domingo, 26 de outubro de 2008

A proclamação do Reino de Deus...


"Se é verdade que toda a humanidade, genericamente, está sob o Reino de Deus, em seu sentido cósmico, terráqueo e histórico, não é verdade que toda a humanidade esteja vinculada ao Reino de Deus, em sua relação com o Messias, os seus valores e a esperança escatológica. Nem todos os cidadãos dos Estados terrenos possuem a cidadania celeste. A humanidade continua expulsa do Paraíso. Dentre seus componentes, muitos, inclusive, chegam a negar a própria existência do Rei e do Reino ou afirmam uma lealdade a uma profusão de pretensos reis e pretensos reinos, equivocados quanto ao seu estado atual e o seu estado futuro: ateus, agnósticos, materialistas, politeístas, idólatras, magos, adivinhos, supersticiosos, sincréticos".

Por mais que possa hoje ser considerado “politicamente incorreto”, houve um Pecado Original, uma Queda, muitos estão “mortos em seus delitos e pecados”, perdidos, carentes de salvação. Consciente, ou inconsciente, essas multidões estão vinculadas espiritualmente ao Principado das Trevas, e seus anti-valores, e, após a morte habitarão em sua capital: o Inferno. Isso pode parecer antiquado e atentatório aos direitos humanos, mas está no Diário Oficial do Reino de Deus, veículo de comunicação cada vez mais desacreditado pela mente pós-moderna.

Para o mundo desenvolvido e secularizado, a salvação equivale à civilização e a civilidade. Ninguém, os Estados Unidos, por exemplo, pensa em tentar converter uma pessoa branca, de nível superior, proprietária de uma casa e um automóvel, eleitora do Partido Republicano, defensora da pena de morte e do direito de portar armas, e que não tem condutas consideradas anti-sociais. Essa pessoa, no imaginário popular, já está “salva”, e o que se deve fazer é enviar missionários para a África.

Li há alguns anos o comentário de uma revista evangélica, elogiando o fato de que, após muitos anos, alguém havia pregado sobre o Inferno em um congresso missionário, e que esse orador “somente poderia ser um brasileiro”. Ouvi, recentemente, de um líder evangélico uma palavra de censura: “não devemos falar do Inferno para as audiências atuais. Isso não comunica. Além do mais as pessoas já vivem aqui os seus infernos particulares”.

O Rei é um Rei perfeito, e um Rei amoroso. Uma espada flamejante vedou à humanidade a porta de retorno ao Paraíso. Hoje há uma porta aberta, e no lugar da espada flamejante, há uma cruz sangrenta. A porta é o próprio Príncipe da Paz. A rejeição ao Messias, não é algo que acontece apenas com os de fora. Não faz muito que, na Catedral Nacional, em Washington, um pregador afirmou: “Foi uma coisa horrorosa o fato do evangelista ter colocado na boca de Jesus essa frase infeliz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vem ao Pai senão mim”. Essa frase é arrogante, imperialista e politicamente incorreta”.

Equivocam-se os universalistas quando pretendem que todo o Povo seja considerado Povo de Deus, ou que todos caminham de volta ao Paraíso, a despeito de suas crenças ou descrenças. Equivocam-se quando negam a realidade tanto do Pecado Original, quanto dos pecados atuais. Equivocam-se quanto negam o papel único de Jesus de Nazaré na economia da salvação. Equivocam-se quando negam a necessidade de mudança de vida, de santidade, de transformação. E o nome desse equívoco chama-se heresia, falso ensino, falsa doutrina, e isso deve ser dito, porque não dizê-lo seria trair a verdade, trair ao Rei, e demonstrar falta de amor para com os próprios equivocados, que necessitam de ser confrontados com a verdade, necessitam de uma chance para a reconciliação com o Rei e a vinculação ao Reino.

O Rei amoroso está chamando a todos de volta. O Filho do Rei estava vivo e morreu, para que os que estão mortos possam reviver.

E quem serão os mensageiros, os porta-vozes, os embaixadores, da mensagem do Reino? O Diário Oficial do Reino nos diz que serão os que integram a nova e eterna Aliança, a Igreja do Príncipe da Paz. Ele poderia enviar legiões de anjos, ao som de trombetas, assessorados pelos marqueteiros celestiais. Seria um show de comunicação. Bem mais rápido, bem menos trabalhoso, e, talvez, mais eficiente. Mas o Rei não quis assim. Aos chamados que escutaram a sua voz, aos que nasceram de novo, Ele os devolveu como seus mensageiros no meio do mundo; Ele nos devolveu à História. E isso é uma ordem, não uma sugestão. Assim como o Pai o enviou, Ele nos envia esvaziados, encarnados, revestidos de poder, na diversidade dos nossos dons e vocações. Não fazê-lo, mais do que acomodação, é desobediência e inautenticidade. Há dois mil anos que isso acontece, e geralmente se paga um preço.

A primeira e central tarefa da Igreja é o anúncio, é a proclamação das Boas Novas do Reino de Deus. O anúncio não esgota o conteúdo da missão, mas sem ele não haverá gente para realizar as outras tarefas: a de batizar e integrar os convertidos a uma comunidade de fé; a de ensinar todo o conselho de Deus; a de despertar no coração dos fiéis respostas de misericórdia às necessidades humanas; a de curar os enfermos do corpo, da mente e da alma; a de libertar as pessoas do poder do Príncipe das Trevas; a de defender a vida e a integridade da criação; a de denunciar as estruturas iníquas da sociedade e os males das culturas.

Tudo isso nos foi confiado. Tudo isso integra o conteúdo da Missão Integral da Igreja, mas a missão começa com o evangelismo, quando se procura persuadir os pecadores ao arrependimento e à fé na graça suficiente evidenciada na cruz e no túmulo vazio. Por todos os meios, métodos e abordagens, por palavras e por ações, não podemos dizer diferente do apóstolo Paulo: “Nada vos tornei conhecido, senão a Cristo, e a esse crucificado”.

Missão Integral que deve se acompanhada de uma Espiritualidade Integral, que inclui a Adoração, a Reflexão e o Serviço, evitando-se os unilateralismos do misticismo, do academicismo e do ativismo.

A tarefa de proclamação do Reino vive uma de suas crises mais graves. Nega-se a autoridade das Sagradas Escrituras, a unicidade de Jesus Cristo como Senhor e Salvador e a unidade da Igreja como agência especial do Reino. A Grande Comissão é condenada.

Um documento contemporâneo de um dos ramos do Cristianismo definiu a Igreja como: “Um ente social, cultural, afetivo e litúrgico, onde não há lugar para doutrinas, nem normas de comportamento”. Esse mesmo documento também definiu a Bíblia como um livro da tradição religiosa judaica: “útil para a devoção privada e para o uso litúrgico público, mas a quem não se deve buscar base para definir doutrinas ou normas de comportamento”. Outro texto institucional afirma que: “os ensinos morais contidos na Bíblia foram apenas válidos para o tempo dos seus autores, e que não se aplica a situações atuais, especialmente no tocante à Sexualidade Humana”.

Devemos reconhecer, por um lado, que vivemos hoje – como sempre – em um mundo hostil ao Rei. O Islã está em alta, há um ressurgimento das grandes religiões tradicionais, como o Bramanismo e o Budismo, há um crescimento do fanatismo violento, há uma disseminação do esoterismo, de cultos exóticos, de seitas várias, do sincretismo. O fim do materialismo sistemático não abriu, necessariamente, os corações ao Evangelho, nem trouxe de volta às Igrejas, as multidões nominais. Presenciamos um materialismo prático, consumista, e uma espiritualidade vaga e sincrética. Como no Areópago de Atenas, há uma profusão de deuses e um Deus desconhecido. O Ocidente, ao nível das instituições estatais e de setores da Sociedade Civil, vem conhecendo uma escalada da ideologia Secularista, anti-religiosa e, muito mais, anticristã, a empurrar a fé para o recôndito da alma e o interior dos lares e dos templos, vedada a sua manifestação na esfera pública, condenada à irrelevância.

Mas, por outro lado, há uma hostilidade ao Rei dentre os que se pretendem integrar o seu povo. Um ministro de uma Igreja cristã se pretendeu ser, ao mesmo tempo, cristão e islâmico, e isso poderia ser possível em sua cabeça, que nega todos os ensinos cristãos que são rejeitados pelos discípulos de Maomé. Outro ministro de uma Igreja cristã, em um culto dito macro-ecumênico, pediu públicas desculpas aos hinduístas, porque no passado os missionários tentaram convertê-los. Um líder mundial cristão afirmou quer as pretensões do Cristianismo são ofensivas aos seguidores do Islã. A agenda do setor dito Liberal pós-moderno da Igreja, inclui o universalismo, a defesa da agenda homossexual (GLSTB) e a promoção do macro-ecumenismo, multiculturalista, de braços dados, no caso brasileiro, com os “pais-de-santo”, quando essa não foi a atitude dos apóstolos com os sacerdotes de Diana. E a resposta a esse ceticismo e a esse relativismo não deve ser o fanatismo.

Os obstáculos ao anúncio do Reino de Deus não estão apenas fora, no que chamamos de “mundo”, mas dentro da própria Igreja, que, em muitos lugares está implodindo em suas negações. Testemunhamos, nessas conjunturas, o suicídio de uma religião.

O que fazia a Igreja Primitiva “cair na graça de todo o povo”? A sua unidade, o seu amor, a sua verdade, a sua mensagem, a coragem para assumir riscos. Hoje, podemos estar caindo na “desgraça de todo o povo”, por nossos próprios erros, pedras de tropeço na comunicação do Reino. Isso inclui a desonestidade da exploração das pessoas simples e crédulas, os escândalos financeiros, a ostentação, o mau exemplo ao ocupar funções no Estado.

Quando nos detemos na Oração Sacerdotal de Jesus, percebemos a sua ênfase na Unidade. Como Ele e o Pai eram um, a Igreja deveria ser uma com eles, e uma entre si, “para que o mundo creia”. Repito: “para que o mundo creia”. Jesus Cristo criou uma só Igreja, e pretendeu, no Final, se encontrar com uma noiva, e não com um harém. Chegamos depois de mil e seiscentos anos, à Reforma Protestante, com apenas quatro ramos de Cristianismo em todo o mundo: os Bizantinos, os Pré-Calcedônios (como os Coptas, os Sirianos e os Armênios), os Pré-Efesianos (Nestorianos) e os Romanos. Terminamos a Reforma com oito, com o acréscimo de Luteranos, Anglicanos, Calvinistas e Anabatistas. Chegamos ao século XVIII com algumas dúzias, e, daí em diante, deu a louca na zorra total. Estudiosos falam de 18.000 ou 38.000 denominações, sub-denominações, jurisdições e ministérios dentro do guarda-chuva da Cristandade, fora as seitas. E, ainda, queremos que o mundo creia?

A debilidade da Reforma em tratar da eclesiologia, levando em conta os dois mil anos da História da Igreja, levando em conta o consenso dos fiéis, deu no que deu: o denominacionalismo, como fenômeno descontrolado. Denominação não é um conceito teológico, mas sociológico, jurídico e administrativo. E essa idéia de se justificar um caos institucional, fruto do espírito capitalista da “livre empresa” e não dos ensinos bíblicos, ou da vontade de Deus, com o apelo para uma “unidade espiritual”, uma tal de “igreja invisível” (que deve ser formada por fantasmas), sejamos honestos, é um malabarismo mental, para fugir da pecaminosa realidade e da dor de consciência, e seu fundo é o platonismo. Nada pode justificar o denominacionalismo. Afirmar que “Deus me mandou criar uma denominação” é uma blasfêmia! O nome desse pecado é Cisma: o pecado contra a unidade, em nome de projetos pessoais ou de ridículas doutrinas secundárias como a temperatura da água do batismo, ou se esse deve ser ministrado por chuveiro, mangueira ou spray...

Mas, na Oração Sacerdotal, há outra preocupação: o envio do Espírito da Verdade, que nos conduziria a toda a verdade. Somos advertidos pelos apóstolos contra os falsos profetas e os falsos ensinos. E o pecado contra a Verdade chama-se Heresia. E um mal nunca justifica outro: a unidade com heresia é uma falsa unidade, porque a heresia é um cisma material, a ruptura da unidade essencial; a Verdade com uma Igreja dividida, o cisma formal, é uma negação da Verdade. E essa é a tragédia dos nossos tempos. E ainda queremos que o mundo creia? Onde está o Reino? Onde está a vontade do Rei. Que tipo de súditos somos nós que desobedecemos, escancaradamente, ao Rei? Que exemplo e que imagem estamos passando para os que ainda estão fora do Reino?

Uma questão mais central é: crêem ainda os cristãos na mensagem da cruz? Somos realmente convertidos? Fomos realmente alcançados? Porque, se o somos e o fomos, queremos, pelo poder do Espírito Santo, obedecer à Grande Comissão, ir até os confins geográficos, culturais e sócio-econômicos da terra. Essa dependência do Espírito Santo, porém, é reduzida pela dependência de métodos e macetes (geralmente importados), em suas ondas uniformizantes periódicas.

Outra questão central: a que Reino nós estamos anunciando e convocando? O Reino egoísta dos privilegiados “filhinhos do papai celestial”, sempre saudáveis, sempre prósperos e sempre nos cargos de mando, qual os antigos judeus que se vangloriavam de serem “filhos de Abraão”? Ou estamos anunciando a necessidade de arrependimento (que não é nem sentimento de culpa, nem remorso), de renúncia ao eu, de seguimento das pegadas do Mestre, compartilhando suas dores e sua cruz, descobrindo e exercitando dons no Corpo e vocações no mundo a quem somos enviados para amar e servir?

Além da revalorização da Palavra e da autenticidade da experiência, além da conversão e da obediência, necessitamos redescobrir e revalorizar a História da Igreja, toda ela. O que podemos apreender, pela imitação dos acertos e pela não imitação com os erros, com as gerações que nos precederam, tanto no mundo, quanto no próprio Brasil?

Em um século e meio, a geração dos Apóstolos, a geração seguinte dos Pais Apostólicos, e a geração seguinte dos primeiros Pais da Igreja, haviam estabelecido, segundo o princípio “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”, alguns pilares que sustentaram a Igreja e a sua missão por muitos séculos: o estabelecimento do Cânon do Novo Testamento e o fechamento do Cânon Bíblico; a afirmação dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor; a definição das doutrinas centrais contidas no Credo Apostólico e no Credo Niceno, e a forma Episcopal de governo.

Ao longo dos séculos, sem negar esses pilares centrais, as Igrejas Pré-Reformadas do Oriente e do Ocidente acrescentaram, nas palavras dos Reformadores, “erros, desvios e superstições, sem, contudo, deixarem de ser ramos autênticos da Igreja de Cristo”. A Reforma (que vai se dividir em reformas) veio para corrigir esses “erros, desvios e superstições”, pretendendo um retorno à herança apostólica, mas acabou cometendo seus próprios equívocos, jogando o bebê junto com a bacia e a placenta, chegando hoje aonde eles nunca pretenderam chegar: às heresias, aos cismas e a novos “erros, desvios e superstições”, com alguns dos que se pretendem ligados à Reforma promovendo um retorno ao mundo pré-reformado, com sua magia, sua simonia e suas indulgências.

Em saco e cinza, em arrependimento pelo pecado de proclamarmos pessoas e organizações, de proclamarmos usos e costumes e não a Graça, afirmando que as utopias somente têm valor quando são antecipações possíveis que apontam para a Parousia, devolvamos o tema do Reino de Deus ao centro das preocupações e ensinos da Igreja, e proclamemos a todos que o Reino é chegado! E que um dia o Rei voltará para consumá-lo!

(Palestra ministrada pelo Bispo Robinson Cavalcanti no Congresso de Teologia da Edições Vida Nova 2008)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O sentimento patriarcal perpassa gerações...


Quantos não ficaram tensos e perplexos com o caso Eloá. Um sentimento de justiça predominou na mentalidade brasileira. Muitos querem a pena de morte do jovem Lindemberg Alves. Aparentemente ele não tinha nenhum motivo para causar este drama e tragédia. Ele simplesmente é um “ser”. Isto já basta. Mas não quero discutir a questão do ser ou do ente. O foco é outro.

Ouvi muitos psicólogos, sociólogos e antropólogos discutirem sobre o fato. Por isso, quero falar da minha plataforma – a teologia. Ou quem sabe uma tentativa de uma antropologia teológica.

Para os profundos do conhecimento do desenvolvimento da história da humanidade já é sabido que este sentimento patriarcal predomina na mentalidade dos homens. É uma espécie de (in)consciente coletivo. Isto é um fato. Mas o que é este sentimento patriarcal? É aquele sentimento de superioridade do homem. Isto é perceptível na cultura do oriente médio em que está enraizado o sentimento de posse. A mulher é uma propriedade do homem. Não é questão simples de denomina-la objeto do homem. É muito mais do que isso. É uma ditadura do homem que diz o que a mulher é e não é. A mulher não tem a opção de escolher com qual homem ela quer ficar. Ela não tem o direito de mudar de parceiro. Para que não haja adultério os homens do oriente médio torturam as mulheres e cortam partes do seu órgão genital. Essa mulher é minha e nenhum outro poderá possuí-la – isso é pensamento de muitos homens. Ouvi um especialista muito conceituado nesta área humana dizer que a tentativa de Lindemberg em atirar na virilha de Eloá era uma tentativa de acabar com a possibilidade dela ter relações com outro homem. Foi uma vingança – ela não dormirá com nenhum outro homem que não seja eu. De fato, um tiro na cabeça e outro na virilha não faz muito sentido lógico.

A nossa sociedade tiraniza o relacionamento homem e mulher. Se a mulher termina o relacionamento com o homem ele automaticamente se sente menosprezado e inferiorizado. O sentimento se resume assim – não estou por cima da carne seca (ditado popular). O homem tem vergonha no seu círculo de amizade em revelar que foi a mulher que deu um basta no relacionamento. Ele pode virar motivo de chacota. Assim este sentimento patriarcal impera na sociedade. A história tem como ponto auge na modernidade o pensamento do filósofo pornográfico francês Marquês de Sade. Para ele a mulher não passa de uma pequena peça da engrenagem da grande máquina chamada “mundo”. Portanto, para Sade a mulher deve ser rejeitada, menosprezada, abusada e usada a vontade. Ele ficou conhecido por cunhar o termo sadismo. Assim tem sido a mentalidade do homem “pós-moderno”. A mulher não tem significado na história, portanto, ela passa a ser manipulada e o homem a tem como terreno, ou melhor, um animal que ali ele põe a sua marca e diz que tal mulher tem um dono.

O diferente causa medo...

Há muito tempo tenho observado e discutido sobre este tema. Existe uma grande dificuldade da igreja evangélica em lidar com aquilo que é diferente.

Na minha adolescência no interior de São Paulo, lembro que a igreja na qual freqüentava passou por esta tensão. Um viajante começou a freqüentar a cidade e principalmente as igrejas evangélicas. Era uma pessoa totalmente excêntrica. Não havia ninguém na cidade que chegava aos pés do estilo do sujeito. O homem tinha uma tatuagem com um olho imenso na testa e várias outras tatuagens pelo corpo. A sua vestimenta era pra lá de ripe. Brincos por toda parte do corpo. Um cabelo muito estranho. E sobre as costas uma bolsa gigantesca. Assim ele entrava na igreja e sentava-se no meio do povo. Alguns ficavam apavorados e pensavam que o diabo iria se manifestar. Outros olhavam com desdém. As meninas sentiam medo. E eu tentava fugir dele. O que poucos perceberam era a sua inteligência que merecia um destaque. Adorava ouvir as mensagens do pastor da igreja, que de fato, pregava muito bem. As pessoas não aceitavam muito a presença dele entre nós. Não era o estilo de pessoa que aquela comunidade estava acostumada. Era muito diferente.

Essa pequena história ilustra o cenário evangélico brasileiro. As igrejas não estão acostumadas com o diferente. Não digo somente no sentido do estilo de vestimenta e tatuagens. Isto já é o suficiente para que alguns se escandalizem. Mas o que impressiona é o simples fato de ser diferente causar um bloqueio cause que indestrutível. Alguns não aceitam um pensamento diferente. Existem algumas igrejas que se você pensar diferente do pastor ou de um grupo determinado na igreja você está excluído do convívio. As pessoas criam guetos religiosos e elaboram uma cartilha de adesão, se você não rezar cada passo da cartilha você não pode ser considerado da comunidade.

Outra questão importante: algumas comunidades religiosas não estão preparadas para receber os doentes mentais. Tudo é o diabo. A pessoa irá atrapalhar o culto. Não são capazes de amar e superar as diferenças. O lugar que foi planejado e criado para ser o centro de arregimentação dos diferentes se tornou uniforme. A igreja não aceita aquele que põe para fora os sentimentos. Se um membro fica irritado, intitulam-no de desequilibrado e sem o Espírito Santo. Se alguém expressa tristeza, alguns dizem que está em pecado e falta oração. Se um grito é ouvido, logo o juízo das opiniões dirá que tal pessoa está perturbada. Até quando a igreja viverá nesse sentimento de estoicismo? Se voltarmos para a história da igreja, muitas hoje seriam consideradas heréticas. Reprimir sentimentos humanos fazia parte de movimentos heréticos dos primeiros séculos – gnosticismo, docetismo, etc. Antigamente a igreja católica e protestante pegava a pessoa que era diferente a colocava na praça pública diante de todo povo, e amarrava-a num tronco e colocava palha ao redor e ascendia o fogo. Assim as pessoas eram mortas por serem diferentes. O filme “As Bruxas de Salem” mostra exatamente isso, as mulheres não eram bruxas, elas apenas usavam ervas medicinais e passavam por algumas transformações naturais. Outro problema também é que essas mulheres eram bonitas. Isso despertava o sentimento de “pecado” nos homens da cidade que eram os líderes da igreja puritana. Para não ter nenhum tipo de problema é mais fácil matar as mulheres. Hoje matar alguém fisicamente na igreja gera várias complicações jurídicas. Mas será que a igreja não mata as pessoas de outra forma? Quantas não foram excluídas da igreja por razões banais? Quantas pessoas não sofrem problemas emocionais que a igreja gerou por não serem aceitas? De alguma forma a igreja continua a matar as pessoas. Tudo isso acontece pelo simples fato de serem diferentes.

sábado, 18 de outubro de 2008

Machado de Assis e a Condição do Ser Humano (Teologia)...


O texto é um pouco longo, mas vale a pena ler. É um diálogo entre a literatura e a teologia.

Estudar as obras deste fantástico escritor é algo indescritível. Mas poucas pessoas conhecem o outro lado de Machado. O seu lado teológico ou quem sabe o seu lado observador do ser humano.

Na sua obra “Dom Casmurro” Machado revela o que ele entendia sobre o ser humano. Este simples fato de "ser" já é de causar um espanto. Machado mostra o dualismo do ser humano. A forma antagônica de viver e de se relacionar. Esta é a grande tensão da vida humana – abrir mão de algo que é essencialmente seu para que o outro lado mais puro seja desenvolvido. O próprio autor do livro Dom Casmurro já revela um lado humano – o isolamento. O estado que o ser humano mais gosta de ficar quando passa por dificuldades ou quando quer esconder algo.

Para uma contextualização do livro, segue abaixo os personagens principais:

- D. Glória (mãe de Bentinho);

- Bentinho;

- Capitu;

- Ezequiel de Souza Escobar;

- Sancha;

- Capitolina (filha de Escobar e Sancha);

- Ezequiel (o grande dilema);

Para quem conhece o livro sabe da imensa crise em julgar se houve ou não a traição de Capitu com Escobar. Um grande mistério. É neste mistério que se revela o ser humano apresentado por Machado de Assis.

Bentinho dizia que Capitu tinha olhos de ressaca. Capitu tinha os olhos verdes e bonitos. Mas este adjetivo de olhos de ressaca se dá pela profundidade e o desejo do olhar de Capitu. Para quem conhece a ressaca do mar sabe do que tento descrever. Na ressaca do mar as ondas são inesperadas. Elas vêm com um impacto muito forte e não se preocupam com as conseqüências. Quando ela volta para o mar leva tudo consigo. Tudo que neste impacto ela quebrou as ondas levam para o fundo do mar. Bentinho descreve o olhar de Capitu desta forma. Era um olhar arrebatador.

Bentinho e Escobar se conheceram no seminário. D. Glória desejava muito que seu filho fosse sacerdote. Bentinho não tinha isso como vocação. Os dois abandonam o seminário e continuam com a bela amizade. Bentinho um advogado promissor e Escobar um comerciante bem-sucedido. Bentinho casa-se com Capitu. Este era um amor de infância e muito esperado por Bentinho. Escobar casa-se com Sancha grande amiga de Capitu. Os casais ficam muito próximos. Era uma amizade muito intensa. Quase que diariamente estavam na casa um do outro. Bentinho percebe que Capitu estava muito próxima de Escobar. Os dois gostavam de ficar sozinhos. Surge então as dúvidas – será que está acontecendo alguma coisa entre os dois?

Bentinho e Capitu desejam muito um filho, mas Escobar e Sancha têm a oportunidade de serem pais em primeiro lugar. O nome da filha é Capitolina em homenagem a grande amiga Capitu. Depois de um certo tempo Capitu engravida e concebe um filho muito lindo de olhos azuis. Mas Bentinho não tinha olhos azuis, mas sim Escobar. A criança tem todos os traços de Escobar. Bentinho fica paranóico principalmente quando a sua mãe deixa de freqüentar a sua casa. A mãe sempre percebe alguma coisa. A partir disso a história fica ainda mais envolvente. Machado começa a mostrar o monstro que há no ser humano. E a imensa tentativa que o ser humano faz para dominar este lado negro. Bentinho tenta matar a criança com um veneno, mas muda de idéia e fica perplexo consigo mesmo por ter cogitado tal possibilidade. Numa tentativa de fugir da realidade tão escura, ele manda Capitu e seu filho para a Europa. Machado mostra a dificuldade que o ser humano tem em lidar com crises que mexem com a esperança e a estrutura da vida. Bentinho se lança na vida promíscua e passa a sair com várias mulheres. Neste sentido é possível lembrar de Santo Agostinho que buscava no seio das mulheres aquilo que sua alma tanto almejava – o sentido da vida e a satisfação da alma.

A tentativa que Machado faz com excelência é mostrar o outro lado do ser humano que tanto temos medo de conhecer. Uma outra questão é a forma misteriosa que é a vida humana. Ninguém gosta de revelar aquilo que é e aquilo que faz. A condição humana é se envolver num manto intransponível. Bonhoeffer já dizia na sua obra sobre Ética que nem tudo pode ser falado e revelado. A vida pede o mistério. O escondido é a própria forma de Deus se manifestar – ele se revela e se torna mistério. Assim é a sua criação.

Machado vai tocar profundamente no âmago da condição do ser humano. Dom Casmurro pode ser considerado o “livro do desassossego”. O desassossego essencial que perpassa todo o escrito, trazendo a cena a real desestrutura humana que em sua miserável condição de pecado revela o seu lado noturno e sua situação de miserabilidade.

Machado vive no final do século XIX e inicio do século XX. Tanto ele na sua época quanto esta época experimenta um tempo da imperfeita condição humana que proporciona por um ar de descontentamento constrangido o real estado de ser – pois fere o ego de um homem que se pensa livre e capaz de criar projetos de felicidade – aniquilando e demonstrando que todo esse processo técnico e cientifico que inventa um mundo agradável de ser vivido não passa de uma falsa maquiagem de um homem que não consegue nem por um minuto olhar para dentro de si mesmo e perceber quem ele realmente é.

Machado na sua obra tenta mostrar que a consciência tanto de homens e mulheres é uma consciência alienada da sua própria condição. É a continua simulação da existência, feita por homem que tem na agenda do seu dia a fundamental preocupação de negar a sua própria fraqueza, e se escondendo atrás das maquiagens que o mundo vende. Assim aconteceu com Bentinho, ele mandou a família para a Europa, mas precisava fingir que visitava a família por causa da sociedade. Ele adquiria um falso bem-estar – sossegando da existência a partir da negação da realidade. Bentinho e todo o seu círculo de amizade criam uma falsa condição de bem-estar que maquia a realidade e funda uma consciência alienada daquilo que somos e vivemos. O contexto social de Machado indica que a situação humana não muda. Naquela sociedade moderna e higienizada que coloca debaixo dos tapetes da existência a sujeira que é parte essencial dela mesma. Tanto naquele quanto neste contexto, as pessoas não sabem lidar com os invernos da mutação da sua condição de ser – é preciso anular algo para que a vida possa ser melhor.

Numa pequena percepção é possível entender que Machado de Assis é o abridor das sarjetas da alma que tem a coragem de colocar o dedo na ferida e assumir a verdadeira condição humana. Uma coragem machadiana de ser contraditório e não querer fugir das questões sombrias de sua própria existência. Refletindo sobre a obra de Dostoievski, o filosofo Leandro Konder na sua obra Sobre o amor diz que: “se nos detivermos na contemplação confortável das nossas qualidades não teremos nenhuma possibilidade de analisar nosso lado noturno e não aprenderemos a lidar humanamente com ele”. Esse lado noturno de nós mesmos que abre as nossas vidas para a sombra da contradição que sempre nos acompanha. Não assumi-la é assumir o mundo das máscaras e dos sorrisos falsos. Citando novamente Dostoievski, autor este que Machado gostava muito de ler, Dostoievski disse o seguinte na sua obra “Memórias do Subterrâneo”: “o ser humano é tão complicado que nele há coisas que ele teme revelar até a si mesmo”.

Assim Machado genialmente descreve a real condição humana – o medo de lidar com aquilo que cria uma imensa tensão em nós – por isso Machado preserva tanto o mistério da vida – os segredos do coração do homem.

O Evangelho escandaliza...

É quase que redundante dizer isto. Mas nesses últimos dias tenho percebido que é muito pior. Não imaginava que ensinar o evangelho e sobre a história da igreja fosse escandalizar tanto as pessoas.

Na mente imaginaria das pessoas que compõem as igrejas evangélicas no Brasil não há possibilidade de dialogar sobre certas mudanças. Essa mentalidade é tão doentia que para estas pessoas toda estrutura da igreja hoje é correta. Numa pequena conversa uma pessoa disse que não se pode perder o evangelho, ou seja, o essencial do que é ser igreja. Na minha resposta eu disse que a igreja já perdeu isso há muito tempo. A configuração da igreja hoje é totalmente, na sua maioria, diferente do essencial de ser igreja. Entendo que o novo tempo pede uma igreja mais contemporânea, mas se estamos a falar do essencial este não se pode perder. Achei muito interessante quando disse para um grupo de pessoas e ali havia um pastor de certa idade que a igreja deixou de ser igreja. Comecei a pontuar algumas questões tais como:

- A Ceia com vinho;

- Presbitério;

- Sacerdócio Universal;

- Centralidade das Escrituras;

- Liturgia simples;

- Descentralização do pastor;

- Desenvolvimento da maturidade do rebanho;

- Remoção da imposição do medo;

- Destruição de uma estrutura hierárquica opressora;

Questões simples que foi capaz de criar um ambiente de tensão. Na mentalidade deles eu queria parecer um super-homem. Mudar este sistema engessado que não gera vida é complicado. Este é mundo que as pessoas criaram para formar igreja. Principalmente para as igrejas históricas que inventaram tantas regras que não existem base nenhuma. Aí daquele que falar alguma coisa. Ser um pastor com uma cabeça mais aberta num contexto como esse é difícil. Entendo por que muitos pastores abrem mão de suas convicções e de seus estudos para estar em determinadas igrejas, mas não concordo. Muitos entram no sistema formatado da eclesiologia doentia. Eles precisam pensar na família e no pão de cada dia. Penso eu que ser pastor não é se acomodar ao sistema, mas transformá-lo custe o que custar. Entendo também que tudo isto leva tempo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Novo Livro - Pós-Guerra...


Tony Judt no seu mais novo livro - "Pós-Guerra".

O inglês Tony Judt, um dos historiadores e intelectuais mais respeitados da atualidade, dedicou pelo menos uma década de pesquisa e reflexão à desafiadora tarefa de escrever a primeira História da Europa contemporânea. Ao longo de novecentas páginas, Pós-Guerra vai de Portugal à Rússia, abrangendo 34 países e cobrindo um período de sessenta anos em uma só narrativa.

Com uma abordagem inovadora, Judt trata praticamente todo o século XX como "o epílogo da Segunda Guerra" e considera o ano de 1989, marcado pelo colapso do comunismo e a queda do muro de Berlim, este sim o começo do fim do pós-guerra.

Apesar do tamanho e complexidade do continente, Judt criou um relato coeso de seu passado recente. Sofisticado e ao mesmo tempo acessível leigos no assunto, Pós-guerra reúne relações internacionais, políticas internas, pensamentos e teorias, mudanças sociais e aspectos culturais numa grandiosa narrativa.

Cada país tem seu momento de entrar em cena, ainda que os chamados grandes temas estejam sempre em foco – a guerra fria, a relação de amor e ódio dos países europeus com os Estados Unidos, a decadência e o renascimento cultural e econômico, o mito e a realidade da unificação econômica na Comunidade Européia, nenhum deles ofusca o grande personagem que é este continente como um todo.

Uma das conclusões mais interessantes a que Judt chega é apresentada no último capítulo, "Da casa dos mortos", no qual analisa o efeito do Holocausto sobre a personalidade coletiva do continente. Ainda que tenha levado mais de quarenta anos para ser assimilada, é exatamente a tragédia da Segunda Guerra que confere unidade à Europa.

Seguindo essa linha de raciocínio, o autor critica também a atual posição política de Israel, que, apoiado pelos Estados Unidos, distorce o significado do Holocausto e o simplifica ao nível de uma matança de judeus. Judt, que também é judeu e viveu o período do pós-guerra na Europa, afirma que, com isso, o momento histórico fica esvaziado de significado. Para ele, a compreensão da importância do Holocausto passa pela percepção da universalidade do mal que um povo pode impingir a outro em qualquer genocídio. Ele destaca o drama do Kosovo e da Iugoslávia, por exemplo, como um alerta: a lição ainda está por ser aprendida.

Mas Pós-Guerra não se detém a uma só conclusão. Judt analisa assuntos tão diferentes e tão importantes na formação e na unificação do caráter da Europa contemporânea – os movimentos estudantis, culturais e de independência, o cinema e até o futebol.

Pós-Guerra foi eleito um dos dez melhores livros do ano de 2005 pelo New York Times e escolhido pela revista Time como o melhor livro do ano.

Sobre o autor:

Tony Judt nasceu em Londres, em 1948. Formou-se pelo King's College, em Cambridge, e pela École Normale Supérieure, em Paris, e já lecionou em Cambridge, Oxford, Berkeley e na Universidade de Nova York, onde fundou, em 1995, o Remarque Institute, que se dedica ao estudo da Europa. Judt é atualmente professor titular de Estudos Europeus, ocupando cátedra instituída em homenagem a Ercih Maria Remarque, veterano da Primeira Guerra Mundial e autor do romance Nada de novo no front. Autor e organizador de onze livros, Judt é articulista freqüente em vários periódicos, como New York Review of Books, Times Literary Supplement, The New Republic e The New York Times.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

Declaração de fé x Música vazia...


Confesso que é muito difícil ouvir música gospel ultimamente. Eu por exemplo, não escuto música gospel. As rádios tocam tanto lixo que a casa pode ficar impregnada de imundícia.

Confesso também que prefiro ouvir uma boa MPB ao invés de ouvir música gospel (atuais). Algumas fazem mal para o cérebro.


As músicas atuais estão na estratosfera. Elas não conseguem emitir vida e reflexão alguma. Não são capazes de comunicar nada de Deus, e conseqüentemente das Escrituras.


Entendo que a música deva ser uma declaração de fé. Ela tem que expressar uma teologia cristalina. Com substância capaz de fazer a minha oração se tornar uma canção.


Um outro fator, a música gospel atual de certa forma fez a mesma coisa que o iluminismo – tirou Deus do centro e o homem se tornou a medida de todas as coisas. Se houver uma avaliação criteriosa o indivíduo será capaz de perceber que entoa canções que dizem mais a respeito do homem do que do próprio Deus. A igreja atual de certa forma faz a mesma coisa que os gregos antigos faziam – o culto aos homens. É uma triste realidade da musicalidade empobrecida que penetra na igreja evangélica no Brasil. É bem diferente quando entoamos uma música assim:


Jesus, o Herdeiro

Ele é mais que a sombra
Ele é a substância
Mais que a lei e os profetas
Ele é a nova aliança
Ele é o resplendor da glória de Deus
A expressão exata do pai

Jesus, o herdeiro de todas as coisas
Jesus, que assentou-se à direita da majestade
Jesus, tão superior aos anjos
Jesus, o incomparável, o filho de Deus,
Jesus.

Ou quem sabe esta canção:

Morreu Pelos Nossos Pecados

Mas Ele foi transpassado
E muído pelas nossas iniguidades
O Castigo que nos trás a paz
Estavam sobre Ele
E pela suas pisaduras somos sarados

Jesus morreu pelos nossos pecados
Morreu pelos nossos pecado
Jesus morreu pelos nossos pecados

Nós estavamos desgarrados como ovelhas
Cada um se desviava pelo caminho
Mas o Senhor fez cair sobre Ele
A iniguidade de nós todos

José Dirceu...


Existe um programa na emissora Bandeirantes que é realizado aos domingos à noite. Conhecido como “Canal Livre”, o programa aborda alguns debates pertinentes da atualidade. Nesse domingo que passou o debate era sobre política.

O programa convidou o “ilustríssimo” ex-ministro José Dirceu. Ele é chamado por alguns como o “fantasma” do PT. Alguns acreditam que ele ronda o governo do presidente Lula. E de fato isso acontece.

Durante o programa que debatia as eleições de São Paulo, José Dirceu defendia a candidata Marta com unhas e dentes. Quando perguntado sobre o atual prefeito, Gilberto Kassab, ele disse que era necessário levantar o histórico do prefeito para averiguar a sua conduta. Fiquei a me perguntar – quem é o José Dirceu para sugerir isto? Qual é a credencial que este homem possui para questionar a conduta de uma pessoa no passado? Será que ele já se esqueceu do seu próprio passado? Corrupto. Terrorista. Espião do governo comunista do Fidel Castro. Nem ao menos é possível saber se “José Dirceu” é o seu nome verdadeiro. Que moral este sujeito tem para dizer que o passado de alguém é sujo? Faça-me o favor, José Dirceu, tenha um pouco de brio no seu rosto.

Eu acredito que este sujeito ainda possa voltar para a política e ser eleito para alguma coisa. Isso só irá comprovar que o brasileiro, infelizmente não possui memória.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Burrice indescritível...

por Olavo de Carvalho

Quando comecei meus estudos, uns quarenta e cinco anos atrás, uma de minhas primeiras preocupações foi rastrear a bibliografia das várias disciplinas que me interessavam – especialmente a crítica literária, a filosofia, a história, a sociologia e a ciência das religiões – de modo a obter uma visão clara do desenvolvimento histórico de cada uma delas e a mapear assim o meu roteiro de leituras pelos dois séculos seguintes, que era o tempo que eu planejava viver.


Só por uma curiosidade, averiguava de tempos em tempos o currículo de várias universidades nesses campos, para comparar o avanço dos meus estudos solitários com aquilo que poderia obter numa dessas venerandas instituições.


Não demorei a perceber que em nenhuma universidade brasileira eu poderia aquela aquela visão global do status quaestionis em cada uma das disciplinas, bem como das suas disputas de território, visão que, constituindo a condição indispensável para o domínio de qualquer uma delas em especial, é, no fundo, o único objetivo dos estudos universitários. Não digo apenas que houvesse lacunas no que se transmitia dessas disciplinas aos estudantes brasileiros. O que havia, no mais das vezes, era a ignorância total dos problemas essenciais e do tratamento que haviam recebido ao longo da história. Mesmo a mera consciência da necessidade de conhecer a evolução temporal das discussões era em geral ausente, tanto nas fábricas de diplomas (autorizadas pelo Ministério da Educação como quem legalizasse o banditismo), quanto nas instituições de maior reputação nacional, como a USP, as PUCs de São Paulo e do Rio e a Unicamp. Isso era visível não só pelos seus programas de ensino, onde o que se entendia por história das disciplinas era apenas uma introdução sinóptica mais adequada a revistas de cultura popular do que ao ensino universitário, mas também e sobretudo pelos trabalhos publicados pelos mais badalados professores, onde a ignorância detalhada dos problemas em discussão constituia a base indispensável para o cultivo de seus mitos ideológicos provincianos mais queridos.


Quando comecei a dar cursos e conferências, tive ao meu alcance um terceiro meio de averiguação do estado de coisas no ambiente universitário: o nível médio de conhecimentos com que chegavam às minhas aulas os diplomados e diplomandos das faculdades de letras, filosofia, etc. Aí aquilo que de início me parecera um estado alarmante de miséria mental tomou as feições de uma catástrofe cultural sem precedentes na história do mundo. Não havia uma única disciplina cuja história eles dominassem, não havia um único problema que soubessem equacionar como estudiosos profissionais dignos do nome, não havia entre eles, em suma, um único universitário no sentido real do termo.


Outros materiais para a avaliação do ensino superior brasileiro vinham-me da imprensa dita cultural, especialmente os suplementos do Globo e do Jornal do Brasil, bem como o caderno Mais! da Folha de São Paulo, que era a vitrine oficial da USP. Parte daquilo que observei nessa documentação está no meu livro O Imbecil Coletivo (1996), cujo título resume as minhas conclusões a respeito. Desde a publicação desta obra, no entanto, as coisas pioraram demais, com a ascensão de uma nova geração de tagarelas ainda mais ignorantes e presunçosos do que seus antecessores, fortalecidos na sua autoconfiança demencial pelo sucesso político dos partidos de esquerda e pela deliciosa sensação de poder daí decorrente, a seus olhos uma prova cabal das suas altíssimas qualificações intelectuais. Hoje em dia a cultura superior está completamente extinta no Brasil, substituída por um falatório subginasiano sufocantemente uniforme, que, sob o pretexto irônico de “pensamento crítico” e “libertação”, se impõe a um amedrontado corpo discente com a autoridade irretorquível do magister dixit.


Misto de vigarice, ignorância pétrea, fingimento histriônico e delírio psicótico puro e simples, o arremedo de vida intelectual no Brasil de hoje é um fenômeno grotesco do qual não encontro paralelo em nenhuma outra época ou nação. E a maior prova da sua gravidade é o fato de que, mesmo entre aqueles que o enxergam, a tendência geral é minimizá-lo como se fosse apenas a deterioração de um adorno supérfluo, sem maiores conseqüências para a vida real. O homem inteligente é sensível ao menor sinal de decréscimo do seu QI; o imbecil sente-se tanto mais tranqüilo e confiante quanto mais imbecil se torna. Como os intelectuais são os olhos e ouvidos da sociedade, não espanta que esta última, sob a influência das hordas de miúdos vigaristas que hoje exercem essa função, tenha se tornado incapaz não somente de acompanhar razoavelmente o que se passa no mundo (comparar o que observo nos EUA com o que a respeito sai nos jornais brasileiros é ter diariamente a visão de um abismo sem fundo), mas até de compreender, mesmo por alto, aquilo que se passa no território nacional. Políticos, empresários, líderes militares e religiosos tomam suas decisões, dia após dia, com base na ignorância radical dos fatos mais decisivos. O Brasil tornou-se uma procissão de cegos guiados por loucos. É um fenômeno tão estranho e incomparável, que desafia qualquer descrição. A capacidade humana de expressar em palavras a experiência coletiva depende de que esta tenha um mínimo de luminosidade e transparência. A opacidade completa só pode ser descrita pela indiferença e pelo esquecimento. O Brasil tornou-se uma imensa falta de assunto.

Checando biografias...

por Olavo de Carvalho

Enquanto nos EUA, no Brasil e no mundo a grande mídia esquerdista (desculpem a redundância) vasculha a biografia de Sarah Palin nos seus mínimos detalhes, trazendo ao público as revelações chocantes de que ela pertence à Igreja Pentecostal, de que sua filha transou com o namorado e de que (acrescenta a pérfida Ann Coulter) seu cabelereiro teve uma multa de trânsito em 1978, nada, absolutamente nada aí se conta a ninguém sobre alguns episódios da vida de Barack Hussein Obama, decerto irrisórios e desprovidos de qualquer alcance político, não é mesmo? Eis oito exemplos:

1. Ele foi admirador e companheiro de protestos do pastor Louis Farrakhan, aquele segundo o qual “o judaísmo é a religião do esgoto”. Isso faz tempo, mas depois de eleito senador ele deu 225 mil dólares em verbas federais à igreja de seu amigo Michael Pfleger, onde Farrakhan é um dos mais freqüentes e aplaudidos pregadores convidados.

2. No Quênia, ele deu apoio eleitoral a um agitador que depois organizou a destruição de trezentos templos cristãos e o assassinato de mais de mil fiéis, cinqüenta deles queimados vivos numa igreja, sem que Obama viesse a dizer uma só palavra contra essa gentil criatura.

3. Ele disse que o terrorista William Ayers (da quadrilha do “Homem do Tempo”) era apenas seu vizinho com quem jamais conversava de política, mas depois se descobriu que ele e Ayers dirigiram juntos uma ONG que coletou 72 milhões de dólares para movimentos de esquerda, sendo um interessante exercício intelectual conjeturar como puderam fazer isso sem falar de política.

4. Neste precioso momento ele responde na Pensilvânia a um processo de falsidade ideológica, por ter apresentado a seus eleitores uma certidão de nascimento obviamente forjada. A verdadeira, se existe, até hoje não apareceu, e o beautiful people da mídia não releva o menor interesse em conhecê-la.

5. Embora ele diga que sempre foi cristão, todos os seus colegas e professores de escola primária, bem como seu meio-irmão e sua meia-irmã, afirmam que ele era muçulmano na época em que ali estudava.

6. Por duas décadas ele freqüentou semanalmente uma igreja que alardeava a “teologia da libertação” mais escancaradamente comunista e anti-americana, e depois disse que não tinha a menor idéia do conteúdo do que ali se pregava.

7. Não é só sobre suas origens ou sobre sua religião que Obama cultiva segredos. Também não é só sua certidão de nascimento autêntica que continua inacessível. Embora gabando-se de sua carreira em Harvard, ele se recusa a mostrar o histórico de seus estudos universitários. Os fofoqueiros maldosos dizem que ele tem vergonha de mostrar suas notas baixas (talvez ainda mais baixas que as de George W. Bush, Al Gore e John Kerry), mas agora se sabe que ele tem um motivo mais forte para encobrir os detalhes da sua passagem por Harvard: seus estudos ali foram pagos por Donald Warden, um americano que, islamizado sob o nome de Khalid Abdullah Tariq al-Mansour, veio a se tornar um dos mentores do grupo terrorista Panteras Negras, fund-raiser para a organização pró-terrorista African-American Association e autor de um livro segundo o qual o governo americano planeja matar todos os negros.

8. Em cinco campanhas eleitorais, o mais ativo coletor de fundos para Obama foi o vigarista sírio Tony Rezko, condenado por dezesseis crimes. Uma vez no Senado, Obama retribuiu com dinheiro público a gentileza, convencendo vários prefeitos a investir um total de 14 milhões de dólares num projeto imobiliário do malandro.

Os brasileiros não saberão de nada disso assistindo ao “Jornal Nacional”, nem os americanos à CNN. Ante as acusações gerais de que John McCain não checou direito a biografia de Sarah Palin, o colunista Don Feder sugere que a de Obama, por sua vez, foi checada meticulosamente – por uma comissão integrada por Forrest Gump, o Inspetor Clouseau e o Agente 86, Maxwell Smart. E, quando Obama comete um lapsus linguae, dizendo “minha fé muçulmana” em vez de “minha fé cristã”, todas as almas santas do esquerdismo mundial se revoltam ante as insinuações, vindas de maldosos direitistas, de que isso possa significar alguma coisa. Eu mesmo sou tão perverso que cheguei a me perguntar se Obama não trocava os pés pelas mãos justamente por ser muito difícil, até para um ator tarimbado, exibir-se como um pavão no poleiro e ao mesmo tempo esconder-se como um rato na toca.

Mas Obama nem precisaria ser tão escrupuloso na camuflagem. A mídia esconde tudo por ele – para quê preocupar-se em vão ao ponto de ficar nervoso e atrapalhar-se no discurso? Afinal, que são os pequenos deslizes do candidato democrata em comparação com a gravidez solteira de Bristol Palin? Toda a esquerda chique, que sempre batalhou pela “liberação sexual da juventude”, está hoje escandalizada, chocada, perplexa ante essa semvergonhice incomum, sem dúvida um risco maior para a segurança dos EUA no caso de Sarah Palin chegar à vice-presidência. Com o detalhe especialmente elucidativo de que, uma vez desencadeada a campanha de ataques à devassidão abominável da família Palin, essa mesma onda é explicada retroativamente como fruto do moralismo reacionário dos americanos e assim transfigurada num argumento fulminante contra a eleição de candidatos conservadores.

Cuidado com os exageros...

Preciso ser coerente. A Editora Fiel lançou um livro chamado “A Arte Expositiva de João Calvino” o autor do livro é o Steven J. Lawson.
Nunca li algo semelhante. O livro exalta tanto Calvino que Jesus Cristo não é nada perto dele. Não há problema algum escrever sobre uma determinada pessoa, a grande dificuldade é canonizar um pecador. O livro de certa forma elevou Calvino ao status de homem mais santo em toda história da igreja. Isso é um absurdo. Reconheço que o livro tem algumas riquezas na área da exposição bíblica, mas esta ênfase exacerbada em Calvino diminui o crédito da obra. Algumas frases do livro:

“Queremos mais Calvinos. Precisamos ter outros Calvinos”.


“Entre todos os nascidos de mulher, não houve ninguém maior do que João Calvino; nenhuma época anterior à dele jamais produziu alguém igual a ele, e nenhuma época depois dele viu um concorrente seu (...) Nenhum outro homem pôde expressar, conhecer e explicar as Escrituras de forma mais clara do que a forma como Calvino fez”.


“Homem algum jamais teve um senso mais profundo de Deus do que ele. Homem algum jamais se rendeu totalmente à direção divina como ele o fez”.


Gosto de muitas coisas que Calvino produziu, mas nem tanto. Ele foi um miserável pecador como todos os outros homens. Citando o próprio Calvino: “A mente humana é uma fábrica de ídolos”. E neste caso, pensado ou impensado, uma certa idolatria foi cometida. Cuidado com as extrapolações!

Rótulos...

Tenho pavor de rótulos ou títulos. Quando alguém me chama de “calvinista” tremo e me irrito. Não gosto disto! Vários teólogos de renome no Brasil fecham comigo neste ponto.
Quando posto alguma coisa diferente no blog algumas pessoas se irritam. Acham que estou confuso com o titulo do blog. Não posso me prender somente a uma linha de pensamento. O blog não é exclusivo para a teologia reformada. Uma por que a teologia reformada não tem a última palavra. Tento dialogar com outras fontes do pensamento. Deve-se tomar cuidado com extremos. Eles causam um fundamentalismo doentio e reducionista. É preciso reconhecer que ouve e há erros em muitas formas de se fazer teologia e igreja. Mas as minhas críticas sempre sucedem as lágrimas nos meus olhos. Não se pode criticar igreja e porque não a teologia sem existir lágrimas nos olhos.

Eles nos acham ignorantes...

A percepção que tenho quando ouço um norte-americano é que ele ou eles acham que brasileiro não estuda. Durante as exposições da conferência, os preletores ensinam o básico por considerarem a completa ignorância dos teólogos brasileiros. Bom, esta é a minha visão da realidade e muitos concordam comigo.

Conferência da Fiel...

Durante esta semana estou na Conferência da Fiel. Considerada uma das maiores conferências de teologia reformada. Para a minha surpresa, encontrei vários pastores que pertencem a uma classe de perseguidores da fé reformada. Ou eles estão analisando para ver quais pastores da seção são adeptos da teologia reformada, para que depois haja a perseguição, ou eles são um bando de enrustidos.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Machado de Assis, o gênio da literatura brasileira...


por Judiclay Silva Santos

Joaquim Maria Machado de Assis foi um romancista, contista, poeta e teatrólogo brasileiro, considerado um dos mais importantes nomes da literatura desse país. Gênio da literatura nacional e mestre da língua portuguesa, foi o maior escritor afro-descendente de todos os tempos, segundo o crítico Harold Bloom.

Machado nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também na capital fluminense, em 29 de setembro de 1908. Viveu durante o longo reinado de Dom Pedro II, assistiu à proclamação da República e testemunhou os primeiros anos do século XX. É impressionante, sobretudo levando em conta o contexto do século XIX, que o menino mulato, filho de um modesto pintor descendente de escravos com uma simples portuguesa tenha chegado aonde ele chegou. Órfão de mãe muito cedo, e do seu pai, também órfão aos 12 anos, foi criado no morro do Livramento, hoje morro da Providência, a mais antiga favela Carioca. Sem meios para cursos regulares, aprendeu a ler com a madrasta, estudou como pôde, e se mostrou um notável autodidata que aos quinze anos, em 1855 estreou na literatura, com a publicação do poema "Ela", conquistando a admiração e a amizade do romancista José de Alencar, principal escritor da época. Seu primeiro livro foi lançado em 1864, Crisálidas (poemas).

Seu casamento, em 1869, com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier de Novais, foi um fato importante em sua biografia. Carolina foi sua companheira perfeita durante 35 anos, tendo-lhe revelado os clássicos portugueses e vários autores de língua inglesa. Em 1873, ingressou no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como primeiro-oficial. Posteriormente, ascenderia na carreira de servidor público, aposentando-se no cargo de diretor do Ministério da Viação e Obras Públicas.Podendo dedicar-se com mais comodidade à carreira literária, escreveu uma série de livros de caráter romântico.

A chamada primeira fase de sua carreira, foi marcada pelas obras: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), e Iaiá Garcia (1878), além das coletâneas de contos Contos Fluminenses (1870), , Histórias da Meia Noite (1873), das coletâneas de poesias Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875), e das peças Os Deuses de Casaca (1866), O Protocolo (1863), Queda que as Mulheres têm para os Tolos (1864) e Quase Ministro (1864).

Na segunda fase suas obras tinham caráter realista, tendo como características: a introspecção, o humor e o pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o mundo. Da segunda fase, são obras principais: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), além das coletâneas de contos Papéis Avulsos (1882), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1906), Relíquias da Casa Velha (1906), e da coletânea de poesias Ocidentais. Em 1904, morre Carolina Xavier de Novaes, e Machado de Assis escreve um de seus melhores poemas, Carolina, em homenagem à falecida esposa.

Era Machado o maior nome vivo da Literatura no Brasil, quando um grupo de jovens, capitaneados por Lúcio de Mendonça resolve finalmente pôr em prática a idéia da fundação da Academia Brasileira de Letras nos moldes da Academia francesa. Machado foi seu primeiro presidente e seu discurso de fundação em 1887 revela sua intenção em participar da Academia:

“Senhores, Investindo-me no cargo de presidente, quisestes começar a Academia Brasileira de Letras pela consagração da idade. Se não sou o mais velho dos nossos colegas, estou entre os mais velhos. É simbólico da parte de uma instituição que conta viver, confiar da idade funções que mais de um espírito eminente exerceria melhor. Agora que vos agradeço a escolha, digo-vos que buscarei na medida do possível corresponder à vossa confiança. Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova e naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda a casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso. Já o batismo das suas cadeiras com os nomes preclaros e saudosos da ficção, da lírica, da crítica e da eloqüência nacionais é indício de que a tradição é o seu primeiro voto. Cabe-vos fazer com que ele perdure. Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira. Está aberta a sessão”.
Machado de Assis, 1897

Muito doente, solitário e triste depois da morte da esposa, Machado de Assis morreu em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho. Morreu cercado de fama e rodeado pelos amigos, na mesma cidade onde nascera, cidade que amara e retratara em sua extensa e valiosa obra.

O centenário da morte do escritor brasileiro Machado de Assis foi publicado no Diário Oficial da União, a Lei nº 11.522, que institui 2008 como o Ano Nacional Machado de Assis, assinada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil. A exposição “Machado Vive!”, sob a égide da Academia Brasileira de Letras, com a curadoria de Alexei Bueno, é uma rica oportunidade para conhecer, nas palavras do acadêmico Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira de Letras, “uma exaustiva iconografia do autor de Memórias póstumas de Brás Cubas, sua extensa bibliografia publicada em vida virtualmente completa, objetos que lhe pertenceram, relíquias da sua ambiência de criação e de trabalho, imagens do Rio de Janeiro pelo qual se movem quase todos os seus personagens, e no qual hoje nos movemos nós, eternamente ligados ao maior artista literário que ela deu para o Brasil e o mundo."

Penso que a melhor homenagem que podemos prestar ao maior gênio da literatura nacional é ler com devoção às suas primorosas obras e encorajar, com zelo e paixão, que os brasileiros conheçam esse ilustre mestre das letras. Compartilho aqui a minha experiência pessoal. Foi somente aos 23 anos de idade que li pela primeira vez uma obra de Machado de Assis (curiosamente, o seu primeiro romance, Ressurreição!). Comecei tarde, mas valeu e muito ter começado. Desde então, sou leitor assíduo, admirador apaixonado e incentivador fiel das obras de Machado de Assis, o príncipe da língua portuguesa.

É Proibido...

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.


Pablo Neruda

Josué de Castro

"Não se morre só de enfarte, ou de glomero-nefrite crônica...
Morre-se também de saudade"

Josué de Castro


"Denunciei a fome como flagelo fabricado pelos homens, contra outros homens"

Em 1964, aos 56 anos, o então embaixador do Brasil junto aos Órgãos das Nações Unidas, em Genebra, Josué de Castro, teve seus direitos Políticos cassados.

lnterrompia-se, pelo arbítrio, a profícua atividade intelectual do humilde médico brasileiro que, aos 21 anos, iniciara sua atividade clinicando na Cidade do Recife e chegara a representante do Governo de seu País.

Longa foi a caminhada deste inconformado nordestino que se tornou mundialmente conhecido por seus livros, cargos que ocupou, funções que desempenhou, organismos que criou e aulas que ministrou, no Brasil e no Exterior.

Entretanto, o que mais o notabilizou foi, sem dúvida, quer no exercício da cátedra, na Presidência da FAO, no Parlamento Brasileiro (como deputado pelo antigo PTB), nas salas de aula ou nos momentos solitários do escritor consagrado, a eleição de um tema até por ele mesmo considerado bastante delicado e perigoso, a fome. E foi contra ela, em toda a sua extensão e manifestações, que travou o bom combate de sua vida.

A publicação, em 1946, da primeira edição da Geografia da Fome, seu mais conhecido livro já traduzido em 25 idiomas, assinala o início das denúncias que pretendeu levar, a seus patrícios e ao mundo, acerca desse grave flagelo que, ainda hoje, assola a humanidade. Seguiram-se a Geopolítica da Fome e outros livros que terminaram por identificar o autor com o tema central de suas obras.

No exílio a despeito dos muitos convites que recebeu de diferentes países, escolheu para morar a França. Criou o Centro Internacional de Desenvolvimento e voltou a lecionar Geografia Humana, na Universidade de Paris, até sua morte, em 1973, dez anos depois.

A vida de Josué de Castro foi uma grande lição de engajamento em sua própria realidade, sua própria cultura. Procurou desenvolver toda uma ciência, a partir de um fenômeno que é a manifestação do subdesenvolvimento em sua mais dura expressão: a Fome. Tentou criar uma teoria explicativa para a triste realidade do subdesenvolvimento, da pobreza, da miséria. Tentou modificar a história de seu país. É este homem que o Brasil de hoje precisa deixar de ignorar.

Anna Maria de Castro
Professora titular da UFRJ
Doutora em Sociologia Aplicada
(filha de Josué de Castro)