quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um mal devastador. A minha experiência com os viciados do crack...



O crack, droga derivada da cocaína, está se tornando um flagelo nacional, espalhada pelo país em diferentes classes sociais e tomando até salas de aula.

Simbolicamente a imagem dos santos despedaçados numa escola de Maceió é a demonstração do poder do crack na vida daquelas crianças que freqüentam a escola unicamente para consumir a droga.

O atendimento especializado para o vício das drogas relata um aumento significativo de pessoas de classes sociais das mais distintas. Recentemente num congresso de pastores que participei, ouvi de um amigo que um pastor na cidade de São Paulo estava envolvido com o crack. Abandonou o ministério.

O Brasil está entre os países da America Latina que mais consome drogas. São mais de 8 milhões de usuários. Cerca de 100 mil jovens dependentes.

Nos últimos anos o consumo de cocaína cresceu cerca de 75%. A maconha cresceu 160%. As drogas sintéticas cresceram 170%. O mal devastador que é o crack cresceu 125%.


O Brasil tem hoje o serviço pronto entrega das drogas. Basta uma ligação e a droga é entregue na sua residência.

A grande maioria dos usuários de drogas teve a sua primeira experiência na escola. A influência dos colegas é determinante para o início. Ainda na tentativa de dar um raio-x do problema, o psiquiatra especializado no tratamento de dependentes do crack Pablo Roig apresentou na última quarta-feira, na Câmara dos Deputados, uma estimativa feita com base em dados do censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Segundo ele, a idade média para início do uso da droga é 13 anos. O dado foi divulgado no lançamento da Frente Parlamentar Mista de Combate ao crack.

Existe um poder letal na substância do crack. Estima-se que mais de 80% de quem experimentou viciou-se na droga. A droga chegou no Brasil de forma epidêmica no ano 2000. Existe no Brasil mais de 600 mil usuários de crack.

Um testemunho de uma usuária de crack é que o seu efeito e vício produz solidão, medo, fome. A pessoa tem medo de tudo. Nada mais é que o reflexo de um histórico de vida. Sociologicamente essas pessoas são vistas como ameaça. Dificilmente serão tratadas com dignidade.

Neste ano o governo brasileiro gastará em torno de R$ 410 milhões no combate contra as drogas. Acontecerá também um investimento contra o tráfico de R$ 120 milhões. Outra verba destinada no valor de R$ 100 milhões para reinserção social. Cerca de R$ 90 milhões para a saúde e outros R$ 100 milhões para a prevenção. Estes dados podem parecer animadores. Podem criar alguma chama de esperança. Uma pergunta, porém, deve ser feita – será que isto é o suficiente para aqueles que estão nas ruas? O serviço de saúde pública não consegue atender a demanda do problema da química. A grande maioria dos hospitais não tem um preparo e o mesmo acontece com os profissionais.


Atualmente estou numa outra vertente. Mais uma para somar com outras áreas que tenho atuado. Tenho trabalhado com jovens com o problema do vício.

Toda quarta e sexta-feira trabalho com terapia comunitária. Na verdade é um aconselhamento comunitário. É uma extensão do ministério pastoral o qual Deus vocacionou-me. Lidar com a realidade do vício do crack não é fácil. Olhar para jovens com tanto potencial e vê-los jogando isso fora machuca o coração. Conhecer famílias destruídas e ver que muitas vezes parece que não há o que fazer, é desesperador.

Tenho experimentado que a amizade e o ombro amigo são fundamentais para a recuperação. Às vezes será necessário sentar com a pessoa na calçada. Outras tirá-lo do chão em volto de muita sujeira. Ocasiões em que haverá a necessidade de sair com a pessoa e andar sem rumo. Parece estranho, mas funciona.

No domingo passado preguei num lar de recuperação para jovens com o vício das drogas. Muitos viciados no crack. Encontrei um amigo, filho de um grande amigo. Estava ali. Perdeu esposa, emprego e o respeito próprio e da sociedade. Encontrei um jovem que liderei quando fui líder de adolescentes. Filho de uma grande amiga da família. Está em processo de recuperação. Lamentei. Entristeci-me. Mas voltei com esperança. Deus está fazendo a obra e ele sente o chamado para ser um missionário. Espero que o Senhor confirme e prepare este caminho.

Preguei no Salmo 36. Enfatizei o versículo 9. Desenvolvi a proposta para que Deus seja a única fonte de plena satisfação. Abordei o conceito de Blase Pascal de que o nosso vazio é do tamanho de Deus. Somente a sua glória pode satisfazer o homem e restaurá-lo por inteiro. Muitas lágrimas. Arrependimento. Muitas orações. Foi um culto pentecostal. É o estilo deles. É a forma de mantê-los firmes e fervorosos. Nada contra. Vi muita sinceridade. Olhei de perto que o poder de Deus pode transformar a desgraça em graça. Contemplei a graça de Deus que muda o mal em bem. Aqueles jovens vivem isso hoje.

Havia ali um ex-traficante do Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Altamente perigoso. Muitas mortes na bagagem da vida. Voluntariamente se dispôs a mudar. Procurou o lar para se libertar. Para aqueles que já estavam foi uma surpresa e muito medo. Muitos ali estavam em débito com ele. No entanto, ele perdoou a todos e esqueceu a dívida. Não era mais um traficante matador. No culto ele chorava muito durante a exposição da Palavra de Deus. A sua esposa foi visitá-lo. Ambos choravam. Estava ali a reconstrução de uma nova família. Novos sonhos. Um horizonte límpido inaugurado pela presença de Cristo. Não há nada melhor do que ver esta imagem.

Conheci a história do pastor que é responsável pelo lar. É um ex-morador de rua e um ex-viciado. Deus restaurou aquele homem. Sentiu no coração de abrir um lugar para recuperar os jovens. Sozinho ele mantém o lugar. Deus dia-a-dia provê o necessário para o sustento de todos. Aprendi que quando o Senhor chama ele nunca, nunca, nunca, deixará faltar nada. Ainda que você esteja sozinho na empreitada, o Senhor da empreitada é o grande provedor. Deus não parou de realizar milagres.

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