“Estou
convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o
dia de Cristo Jesus” ( Filipenses 1.6)
A Bíblia fala claramente sobre essa habilidade, que é um dos frutos da
educação no deserto. Em Issacar, uma das doze tribos de Israel, havia homens
“conhecedores dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer, e todos os
seus parentes sob suas ordens” (1
Crônicas 12.32). O que a Bíblia quer nos ensinar que é
fundamental para seguir o caminho certo e fazer a coisa certa saber discernir o
tempo da sua própria época e cultura.
Para que não soframos antecipadamente cabe compreender que Deus segue o
seu próprio cronograma, não o nosso.
Toda vez em que não nos submetemos ao tempo de Deus, cometeremos erros
gravíssimos. Exemplo, Abraão e Sara. Na tentativa de ajudar a Deus no
cumprimento da sua promessa, eles optaram pelo atalho. Durante os trezes anos
que se seguiram após o acontecido Deus não falou com Abraão. O filho que Abraão
teve um filho com Hagar criou uma situação de conflito que dura até hoje.
Somos
fascinados pelos caminhos mais curtos, seja para a solução de um problema econômico
ou de um conflito relacional. Trilhar o longo caminho da obediência, da
dignidade, do trabalho, da honra, do respeito, da formação do caráter, acaba,
em um ou outro momento, esbarrando na pressa e na sedução dos atalhos.
Deus precisa nos domar. Ninguém nasce com essa virtude. Ela aparece como
obra do Espírito Santo. Por qual razão a Bíblia diz em Números 12.3: “Ora, Moisés era um homem muito paciente, mais do
que qualquer outro que havia na terra”? Ele ficou simplesmente oitenta anos
debaixo de um tratamento de Deus.
Não podemos nos mover enquanto Deus não dizer prossiga. Concordo que não
é fácil. Até Jesus Cristo submeteu-se ao tempo de Deus Pai – João 2.4: “Respondeu Jesus: Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não
chegou”.
Uma característica marcante das pessoas que são treinadas
espiritualmente no deserto é a sua disposição de somente se moverem no tempo de
Deus, de somente responderem a voz de Deus.
Um adesivo no vidro
traseiro de um carro continha a seguinte frase: “Paciência, Deus ainda não terminou sua obra em mim”. Isto nos faz
pensar sobre o processo lento e paciente com que Deus lida com nossas
limitações e ambigüidades.
Deus, pacientemente, nos
salva, redime e transforma. É um processo lento. Envolve nossas resistências,
defesas, medos e incertezas. Queremos crescer, amadurecer, mas temos medo de
dar um passo em direção àquilo que não conhecemos, de nos entregarmos nas mãos
de Deus sem saber exatamente o que pretende fazer de nós. Tememos renunciar
àquilo que nos parece tão seguro e confortável - como os hebreus que, diante
dos riscos do novo, desejaram voltar para o Egito. A escravidão é mais segura
do que a liberdade. No entanto, Deus segue pacientemente nos conduzindo para a
terra da promessa, nos levantando quando caímos, dando força quando nosso vigor
acaba, nos corrigindo quando erramos e tratando de nossas feridas quando nos
machucamos.
Mas nós somos impacientes.
Não suportamos as falhas, cobramos eficiência, criticamos a incompetência e
condenamos o erro. Precisamos da paciência de Deus e dos outros, mas somos
intolerantes. Este descompasso entre a paciência divina e nossa impaciência nos
torna pessoas desatenciosas para com aquilo que a graça de Deus está
construindo na vida do próximo e na nossa. A vida não é constituída de saltos,
mas de passos, na maioria das vezes vagarosos.
Paciência é uma virtude
divina, um fruto do Espírito absolutamente indispensável na experiência
espiritual pessoal e comunitária. É ela que nos possibilita caminhar sem
sobressaltos, provar a graça de Deus sem o medo tão comum da rejeição e
exclusão. Precisamos dela em nossas famílias e igrejas, principalmente num
tempo em que a pressa, a impessoalidade e a cultura do descartável são tão
intensas e desumanas. É por isso que Paulo, escrevendo aos filipenses, afirma:
“Aquele que começou a boa obra em vós, há
de completá-la até o dia de Cristo Jesus”. A ação de Deus sobre nossas
vidas é pessoal e tem um percurso próprio. Cabe a nós, corpo de Cristo, acolher
com paciência uns aos outros e deixar Deus completar a sua obra.
“Paciência! Deus ainda não terminou sua obra em mim”. Talvez seria
bom colocarmos um adesivo destes em cada um de nós. Seria bom que os pais
fossem lembrados disto toda vez que a atitude e reação dos seus filhos não
corresponderem àquilo que esperam deles. Que os cônjuges também reconhecessem
isto toda vez que o marido ou esposa não correspondessem à expectativa . Que a
igreja levasse isto bem a sério, toda vez que olhasse para o lado e visse no
outro uma obra inacabada. Que considerasse esta realidade na vida dos seus
líderes e pastores. Sejamos pacientes: Deus, com sua infinita misericórdia,
continua trabalhando em nós.