“Desejar uma vida sem dor é
desejar a morte” (Dorothe Sölle)
Quantas vezes negamos certas facetas de nosso existir cotidiano por que não
se coadunam com o que se espera de nós? Exemplo clássico: Homem que é homem não chora.
Quantos adoecem, enfartam, morrem, por se prenderem a uma suposta representação.
Tudo é uma tentativa de negar sua fragilidade e pequenez.
Penso sobre isso ao ler a matéria da Folha de SP sobre a disparada de vendas
de remédios (drogas) calmantes. Vivemos num ambiente em que precisamos da “tranquilidade”
e aplacar as nossas dores, raivas e limitações. Acontece que para o indivíduo contemporâneo,
parece vergonhoso reconhecer suas dores que frequentemente o visitam. Parece que
admitir essa dor é reconhecer-se derrotado e fracassado. Parece que
reconhecer-se em dor é pecar contra o credo contemporâneo da felicidade.
Miguel de Unamuno foi direto ao ponto nevrálgico da questão ao afirmar
que um miserere cantado por uma multidão marcada pela dor vale mais do
que mil páginas de filosofia. Penso que vale muito mais do que um mar de
remédios. Unamuno ousa dizer que a verdadeira santidade de um templo é
justamente ser um lugar onde se pode chorar, lamentar em comunidade. Ter a curar
não é o suficiente, é preciso saber chorá-las e contá-las. Para não discordar
de Unamuno é preciso saber cantá-las. O adágio popular já diz: “Quem canta seus males espanta”.