quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Uma nova terminologia para ignorar a história da teologia...



Leio os jornais e revistas e percebo a variação de modas e estilos de vida. As propostas variam de acordo com o freguês. Algumas modas vão e vem. Outras passam rapidamente e são esquecidas. Estilistas na sua criatividade tentam reinventar algo do passado com alguns aspectos modificados para ter uma aparência mais moderna.

Leio as obras teológicas e os pensamentos dos novos teólogos modernos. Infelizmente não há diferença com o estilo do mercado da moda.

Está em debate a chamada teologia da Missão Integral da Igreja. Ora, a missão da igreja nunca foi integral? Somente agora a igreja preocupa-se com a totalidade da vida humana e a realidade de toda criação? Não. Grande engano quem defende isto. Pensar desta forma é ignorar toda contribuição que nos foi legada por nossos pais na fé.

Ouvir o discurso da Missão Integral na boca de alguns teólogos leva-me a pensar que a roda foi inventada agora. São pessoas inteligentes que utilizam deste discurso. Tenho certeza que conhecem a história, mas não a valorizam. Martyn Lloyd-Jones disse num encerramento de uma conferência teológica em 1969 sobre a possibilidade de se aprender com a história. O notável filósofo alemão Hegel chegou a afirmar que o que aprendemos da história é que não aprendemos nada com a história. Isto é um fato.

Temos uma nova terminologia para ignorar a história da teologia. A proposta da Missão Integral é boa. Não estou desfavorecendo a sua reflexão. Apenas não concordo de que este conceito seja novo. Não concordo sobre a desvalorização da história. Não aceito a possibilidade de rejeitar aqueles que mudaram a visão do mundo ocidental por suas inúmeras contribuições a favor da humanidade.

PENSAMENTO CRISTÃO REFORMADO SOBRE A POLÍTICA

A igreja entende que a sua ligação com o estado é zero. Sim, mas a igreja não pode estar em momento algum isenta de toda movimentação socioeconômica do país. Principalmente quando se trata do futuro da nação. A eleição de um tirano deve mobilizar a igreja para uma atitude radical para conscientizar a população dos riscos que virão.

O estado está para beneficiar o povo. Numa compreensão teológica, o estado é instituído por Deus para governar a sociedade visando o seu bem-estar. Um governo que não atende as necessidades básicas do povo, não pode ser considerado um governo real.

O homem foi criado para a paz e uma vida boa, mas o pecado maculou o maravilhoso propósito de Deus. A idéia de um poder constituído é exatamente trazer a ordem da criação. No plano de Deus não haveria na terra desigualdades sociais, exploração, guerra, mas harmonia e justiça. Seria uma terra sem estratificação social e nem fronteiras nacionais. A terra de Deus era uma terra para os homens, com todos nela trabalhando e dele se beneficiando, sem egoísmos privativistas.

A verdadeira teologia bíblica é bem clara sobre isto. Ela se opõe contra todo sistema opressor. Não é o povo que os serve, mas o governo e toda a sua política estão para o serviço do povo. Um Estado que não é servo do povo não pode ser legitimado. A pessoa que chega ao poder e perverte o direito do cidadão pode ser considerado ditador e um governo diabólico.

Os cristãos de hoje não olham com atenção devida para os fatos sociais que os nossos pais na fé olharam. Neste sentido Nietzsche está certo em criticar os cristãos com o ideal de duplicação de mundos. A visão bíblica cristã de hoje abre mão deste mundo em busca de um mundo superior. Isso nada mais é que uma inversão de valores. O modelo sócio-político-econômico da legislação mosaica, vontade de Deus, nos aponta um dinamismo existencial, uma possibilidade concreta de, no aqui e agora, vivermos algo do reino e de seus valores. O povo de Deus deve assumir a sua humanidade, criando instituições sociais adequadas.

Deve ficar bem claro que o cristão não foi criado para o céu, mas para a terra. A experiência do reino messiânico é para uma terra transformada, onde a vida possa ser vivida em sua plenitude e integralidade.

COMPREENSÃO DA TEOLOGIA REFORMADA SOBRE O SER HUMANO E A SOCIEDADE

A história da humanidade mostra o quanto o homem desconsidera o seu próximo. O ser humano tem uma capacidade de ver no outro um inimigo. Não entende que é parte com ele em tudo na criação. Falta esta compreensão de organismo vivo. Todos interligados.


Os teólogos e pastores do passado entendiam a vida social baseada na interpretação bíblica. Todo tipo de engajamento visava cumprir o mandamento divino – zelar, cuidar, honrar e respeitar a vida humana e tudo o que implica o bem-estar do homem.

A Reforma Protestante ocorrida no século XVI não foi somente um movimento espiritual e eclesiástico. Teve também aspectos e dimensões políticas e sociais. Existiu uma preocupação com o tema social e o valor da vida humana.

Zwínglio abriu um asilo para todos os indigentes enfermos. Aconteceu uma reforma social em que o ser humano foi o alvo. Em 1520, um decreto do Conselho Zuriquense reorganiza a assistência. Os donativos e contribuições foram centralizados e distribuídos por funcionários juramentados. Após a uma supressão, em 1525, dos conventos, os bens destes eram destinados ao atendimento dos pobres em suas necessidades. A mendicância é proibida e o asilo recebe, além de pessoas enfermas, os indigentes, a quem se distribuem recursos em dinheiro e em espécie. Instala-se uma rouparia e todos os dias às primeiras horas da manhã, um caldeirão já estava à disposição de quantos desejassem um prato de sopa. Em cada bairro, havia um eclesiástico e um leigo para obter as informações necessárias e coletavam os donativos. Sopas populares foram instituídas para os estudantes necessitados. As igrejas e paróquias rurais assumiam o cuidado de seus indigentes e não fazê-los buscar auxílio em outros lugares. Deve ser destacado para a memória de Zwínglio, que ele foi o responsável da abolição da servidão nos campos, no tempo da guerra dos camponeses, e a destinação dos dízimos aos indigentes e aos enfermos. Já no dia 10 de agosto de 1535 havia o Conselho decidido fazer um inventário dos bens eclesiásticos. No dia 29 de novembro, Zwínglio decreta a fundação de um Hospital Geral, que se implanta no antigo convento de Santa Clara. Esta instituição de assistência é dotada dos rendimentos dos sete hospitais e asilos antigos, de todas as igrejas, capelanias, paróquias, mosteiros e confrarias.

Calvino espelhou-se na obra realiza em Zurique e aplicou em Genebra o mesmo feito. Em 1535, é fundado o Hospital Geral, destinado a dar assistência aos enfermos, aos pobres, aos órfãos e aos idosos. Durante a terrível peste bubônica que devastou Milão, o amor heróico do Cardeal Borromeo distinguiu-se brilhantemente na coragem que ele manifestou em suas ministrações aos moribundos; mas durante a peste bubônica, que no século XVI atormentou Genebra, Calvino agiu melhor e mais sabiamente, pois não apenas cuidou incessantemente das necessidades espirituais dos doentes, mas ao mesmo tempo introduziu medidas higiênicas até então incomparáveis, pelas quais as ruínas da praga foram interrompidas. Depois, em consideração à penúria de víveres, a pobreza de uma parte da população e a avareza de outra, medidas de ordem econômica foram tomadas imediatamente contra o monopólio e a especulação para colocar os produtos básicos da alimentação ao alcance de todas as pessoas.

O protestantismo de tradição reformada alfabetizou o homem da sua época, dando-lhe acesso a um mínimo de instrução. Libertou-o de uma série de vícios danosos à sua saúde, nocivos à sua capacidade de trabalho, e o conduziu às virtudes de uma vida sóbria. Integrou o homem em uma comunidade, que é também um grupo de ajuda mútua. Ensinou que o homem deve buscar seu papel social como uma vocação, um chamado de Deus. Entendeu que a atividade econômica e financeira deve ser um direito de todos, sem privilégio ou exclusividade por parte do Estado ou da Igreja.

Portanto, reafirmo a posição de que não há nada de novo. Um legado nos foi deixado. Temos que honrar o suor e o sangue que os pastores do passado derramaram. Se facilmente é ignorada a tradição teológica o que se dirá dos principais fundamentos da fé cristã.

A nossa espiritualidade não pode estar restringir à devoção diária. É preciso mostrar esta fé para uma sociedade chafurdada no caos.

Precisamos ter a compreensão de que a obra de Cristo restaura uma sociedade falida, desorganizada e perdida.

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