Mateus
5. 1-2
O Sermão do Monte
exerce um fascínio sem par. Ele parece encerrar a essência do ensino de Jesus.
Ele torna a justiça atrativa; envergonha o nosso fraco desempenho; gera sonhos
de um mundo melhor.
O notável e expoente
pregador do século 17, John Donne, expressou acerca do Sermão do Monte: “Todos os artigos de nossa religião, todos os
cânones de nossa igreja, todas as injunções de nossos príncipes, todas as
homilias de nossos pais, todo o corpo de doutrinas estão contidos nestes três
capítulos, neste Sermão do Monte”.
Creio que Jesus desejou
que o seu Sermão fosse obedecido e vivido. Se a Igreja tivesse aceitado
realisticamente os seus padrões e valores, como aqui demonstrados, e tivesse
vivido segundo eles, ela teria sido a sociedade alternativa que sempre
tencionou ser e, poderia oferecer ao mundo uma autentica contracultura cristã.
De tudo o que ele
disse, essas suas palavras são as que mais se aproximam de um manifesto, pois
descrevem o que ele desejava que os seus seguidores fossem e fizessem. Penso
que nenhuma outra expressão resume melhor a intenção de Jesus, ou indique mais
claramente o seu desafio para o mundo atual.
Parece que atravessamos
décadas de desilusão. Cada geração que se levanta odeia o mundo que herdou. Às
vezes, a reação tem sido ingênua, embora não possamos dizer que tenha sido
hipócrita. Os horrores das guerras não terminaram com aqueles que distribuíram
flores e rabiscavam o seu lema: “Faça
amor, não faça guerra”.
Muitas pessoas num
sentimento de revolta contra o sistema capitalista e opressor no qual vivemos,
exprimem a totalidade da sua rejeição vivendo com simplicidade, vestindo-se
negligentemente, andando descalças e evitando o desperdício. Desprezam a
superficialidade, tanto do materialismo descrente como do conformismo
religioso, pois sentem que há uma realidade impressionante muito maior do que
essas trivialidades, e buscam essa dimensão “transcendental” ilusória através da meditação, de drogas ou sexo.
Tudo isso é sintoma da incapacidade da geração mais jovem de adaptar-se ao status
quo ou de aclimatar-se a cultura prevalecente.
A juventude de hoje
está à procura das coisas certas (significado, paz, amor, realidade), ela as
tem procurado nos lugares errados. O primeiro lugar onde deveriam procurar é o
lugar que normalmente ignoram – a igreja.
A razão é que esta geração não vê a igreja na contramão, mas no conformismo.
Não vê uma nova sociedade que concretiza seus ideais, mas uma versão da velha
sociedade a que renunciaram. Nenhum comentário poderia ser mais prejudicial
para o cristão do que as palavras: “Mas
você não é diferente das outras pessoas”.
Os discípulos de Jesus
têm de ser diferentes: tanto da igreja nominal, como do mundo secular; tanto
dos religiosos, como dos irreligiosos. Em Jesus temos a proposta da
contracultura cristã. É o verdadeiro sistema de valores cristãos, um padrão
ético, uma devoção religiosa, uma atitude para com o dinheiro, uma ambição, um
estilo de vida. Esta contracultura; esta contramão é a vida cristã do reino de
Deus, uma vida humana realmente plena, mas vivida sob o governo divino.
Seus padrões são atingíveis?
Algumas pessoas olham para vida humana na sua perversidade e chega à
conclusão de que é impossível viver este o desafio de vida de Jesus. Dizem que
os seus ideais são nobres, mas impraticáveis, atraentes a imaginação, mas
impossíveis de se cumprir.
Gostaríamos de saber que tipo de pessoa deveria ser o crente?
Gostaríamos de saber que caráter cristão deveria ser o nosso alvo? Gostaríamos
de saber qual a conduta e os hábitos mentais que deveríamos cultivar como
seguidores de Jesus? Nesse caso, estudemos com freqüência a vida de Jesus de
Nazaré.
Como pode alguém ser manso? Conhecemos o poder da paixão humana, como
pode alguém refrear o seu olhar e pensamento? Sabemos de nossas preocupações,
como podemos controlar a apreensão e ansiedade? Presenciamos a inclinação do
homem a vingança, como podemos esperar que alguém ame seus inimigos?
Analisemos a vida daqueles que se submetem a
este puro e cristalino ensino, se as suas vidas não são honrosas e inspiram ao
mesmo modelo de vida? Na vida de Jesus não temos lindos pensamento abstratos,
que apresenta principalmente exigências exageradas e impossíveis, mas
mandamentos simples, claros, práticos que, se fossem obedecidos, estabeleceriam
uma ordem completamente nova na sociedade humana, onde a violência cessaria, e
seriamos capazes de viver as bênçãos do céu na terra.
A felicidade não está num lugar específico, mas numa atitude definida. A palavra grega Macarios (bem-aventurado), significa feliz, muito feliz. Trata-se da felicidade plena, independente das circunstâncias. O problema do homem não é a busca da felicidade, mas contentar-se com uma felicidade limitada demais, terrena demais.
Deus nos criou e nos salvou para a maior das felicidades. A felicidade verdadeira não está nas coisas, mas em Deus. É na presença de Deus que existe plenitude de alegria. O propósito principal da nossa vida é conhecer a Deus e fruir da sua intimidade. Aí reside a verdadeira felicidade! Nas bem-aventuranças Jesus nos fala sobre um correto relacionamento com Deus, com nós mesmos e com o próximo. Somos felizes quando nossas relações estão harmonizadas.
Olhando para as multidões
Jesus sempre parte da realidade humana, seja boa ou ruim. Jesus sabe que há pessoas humilhadas. Há pessoas que choram. Há pessoas cujas necessidades básicas não são atendidas. Há pessoas perseguidas. Jesus sabe que há também pessoas humildes. Há também pessoas misericordiosas. Há também pessoas puras de coração Há também pessoas que promovem a paz sempre. Jesus considera a vida como ela é.
Parte de nosso problema advém da recusa a considerar a vida como ela é. O fato de a vida ser como ela é não quer dizer que a aceitemos, mas que reconhecemos que a maldade e a crueldade existem, embora registremos nosso protesto e atuemos para que as coisas não sejam assim.
Jesus nos mostra que há outra vida possível, aqui e agora, mesmo para aqueles que, até agora, só colheram fracassos (reais ou simbólicos). Vale a pena viver:
1. Uma pessoa rejeitada tende a ser agressiva, mas há outra vida possível.
2. Uma pessoa criticada tende a ser insegura, mas há outra vida possível.
3. Uma pessoa que coleciona fracassos tende a pensar que assim será até o resto da vida, mas há outra vida possível.
André Choraqui traduz a expressão “bem-aventurados” ou “felizes” por “em marcha”, entendendo que a felicidade se faz na caminhada. Ser feliz é se por em marcha com Deus. Como na oração, a felicidade não está em receber a bênção solicitada; a felicidade está em orar.
Conclusão
Esses padrões são atingíveis, mas somente para aqueles que experimentaram o novo nascimento. Jesus proferiu este Sermão para aqueles que já eram seus discípulos e, portanto, também cidadãos do reino de Deus. Por isso, quando seguimos este padrão ou, pelo menos, quando nos aproximamos dele, damos prova de que a livre graça e o dom de Deus já operaram em nós.