terça-feira, 30 de junho de 2009

Os mártires de Lião...

Em Lião, no ano 177, uma amotinação popular prendeu cristãos condenados com a concordância do mesmo imperador Marco Aurélio. Eusébio nos conservou uma carta que relata os acontecimentos. Carta das Igrejas de Lião e de Viena às Igrejas da Ásia e da Frígia.

Os servos de Cristo que habitam em Viena e em Lião, na Gália, aos irmãos da Ásia e da Frígia, que, como nós, têm fé e esperam a redenção: paz, graça e honra em nome de Deus, o Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor.

A todas as perguntas Sanctus respondia em latim: "Sou cristão"; essa afirmação fazia para ele as vezes do nome, da cidade, da raça e de tudo; os pagãos não ouviam dele outra palavra (...). Para terminar, eles lhe aplicaram lâminas de ferro incandescentes nas partes mais delicadas do corpo. Elas o queimavam, mas ele continuava inflexível e inquebrantável, firme na confissão de sua fé e recebendo da fonte celeste como que um orvalho fortalecedor da água viva que saído lado de Cristo. Seu pobre corpo testemunhava o que se tinha passado: todo ele era contusões e chagas; encolhido em si mesmo, ele não linha mais aparência humana. Mas era Cristo que sofria nele e realizava uma obra grande e gloriosa: tornava impotente o adversário e mostrava aos outros, como exemplo, que nada é temível onde está o amor do Pai, que nada é doloroso onde está a glória de Cristo (..).

Alguns dias mais tarde, os carrascos torturaram novamente o mártir; pensavam que o submeteriam, aplicando-lhe as mesmas torturas, já que ele não podia suportar nem o simples contato das mãos. Na pior das hipóteses, ele morreria nos tormentos, e esse exemplo encheria os outros de medo. Mas não foi assim; contra toda a expectativa, o corpo do mártir se refez, se fortaleceu nas novas torturas e recobrou, com sua forma anterior, o uso de seus membros. Em vez de ser um sofrimento, o novo suplício foi para Sanctus uma cura pela graça de Cristo.

Outros tinham sido tão cruelmente torturados que pareciam não poder sobreviver, apesar de todos os cuidados; não obstante, eles resistiram na prisão: privados de todo o socorro humano, mas reconfortados por Deus, recobraram as forças do corpo e da alma, encorajavam e sustentavam seus companheiros. Enfim, os que foram presos por último, cujos corpos ainda não tinham sido levados à tortura, não suportaram o horrível amontoamento da prisão e morreram.

O bem-aventurado Fotino, ao qual tinha sido confiado o ministério do episcopado em Lião, tinha então mais de noventa anos. Ele se achava em extrema fraqueza física, respirando com dificuldade, mas, sob a influência do Espírito e desejando ardentemente o martírio, reencontrava suas forças. Também ele foi arrastado ao tribunal; seu corpo velho e doente o abandonava, mas nele velava a sua alma, para que por ela Cristo fosse glorificado. Conduzido pelos soldados ao tribunal, era seguido pelos magistrados da cidade e por todo o povo, que levantava contra ele toda a sorte de gritos como se ele fosse o Cristo: ele deu um belo testemunho. Interrogado pelo Legado sobre o Deus dos cristãos, respondeu: “Conhecê-lo-ás se fores digno” (...).

Blandina, suspensa num poste, estava exposta como alimento para as feras soltas sobre ela. Vendo-a suspensa nessa espécie de cruz e ouvindo-a rezar em voz alta, os combatentes sentiam crescer sua coragem; no meio de seu combate, eles viam, com seus olhos de carne, através de sua irmã, aquele que foi crucificado por eles, a fim de mostrar aos seus fiéis que todos aqueles que sofrem para glorificar o Cristo conservam sempre a união com o Deus vivo (...).

A bem-aventurada Blandina, a última de todos - como uma nobre mãe que, depois de ter encorajado seus filhos, os enviou na frente, vitoriosos, até o rei -, sofria, por sua vez, o rigor de todos os combates sustentados por seus filhos. Agora ela se apressava em ir juntar-se a eles, feliz e radiante de alegria por causa dessa partida, como se fosse convidada para um banquete de núpcias, e não entregue às feras. Depois dos golpes, depois das feras, depois da grelha, colocaram-na dentro de uma rede e a expuseram assim a um touro. Atirada muitas vezes ao ar por esse animal, ela nem percebia mais o que lhe acontecia, absorvida como estava na esperança e na expectativa de sua fé e no seu entretenimento com Cristo. Ela também foi degolada, e os próprios pagãos reconheciam que entre eles jamais uma mulher tinha suportado tantos tormentos (...).

A importância da história para a fé cristã...

É suicídio para a fé cristã e para o caminhar da igreja quando a história da sua formação é ignorada. Não considerar o que os pais da igreja fizeram para toda a construção da teologia cristã é um ato de violação contra as principais doutrinas.
Durante muito tempo ouvi debates sobre a desvalorização da história. Alguns subversivos incentivam a destruição das doutrinas, dogmas e tradição. Entretanto, não é possível que algum segmento exista sem tradição. Os teólogos liberais vivem de tradição. Ora, os seus discursos estão respaldados por aqueles que os antecederam. Abrem mão de uma tradição para adaptarem-se a outra.
Há outros problemas em círculos cristãos em que a tradição teológica é desprezada. Com todo respeito aos irmãos pentecostais, mas as principais doutrinas teológicas são por eles desconhecidas. É a supervalorização do iluminismo. Este iluminismo é a idéia de que o Espírito Santo fará toda a obra do conhecimento. Não precisam ler, pesquisar e estudar. Porém, isso se torna um contra-senso. Deus não pode ignorar aquilo que ele mesmo implantou no homem – intelecto. Jonathan Edwards trabalhou muito bem este postulado. Ele foi considerado o teólogo da mente e do coração. Não é possível que verdades penetrem no coração sem que o recurso da razão seja acionado. Para crer você entende, e você entende para crer. Assim já pensou John Stott que cunhou a célebre frase: “Crer é também pensar”.
Quando se estuda a história do povo de Deus, a leitura que é feita é sobre a ação de Deus. Ele age e valoriza a história da humanidade. Não é alheio ao que se passa com o povo.
A riqueza do estudo nos traz a compreensão de que a igreja não está circunscrita a este tempo. Este o problema de muitas igrejas que surgem. Alguns se intitulam a igreja do momento. Outros pastores se sentem os homens de Deus que irão realizar feitos notórios. São mais de dois mil anos de história. A igreja não nasceu hoje. A formação pastoral não é de agora. Os pastores de hoje não produziram nada em comparação aos do passado. Para ser relevante é preciso considerar os alicerces que já existem. Dificilmente alguém irá falar algo novo sobre trindade, deidade de Cristo, justificação pela fé. Quando alguém levanta uma bandeira de uma novidade teológica deve-se ter cautela. A probabilidade de que tal pessoa rejeitou os grandes pensadores do passado é enorme.A dificuldade que os cristãos tem em relação às crises da fé, da igreja e de contextos sociais reside justamente em não compreender que houve no passado. As heresias do presente são velhas heresias do passado, mas com uma roupagem nova. As crises da atualidade não são muito diferentes das crises do passado. Por isso, a leitura sobre os teólogos e pastores do passado trará uma facilitação para o entendimento da era presente. No passado é possível encontrar estimulo, conforto e direção. Isto é o fruto de uma sabedoria. Olhar para o passado é compreender melhor o presente e ter esperança no futuro. Geralmente, os antigos pastores procediam desta forma. Quando se encontravam em lutas buscavam conforto nos pais da fé do passado.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um pequeno traço (09/07/1939 – 15/04/2009)...

Relutei para escrever este artigo. Tudo porque diz respeito a alguém que aprendi a amar com a maior facilidade. Eu convivi com esta pessoa durante um ano e quatro meses. Foi tempo suficiente para desfrutar de uma companhia que transmitia graça e amor nas palavras e nos gestos.
Resolvi escrever este artigo para que as pessoas soubessem quem foi este notável pastor – Iranyr Teixeira de Lima. Estou para conhecer alguém tão humilde, simples e sábio a semelhança dele.
Tive o privilegio de conhecê-lo quando cheguei a Igreja Batista Betel de Mesquita. Na atualidade o pastor desta igreja é o Judiclay Silva Santos – dispensa comentários. O pastor Iranyr esteve à frente da Betel por quase vinte anos. O seu antecessor foi o seu pai – pastor João Teixeira de Lima.
O pastor Iranyr relutou, pensou, refletiu e ponderou sobre ser pastor. Vivia muito o ministério ao lado de seu pai. Estudou Economia e trabalhou por longos anos numa agência bancária. Quando decidiu estudar teologia tornou-se o melhor aluno. Sempre foi aplicado e muito sério em tudo que era colocado em suas mãos.
Durante o ministério foi cometido por uma doença que o afastou do pastorado. Neste período a igreja sofreu porque todos o amavam e o queriam como pastor. Após algum tempo foi então aberto o processo de sucessão pastoral.
Richard Baxter no seu livro “O Pastor Aprovado” adverti o pastor para que não deixe o rebanho sem um guia. Na sua enfermidade o pastor Iranyr percebeu a necessidade de ter alguém para auxiliá-lo. A igreja não tinha condições para manter outro pastor. A atitude deste servo é exemplar. Reduziu a sua economia familiar e tirou do próprio bolso o sustento do outro obreiro. Poucos procedem com tanto diligência e cuidado com o rebanho desta maneira.
Ele pode ser adjetivado como o pastor do grande coração. Ele ajudou uma família a construir uma casa. A filha da família beneficiada freqüentava a igreja pela bondade que o pastor Iranyr radiava. Ele exercia um poder de atração. Muitas pessoas filiaram-se a igreja pelo testemunho imaculado e autentico de Iranyr Teixeira de Lima.
Qualquer pessoa que dialogava com o pastor Iranyr notaria que ele era o homem da palavra certa. O que me fascinava era a sua disposição para aprender. Lembro-me do provérbio yanomami que diz: “É difícil para o homem de cabelo branco aprender com o homem de cabelo preto”. Quantas vezes eu o avistei na multidão da igreja a ouvir meus sermões que eram pueris diante da grandeza do conhecimento que fluía da sua vida. Sem dúvida a mente dele era um palácio da memória. Recordo-me dos momentos memoráveis que na mesa da sua casa ele disponha de seu tempo para ensinar-me sobre o oficio pastoral. Almoços que sinto uma enorme falta.
Por que pequeno traço? Este tema surgiu quando Jimmy Carter foi ao enterro de Alberta Williams King (mãe de Martin Luther King Jr.). Carter não economizou elogios para a Alberta e disse que ali estava um pequeno traço (referência ao traço que marca a data do nascimento e a data da morte).
Infelizmente na lápide do pastor Iranyr não foi possível descrever o que ele foi em vida. O pequeno traço não é capaz de mensurar a indelével marca que este homem deixou na humanidade.
Uma outra característica dele era a sua mansidão e o seu lado pacificador. Por muitos anos ele esteve envolvido com a Convenção Batista Fluminense. Ali ele exerceu o oficio de tesoureiro. Nos momentos mais calorosos das reuniões ele sempre adoçava o ambiente com palavras de graça que eram capazes de trazer a paz e a ordem.
Conheci grandes pastores, mas no pedestal está Iranyr Teixeira de Lima. Ele foi pastoreado por alguém que poderia ser seu filho (Judiclay Silva Santos). Durante todo o tempo soube ser ovelha. Não consigo ver exemplo melhor para a humildade. Ele acatava cada sugestão e orientação do Judiclay. No dia do enterro ouvi no momento do sermão fúnebre a seguinte oração que uma vez o pastor Iranyr fez: “Deus, se um dia eu envergonhar o seu nome e a sua palavra, que o Senhor me leve na véspera”. Aqui compreendo porque este homem viveu piedosamente. A sua vida era um culto a Deus. A compreensão de que Deus o olhava e sabia tudo o que ele fazia, reinou em sua mente e coração. Nunca foi repreendido. Nunca perdeu a sua autoridade. Sempre firme nas suas convicções. Sistematicamente mantinha a sua vida de oração e leitura das Sagradas Escrituras. Quando orava no culto público as suas palavras eram elaboradas da teologia mais profunda e simples. Admirava o seu português inquestionável. Prezava pela boa regra culta da linguagem falada. Hoje sinto a sua falta quando vou a igreja. Era perspicaz nas suas piadas. As suas palavras eram vivazes. Os seus olhos refletiam Deus nele. A sua fé tento imitar. Procuro viver o evangelho como ele viveu. O caixão tampou o brilho dos seus olhos. Na minha memória esforço-me para que o seu brilho seja mais intenso. Não quero ver apagado este brilho. É o que espero. Os seus conselhos ocupam um lugar especial na minha memória. O pequeno traço reduziu a grandeza que foi a vida deste inesquecível homem de Deus.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Teologia para além da teoria...

No período em que cursei o seminário teológico deparei-me com um divórcio incabível – teoria x prática. Alguns pensavam muito bem teologicamente, mas a vida não estava coadunada com o conhecimento. Assim agia eu também. Sendo que o pensamento influencia o viver. Uma pessoa que tem convicções bem definidas e as defende e não põe em prática, essa pessoa sofre de algum desvio mental, doutrinário, intelectual ou espiritual. De qualquer forma, não entendo a separação da vida com a mente. Quando o conhecimento é saudável ele não gera dificuldades na sua exposição. Portanto, o bom conhecimento é tranqüilamente transmissível por intermédio de uma vida coerente.
Conheci um professor no seminário que escreveu um livro assim chamado: “Teologia Para que?”. Por que estudar teologia? Tem algum propósito nisso? Ela tem algum significado? Se o estudante de teologia não vê propósito nela, não há razão de estudá-la. Se cursar teologia para depois jogar tudo fora, também não houve significado algum no tempo perdido. Lembro-me das palavras de alguns colegas que diziam – para que vou usar a teologia no ministério? Isso não servirá de nada outros diziam.
Existe um problema de reduzir este estudo tão rico ao ambiente acadêmico. A teologia se aplica a cada área da vida. O teólogo haverá de responder questões complexas, delicadas e dolorosas da vida. Em outros momentos haverá de se calar. Mas como compreender esta dinâmica? Não se pode desperdiçar algo que é capaz de mexer com as entranhas do ser humano.
O problema pode estar no fato de que muitos reduzem o estudo teológico para os chamados grandes pensadores. O pastor deve ser um exímio teólogo. As suas pesquisas devem ser usadas. Os seus tratados devem ser aplicados. As pessoas carecem disso. A vida pede isso. Por isso, resolvi pontuar algumas convicções que devem ser aplicadas e compreendidas na teologia prática. A teologia tem a sua razão de ser. A teologia é assim entendida por mim:

Teologia como experiência de vida

A minha pequena caminhada de estudos levou-me a refletir o grande desafio da integração entre teoria e prática. Esta convicção se deve ao fato de que minhas experiências práticas tenham sido em contextos em que a vida não estava presente. Passei por alguns estágios na graduação de teologia com pessoas de nível social desfavorecidas. Freqüentei casas que não pode receber o nome de lar. Tinha que levar uma palavra de vida e esperança. Pessoas que dividiam o espaço com as suas próprias fezes. Certa feita, num enterro, eu tive que reconhecer o corpo no IML (situação horrível). Depois tive que vestir o cadáver (situação complicada e fora dos padrões higiênicos). Foi nesse ambiente – "morte-vida" – que comecei a entender o propósito rico da teologia. Ouvia várias experiências de pessoas que eram capazes de sonhar independente da condição de extrema limitação. Outros tinham perdido famílias em acidentes drásticos. Na grande maioria havia traços de doenças psiquiátricas que se misturavam com demandas espirituais. Em outro momento conheci casos de vários jovens que foram mortos pelo tráfico.
A convivência com este binômio "morte e vida" parece interminável. As experiências fazem com que a teologia se torne viva. São exatamente esses momentos difíceis que trazem a reflexão necessária – como a graça de Deus pode dar sentido a tudo isto? Perguntas infindáveis surgem. A leitura sobre a vida e a teologia de homens como Martinho Lutero, William Cowper, David Brainerd, Karl Barth, Dietrich Bonhoeffer e C.S. Lewis foram à ferramenta de Deus para modelar a minha prática teológica, pastoral e educacional numa teologia que além de exalar vida tenha a própria vida como experiência.

Teologia como experiência de paixão

No período dos meus estudos e no meu envolvimento com as pessoas e com a igreja de Cristo, uma descoberta de caráter singular em minha vocação veio à tona: não consigo amar pela metade. O contexto da dor é capaz de deixar marcas indeléveis na vida. Isso faz com que o amor seja mais profundo. De fato o amor é fonte de cura. O combate ao ódio, inveja, ciúmes, rancor e amargura está no poder avassalador do amor. Algo que aprendi e me fez crescer é que em algum momento as palavras e as formulações teológicas irão faltar. Descobri então neste momento de falta de respostas que o amor é necessariamente suficiente.
Uma vez que você se lança e se entrega à vida algo das pessoas passa a fazer parte da sua vida. Principalmente quando se sofre com que sofre. O grande teólogo Santo Agostinho de Hipona, através de suas "Confissões", revela que teologia, paixão e amor deveriam andar de mãos dadas.

Teologia como experiência de Silêncio e de Mistério
"Para falar de Cristo é preciso estar em Silêncio" (Bonheffer)

É parte da tradição teológica a dimensão da fé, da transcendência que extrapola os conceitos, mas não os anula. A dimensão do "mistério", como dizia Karl Rahner, ou o "totalmente outro", como dizia Paul Tillich relembra à teologia a sua dimensão mistérica e misteriosa. Por vezes, a forma bem coerente de falar do Mistério é através do silêncio contemplativo, da adoração desejosa, da degustação Téo-lógica. Em contexto de dores, limites e perdas, o silêncio contemplativo pode ser um lindo caminho da experiência divina.
Justamente aqui reside a problema do ser humano – necessidade de explicar tudo. Na própria manifestação de Cristo está o mistério. A compreensão da encarnação do verbo deve ser um ensinamento para que venhamos a exercitar o silêncio. Santo Agostinho na sua obra “Trindade”, obra esta que levou quatorze anos para escrever, ele disse no final da sua obra: “diante deste mistério (trindade) me coloco de joelhos com a mão na boca e dou glórias a Deus” (paráfrase do autor).
Num velório não há palavras. Para um câncer não há conselhos pretensiosos. Para uma família destruída pelo vício não há outra opção a não ser o choro. A experiência de se calar e contemplar deve ser exercida com mais freqüência. Há situações em que o próprio Deus se cala. Ele sabe muito bem exercer o silêncio. Que ele seja o grande mestre nesta tarefa.

Teologia como experiência de Busca da Verdade

O ponto de partida deve ser a teologia cristã. Este conceito absoluto é difícil de ser entendido uma vez que a verdade no contexto atual é a soma das verdades. A busca pela verdade acaba sendo uma tarefa impossível, pois toda verdade é contextualizada e aberta às reformas. Verdade é uma construção constante e para toda vida. Neste sentido, é preciso delimitar a busca para a área que este encontro pela verdade aconteça – As Escrituras – sendo assim o meu labor teológico é à busca da verdade sobre o relacionamento entre Deus e o ser humano, entre o ser humano e a natureza e entre todas as coisas criadas. Portanto, eu faço teologia para entender melhor as verdades em que creio. Como dizia Anselmo de Cantuária: "Creio para entender e entendo para crer".

Teologia como experiência de crises

Via de regra, a crise gera uma desestabilização. A desconstrução deve ser conjuntamente uma experiência de construção. Não pode ficar sem nada aquilo que foi a ruína. Um novo monumento deve ser erigido. Há uma dinâmica cíclica na (re)formulação teológica – à medida que há a desconstrução há a construção, e à medida que há construção há a desconstrução. Este trabalho conduz-me ao encontro com Deus e com a minha vocação na sociedade. Ao fazer este movimento sou favorecido da visão crítica da própria teologia e de seus postulados. Um senso de insatisfação impera na minha mente e no meu coração.
A teologia da crise é uma etapa importante que não pode ser deixada de lado. Porque a palavra crise faz parte da dinâmica humana. Ao contrário de abafar e desconsiderar as crises, elas são um caminho para que o ser humano cresça e assim tenha condições de produzir teologia em consonância com a vida e com os principais dilemas e perguntas que estão presentes no mundo atual.

Teologia como experiência de Serviço e humildade

A experiência comunitária da Trindade é revelada na prática de vida do homem Jesus de Nazaré. Na Trindade o Pai serve o Filho, o Filho serve o Pai, o Espírito Santo é vínculo de amor, comunhão e serviço na Trindade. Jesus traz esta realidade para a vida humana. Não existe um momento sequer na vida de Jesus em que a palavra serviço não esteja inserida. O roteiro da vida de Jesus é assim: ele nasce, ele cresce, ele vive, se relaciona, ama, morre e ressuscita servindo. A interpretação teológica feita pelas primeiras comunidades cristãs analisa toda sua vida como evento de grande serviço salvífico. Dentro desse macro contexto, toda vida de Jesus se torna ponto de chegada e de partida para a salvação. A integralidade da salvação trazida por Cristo é vista como reconciliação do ser humano com Deus que se mostra numa vida de total serviço aos outros. O teólogo cristão, como intérprete desse fundamento, é convidado também a se envolver neste discipulado. Inspirado na integralidade da vida de Cristo um desafio surge – trabalhar a teologia como experiência de serviço. Como teólogo do serviço, a vida de Jesus traz a lembrança constantemente o cuidado para não usar o conhecimento teológico como instrumento de arrogância ou veículo que torna as pessoas dependentes incondicionais de minhas supostas verdades. Por esse viés, a teologia começa a ocupar um lugar privilegiado na vocação do serviço. Toda formação intelectual está em função do serviço.

Teologia como experiência de Deus

Essa teologia é da escuta. Rubem Alves escreveu um artigo excelente sobre a “Escutatória” a arte de ouvir. Poucas pessoas sabem deste dom – ouvir. Muitos falam e poucos ouvem. Na escuta é possível encontrar Deus. As pessoas irão falar sobre o que Deus tem feito em suas vidas. A cultura irá dizer que existe a graça comum de Deus que age na vida de tantos outros e brilha a sua glória. As confissões dos recém convertidos trarão luz para uma compreensão sobre Deus que até então era inexistente.
A experiência de Deus que a teologia pode proporcionar não parte simplesmente das respostas prontas e acabadas. É um constante diálogo entre os fundamentos da teologia cristã e a forma como o ser humano narra sua própria experiência de Deus.Esta é a contribuição que a teologia oferece – um redirecionamento da relação do ser humano com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Uma construção de um mundo digno, inclusivo, respeitoso e solidário é possível então, a partir desta perspectiva.

sábado, 6 de junho de 2009

O constitucionalismo e a filosofia da história

por Marcus Boeira
Quando uma Constituição se restringe a princípios, sua esfera de suavidade promove o novo, a novidade social, a dinâmica da cultura e a renovação das instituições políticas. Quando não, acaba por determinar artificialmente a finalidade da história, impedindo a novidade e matando a liberdade. Tais constituições, autocráticas de um modo geral, procuram arregimentar a história em sua totalidade, como se os constituintes fossem deuses observando a história de cima, no andar da eternidade. Muitos desses querem, em suma, substituir o Reino de Deus sobre o destino da história.

Há uma unidade e uma diferença entre o constitucionalismo antigo, também chamado de histórico e pragmático, e o constitucionalismo moderno, dogmático e escrito. A unidade do constitucionalismo consiste na relação simbiótica entre a preservação de direitos e liberdades individuais, consideradas "fundamentais" pela ordem jurídica, bem como por um sistema de limitação e contenção do poder político, o que sobrevém como decorrência da necessária preservação das liberdades referidas. À bem da verdade, os direitos individuais e a divisão das funções estatais em poderes distintos e harmônicos constituem a natureza mesma do constitucionalismo, desde sua origem: o corpo político medieval. Na era medieval, a superioridade dos pactos e costumes sobre o Rei não só garantia a prevalência do costume e dos direitos individuais da terra sobre a posição real (law of the land), senão também apareciam como fontes primárias da ordem jurídica vigente. Eis o common law: um sistema jurídico em que os pactos formam o costume, este forma a tradição, e está o próprio direito vigente. Por mais que tal afirmação pareça restrita ao common law inglês, o fato é que mesmo antes do surgimento do direito moderno continental, através das leis fundamentais do reino na França e, posteriormente, com as leis como fontes primárias do direito continental de família romano-germânica, o fato é que o constitucionalismo possui uma raiz medieval e, portanto, pragmática.
Nessa época, a limitação do poder político era antes uma realidade comum nos diversos reinos feudais espalhados pela Europa. Havia, aí, uma adequação do sistema jurídico-político à realidade substancial da comunidade política. O constitucionalismo e a história têm, por assim dizer, uma mesma unidade. O verdadeiro sentido da história era, ao mesmo passo, o telos do sistema jurídico-político. Em suma, a realidade histórica era o nexo de legitimidade necessário para o próprio direito constitucional. E daí, a liberdade social como condição para legitimidade política.
Atualmente, temos constituições escritas. O constitucionalismo moderno é recheado de elos normativos e institucionais, sem os quais não seria possível uma convivência constitucional adequada na sociedade moderna. A influência do sistema romano-germânico legou para o direito constitucional traços indispensáveis para sua definição normativa moderna. Com exceção do direito constitucional inglês (ainda prioritariamente costumeiro), as Constituições da atualidade são "normas jurídicas", escritas, com caráter de eixo estabilizador dos conflitos sociais.
Assim, não obstante a unidade e as diferenças apresentadas entre o constitucionalismo antigo e moderno, como afirma Mc Iwan em sua obra magistral "Ancient and Modern Constitutionalism", o fato é que tal distinção guarda inúmeras diferenças quando às observamos com base na filosofia da história.
A filosofia da história é o campo de inteligibilidade sobre o sentido e a unidade da história entendida em sua totalidade. Sua relação com a eternidade, bem como sua dependência com a mesma e o seu telos constitutivo. Eis os principais vetores da filosofia da história. Assim, se o homem é um bios politikos, como diria Aristóteles na Política, um animal que se realiza na esfera pública política, espaço esse do diálogo e da ação, como completa Hannah Arendt em seu A Condição Humana, de fato o ser humano é também um animal histórico, preso à realidade de seu tempo e de suas circunstâncias. O homem, pelo menos para os cristãos, não é na eternidade ainda por que está atado ao tempo por uma condição que lhe é impossível transcender. Assim, sua realidade circunstancial é um agir de sentido, um agir cujas condições são oferecidas pela comunidade em que vive, bem como pelo tipo de sistema político que lhe dá regência. A regência do poder é o caráter instrumental das possibilidades da vida humana, uma vez que em regimes políticos livres a vida é plena de liberdade, uma liberdade dada pelo Criador. Já em regimes fechados, totais, autocráticos, os espaços são consumados por ideologias e por grupos, menos por homens concretos em suas existências políticas. O bios politikos, nesse caso, é reduzido ao bios enjaulado e sem liberdade, ideológico e artificializado, enfim, um bios com caráter de meio operativo para a concretização total da ideologia programada por homens considerados "iluminados".
Assim, se o constitucionalismo é um modo de articular o poder e a preservação do direito, não há dúvida de que seu caráter substancial precisa estar em conexão com uma existência histórica e política livre, sem o qual não há manifestação ativa do nexo de possibilidades existenciais da pessoa humana concreta.
Em constitucionalismos históricos, como o inglês, por exemplo, que até hoje ainda permanece atado à história e, por sua vez, à realidade social existencial, há uma simbiose entre a filosofia da história e o constitucionalismo, pois o real sentido da história é contemplado por uma tradição constitucional que não procura determinar o fim da mesma, mas adequar-se às novidades e circunstâncias ofertadas pela própria história real. O costume e a tradição são, nesse aspecto, os nexos constitutivos entre o direito constitucional e a realidade política e social.
Reconhece-se no verdadeiro constitucionalismo a impossibilidade para o homem de contemplar a história em sua totalidade. Aceita-se a condição de historicidade e, portanto, de localidade do ser humano. Não há como transpassar ao tempo. Assim, em regimes políticos livres, há um mesmo telos, não um fim originado por homens nem por constituições, mas pela própria Substancia da história: Deus eterno.
No constitucionalismo moderno, com textos constitucionais escritos e dogmáticos, há uma necessidade de se predeterminar certos comportamentos sociais e políticos. As Constituições modernas são documentos voltados para a estruturação de um sistema de liberdades com vistas à organização do Estado. Trazem em seu bojo parte do sentido e da finalidade da vida humana em sociedade.
Nesse sentido, considerando que o fim e o sentido da história não podem ser determinados por inteligências meramente temporais, pois que não alcançam a totalidade da história, conclui-se que qualquer juízo sobre o sentido da história precisa estar preso a uma inteligência que transcenda a própria história e que a contemple na totalidade, prefigurando como alfa e como ômega da história mesma em sua inteireza. Em suma: só uma inteligência eterna poderá determinar o sentido e a finalidade da história, enxergando-a como ser vinculado ao tempo. As relações entre o ser e o tempo são analogamente estruturadas a partir de uma conexão entre a própria eternidade e a história, não se podendo pensar nada que esteja em mudança (e, portanto, no tempo) senão dentro dessas condições.
As constituições escritas da modernidade podem, salvo a dos EUA (por ser histórica e pragmática, ainda que seja escrita - common law escrito), se transformar em documentos jurídico-políticos que, quando não articulados com a realidade existencial concreta da sociedade política, antecipam um juízo constituinte sobre o fim da história, prescrevendo antecipadamente comportamentos e regras sociais utopicamente pensados. Em algumas dessas Constituições modernas a ideologia precede a realidade e, desse modo, a prescrição acaba por gerar determinismo e artificialismo sobre a história concreta de algumas sociedades.
Não obstante isso, as constituições escritas possuem dois tipos normativos bem claros: valores da existência, isto é, símbolos representativos da natureza humana universal e que, portanto, são princípios essenciais do ser humano, bem como princípios relativos às culturas locais, somente contemplados à luz de uma comunidade política específica. Assim, existem constituições escritas voltadas de modo mais forte para os valores universais da existência humana histórica e politicamente considerada, valores esses compatíveis com uma filosofia da história que aceita livremente as mudanças operadas nas contingências e particularidades de determinada comunidade política particular, bem como constituições que procuram determinar o sentido inteiro da história a partir de elementos específicos, sem caracteres de universalidade.
Quando uma Constituição se restringe a princípios, sua esfera de suavidade promove o novo, a novidade social, a dinâmica da cultura e a renovação das instituições políticas. Quando não, acaba por determinar artificialmente a finalidade da história, impedindo a novidade e matando a liberdade. Tais constituições, autocráticas de um modo geral, procuram arregimentar a história em sua totalidade, como se os constituintes fossem deuses observando a história de cima, no andar da eternidade. Muitos desses querem, em suma, substituir o Reino de Deus sobre o destino da história.
Portanto, fica um impasse: como tais constituições acompanham a dinâmica de uma sociedade? Diversos textos ocidentais possuem o que chamamos processo de reforma constitucional, ou seja, normas que contemplam a mutabilidade constitucional com vistas a uma adequação à realidade existencial. No entanto, os graus de estabilidade e de legitimidade derivados dessas mutações são discutíveis à luz da filosofia da história, uma vez que, ainda que as variações e mutações sejam normais na própria definição da realidade história, há uma mesma substância agente na história, um motor imóvel do e no tempo, que é eternamente. Nesse sentido, qualquer texto que procura a perfeição, por mais que o fim do direito seja a justiça, terá o problema de articular o fim da história com o objetivo da própria constituição.
Se entendermos que constituição é "necessariamente um documento escrito", estaremos admitindo sua possível insuficiência em predeterminar o sentido da história, pois se não se adequar à realidade existencial correrá o risco de utopizar a sociedade, fazendo-a engolir uma determinada ideologia a ferro e fogo. Os totalitarismos constitucionais são hábeis nessa arte. Se analisarmos a Constituição da Venezuela, por exemplo, é uma Carta até bonita em princípios, mas sua estrutura institucional fora alterada, nos últimos anos, para permitir que a barbárie se institucionalize pelo direito, tal como ocorreu com o nazismo ou o marxismo soviético.
O detalhe é que constituições escritas são armas poderosas para aqueles que almejam predeterminar o futuro da sociedade com base em suas teorias ideais. Podem servir como documentos antecipadores do fim da história e, diante disso, como instrumentos para progressiva tomada do poder por grupos e partidos dispostos a estabelecer suas pretensões ideológicas no campo do "political realism", este tão insistentemente tratado por autores como Gaetano Mosca ou Vilfredo Pareto. Para esses, todo sistema de poder resulta, em última análise, em uma direção política promovida por uma elite dirigente.
Diante disso, o problema das constituições totais está na ausência de uma conexão entre o sentido da história e a formulação normativa de seus textos. Pois, para que o sentido da história seja preservado por uma constituição, importante é que ela promova a liberdade para que os homens concretos atuem na história e, assim, possam ser determinados não por um texto feito por homens, mas pelo Livro da Vida, diário de Deus para a humanidade.
Fonte: Mídia Sem Máscara

Projeto: "O Peregrino Nas Escolas, a Nossa Jornada Começa na Leitura"


O Projeto


A essência do projeto é um concurso de redação e tem como público alvo os alunos de 6º ao 9º anos das Escolas Públicas. O objetivo do projeto é a valorização do aluno; despertar o prazer pela leitura e escrita; bem como, desenvolver o senso crítico. Utilizaremos o livro - “O Peregrino”, de John Bunyan, escrito no século XVII, que é o segundo livro mais lido no mundo, como base para as redações. O nosso primeiro desafio e dar um exemplar do livro para cada aluno.


A Motivação.


A motivação para o aluno participar do projeto será a premiação. Que contará de um computador e curso de informática para o primeiro colocado geral; bicicletas, celulares e MP3 para os três primeiros colocados de cada classe; os trinta primeiros colocados ganharão um passeio, cujo local ainda está sendo definido.


Colaboradores e patrocinadores.


O projeto só será possível com a participação de todos: igreja, instituições, empresários e toda a sociedade. Cada livro sairá por R$ 15,00. Os colaboradores poderão doar quantos livros quiserem. As doações devem ser feita em dinheiro, pois este preço está com desconto. Os patrocinadores farão doações específicas e terão a marca de sua empresa exposta em nossa página; nas folhas oficiais de redação e em banner, que serão expostos na cerimônia de premiação. Para transparência do projeto teremos um conselho fiscal com três membros nomeados pelo conselho e um membro convidado que será a diretora da escola beneficiada pelo projeto, ou funcionário indicado por ela.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Leiam a história da conversão do diabo...

Click neste link para ler um conto fascinante. É a história da conversão do diabo. A obra toca num tema que gera muitas dúvidas – o bem e o mal. O autor é Leonid Andreiev. Vale a pena ler!


http://www.scribd.com/doc/2086636/A-CONVERSAO-DO-DIABO

Pedido de perdão...

Certa vez houve uma discussão neste blog. Publiquei um artigo que gerou sérias dores de cabeça por minha parte. Concordo que agi imprudentemente. Não vou entrar nos méritos do conteúdo do artigo. Ele não é o foco deste assunto. Quero focalizar na pessoa com quem discuti. Não a conheço e não faço a mínima idéia de quem seja.
As trocas de e-mails que tivemos foram pesadas e anticristãs. Muitas pessoas entraram na discussão. Outros envolveram pessoas que não tinha nada haver com a questão, exemplo: meu pastor.
Senti que desde aquele momento algo ficou aflorado em mim – o orgulho. Considerei-me melhor do que as outras pessoas. A minha intenção era má. O meu intuito era humilhar a pessoa que discordou da minha opinião. A minha palavra não foi branda, e assim, o furor não foi evitado.
Reconheço neste artigo diante de todos o meu erro e o meu pecado. Pequei contra uma pessoa que desconheço, mas que pode ser meu irmão na fé. Gostaria muito de saber quem é esta pessoa. Acredito que o pedido de perdão se formalizaria melhor.
Pessoa que não sei quem é, por favor, perdoa-me pelas palavras fúteis, inúteis, sem graça, rudes e grosseiras. Espero que em Cristo a nossa reconciliação seja firmada e que futuramente venhamos a nos encontrar. Penso que assim, selaremos o vinculo da comunhão produzida pelo Santo Espírito em nós. O reino de Deus é maior do que a nossa mera especulação e superior as nossas diferenças.

Deus o abençoe. Deus nos abençoe.