Há muito tempo tenho observado e discutido sobre este tema. Existe uma grande dificuldade da igreja evangélica em lidar com aquilo que é diferente.
Na minha adolescência no interior de São Paulo, lembro que a igreja na qual freqüentava passou por esta tensão. Um viajante começou a freqüentar a cidade e principalmente as igrejas evangélicas. Era uma pessoa totalmente excêntrica. Não havia ninguém na cidade que chegava aos pés do estilo do sujeito. O homem tinha uma tatuagem com um olho imenso na testa e várias outras tatuagens pelo corpo. A sua vestimenta era pra lá de ripe. Brincos por toda parte do corpo. Um cabelo muito estranho. E sobre as costas uma bolsa gigantesca. Assim ele entrava na igreja e sentava-se no meio do povo. Alguns ficavam apavorados e pensavam que o diabo iria se manifestar. Outros olhavam com desdém. As meninas sentiam medo. E eu tentava fugir dele. O que poucos perceberam era a sua inteligência que merecia um destaque. Adorava ouvir as mensagens do pastor da igreja, que de fato, pregava muito bem. As pessoas não aceitavam muito a presença dele entre nós. Não era o estilo de pessoa que aquela comunidade estava acostumada. Era muito diferente.
Essa pequena história ilustra o cenário evangélico brasileiro. As igrejas não estão acostumadas com o diferente. Não digo somente no sentido do estilo de vestimenta e tatuagens. Isto já é o suficiente para que alguns se escandalizem. Mas o que impressiona é o simples fato de ser diferente causar um bloqueio cause que indestrutível. Alguns não aceitam um pensamento diferente. Existem algumas igrejas que se você pensar diferente do pastor ou de um grupo determinado na igreja você está excluído do convívio. As pessoas criam guetos religiosos e elaboram uma cartilha de adesão, se você não rezar cada passo da cartilha você não pode ser considerado da comunidade.
Outra questão importante: algumas comunidades religiosas não estão preparadas para receber os doentes mentais. Tudo é o diabo. A pessoa irá atrapalhar o culto. Não são capazes de amar e superar as diferenças. O lugar que foi planejado e criado para ser o centro de arregimentação dos diferentes se tornou uniforme. A igreja não aceita aquele que põe para fora os sentimentos. Se um membro fica irritado, intitulam-no de desequilibrado e sem o Espírito Santo. Se alguém expressa tristeza, alguns dizem que está em pecado e falta oração. Se um grito é ouvido, logo o juízo das opiniões dirá que tal pessoa está perturbada. Até quando a igreja viverá nesse sentimento de estoicismo? Se voltarmos para a história da igreja, muitas hoje seriam consideradas heréticas. Reprimir sentimentos humanos fazia parte de movimentos heréticos dos primeiros séculos – gnosticismo, docetismo, etc. Antigamente a igreja católica e protestante pegava a pessoa que era diferente a colocava na praça pública diante de todo povo, e amarrava-a num tronco e colocava palha ao redor e ascendia o fogo. Assim as pessoas eram mortas por serem diferentes. O filme “As Bruxas de Salem” mostra exatamente isso, as mulheres não eram bruxas, elas apenas usavam ervas medicinais e passavam por algumas transformações naturais. Outro problema também é que essas mulheres eram bonitas. Isso despertava o sentimento de “pecado” nos homens da cidade que eram os líderes da igreja puritana. Para não ter nenhum tipo de problema é mais fácil matar as mulheres. Hoje matar alguém fisicamente na igreja gera várias complicações jurídicas. Mas será que a igreja não mata as pessoas de outra forma? Quantas não foram excluídas da igreja por razões banais? Quantas pessoas não sofrem problemas emocionais que a igreja gerou por não serem aceitas? De alguma forma a igreja continua a matar as pessoas. Tudo isso acontece pelo simples fato de serem diferentes.
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