sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O cântico dos oprimidos...


Em diversas manifestações esta música é cantada. Lábios se abrem sem compreender o que é santidade, amar somente a Deus e ser curado por sua graça.

A morte. Dor. Sofrimento. Miséria. Injustiça social. Guerras urbanas. Estes sentimentos e acontecimentos da contingência humana despertam a grande ânsia da alma humana pelo divino. É um tocar inesperado pelo transcendente. É o desejo de viver além das angustias que geram uma certa paralisia diante do que não se pode mudar. Por que as pessoas pedem por aquilo que desconhecem? É o eco das palavras de Santo Agostinho que perpassa o tempo e nos faz lembrar de que a alma humana só encontra descanso nos braços do grande Deus.

Quando as pessoas que sofrem aqui no Rio pedem para que Deus entre em sua vida e na sua casa, não se pode limitar somente a estas duas esferas – vida e casa. Estas pessoas desejam um Deus que entre na sua história de vida. Anseiam por um Deus que sofra com elas e que seja capaz de mudar esta realidade que se afirma com toda dureza e crueldade. Elas esperam por um Deus pessoal que faça parte do caminhar peregrinador da estrada do calvário diário que cada uma vive.

Tomo a liberdade de imaginar a linda história de Zaqueu. Neste encontro vemos o que se pode chamar de inversão. Um pecador sobe numa árvore para ver o Deus encarnado. Este homem por um momento está acima do Deus encarnado. Jesus o eleva ao mais alto padrão – reconhecimento e dignidade. A encarnação revela a posição de Cristo – servo. Não é o homem que pede para Jesus entrar na sua casa. Jesus abaixo do homem que está acima numa árvore pede para entrar na casa do pecador.

Deve-se pregar o Deus todo-poderoso. Majestoso e auto-suficiente. Mas deve-se pregar o Deus que de tal forma se rebaixa à condição humana e que deseja fazer parte do dia-a-dia das pessoas comuns. Deve-se pregar um Cristo que se sentiu fraco e, por isso, conhece e entende a fraqueza humana. A agonia das pessoas que não tem voz é a agonia do Cristo que padece por elas até hoje. O sofrimento de Cristo continua no sofrimento das mães que perdem os seus filhos por causa da violência urbana. O sofrimento de Cristo continua na dor da injustiça social quando pessoas dividem a sua moradia com ratos e fezes humanas. O sofrimento de Cristo continua quando o homem trancafiado numa sela é tratado a semelhança de um bicho imundo.

Estas pessoas sofrem e pedem para que Deus mexa com a sua estrutura. Isto não pode se limitar à estrutura espiritual. Deus precisa e quer mexer na estrutura como um todo – humana, social e universal. Este deve ser o verdadeiro clamor – Deus muda esta estrutura falida e podre que praticamente todo sistema se encontra.

Unamos o nosso clamor juntamente com aqueles que clamam, choram e gritam, porém, não são ouvidos. O Deus encarnado já está clamando juntamente com eles.

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