terça-feira, 3 de abril de 2012

As ilusões tecnológicas e do conhecimento humano...


Apocalipse 3. 14-22

Alguns preferem a independência. O brado de D. Pedro I ecoa até hoje nos lábios de muitos cristãos – “Independência ou Morte!”. Declaradamente muitos assumiram a independência de Deus.
O verbo depender é bem sugestivo. Depender do que? Esta é a pergunta crucial que deve ser feita. Do que você depende? Onde está a ancora da sua vida? O que mantêm você firme?

  1. Será que somos o que parecemos ser? – [v.17]
·      Vivemos de aparência – Deve haver uma preocupação com o coração cada vez mais distante, mais abstrato, mais centralizado naquilo que não é Deus, mais dependente das propagandas e estímulos religiosos, mais interessado no consumo espiritual do que numa relação pessoal com Deus [1 Samuel 16.17 – “O Senhor, contudo, disse a Samuel: “Não considere sua aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”].
·      As pessoas aparentam ser felizes, mas são infelizes – O medo, a ansiedade e a solidão são os sentimentos mais comuns numa sociedade tecnológica, individualista e burocrática. São mais comuns porque substituímos a intimidade pela tecnologia, acreditamos mais na burocracia do que nas pessoas e vamos nos tornando mais individualistas e menos afetivos. Diante deste quadro, o medo de amar, de não ser amado, do abandono, da traição, da morte e do fracasso intensificam-se, a ansiedade cresce e a solidão torna-se nossa companheira.
·      Aparenta ser rico, mas é miserável – O ateu crente é o que mais que cresce entre nós. Ele vai à igreja, canta, ora e chega até a contribuir. É religioso e gosta de conversar sobre os temas da religião. Contudo, a relevância de Cristo, sua morte e ressurreição para a vida e a devoção pessoal é praticamente nula. O ateu moderno não é mais somente aquele que não crê, mas aquele para quem Deus não é relevante.
·      Aparenta ter uma boa visão, mas é cego – Hoje, o ateu não é mais aquele que não crê, mas aquele que não encontra relevância para Deus na sua rotina. O novo ateísmo não precisa negar a fé; apenas cria substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do seu Salvador.
·      Aparenta usar uma roupa fina e moderna, mas está nu

 Até que ponto a nossa vida é real?

  1. Deus sendo substituído pelas coisas – [v.17 “não preciso de nada”]
·      Não será que vivemos numa era do determinismo tecnológico?

A tecnologia cria brinquedos que nos afastam da incoveniente presença de pessoas. É o lazer virtual. Não precisamos mais de um parceiro para jogar xadrez, tênis ou baralho: o computador faz isto com diferentes graus de dificuldade, permitindo até que você se irrite sem ofender alguém.
Jacques Ellul reconhece brilhantemente que a sociedade tecnológica vem substituindo a intimidade pela tecnologia. As máquinas, computadores, televisores e meios de comunicação vão substituindo as conversas de sala, o convívio da cozinha, o contato físico.

Não podemos ser tecnólotras e muito menos tecnofóbicos.

  1. Os riscos da independência de Deus – [vv.15-16]
·   Doença do século é a solidãoDeus nos criou, homem e mulher, à sua imagem e semelhança. Noutras palavras, fomos criados por Deus para, na semelhança com ele, nos relacionarmos, viver em comunhão. Intimidade é o nome que damos para esta forma de relacionamento.
·      O modo de viver é baseado no reflexo e não por reflexãoPara suprir a necessidade intrínseca da nossa humanidade na busca por intimidade, esta mesma sociedade que impõe sobre nós o medo, a ansiedade e a solidão usa os recursos da tecnologia, criando uma intimidade impessoal e ilusória. Os programas mais procurados na televisão são àqueles que expõem a intimidade de pessoas anônimas ou famosas. As revistas que mostram a intimidade da casa de uma personalidade, que descrevem os ambientes mais aconchegantes e mostram os cenários privados criam em nós a falsa sensação de intimidade.
·   Temos a nova “onda” de mais crentes e menos discípulosTornamo-nos mais dependentes de nós do que de Deus, acreditamos mais na eficiência do que na graça, buscamos mais a competência do que a unção, cremos mais na propaganda do que no poder do evangelho. Tenho ouvido falar de igrejas que são orientadas por profissionais de planejamento estratégico. Estudam o perfil da comunidade, planejam seu desenvolvimento, arquitetam seu crescimento e, de repente, descobrem que funcionam, crescem, são eficientes, e não dependem de Deus para nada do que foi planejado. Com ou sem oração a igreja vai crescer, vai funcionar. Deus tornou-se irrelevante. Tornamo-nos ateus crentes.
·     Os valores e decisões são estímulos externos e não internos – Como reação, tentamos criar alguma forma de intimidade, mas não sabemos fazer isto, a não ser através de novas técnicas. Precisamos de técnicas para um desempenho sexual mais satisfatório, de um manual que nos ensine os dez passos para conquistar uma pessoa, técnicas para uma boa amizade, para uma vida de oração, para um testemunho cristão eficaz, para ter um matrimônio perfeito, criar filhos felizes e obedientes, passos de como conseguir a plenitude do Espírito Santo e muitos outros “como fazer” que entopem as prateleiras das livrarias e o cardápio dos congressos. A sociedade moderna vem criando os métodos e as técnicas que reduzem nossa necessidade de Deus, a dependência dele e a relevância da comunhão com ele.

  1. Qual é a ilusão da tecnologia? – [v.17]
Presumimos que:

o   Se temos boa música, temos verdadeira adoração.
o   Se temos bons projetos, temos uma missão.
o   Se temos boa estrutura eclesiástica, temos uma boa igreja.
o   Se temos uma boa equipe de formação acadêmica e intelectual, temos uma boa funcionalidade e eficiência nos trabalhos da igreja.

Este é um novo quadro que começa a ser pintado nas igrejas cristãs. Saem de cena os grandes heróis e mártires da fé do passado e entram os apáticos e acomodados cristãos modernos. Aqueles cristãos que entregaram suas vidas à causa do Evangelho, que deixaram-se consumir de paixão e zelo pela Igreja de Cristo, que viveram com integridade e honraram o chamado e a vocação que receberam do Senhor, que sofreram e morreram por causa de sua fé, convicções e amor a Cristo, fazem parte de uma lembrança remota que às vezes chega a nos inspirar.

Jesus apresenta uma lista de conselhos para que sua igreja siga – [v.18 – “Dou-lhe este conselho”]

  1. Ouro refinado (puro) – Significa fé.
o   O que significa viver pela fé numa sociedade informatizada, tecnológica e globalizada?
o   As dinâmicas da vida tem as suas surpresas.
o   Sem fé não é impossível operar milagres. Sem fé é impossível agradar a Deus [Hebreus 11.1].
o   Agradar a Deus é viver como Cristo viveu.

  1. Roupas brancas – Significa santidade.
o   Santidade como separação e contraste.
o   A roupa revela uma nova identidade.
o   Uma nova roupa testifica que somos sal (preservação) e luz (revelação) do mundo.
o   Na troca da roupagem duas coisas estão em foco:
1.     A vida não é contida. Somos o reflexo daquilo que amamos.
2.     As convicções não são suficientes para confirmar o discipulado com Cristo.

  1. Colírio – Significa visão do Espírito Santo.
o   O Espírito Santo deve nos conduzir a verdade.
o   Os recursos desta sociedade produzem ilusão e maquia a realidade.
o   A visão do Espírito Santo é importante para nos tirar da Disneylândia da fé.
o   O “espírito deste século” produz uma visão deturpada do sucesso, segurança e prazer.
o   A visão do Espírito Santo nos leva a enxergar os acontecimentos à luz da eternidade.

A sutileza do novo ateísmo é que ele não precisa negar a fé, apenas cria substitutos para ela. Mantém o crente na igreja, mas longe do seu Salvador. Este ateu está muito mais presente entre nós do que imaginamos.

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