quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um pequeno traço (09/07/1939 – 15/04/2009)...

Relutei para escrever este artigo. Tudo porque diz respeito a alguém que aprendi a amar com a maior facilidade. Eu convivi com esta pessoa durante um ano e quatro meses. Foi tempo suficiente para desfrutar de uma companhia que transmitia graça e amor nas palavras e nos gestos.
Resolvi escrever este artigo para que as pessoas soubessem quem foi este notável pastor – Iranyr Teixeira de Lima. Estou para conhecer alguém tão humilde, simples e sábio a semelhança dele.
Tive o privilegio de conhecê-lo quando cheguei a Igreja Batista Betel de Mesquita. Na atualidade o pastor desta igreja é o Judiclay Silva Santos – dispensa comentários. O pastor Iranyr esteve à frente da Betel por quase vinte anos. O seu antecessor foi o seu pai – pastor João Teixeira de Lima.
O pastor Iranyr relutou, pensou, refletiu e ponderou sobre ser pastor. Vivia muito o ministério ao lado de seu pai. Estudou Economia e trabalhou por longos anos numa agência bancária. Quando decidiu estudar teologia tornou-se o melhor aluno. Sempre foi aplicado e muito sério em tudo que era colocado em suas mãos.
Durante o ministério foi cometido por uma doença que o afastou do pastorado. Neste período a igreja sofreu porque todos o amavam e o queriam como pastor. Após algum tempo foi então aberto o processo de sucessão pastoral.
Richard Baxter no seu livro “O Pastor Aprovado” adverti o pastor para que não deixe o rebanho sem um guia. Na sua enfermidade o pastor Iranyr percebeu a necessidade de ter alguém para auxiliá-lo. A igreja não tinha condições para manter outro pastor. A atitude deste servo é exemplar. Reduziu a sua economia familiar e tirou do próprio bolso o sustento do outro obreiro. Poucos procedem com tanto diligência e cuidado com o rebanho desta maneira.
Ele pode ser adjetivado como o pastor do grande coração. Ele ajudou uma família a construir uma casa. A filha da família beneficiada freqüentava a igreja pela bondade que o pastor Iranyr radiava. Ele exercia um poder de atração. Muitas pessoas filiaram-se a igreja pelo testemunho imaculado e autentico de Iranyr Teixeira de Lima.
Qualquer pessoa que dialogava com o pastor Iranyr notaria que ele era o homem da palavra certa. O que me fascinava era a sua disposição para aprender. Lembro-me do provérbio yanomami que diz: “É difícil para o homem de cabelo branco aprender com o homem de cabelo preto”. Quantas vezes eu o avistei na multidão da igreja a ouvir meus sermões que eram pueris diante da grandeza do conhecimento que fluía da sua vida. Sem dúvida a mente dele era um palácio da memória. Recordo-me dos momentos memoráveis que na mesa da sua casa ele disponha de seu tempo para ensinar-me sobre o oficio pastoral. Almoços que sinto uma enorme falta.
Por que pequeno traço? Este tema surgiu quando Jimmy Carter foi ao enterro de Alberta Williams King (mãe de Martin Luther King Jr.). Carter não economizou elogios para a Alberta e disse que ali estava um pequeno traço (referência ao traço que marca a data do nascimento e a data da morte).
Infelizmente na lápide do pastor Iranyr não foi possível descrever o que ele foi em vida. O pequeno traço não é capaz de mensurar a indelével marca que este homem deixou na humanidade.
Uma outra característica dele era a sua mansidão e o seu lado pacificador. Por muitos anos ele esteve envolvido com a Convenção Batista Fluminense. Ali ele exerceu o oficio de tesoureiro. Nos momentos mais calorosos das reuniões ele sempre adoçava o ambiente com palavras de graça que eram capazes de trazer a paz e a ordem.
Conheci grandes pastores, mas no pedestal está Iranyr Teixeira de Lima. Ele foi pastoreado por alguém que poderia ser seu filho (Judiclay Silva Santos). Durante todo o tempo soube ser ovelha. Não consigo ver exemplo melhor para a humildade. Ele acatava cada sugestão e orientação do Judiclay. No dia do enterro ouvi no momento do sermão fúnebre a seguinte oração que uma vez o pastor Iranyr fez: “Deus, se um dia eu envergonhar o seu nome e a sua palavra, que o Senhor me leve na véspera”. Aqui compreendo porque este homem viveu piedosamente. A sua vida era um culto a Deus. A compreensão de que Deus o olhava e sabia tudo o que ele fazia, reinou em sua mente e coração. Nunca foi repreendido. Nunca perdeu a sua autoridade. Sempre firme nas suas convicções. Sistematicamente mantinha a sua vida de oração e leitura das Sagradas Escrituras. Quando orava no culto público as suas palavras eram elaboradas da teologia mais profunda e simples. Admirava o seu português inquestionável. Prezava pela boa regra culta da linguagem falada. Hoje sinto a sua falta quando vou a igreja. Era perspicaz nas suas piadas. As suas palavras eram vivazes. Os seus olhos refletiam Deus nele. A sua fé tento imitar. Procuro viver o evangelho como ele viveu. O caixão tampou o brilho dos seus olhos. Na minha memória esforço-me para que o seu brilho seja mais intenso. Não quero ver apagado este brilho. É o que espero. Os seus conselhos ocupam um lugar especial na minha memória. O pequeno traço reduziu a grandeza que foi a vida deste inesquecível homem de Deus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Christopher,

Nunca ouvi falar do pastor Iranyr Teixeira de Lima. É mais um daqueles famosos no céu pelo seu anonimato na terra.

Graças a Deus que levanta homens simples e valorosos em Sua obra, tão diferentes dos notáveis que se apavoneiam nos meios de comunicação de massa.

Soli Deo Gloria.

Em Cristo,

Clóvis