segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um enigma para o mundo...



Romanos 8.28Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito




Introdução

Estamos repletos de manchetes que informam as mais variadas desgraças, tragédias e calamidades em todo Brasil.

Lemos, ouvimos e vemos o quanto que a dor humana nos atinge de forma penetrante. Não conseguimos ficar imunes as lágrimas de pessoas que não conhecemos, mas que são pessoas e estão sofrendo. Colocamo-nos no lugar delas e imaginamos o que seria de nós se estivéssemos na mesma situação.

Quantas pessoas que perderam cônjuges, filhos, pais, netos, avós e outros familiares e amigos, para eles rogo a Deus que, visitando-os, o Seu Espírito lhes conceda conforto e vigor. Enquanto a vida segue, os sinos (como aprendemos com o poeta inglês John Donne) dobram pelos que se foram, mas tocam mais forte por nós que ficamos. Essas mortes nos diminuem.

Vivemos momentos críticos na sociedade. Toda a criação geme, sofre e chora pela redenção, a bendita salvação que esperamos em Cristo. São acontecimentos naturais, mas não podemos ignorar que o homem cooperou com a destruição da natureza, solo, ar, etc. Somos responsáveis por nossas ações.

Como é possível reconhecer Deus diante de tanta miséria, destruição e morte? Será que Deus tem alguma participação nisto tudo? Deus de fato se importa com estas tragédias? Deus chora juntamente com aquelas pessoas que choram diante da morte? Sim, claro que sim. No entanto, tudo isto se torna um enigma. Deus é santo, poderoso, está numa realidade diferente da nossa e mesmo assim se envolve e age em nossa história. Deus não é indiferente aos acontecimentos da humanidade. Deus participa, sofre, chora e escreve a história humana.

No texto lido temos a âncora que tanto ansiamos para viver em paz. No grego a condição do amor a Deus vem primeiro. Desse modo, prefiro a seguinte tradução: “Sabemos que, para aqueles que amam a Deus, todas as coisas convergem para o bem” (American Standard Version).

No tempo presente o povo de Deus passa por sofrimentos e gemidos e é sustentado pela esperança da glória. Entretanto, neste versículo, Paulo nos mostra que esta esperança cristã está solidamente firmada no inabalável amor de Deus.

Como é possível com tantas doenças, crises financeiras, casamento difícil, perdas significativas, tragédias naturais e ainda assim pensar que Deus deseja a minha felicidade?

Deus quer definitivamente que você seja feliz. Isto pode ser a longo prazo. Independente das circunstâncias, você pode ser feliz agora em Deus.

Um enigma para o mundo é...
1. Saber que Deus age – “Sabemos que Deus age (...)

O ser humano conhece apenas os gemidos da criação e seus próprios gemidos [8.22-23], mas pode, pelo menos, tomar conhecimento da existência de Deus com tais fenômenos e causas naturais [1.19-20].

A Bíblia é maravilhosa e ela não esconde nada, por isso, temos instruções e experiências de homens e mulheres que amaram a Deus e mostram como terminam as lutas e dificuldades do agora: no nosso bem.

Se a sua memória anda obstruída, desobstrua-a com a Palavra de Deus. Traz à memória aquilo que pode lhe dar esperança.

Veja o que aconteceu com Ismael, abandonado pelo pai no deserto para morrer, mas cujo choro chegou aos ouvidos do Pai celestial que o salvou.

Veja o que aconteceu com Jacó, odiado pelo irmão, que o recebeu com festa por causa da oração.

Veja o que aconteceu com José, vendido pelos irmãos, mas se tornou primeiro-ministro do Egito.
Veja o que aconteceu com Elias, deprimido numa caverna, mas chamado para novos projetos proféticos.

Veja o que aconteceu com Ezequias, condenado à morte pelos médicos, mas cuja vida foi prolongada pelo médico dos médicos.

Leia a genealogia de Jesus, onde tudo se encaixa, até mesmo adultérios.

Veja o que aconteceu com Pedro, o discípulo-traidor se tornou o líder-criador.

Quando Paulo utiliza a palavra “sabemos” é para expressar o conhecimento da fé. Na verdade, podemos ler assim: “Sabemos que Deus faz com que todas as coisas cooperem para o bem daqueles que o amam”.

A pessoa pode estar consciente da sua realidade. Ela sabe que há flechas que estão cravadas em seu corpo; do veneno que a sua alma tem de sorver; dos horrores que lhe são enviados. A criatura pode, realmente, saber que ela tem de viver em luta constante e que os seus dias são quais de um jornaleiro – cheio de notícias não muito agradáveis. Pode ser que o seu caminho lhe seja subitamente oculto e suas saídas estejam cercadas por todos os lados. Tudo isto pode ser tão forte, tão eficaz, tão real e, por isso, tão claramente vindo da mão de Deus que a criatura nada mais possa ver nem saber e querer, a não ser entender que nada mais lhe resta senão submeter-se ao senhorio de Cristo.

Deus age incessantemente, energicamente e propositadamente em favor do seu povo. Precisamos saber disto.

Um enigma para o mundo é...
2. O bem que Deus faz em favor do seu povo – “(...) para o bem daqueles que o amam (...)”

Deus faz os animais cooperarem para o bem do ser humano. Ele fez a jumenta falar para Balaão se arrepender.

Se tudo converge para o nosso bem, até o que fazemos de errado converge para o nosso bem? Podemos viver então sem pensar nas conseqüências dos nossos atos? Tudo o que Deus faz é bom em si mesmo, e, portanto, a sua ação visa a nossa salvação final. Vejamos como Deus faz isso:

• Por causa de sua soberania amorosa, Deus suaviza as consequências de nossos erros e mesmo dos nossos pecados.

Quando estava na terra do Faraó, Abraão mentiu, dizendo que Sara era sua irmã. Em lugar de matá-lo, como seria a regra, o Faraó o perdoou e mandou-o ir. Deus entrou em ação e suavizou as conseqüências do pecado de Abraão.

O bem, para ser mesmo bem, não pode ser visto apenas na perspectiva do resultado imediato. Nós sequer sabemos o que é bom para nós. É por isto que nem sempre pedimos como deveríamos pedir [Romanos 8.26].

• Por causa de sua soberania amorosa, Deus reverte situações, mesmo que não seja do modo que desejamos, mas sempre para melhor.

Moisés matou um homem e teve que fugir. Assim mesmo Moisés não perdeu a sua vida. Um dia Deus o encontrou e o chamou para libertar o seu povo, transformando-o em líder e no homem mais manso da terra.

Gostamos de dizer que a vida ensina. Não é verdade; é Deus quem ensina através da vida. Sem ele, não aprendemos nada com a vida. Por detrás da liberdade humana, está a soberania amorosa de Deus.

O que é bem e o que é mal deve ser visto na perspectiva de Deus, a perspectiva da eternidade.
Esse bem é a contemplação do Redentor e da Redenção. É o alcance da vida que está além da morte. É o princípio da expectativa que já não é mais expectativa. É o “não-conhecimento” de Deus que agora é o mais alto conhecimento de Deus.

Sendo Deus o grande Pai que ele é, ele faz o que todo bom pai faz – Sempre, e por toda parte, Deus, o próprio Deus Pai, se antepõe ao ser humano, neste mundo. Assim o livra e o abençoa.

Um enigma para o mundo é...
3. Ver que tudo está a serviço de Deus – “(...) Deus age em todas as coisas (...)

Todas as coisas incluem também os sofrimentos pelos quais temos de passar [8.17], os gemidos que expressam a nossa expectativa pelo momento final da nossa filiação [8.23], e tudo o mais que nos ocorre nesta vida, pois estas coisas fazem parte do plano eterno de Deus para nós.

Deus é Senhor de todas as situações que alcançam a nossa vida. Todas estas situações podem ser alteradas por Deus. Não há nada que ele não possa alterar.

Em seu relacionamento com a criatura humana Deus se revela inteiramente a favor dela e por força e graça desse favor nenhuma outra força ou poder, qualquer que seja sua forma, sua natureza, sua origem e seu sentido, poderá separar-nos do amor de Cristo.

O nosso juízo humano, limitado e carnal reclama que Deus definitivamente não parece ouvir nossas orações, visto que nossas aflições prosseguem incansavelmente a nos assolar. Parecem intermináveis. O apóstolo Paulo antecipa esta reclamação, e diz que, embora Deus não socorra prontamente o seu povo, contudo jamais o abandona, pois, por intermédio de um maravilhoso recurso, ele de tal forma converte as supostas perdas em meios que promovam a salvação, cura, livramento, crescimento e edificação da pessoa, família e igreja.

Tudo o que passamos de dor, sofrimento, tragédia e perdas estão a nosso favor. Estas coisas prestam um serviço para nós. Não é simplesmente uma sucessão de acontecimentos, mas sim meios pelos quais somos aperfeiçoados e nos tornamos melhores.

Todas essas lutas – cheias de lágrimas e dor – são suas servas. Deus opera por intermédio de todas elas para o seu bem. Agora, esse bem que ele opera nelas e através delas é o fundamento da sua alegria.

Não são as circunstâncias. Há uma abundância de lágrimas. Jesus foi um homem de dores e experimento no trabalho, suor e lágrimas.

Tanto o salvo e o não salvo por Cristo passam pelos mesmos males, todavia existe uma diferença entre eles, pois Deus instrui os crentes pela instrumentalidade das aflições e consolida, comprova e afirma sua salvação. A perseverança em Cristo diante das dores e aflições é a marca de que tal pessoa pertence a Deus.

Um enigma para o mundo é...
4. Saber que existem pessoas que amam a Deus – “(...) para o bem daqueles que o amam (...)

Essa ação de Deus em “todas as coisas” não indica uma salvação de caráter universal, ou melhor, não indica que todos serão salvos no final das contas. O texto diz que ele age para o bem daqueles que o amam, ou seja, ele age em favor dos seus filhos, daqueles que são o seu povo.

Deus nos ama de forma incondicional. A sua aliança conosco é unilateral. Ou seja, não depende de nós a sua duração. Não cabe a nós amar a Deus em primeiro para cativá-lo para que depois ele nos ame. Não, tudo tem iniciativa em Deus.

Por Deus nos amar ele então, nos capacita a amá-lo. O amor de Deus as suas criaturas humanas é o supremo bem de que ela desfruta e para o qual concorrem todas as coisas deste mundo.

Somente o amor de Deus é suficientemente capaz de chegar a mais profunda realidade do problema da existência humana. Viver é um absurdo. Viver é a coisa mais difícil que existe. Jesus Cristo sabe muito bem o que isto quer dizer.

Esta é a diferença. Quem não ama a Deus não sabe que é amado por ele, não pode ter certeza de que todas as coisas convergem para o seu bem, não sabe como vai terminar a história.

Quem ama a Deus já conhece o final do jogo da vida; sabe-se amado por Deus e isto lhe dá uma confiança extraordinária para enfrentar suas batalhas. É muito bom amar a Deus. Quem ama a Deus sabe que é amado por Deus.

Paulo sabia muito bem o que isto significava na prática. A recomendação de Paulo era que poderíamos estar abatidos por algo, mas sempre alegres. Paulo sempre chorava e se alegrava. Como ele não poderia chorar? Perdeu quase tudo. Foi espancado. Passou fome. Sofreu tempestades. Estas coisas não diminuíram o amor de Paulo por Cristo, pelo contrário, tudo isto contribuiu para que Paulo se apaixonasse loucamente por Cristo.

Deus certamente não está fazendo uma experiência com a sua fé nem com seu amor para provar sua qualidade. Ele já os conhece muito bem. Você é que não sabe. Nesse julgamento, ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que seu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer você compreender o fato foi colocá-lo abaixo. Passar por tudo isto é a comprovação do quanto você ama e deseja a Deus sobre todas as coisas. Seu amor por Deus não pode ser circunstancial e muito menos momentâneo. O fato de Deus mexer com a sua vida é para mostrar onde está o seu coração. Então, a pergunta nasce – onde está o seu coração?

Um enigma para o mundo é...
5. Reconhecer que existe um chamado em Deus – “(...) chamados de acordo com o seu propósito (...)

Deus tem um propósito bom e sábio em tudo o que faz. Deus sempre agirá para que este propósito seja estabelecido e cumprido. A nossa vida não é sem propósito, pois Deus está no comando dirigindo cada situação de acordo com o seu objetivo final.

Deus quer a sua felicidade. Mas ele não faz isso com a circunstância. Ele faz isso consigo mesmo. Ele faz isso com o evangelho. Ele faz isso dentro e através das circunstâncias.

Esse é o chamado a fé – uma enorme fé – em que Deus é bom, Deus é por nós, e Deus está usando todas as coisas para a sua profunda alegria agora e sua perfeita, imaculada felicidade para sempre na era por vir.

O propósito de Deus em criar o universo, é demonstrar a grandeza da glória de sua graça suprema no sofrimento de seu filho. Portanto, você deve se unir ao sofrimento de Cristo para demonstrar a suprema satisfação da glória da graça na via do calvário.

Não há outra maneira para que o mundo possa ver a suprema glória de Cristo hoje exceto que nos livremos de tudo aquilo que nos prende – bens, dinheiro, poder, fama, entretenimento, prazeres carnais – assim, começaremos a viver um estilo de vida de sacrifício missionário o qual mostrará ao mundo que o nosso tesouro está no céu. É a única maneira para provar que o evangelho falso da prosperidade não faz ninguém louvar a Jesus de verdade.

É claro que eu queria um Jesus que me desse um carro, saúde, um bom casamento. Eu queria esse Jesus se o pagamento fosse certo.

Você não vai ganhar a sua família, rua, seu trabalho e cidade vestindo a melhor roupa, dirigindo o melhor carro, digitando no melhor computador. Tudo isso não irá trazer nenhum louvor para o Cristo sofredor.

Deus não nos chamou para uma vida boa. O evangelho não é um mar de rosas [1Coríntios 15.18 – “Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão”]. Hoje os cristãos chegam a milhões. Como isto foi possível quando na verdade eram somente doze pessoas? O sofrimento. Nunca houve um avanço em qualquer sociedade sem o elemento do sofrimento. Se você é cristão e quer servir a Deus, então, marque isto: dor, a perda de um filho, doença, lutas no casamento, oposições demoníacas, morte, tudo isso virá, não estranhe quando vier. Jesus morreu para a nossa salvação. Isto mostrará quanta satisfação temos em Jesus.

Portanto, todo sofrimento, de qualquer tipo, que suportamos no caminho do nosso chamado cristão, é sofrimento “com Cristo” e “por Cristo”. Com ele no sentido de que o sofrimento vem ao nosso encontro enquanto andamos com ele pela fé, e no sentido de que é suportado na força de Cristo que supre nossas necessidades. Por ele no sentido de que o sofrimento testa e prova nossa lealdade a sua bondade e poder, e no sentido de que revela seu valor como todo-suficiente para nós.

Completamos as aflições de Cristo fornecendo o que este mundo atual não tem, ou seja, uma apresentação pessoal e viva aqueles que não viram Cristo sofrer em pessoa. Assim pensava o pastor romeno Joseph Tson: “Eu sou uma extensão de Jesus Cristo. Quando fui espancado na Romênia, ele sofreu em meu corpo. O sofrimento não é meu; eu apenas tive a honra de partilhar dos seus sofrimentos”.

Não estou de forma alguma convocando vocês para uma vida miserável, mas estou convocando para uma vida dolorosa. Você encontrará em toda a Bíblia que na dor os genuínos cristãos eram capazes de regozijarem-se na tribulação [Romanos 5.3 – “Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações (...)”].

Aplicações Finais:

1. O estilo de vida que você escolheu para viver como cristão seria totalmente estúpido e digno de pena se não houvesse ressurreição?

2. O chamado que você recebeu de Deus em Cristo é de sacrifício. Você já perdeu alguma coisa? Já sofreu por amor a Deus?

3. O sofrimento é uma dádiva, uma benção de Deus [Filipenses 1.29 – “pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele”]. Você é o tipo de pessoa que reclama da vida? Você questiona Deus quando passa por algo ruim? Você blasfema contra os céus?

4. Para quem você recorre no momento do desespero, dor e sofrimento? O sofrimento é um recurso pedagógico de Deus, para estarmos mais contentes com ele e menos satisfeitos conosco mesmo e com o mundo.

Conclusão

Concluo e afirmo que não existe cristianismo verdadeiro sem cruz para carregar e sem o morrer diariamente.

Deus usa o sofrimento e os reveses da vida para nos desmamar da autoconfiança e nos fazer depender exclusivamente dele.

O grande pastor batista da Inglaterra no século XIX, Charles Spurgeon, disse o seguinte num dos seus sermões sobre sofrimento: “Aqueles que mergulham no mar da aflição trazem pérolas raras para cima”.

Atos 14.22 – “fortalecendo os discípulos e encorajando-os a permanecer na fé, dizendo: É necessário que passemos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus”.

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