfacela e as normas perdem força e valor, conhecemos, enfim, nosso estofo “verdadeiro”. Somos capazes do melhor ou do pior: o apocalipse nos testa e nos revela.

O primeiro romance apocalíptico (1826) talvez tenha sido “O Último homem” (ed. Landmark), de Mary Shelley, que é também a autora de “Frankenstein”. De fato as duas obras são animadas pelo mesmo sonho: uma criatura radicalmente nova pode ser fabricada no bricabraque de um necrotério ou nascer das cinzas da civilização. Em ambos os casos, ele será sem história, sem ascendência, sem comunidade e, portanto, penosamente livre – para o bem ou para o mal. No romance de Mary Shelley, aliás, a causa da catástrofe é uma epidemia, como na “Peste”, de Camus, e como no “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago, que é agora levado para o cinema por Fernando Meirelles.

A obra de Meirelles é fiel ao livro que a inspira, mas, para contar a mesma história, consegue inventar uma eloqüência própria, sutil e forte. Por exemplo, o filme banha numa luz esbranquiçada e difusa que não é apenas (como foi dito e repetido) uma evocação da cegueira branca que aflige a humanidade: é a atmosfera ordinária de nosso universo desbotado, em que a trivialidade do cotidiano desvanece os contrastes – até que as sombras e os brilhos sejam revelados na “hora do vamos ver”, que acontece, paradoxalmente, porque todos (ou quase todos) perdem a visão.

Depois de assistir ao filme, li algumas das críticas que ele recebeu em Cannes. A nota de Manohla Dargis, no “New York Times” de 16 de maio, por exemplo, é paradoxal: Dargis acusa o filme de ser uma Alegoria com “A” maiúscula, em que, aos personagens, faltaria espessura. Certo, os personagens de “Ensaio sobre a cegueira” quase não têm história prévia, assim como a cidade em que os fatos acontecem (uma mistura de São Paulo com Toronto) é uma cidade moderna qualquer, cujas particularidades não contam. Essa, justamente, é a beleza do gênero: o surgimento quase abstrato de uma situação extrema, em que se trata de escolher e agir a partir de nada. O passado, o lugar não conta: os personagens são definidos por suas escolhas aqui e agora. Dargis também se queixa da oposição que lhe parece excessiva, no filme, entre “os bons” e “os ruins”, ou seja, entre os que, na cegueira, descobrem e aprimoram sua humanidade e os que a perdem. É uma queixa curiosa, pois, em quase todas as narrativas apocalípticas, a contraposição de retidão e bestialidade é o sinal de uma liberdade quase absoluta, angustiante: o fim do mundo é um bívio sem leis, sem flechas, sem compromissos, onde qualquer um pode escolher o horror ou a esperança. A oposição caricata dos bons e dos ruins expressa a incerteza do expectador, do leitor e do autor: “você, se por uma misteriosa epidemia, o mundo ficar cego, se o reino da lei acabar e começar a idade da luta pela sobrevivência, de que lado estará? Do lado dos que inventarão novas formas de abusos ou dos que descobrirão novas formas de respeito e de vida comum? Uma vez perdida a visão, o que você enxergará no seu vizinho: mais uma mulher para estuprar e um otário para explorar ou um irmão, perdido que nem você”?

No “Ensaio sobre a Cegueira” (de Meirelles e Saramago), diferente do que acontece em muitas narrativas apocalípticas, a heroína é uma mulher, e as mulheres são as depositárias da esperança; elas saem engrandecidas pelas provas da situação extrema.

São elas que, para o bem de todos, entregam-se aos estupradores, aviltando não elas mesmas, mas os que as violentam, com uma coragem que salienta a covardia dos maridos ciumentos ou zelosos de sua “honra”. São elas que sabem cuidar de uma criança ou matar quando é preciso. São elas que reinventam a amizade (em cenas memoráveis: a das mulheres lavando o corpo da companheira espancada à morte e a das mulheres no chuveiro).

Aviso, caso, um dia, a gente tenha que recomeçar tudo do zero: em geral, as mulheres sabem, melhor do que os homens, o que é essencial na vida.

A Igreja Contemporânea e os seus Fundamentos de Existência...

Por incrível que pareça a igreja mudou de fundamento. A pregação tão enfática de Paulo e dos Pais da Igreja para que Cristo fosse sempre o único fundamento da igreja não é mais uma realidade. O quadro assusta. Por muito tempo Cristo deixou de ser o fundamento da igreja. O problema está na falta de reconhecimento deste dado importante. Será que ninguém percebe isto? Um pastor certa vez disse que para criticar a igreja é preciso que lágrimas estejam presentes. Concordo. A realidade é de chorar. Alguns não gostam de relatar a real situação da igreja contemporânea. Puro comodismo. Medo de retaliação. Mas é preciso fazer.

Nos primeiros séculos Cristo foi o fundamento da igreja. Depois do século VIII o medo, a opressão hierárquica, mentiras, mortes, imposição de pecados, disputa eclesiástica e a inquisição todos estes elementos formaram os fundamentos da nova igreja. Isso durou anos. A Reforma Protestante mudou o quadro, mas não tudo. Houve erros também neste período. Erros irreparáveis.

Passam-se os anos e a razão (conhecimento) se tornou o fundamento da igreja. Para que serve Deus? Para que serve Cristo? Para que serve o Espírito Santo? Bíblia? Deixa de lado. Assim a igreja da modernidade foi alicerçada. Homens lutaram. Existiram igrejas que mantiveram-se firmes nos ensinamentos. Outras negaram a sua razão de ser.

Hoje a realidade é outra. Tempos diferentes. Pessoas e idéias diferentes. Mas o que fundamenta a igreja contemporânea? A miséria. O caos. Estes elementos sustentam a igreja atual. A impressão que se tem é que a igreja não existe se não houver miséria e desordem na sociedade. Em muitos casos a igreja alimenta a miséria da sociedade. Na minha simples e pequena compreensão da razão de ser da igreja, é que ela muda a realidade em que está inserida. A igreja portadora do evangelho que transforma deve ser relevante para a construção de uma nova sociedade em que a moral, a economia, o trabalho, a vida, o lazer, a beleza sejam revitalizados e passem por um processo de purificação.

É fácil perceber nos projetos que várias igrejas elaboram uma expectativa de que o ser humano não melhore. Quanto mais pecador, melhor. Quanto mais miserável, melhor. Quanto mais desordem, melhor. Melhor para quem? Para a igreja. Mas o indivíduo que vive este dilema não suporta mais conviver com a desgraça.

As mensagens são voltadas somente para a desgraça humana. Entre dez sermões nove são para combater o pecado e a miséria humana. Será que um sermão sobre vida e esperança é capaz de recuperar o homem? Se for capaz, então deve-se pregar um sermão sobre pecado e miséria e o restante de outra coisa qualquer.

Esta realidade propõe uma transgressão. É preciso transgredir com a igreja, com a teologia, com as ideologias. Se não transgredirmos a preservação da igreja corre risco. “Transgredir para preservar” – penso que este seja o grande tema.

Cristo jamais alimentou a miséria de ninguém. Esta é a minha crise com algumas teologias que intitulam-se libertação, elas querem mais pobres para terem o que produzir. Um dos benéficos da Cruz de Cristo é a restauração do ser humano no seu todo – afetivo, cognitivo e espiritual. Mas não para aí. A sociedade vive deste benefício. Nos séculos XVI e XVII diante de tantas crises – financeira, saúde, educação, emprego – os teólogos e as igrejas protestantes mudaram a condição supostamente entregue ao caos que aquela sociedade vivia.

O alvo. A meta. O fundamento da igreja precisa mudar. Sendo Cristo o Senhor da Igreja, ele não compactua com esta exploração moral, social e espiritual que a igreja ao longo dos anos vem cometendo. Ecclesia Reformada Semper Reformanda – Igreja Reformada Sempre se Reformando.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Quando percebi já tinha acabado...

O tempo não pára já dizia Cazuza. Existe uma dificuldade com qualquer ser humano em lidar com tempo. Um dia ouvi de um grande pastor – “O tempo deve estar ao nosso favor e não contra”. Concordo plenamente! Porém, é tão difícil. A vida pede uma correria desnecessária. A vida pós-moderna é repleta de competições e tarefas fúteis. Se não houver um atinar para o tempo e para os acontecimentos tudo se vai rápido – a vida torna-se correr atrás do vento.

Enquanto escrevo lembro-me de quatro anos atrás. Foram quatro anos de ralação. Dor. Sofrimento intenso. Saudade. Alegria. Medo. Ansiedade. Angustia. Melancolia. Altos e baixos. São tantos sentimentos e estágios que se tornam incomensuráveis. Somente quem vive sabe quanto dói à cura de um ferimento. Viver quatro anos num seminário é um ferimento profundo. Direi o porque:

- Você é separado de suas raízes;

- Os seus amigos ficam distantes;

- Uma mudança abrupta é pedida;

- A dor da saudade;

- O sentimento de que não será mais igual;

- A perda da estabilidade;

- Novas fronteiras;

- Novas conquistas;

- Novos amigos;

- Novos empregos;

- Uma igreja nova para adaptar-se;

- Casa diferente (não é a do sonho);

- Estilo de vida nunca sonhado;

- Crises de fé;

- Crises de existência.

Será que tudo isto não é uma dor(es)? Não é um ferimento quando é tirado de você a sua parte de vida? Por isso, somente quem viveu no seminário sabe do que falo. Principalmente para quem vem de lugares remotos. São anos em que filho chora e a mãe não vê. Mas a experiência é única e rica. Valeu passar por tudo isso e muito mais. Faria tudo de novo com algumas correções.

Neste mês concluí o meu bacharelado em teologia. Ufa! Consegui atingir a minha meta. Algumas igrejas contribuíram para este feito. Investiram e muito para a minha formação. Aproveitei cada dia e cada oportunidade. Digo com toda a certeza de que fiz um excelente seminário. Tudo que esteve ao meu alcance para ler e conhecer, eu assim fiz. A minha igreja não perdeu quando investiu na minha formação. Foram muitos livros. Muitos encontros teológicos. Muitas amizades acadêmicas.

Quando entrei para o seminário olhava somente para o fim do curso. A minha esperança era para que passasse logo os quatro anos. Infelizmente isto aconteceu. Na correria de trabalhos, leituras, viagens, compromissos com a igreja os anos passaram. Quando percebi já estava no fim. A pergunta é – será que foi suficiente? Será que consegui absorver tudo? O sentimento é de fazer tudo de novo, mas não há possibilidades. É preciso continuar a estudar. Para o próximo ano o curso será de filosofia. Serão mais anos de leituras e trabalhos. Quando terminar, imagino que terei o mesmo sentimento – ué, já acabou?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Este Blog Apóia...

A Ong Rio de Paz tem desempenhado um papel muito relevante para a sociedade carioca. Ela tornou-se um grande destaque na mídia. Esta ong tem créditos na sociedade e na mídia brasileira.

O presidente desta Ong é o Antônio Carlos Costa, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca. A sua posição teológica não é simplesmente uma questão acadêmica, ele levou para a prática a sua confissão de fé. Portanto, este blog apóia os trabalhos deste movimento que tem impactado a sociedade carioca que tanto sofre com a violência.

Faça uma visita na página da ong – www.riodepaz.org.br

Segue abaixo o manifesto desta semana.

Manifesto pela Redução de Homicídios no Brasil

"Para que o mal triunfe, é necessário apenas que os homens de bem permaneçam inativos"

[Edmund Burk]

A violência é um problema social gravíssimo que afeta a sociedade brasileira de diferentes maneiras. Nos últimos dez anos 500000 brasileiros foram vítimas de homicídio*. Agravando muito esse quadro está o fato de que há milhares de pessoas desaparecidas, parte das quais se supõe que tenha sido assassinada. Os números dramáticos representam o colapso do pacto social no que se refere a um dos seus itens fundamentais, o respeito ao direito à vida.

Nós, cidadãs e cidadãos brasileiros, temos permanecido calados, inertes, desesperançados ou amedrontados, reclamando no interior de pequenos grupos, aceitando palavras e promessas novas a cada quatro anos. Não temos oferecido a resistência política necessária à construção de um cenário social diferente, mais justo e mais humano.

Não basta culpar a inépcia do poder público ou a atuação de criminosos, nem aguardar que essa mortalidade obscena seja reduzida com o correr do tempo. Mais do que em qualquer outro momento, a realidade exige a mobilização de todos nós que reconhecemos o valor incalculável da vida humana. Precisamos unir o trabalho dos governantes à indignação de cidadãs e cidadãos de todas as origens e com suas diferentes histórias, no resgate do respeito à pessoa – qualquer pessoa – e na valorização da vida sobre a banalização absurda da morte.

Não aceitamos – em hipótese alguma – o argumento derrotista de que não há o que fazer para evitar que o inaceitável número de homicídios de 2007 volte a ocorrer neste ano de 2008, e nos demais, perpetuando a violência como uma condenação coletiva inevitável.

Neste sentido, consideramos absolutamente indispensável o cumprimento de determinadas medidas no âmbito da política de segurança pública que minimamente garantam a vigência do pacto social. Algumas destas medidas já foram adotadas mas sem a vontade política necessária para garantir sua eficácia. Exigimos, portanto, sua implementação efetiva.

Medidas Principais:

1. Estabelecer como prioridade central das políticas de segurança a redução dos crimes letais, estabelecendo metas e compromissos que restaurem a autoridade da lei.

2. Determinar metas de redução de mortes durante operações policiais, de forma a preservar a vida de policiais, moradores e transeuntes.

3. Reforçar o policiamento ostensivo em áreas de maior incidência de homicídios, especialmente em comunidades carentes.

4. Redefinir e controlar a metodologia de intervenção policial em comunidades carentes; adotar policiamento de tipo comunitário, prevenindo conflitos locais, reprimindo o uso indiscriminado de armas de fogo, reduzindo balas perdidas.

5. Priorizar a juventude, integrando definitivamente as políticas de segurançaa pública às demais: educação, planejamento familiar, lazer, saúde e geração de trabalho e renda; promover ações de interação positiva entre as polícias e as comunidades, particularmente com crianças e jovens.

6. Priorizar a investigação dos crimes de morte e do uso de armas e munições ilegais, a fim de que a aplicação das sanções da lei seja imediata e possa ser útil para dissuadir a prática do crime.

7. Monitorar a utilização de armas e de munição por unidades de polícia, e por policial. Aperfeiçoar o controle de estoques nas unidades.

8. Utilizar também a contribuição das instituições de ensino superior através de profissionais de fora das corporações para capacitar os instrutores policiais, de forma que sejam trocados métodos, idéias e informações amplas e atualizadas.

9. Elevar o piso salarial dos policiais civis e militares, tornando-o um valor compatível com a importância social desses profissionais e com os riscos que enfrentam.

10. Ampliar programas de apoio à segurançaa e à seguridade social dos policiais e de suas famílias.

11. Reforçar as Corregedorias e Ouvidorias policiais, garantindo-lhes recursos e independência em relação às chefias de polícia, ao corporativismo e a pressões políticas.

12. Atualizar os números da violência apresentados pelo Instituto de Segurança Pública, incluindo os dados das chamadas delegacias tradicionais, que devem ser urgentemente informatizadas.

13. Tratar a dependência química de drogas como problema de saúde pública; realizar um amplo e permanente trabalho de conscientização e desestímulo ao uso de drogas.

14. Reivindicar que todas as esferas do governo cumpram o seu papel no combate à violência, disponibilizando recursos para a segurança pública e fiscalizando eficazmente as fronteiras para impedir a entrada de drogas, armas e mercadorias contrabandeadas.

15. Construir estabelecimentos prisionais diferenciados segundo a periculosidade dos presos e proporcionar condições dignas de custódia a todos eles.

Você pode entrar no site da ong e realizar a sua assinatura neste movimento.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Uma passagem para Nínive...

Senhor,

a vida é uma mestra exigente:

devo apresentar-me diante dela de cabeça erguida,

olhos brilhantes,

todo o rosto transformado num sorriso.

E isto somente é possível

se demorar-me na tua presença.

O mundo não sabe,

talvez não saiba nunca,

que “somente é possível ficar de pé diante dos homens,

enquanto estiver de joelhos diante de Ti”.

Isto é um segredo

e me faz mais teu.

No entanto, quantas vezes não perguntei:

– Será que tomei o navio errado?

quase podia ouvir os habitantes de Társis

congratulando-se pela minha chegada.

Eram tão simpáticos

e Nínive ficava tão longe...

Mas que adianta fugir,

esconder,

sofismar,

se Tua presença está dentro de mim?

No entanto, se existem tantos sábios,

decididos e fortes

por que te lembras sempre dos pequeninos?

Será pelo teu amor grande demais

ou pelo teu poder que só se aperfeiçoa

na fraqueza?

Gostaria bem de não desapontar-te,

tenho um desesperado medo de trair-te,

um grande temor de perder-te

uma angustiante necessidade de ti.

Talvez fosse melhor

que estivesses aqui:

assim eu não veria os navios

que partem para Társis,

não teria ambições além do desejo de seguir-te


Sabes bem que não quero ser uma reprodução da coroa que magoou tua fronte,

não quero ser um espinho no teu coração.

Entregarei teu recado,

antes que as portas se fechem,

que a noite chegue.

O caminho ainda é o mesmo:

difícil e longo,

mas a Paz tem gosto de submissão:

custa uma passagem para Nínive...

A Dimensão Integral da Pessoa Humana...

por Hermes Rodrigues Nery *

Corporeidade e espiritualidade fazem parte da dimensão integral da pessoa humana, daí que é preciso defender a sua dignidade em meio às apreensões dos riscos de manipulação da vida e as possibilidades promissoras dos avanços biotecnológicos

“É preciso reconhecer que, definitivamente, nos encontramos diante de uma nova realidade e com repercussões sobre a natureza dos seres vivos. É com este horizonte de fundo que hoje se fala sempre mais em 'biopoder'. Quem tem o domínio dos segredos da vida pretende dominar a própria vida”.1

Muitos cientistas, eufóricos com os avanços da biotecnologia, acreditam que as inúmeras intervenções artificiais, hoje possíveis com as tecnologias disponíveis, poderão trazer grandes benefícios, especialmente no combate às doenças, garantindo assim uma melhor qualidade de vida, sob muitos aspectos.

Em meio à euforia, há muitas apreensões. “As possibilidades que surgiram através do domínio técnico do mundo criaram também novas categorias do mal”.2 É certo que há possibilidades promissoras, como também riscos de manipulação da vida e tantas outras formas de violência de causar assombro. De todas as agressões, a mais grave é a que atenta contra a dignidade da pessoa humana. “Um ser humano não pode ser, em hipótese alguma, tratado como um meio, para qualquer fim, nem mesmo no caso em que esse fim fosse prolongar a vida de um semelhante”..3

Como Igreja que somos, cremos que a pessoa humana, à luz da fé católica, não é constituída apenas de células, moléculas e genes, que podem ser manipulados sem provocar alterações nos outros componentes, inclusive transcendentes, que a caracterizam como ser vivo, dotado daquele “algo mais” que supera todas as demais manifestações de vida no planeta. “A dignidade da pessoa depende do espírito ou alma espiritual, que informa e qualifica a corporeidade do indivíduo humano singular”.4

Há na pessoa humana um nível de sofisticação (em termos de memória, linguagem, inteligência e percepção) superior a todas as formas vivas existentes. Por isso a Igreja rejeita “as manipulações da corporeidade que alteram o seu significado humano”. 5

Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica que “por ser a imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor, que ninguém mais pode dar em seu lugar”. 6

A identidade de cada pessoa é única e insubstituível, expressão de uma realidade feita para se afirmar com suas próprias características por toda a eternidade.

A dimensão da pessoalidade é chave fundamental para o entendimento e a aceitação daquilo que a Igreja anuncia como valor de vida. “O princípio da dignidade inviolável da pessoa humana desde a concepção até o seu fim natural, em qualquer fase ou condição em que se encontre, fundamenta a reflexão cristã”. 7

A dimensão integral da pessoa humana

Com o cristianismo foi possível vislumbrar um conceito de pessoa humana mais abrangente e profundo que o de outras culturas ao longo da história, novidade esta (uma boa nova), de alcance filosófico e teológico até então desconhecido pelos pensadores da Antigüidade. “A revelação cristã projeta uma nova luz sobre a identidade, sobre a vocação e sobre o destino último da pessoa e do gênero humano”.8 Trata-se da resposta às questões fundamentais: “Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que é que existirá depois desta vida?” 9

Julian Marías explica que “o cristianismo parte de duas noções fundamentais: a primeira, que a outra vida tem a ver com esta, isto é, que a continua como vida da mesma pessoa; em segundo lugar, que esse desenlace e extremo, a suma felicidade ou a suma infelicidade, e que em alguma medida depende da própria pessoa”.10 E ressalta que “'podemos imaginar esta vida como a escolha da outra, a outra como a realização desta'; se pensamos que 'tudo aquilo realmente querido, será'; que nos condenamos 'a ser de verdade e para sempre o que quisermos', então aparece a conexão entre este mundo e o outro, sua unidade radical por referência a mim, já que 'mundo' é sempre o mundo de alguém”. 11

A vida de cada pessoa humana é dada como um bem perene, e que só tem sentido na inter-relação de todos entre si e de cada um com o Criador. Esta vida foi dada para sempre como promissão de plenitude, mas que somente alcançará sua plena realização na outra vida, a partir das opções feitas nesta vida. “Minha vida é minha, a de cada um, única e irrepetível, e é dela de que se trata, a que interessa”. 12 É vida prometida, mas não entregue concluída, pois exige construí-la como algo nosso, pois “a raiz última da pessoa humana é o que chamamos vocação.. Sentimo-nos chamados a fazer algo e, mais ainda, a ser alguém. As limitações, os acasos, as interferências, são obstáculos para que a vocação se cumpra inteiramente”. 13

O que se quer salvar é a pessoa inteira: “O homem é uma realidade imperfeita, inconclusa, in via, se é homo viator, o termo da viagem tem que ser a plenitude de suas possibilidades, a maturidade e integridade do projeto em que consiste. Entende-se, cada um sem perda da peculiaridade de cada vida. Esse ou essa que fomos, que somos é quem há de salvar-se e viver para sempre. A ressurreição da carne dá sua última consistência a esta interpretação. Nossa realidade pessoal, inteligente, amorosa, carnal, ligada às formas históricas, feita de projetos de vária sorte, articulados em trajetórias de desigual autenticidade, é a que há de perpetuar-se, transfigurar-se, salvar-se”. 14

A corporeidade e espiritualidade da pessoa humana fazem parte da realidade a ser salva, pois só se alcança a vida plena na glorificação da dimensão integral da pessoa humana. “A salvação cristã é para todos os homens e do homem todo: é salvação universal e integral. Diz respeito à pessoa humana em todas as suas dimensões: pessoal, social, espiritual, corpórea, histórica e transcendente”. 15

No âmbito individual, a pessoa humana está constituída por uma alma e corpo que “formam uma unidade dinâmica, sendo a alma o elemento determinante. (...) Não há justaposição de dois elementos irreconciliáveis, como aparece na idéia da 'alma prisioneira do corpo' que suspira pela 'libertação'. (...) A natureza humana não é uma casa com diversos compartimentos, a alma não 'habita' o corpo”16, mas é parte integrada ao corpo que forma uma mesma realidade, cuja união é fundamental para a autêntica expressão da vida humana.

Na discussão sobre quando exatamente começa a vida humana está hoje todo o x da questão no debate bioético que envolve diversos segmentos do conhecimento, onde biólogos, filósofos, religiosos e juristas buscam um consenso para que prevaleça uma ética em defesa da vida humana.

“O sujeito, cuja identidade humana tentamos definir, costuma designar-se habitualmente pelos termos 'embrião' (nos dois primeiros meses de existência) e 'feto' (no resto do tempo antes do tempo do nascimento). Recentemente, o vocabulário foi-se enriquecendo com novas palavras, mas ater-nos-emos à terminologia habitual de embrião e feto..

Mais importante que a terminologia relativa a sujeito, são as formulações da pergunta que pretendemos saber acerca dele, já que apontam para conteúdos diferentes. Uns querem saber quando começa a vida humana, enquanto outros se interrogam sobre o fato e o momento da humanização dessa vida. A preocupação de uns terceiros centra-se sobre a pessoa: será o embrião, logo desde o princípio, uma pessoa real ou só potencial, isto é, só uma possibilidade de pessoa?A alguns, o que mais lhe interessa é por de relevo a presença da alma espiritual, questionando-se então, sobre o momento em que tem lugar a animação, isto é, a infusão da alma. Uma formulação mais moderna fala de 'status' ou estatuto antropológico, ontológico, do embrião e do feto.

A diversidade de formulações parecem confluir numa intenção e fundo comuns a todos: o que são, ao fim e ao cabo, o embrião e o feto em relação a essa realidade a que chamamos de ser humano? Que tomadas de posição morais exigem de nós?17

Muitos pesquisadores (influenciados pelo relativismo e materialismo) questionam inclusive a própria existência da alma humana, numa visão reducionista da pessoa. Diante da falta de consenso entre os especialistas, principalmente entre os cientistas, o Direito deve assegurar a proteção da vida, em todas as circunstâncias, por isso a Igreja afirma que “o ser humano deve ser respeitado e tratado como pessoa desde o instante da sua concepção”.18

A intervenção técnica pode ferir a dignidade da pessoa humana

A pessoa humana não é apenas um design que se pode redesenhar e moldar segundo a lógica de uma engenharia genética que visa alterar a estrutura, a forma e a função dos órgãos que compõem o todo em sua constituição original, para fins puramente utilitários. A pessoa é um todo integrado, em que a ação da técnica (por melhor que seja a intenção) pode significar uma intervenção artificial capaz de ferir o que há de mais importante na sua constituição como ser humano (aquilo que é a sua dignidade), ocasionando assim conseqüências, sofrimentos e danos à sua integridade.

O corpo, em nossa sociedade fortemente hedonista, tornou-se instrumento de perversões e obsessões que atentam contra a dignidade da pessoa humana. As falsas necessidades, motivadas por um conceito estranho de felicidade, têm levado milhões de homens e mulheres a fazerem opções a estilos de vida que contrariam a lei natural e ameaçam o bem da pessoa.

“No âmbito da investigação científica, foi-se impondo uma mentalidade positivista, que não apenas se afastou de toda a referência à visão cristã do mundo, mas sobretudo deixou cair qualquer alusão à visão metafísica e moral. Por causa disso, certos cientistas, privados de qualquer referimento ético, correm o risco de não manterem, ao centro do seu interesse, a pessoa e a globalidade da sua vida. Mais, alguns deles, cientes das potencialidades contidas no progresso tecnológico, parecem ceder à lógica do mercado e ainda a tentação dum poder demiúrgico sobre a natureza e o próprio ser humano”. 19

Parte do processo

O corpo é parte de um processo, não é o processo em si. Muitos cientistas – ao lidarem com o corpo, manipulam parte de uma realidade, e não a realidade em sua misteriosa totalidade e transcendência.

A materialidade da realidade terrena também faz parte daquele conjunto de contextos e mistérios que compõem o universo da pessoa humana e contribuem para a sua realização integral. Tanto é que a ressurreição da carne vem restabelecer a dignidade da pessoa humana em sua totalidade. O corpo ressuscitado (e glorificado), “é essa carne, regada de sangue, sustentada por ossos, entremeada de nervos, entrelaçada de veias; uma carne que nasceu e que morre, indubitavelmente humana”20, mas que será transfigurada.

Como cristãos, cremos que a alma humana “se une naturalmente ao corpo, pois é essencialmente forma do corpo”21, ela “é naturalmente parte da natureza humana”. 22 Como lembra o papa João Paulo II, “corpo e alma são inseparáveis: na pessoa, no agente voluntário e no ato deliberado, eles salvam-se ou perdem-se juntos”. 23

Certas experiências da biotecnologia são resultado de uma interferência em parte da realidade, dissociando-a de vínculos essenciais, para que esta parte se complete no todo. Os cientificistas não levam em conta a possibilidade do homem ser mais que sua realidade física, por isso vêem com naturalidade as intervenções técnicas que visam reproduzir indivíduos por meios artificiais. “O cientificismo considera tudo o que se refere à questão do sentido da vida como fazendo parte do domínio do irracional ou da fantasia”. 24

A pessoa humana, quando não concebida em sua dimensão integral, vista apenas sob o enfoque de sua realidade física, se torna objeto manipulável, reduzido em sua significância, podendo ser aviltada em sua vocação original, transformando-a naquilo para o qual ela não está destinada a ser, em algo inteiramente estranho à sua natureza, deformando-a e asfixiando suas verdadeiras potencialidades. Como lembra Mario Stoppino, em obra organizada por Norberto Bobbio: “a manipulação é um fenômeno unívoca e insofismavelmente negativo. Entre todas as formas de poder, é ela que acarreta mais grave condenação moral. Tem-se afirmado, por exemplo, que ela constitui 'a face mais ignóbil do poder' e 'a forma mais inumana de violência', ou quem dela é vítima 'é espoliado da alma'”25, nesse sentido, “a manipulação é sempre um mal; nega radicalmente o valor do homem”26.

A dimensão integral da pessoa humana se manifesta na pessoalidade, isto é, na qualidade específica da pessoa humana que a torna um ser que pensa, sente e se relaciona com o outro – e toma decisões morais – e cuja relação perfeita a ser atingida é a comunhão amorosa com o outro; pois é esta a própria relação de Deus com cada criatura humana que criou. “Ser pessoa à imagem e semelhança de Deus comporta... um existir em relação, em referência ao outro 'eu', porque Deus mesmo, uno e trino, é comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. 27

A dimensão natural e sobrenatural determina a condição humana, mistério pelo qual a pessoa é chamada a viver e a constituir uma história, a partir do conjunto de elementos que compõem a sua realidade existencial. “Vocação não é o que temos que fazer na vida, é o que temos que ser. (...) Trata-se de ser eu mesmo, de encontrar minha modulação pessoal na ordem das coisas, de uma certa maneira de situar-me no mundo e de tratar com o outro”28. É o que Píndaro expressara em sua máxima poética: “torna-te aquilo que és”.

Não se é pessoa satisfazendo apenas um ou outro aspecto da sua dimensão como um todo, mas cumprindo as exigências da corporeidade e da espiritualidade. A Igreja reconhece “a verdade integral da pessoa humana enquanto ser espiritual e corpóreo, em relação com Deus, com outros seres humanos e com todas as demais criaturas”.29

O corpo como utopia

Vivemos hoje sob a égide da transgressão. Muitas de nossas atitudes são movidas por imediatismos e se tornam escapismos em busca de sensações que mais iludem do que garantem um bem-estar autêntico. O estresse, a angústia, um vazio existencial, a falta de um sentido de vida verdadeiramente humano, são resultados concretos da cultura transgressora do nosso tempo.

O corpo perfeito tornou-se a utopia da pós-modernidade.. Muitos não sonham mais com uma sociedade ou um reino de bem-aventuranças e paz que valham a pena alcançar. A cultura transgressora e permissiva dos dias atuais levam homens e mulheres a empreenderem esforços para garantirem o máximo de prazer. Em nome do conforto tudo é justificável, inclusive a imoralidade, desde que praticada com sutileza e astúcia. “Para milhares de brasileiros, incentivados pela publicidade e pela indústria cultural, o sentido da vida reduziu-se à produção de um corpo. A possibilidade de 'inventar' um corpo ideal, com a ajuda de técnicos e químicos do ramo, confunde-se com a construção de um destino, de um nome, de uma obra. 'Hoje, eu sei que posso traçar meu próprio destino', declara um jovem freqüentador de academias de musculação, associando o aumento do seu volume muscular à conquista de respeito por si mesmo”.30

O corpo utópico, como expressão máxima do individualismo, substituiu a utopia dos valores solidários. Tudo se volta para o corpo, como fim último de uma concepção de vida sem transcendência. “O corpo é um escravo que devemos submeter à rigorosa indústria da forma (enganosamente chamada de indústria da saúde) e um senhor ao qual sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos”. 31

O corpo ficou então prisioneiro de artifícios que pouco contribuem para a sua real função socializadora. Para o crítico português José Bragança, “o 'corpo utópico' implica não só a substituição do 'mundo' pelo corpo, mas uma 'crise' do próprio corpo, que explode e se dissipa ao tomar o lugar do mundo. Um corpo que resume em si todas as esperanças e ameaças, que traz a chave da felicidade, mas se precipita para a destruição, um corpo problemático”. 32

Com o desmoronamento das ideologias temporais (que desejaram edificar sociedades perfeitas), emerge como um sintoma do desespero pós-moderno a utopia do corpo perfeito. “A promessa de 'viver melhor', que congrega os homens e os induzem a se submeterem às limitações que a cultura impõe, declara como direito o bem-estar do corpo, o desenvolvimento físico e a felicidade sensual”. 33

Um capítulo a preceder o “pecado final”?

É neste contexto e clima cultural de crasso materialismo, perverso hedonismo, em meio ao nevoeiro do relativismo, desesperança no transcendente, hiper-individualismo, e os extremos do niilismo, que se insere “as questões éticas decorrentes das novas biotecnologias”34, em que se impõe a “impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas e dos povos”. 35

Multiplicam-se então as interrogações: que extraordinárias possibilidades trarão este tempo prometéico? Estaremos vivendo uma nova tentação adâmica, como um capítulo a preceder um pecado final, que poderá provocar uma queda ainda mais dolorosa de condição da vida humana, a um maior absurdo e angústia? Como salvaguardar e defender a pessoa e a dignidade da vida humana, em meio a tantas ameaças? Como intervir de forma construtiva para afirmar a cultura da vida num panorama de tão grandes apreensões e também promissões?

“As interrogações radicais, que acompanham desde os inícios o caminho dos homens, adquirem, no nosso tempo, ainda maior significância, pela vastidão dos desafios, pela novidade dos cenários, pelas opções decisivas que as atuais gerações são chamadas a efetuar.

O primeiro dentre os maiores desafios, ante as quais a humanidade se encontra, é o da verdade mesma de ser-homem. A fronteira e a relação entre natureza, técnica e moral são questões que interpelam decisivamente a responsabilidade pessoal e coletiva, em vista dos comportamentos que se devem ter em face daquilo que o homem é, do que pode fazer e do que deve ser. Um segundo desafio é posto pela compreensão e pela gestão do pluralismo e das diferenças em todos os níveis: de pensamento, de opção moral, de cultura, de adesão religiosa, de filosofia do progresso humano e social. O terceiro desafio é a globalização, que tem um significado mais amplo e profundo do que o simplesmente econômico, pois que se abriu na história uma nova época, que concerne ao destino da humanidade”. 36

O que se teme não são as promessas biotecnológicas. Espera-se até que elas tragam benefícios à vida humana. A questão está no furor da hybris, na ausência de critério ético a regular estas possibilidades; no abuso da liberdade que poderá escravizar o homem e a mulher a uma situação de contingência, de pós-humanidade, onde não será mais possível respirar as maravilhas de Deus. E então, derrotado em seu orgulho, a consciência humana clamará por aqueles dias em que o afeto e o discernimento permitam liames que davam sabor à vida, humanizando-a em meio às violências que ameaçavam a expressão da pessoalidade, em suas relações naturais.

“O homem de hoje parece estar sempre ameaçado por aquilo mesmo que produz, ou seja, pelo resultado do trabalho das suas mãos e, ainda mais, pelo resultado do trabalho da sua inteligência e das tendências da sua vontade. Os frutos desta multiforme atividade do homem, com grande rapidez e de modo muitas vezes imprevisível, passam a ser não tanto objeto de 'alienação', no sentido de que são simplesmente tirados àqueles que os produzem, como sobretudo, pelo menos parcialmente, num círculo conseqüente e indireto dos seus efeitos, tais frutos voltam-se contra o próprio homem. Eles são de fato dirigidos, ou podem sê-lo, contra o homem. Nisto parece consistir o ato principal do drama da existência humana contemporânea, na sua dimensão mais ampla e universal. Assim, o homem vive mergulhado cada vez mais no medo. Teme que os seus produtos, naturalmente não todos nem a maior parte, mas alguns e precisamente aqueles que encerram uma especial porção da sua genialidade e da sua iniciativa, possam ser voltados de maneira radical contra si mesmo”. 37

O medo e o desespero levam a pessoa humana ferida em sua dignidade a descrer na vida como um dom e um bem. Fica então mais vulnerável aos estilos suicidas que destroem não apenas as possibilidades concretas já existentes dos sinais de esperança, como aquele olhar para a frente e para o alto, que permite vislumbrar perspectivas renovadas de vida. “O tema da morte pode tornar-se, para todo pensador, um severo apelo a procurar dentro de si mesmo o sentido autêntico da própria existência”..38 O absurdo é a ausência de um sentido pessoal de vida, portanto, de desumanidade. Por isso, uma via suicida.39

O “psiu” da serpente persiste dizendo: “sereis como Deus”

“A liberdade é a condição mesma da pessoa humana. (...) O homem, por não estar 'feito', por ser 'autor' de si mesmo partindo de sua realidade dada, 'recebida', não se pode predizer, nem dominar, nem regular. Pode imaginar, inventar, descobrir novas realidades ou novos modos de entendê-las; pode, certamente, errar, pode dizer sim ou não, até mesmo ao próprio Deus que o criou. A liberdade é perigosa, se não se ama a condição pessoal, se a vê com desconfiança e hostilidade”..40 Se a pessoa humana “não tivesse que escolher quem pretende ser, com risco de erro, não seria um homem, e sim outra realidade, que não é a que Deus quis criar”. 41

O pecado final insere-se no mesmo contexto e drama narrado no Gênesis. Com as obsessões e possibilidades biotecnológicas, podemos estar revivendo a mesma tragédia adâmica. “Proibindo ao homem de comer da 'árvore da ciência do bem e do mal', Deus afirma que o homem não possui originariamente como própria esta 'ciência', mas só participa nela através da luz da razão natural e da revelação divina, que lhe manifestam as exigências e os apelos da sabedoria eterna”.42 Algo, porém, continua a insistir, como o “psiu” da serpente, a nos tentar a fazer o que não devemos, mesmo tendo ao alcance tantas possibilidades.

As perspectivas genômicas podem permitir ao homem repetir o orgulho adâmico, não aceitando Deus como seu criador e buscando, ele mesmo, obter o controle total sobre a vida, voltando as costas Àquele que lhe deu o “sopro vital”43. Cometido o pecado final, a pessoa humana poderá estar exilada de vez da própria humanidade e, portanto, da sua verdadeira felicidade.

A Igreja em meio a esta dura e nova provação

Que respostas podemos dar, como cristãos, a tão grandes desafios? A Igreja sabe que “Jesus Cristo é o caminho de salvação e a resposta para os graves problemas que nos afligem”44, pois, “a decisão incondicional a favor da vida atinge em plenitude o seu significado religioso e moral, quando brota, é plasmada e alimentada pela fé em Cristo”. 45

Há sinais de esperança nestes tempos convulsivos. Muitas iniciativas têm surgido no seio da Igreja e da sociedade – heróicas e proféticas – como também dos poderes públicos, da iniciativa privada, enfim, dos mais diversos segmentos sociais que sinalizam outra perspectiva e querem afirmar os valores que permitam construir uma civilização que cultive a vida, em todos os aspectos.

Faz parte da missão bimilenar da Igreja não transigir com o mal, apesar de muitos daqueles que se dizem cristãos (ainda por conveniência) estarem coniventes com o mal, minando a sã doutrina, por dentro das estruturas. Mesmo perseguida, não compreendida e constrangida pela loucura dos homens, a Igreja não deixará de contar com a proteção d'Àquele que a instituiu para ser a via de salvação dos homens. Em meio a tudo isso, a Igreja é chamada a ser sempre sinal de contradição. Por isso sua voz clama em todo o mundo como um alerta e um clamor para um renovado empenho em favor da dignidade da pessoa humana. “A todos os membros da Igreja, povo da vida e pela vida – conclamou o papa João Paulo II, em sua encíclica Evangelium Vitae – dirijo o mais premente convite para que, juntos, possamos dar novos sinais de esperança a este nosso mundo, esforçando-nos por que cresçam a justiça e a solidariedade e se afirme uma nova cultura da vida humana, para a edificação de uma autêntica civilização da verdade e do amor”. 46

Bibliografia:

Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 105].

Joseph Ratzinger, O Sal da Terra – O Cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio – Um Diálogo com Peter Seewald , Ed. Imago, 1997, Pág. 31.

(Dom Geraldo Majella Agnelo, Em Defesa da Vida Humana, artigo disponibilizado no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 18 de agosto de 2004).

Dom Elio Sgreccia, Léxicon, termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas, Pontifício Conselho para a Família, Edições CNBB, 2007, p. 53.

Papa João Paulo II, Encíclica Veritatis Splendor, 50 – Edições Paulinas, 1993, p. 83).

Catecismo da Igreja Católica, 357, Editora Vozes, Edições Paulinas, Edições Loyola, Editora Ave Maria, 1993, p. 92.

Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 110].

Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 9.

João Paulo II, Encíclica Fides et Ratio, 1, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 4.

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Júlian Marías, Problemas do Cristianismo, Editora Convívio, 1979, p. 38.

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Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 83-84.

Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Edições Paulinas, 2005, p. 35.

Dom Valfredo Tepe, O Sentido da Vida – Psicologia e Ascese Cristã, Editora Vozes, 1993, p.p 34-35.

Francisco Javier Elizari, Questões de Bioética, Editora Santuário, 1996, p. 41.

Gaudium et Spes, 51 – Francisco Javier Elizari, Questões de Bioética, Editora Santuário, 1996, p. 45.

João Paulo II, Encíclica Fides et Ratio, 46, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 72.

Tertuliano, De Carne Christi, 5.

São Tomás de Aquino, Suma Contra os Gentios, Volume II, Livros IIIº e IVº, EDIPUCRS em co-edição com Edições EST, Porto Alegre, 1996, p. 877.

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Papa João Paulo II, Encíclica Veritatis Splendor, 49, Edições Paulinas, 1993, p. 81.

Papa João Paulo II, Encíclica Fides et Ratio, 88, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 134.

Mario Stoppino, Verbete “Manipulação”, do Dicionário de Política (Org. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino), Editora Universidade de Brasília, p. 728.

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Papa João Paulo II, Carta apostólica Mulieris dignitatem, 7: AAS 80 1988) 1664; Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Edições Paulinas, 2005, p. 33.

Júlian Marías, Problemas do Cristianismo, Editora Convívio, 1979.

Papa João Paulo II, Carta enc. Veritatis Splendor, 13.50.79: AAS85 (1993) 1143-1144; Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 75, pág. 52.

Folha de São Paulo, Mais, p. 12, 25 de março de 2001.

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Stefano de Fiores e Tullo Goffi, Dicionário de Espiritualidade, Corpo, Paulus, 2ª edição, 1993, p. 205.

Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 105].

Papa João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 3.

Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 15, Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Edições Paulinas, 2005, p. 23.

João Paulo II, Encíclica Redemptor Hominis (4 de março de 1979), 15: ASS 71 (1979), p. 286.

Papa João Paulo II, Fides et Ratio, 48, Libreria Editrice Vaticana, 1998, Pág. 75.

Em O Mito de Sísifo, Albert Camus começa a sua obra afirmando: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”. Editora Guanabara, 3ª edição, p. 23.

Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Martins Fontes, 2000, p. p. 121-122.

Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Martins Fontes, 2000, p. 122.

Papa João Paulo II, Veritatis Splendor, 41, Edições Paulinas, 1993, p. 68.

Gn 2, 7.

Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 22].

Papa João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 28.

Papa João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 6.

* Prof. Hermes Rodrigues Nery é Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté.

Fique Sabendo: Pai protesta contra uso de kit de educação sexual...

Uma polêmica na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. O pai de uma aluna de 12 anos não gostou do kit adotado pela escola municipal para ilustrar as aulas de orientação sexual. E ele quer que o Ministério Público investigue isso.

Desde o ano de 2003, o Ministério da Saúde orienta escolas públicas sobre como abordar doenças sexualmente transmissíveis e prevenção à gravidez na adolescência. Dez mil estabelecimentos participam voluntariamente desse programa.

A direção de cada escola determina quais as séries aptas a receber as orientações e que material deve ser usado para ilustrar as aulas.

Em São José do Rio Preto, 24 escolas estaduais participam do programa do Ministério da Saúde há cinco anos. Mas agora o uso do material passou a ser questionado pelo pai de uma aluna da sétima série de uma escola.

O pai, que também é professor e pedagogo, espantou-se quando ouviu da filha de 12 anos que um pênis de borracha foi usado na sala de aula durante a explicação da professora sobre métodos contraceptivos.

"Ela ficou bastante chocada, achou esquisito. Ela conta inclusive que na sala de aula houve muita brincadeira indecente e gozação com aquele objeto”, afirma João Flávio Martinez.

O pai chegou a fotografar os itens do kit e distribuiu panfletos de protesto na porta da escola. E buscou no Estatuto da Criança e do Adolescente argumentos para entrar com uma representação no Ministério Público contra a Secretaria Estadual da Educação. Ele quer que a promotoria investigue o uso do material nas salas de aula.

"O artigo 53 diz que o tutor tem que ser comunicado plenamente do conteúdo da aula, e eu não fui. O Estatuto da Criança e do Adolescente foi desrespeitado também no seu artigo 232 e 240 porque fala que crianças não devem ser colocadas diante de objetos pornográficos. Eu entendo que um pênis de borracha é um material pornográfico”, explica Martinez.

A dirigente regional de ensino argumenta que o programa ajudou na redução de casos de gravidez adolescente na cidade.

"No primeiro ano que nós começamos o projeto, de 2003 a 2004, o índice de gravidez na adolescência diminuiu 59% nas escolas que participaram. São muitos os pais envolvidos e que concordam com o programa”, diz Maria Sílvia Nakaoski.

"A pessoa tem que conhecer o que é”, acredita Valéria Soares da Silva, mãe de um aluno.

"Sou contra o uso do kit”, avisa Isabel Seixas, mãe de um estudante.

“É um instrumento que é utilizado em oficinas, em teatros, em dramatizações, em aulas práticas no Brasil afora”, esclarece a diretora do Programa Nacional de DST/Aids Mariângela Simão.

"Se os alunos já tinham informação sobre as questões e temas sexuais, não há qualquer problema de se levar para a sala de aula cartazes, materiais ou objetos”, diz o promotor da Infância e Juventude José Heitor dos Santos.

O promotor diz ainda que o Estatuto da Criança e Adolescente não foi desrespeitado porque cabe aos responsáveis opinar, mas não decidir sobre o conteúdo do ensino, que é atribuição do Estado.

“Não podemos dar uma carta de motorista e dar para um menino de 12 anos guiar um carro, assim como não podemos incentivar uma criança de 10 a 15 anos a ter uma relação sexual. Aliás, a relação sexual tem que ser explicada que é dentro de um contexto de compromisso mútuo”, revela Martinez.

Fonte: http://fantastico.globo.com

E Agora, Lula?

por Percival Puggina

Drummond, numa de suas mais conhecidas poesias, descreve a terrível situação do personagem José. Conta o poeta que José “está sem discurso, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, não veio a utopia e tudo acabou”. Estaria José apto a enfrentar tantas dificuldades? E agora, José? Pois essa é a pergunta que me ocorre formular ao nosso presidente nas atuais circunstâncias da economia mundial. E agora, Lula?

Sob o ponto de vista político, o filho de Garanhuns se revelou extremamente hábil para escapar, no primeiro mandato, ao sorvedouro moral em que naufragaram quantos estavam à sua volta. Foi hábil para transformar em vantagem, na comunicação social, seu déficit escolar e a conseqüente incompatibilidade que mantém com a gramática. Foi hábil a ponto de conservar a imagem de operário mesmo quando regurgita as bem-aventuranças de que o luxo e a riqueza abastecem os poderosos. Foi hábil para carrear a seu crédito todos os bônus decorrentes de medidas que o PT transformara em ônus para seu antecessor. Foi hábil para extrair enormes dividendos políticos do fato de o país haver experimentado, em seu governo, consecutivamente, os seis melhores anos da nossa história republicana. Contou com céu de brigadeiro, mar de almirante e um bom dinheiro para servir aos pobres do país e do mundo. Em resumo, foi hábil para criar problemas aos adversários, sair-se dos próprios problemas e abraçar-se às facilidades com as quais se defrontou.

No entanto, pela primeira vez, fez-se noite em pleno dia e (como é dito numa frase que me enviaram) até a luz do fim do túnel foi temporariamente desligada. Coriscos cortam os céus, e o mar, revolto, recomenda o resguardo dos portos. Vai faltar emprego, vai faltar dinheiro. O trem da alegria que percorria o país distribuindo favores federais com verbas estaduais e municipais periga ficar retido num desmoronamento em Santa Catarina. Seria tudo de bom se o cenário se mantivesse como esteve ao longo destes últimos seis anos. O país continuaria crescendo em ritmo satisfatório, haveria mais emprego, mais renda e se reduziriam as pressões sociais. Mas... e agora, Lula?

Agora passamos a precisar, realmente, de um estadista. De alguém com discernimento necessário para o sim e para o não, para trocar popularidade por seriedade, para assumir ônus sem bônus, para inspirar confiança e não apenas simpatia, para pensar primeiro no Brasil e depois, bem depois, nas eleições de 2010 e nas geopolíticas do Foro de São Paulo. A utopia, sabemos, já foi para o saco há muito tempo. Mas e se a noite esfriar? E se o dia não vier? Não perguntem ao Drummond, que já morreu. Você sabe, não sabe?

Nova Regra para a Língua Portuguesa...

O sujeito leva anos para aprender escrever, e abruptamente tudo muda. Esta nova regra não será tão fácil para o brasileiro adaptar-se.

Para escrever artigos para publicação, terei que estudar muito esta nova regra. As pessoas simplesmente decidem e o povo tem que correr atrás.

A língua portuguesa é dificílima, mas eles quiseram complicar ainda mais. Vamos a luta para esta nova empreitada.

Tempo de pausa...

Durante este período estive afastado do blog. Algumas pendências e acertos que demandavam tempo. Por isso, o blog não esteve atualizado nesses dias.

Existe também nesta pausa a busca de assuntos. O que escrever? Muitas pessoas para manterem o blog atualizado escrevem futilidades. Não quero chegar neste nível. Prezo o conteúdo com qualidade.

Agora com as férias o tempo multiplicou. Devo voltar a postar com regularidade. Assim espero.