Habacuque 3:1-2 – “Oração do profeta Habacuque, à moda de sigionote. Eu ouvi, Senhor, a tua fama, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos; faze que ela seja conhecida no meio dos anos; na ira lembra-te da misericórdia”
O profeta Habacuque viveu, provavelmente, uns 600 anos antes de Cristo, na terra de Judá. O pequeno livro dele relata uma discussão entre o profeta e o próprio Deus. Habacuque pergunta e Deus responde. Habacuque significa “abraço”. Jerônimo entendeu que o nome lhe fora dado por causa de sua luta contra Deus. Isso mostra como seu questionamento da omissão de Deus marcou os intérpretes bíblicos.
Estas atitudes fizeram-no merecer de Kyle Yates o título de “livre pensador entre os profetas”. Feinberg, no seu livro sobre os profetas menores, dá ao capítulo sobre Habacuque o título de “Problemas de Fé”. Viu ele um profeta em crise teológica.
O que interessa em Habacuque, além, obviamente de seu conteúdo, é seu estilo, diferente dos demais profetas. Ele ousa questionar a Deus, logo no início, com uma pergunta dura, em 1.2: “Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não escutarás? ou gritarei a ti: Violência! e não salvarás?”
Habacuque se sente alarmado pela resposta de Deus e faz uma segunda pergunta. Deus responde de novo, e Habacuque aceita, humildemente, a réplica do Senhor, dando louvor a ele num cântico de adoração.
Podemos dialogar com Deus. É santo, é Senhor, é Todo-Poderoso, mas compreende nossas frustrações. Fé não é suicídio intelectual nem tornar-se uma ameba. Ele ouve. Sabe ouvir. Podemos perguntar “até quando” a ele. Ele saberá compreender.
A atitude de Habacuque – Habacuque pede misericórdia (3:2). Ele sabe que Deus age em justiça, mas ele também conta com a piedade do Senhor. O profeta louva a Deus, dando glória pelo poder e pela sabedoria dele. Ele destaca o poder divino, reconhecendo que Deus usa sua grande força para aplicar justiça. Habacuque vê Deus como muito maior do que o universo e, obviamente, muito superior aos inimigos humanos que ameaçam os justos. O profeta se sente fraco, suportando a grandeza da revelação com grande dificuldade. Habacuque deposita sua plena confiança no Senhor, dizendo que continuará louvando a ele, mesmo se não sobrar nada para sua alimentação.
Interpolação
Como passar da crise à fé? Como passar da revolta à confiança absoluta? Olhando não para a maldade humana, mas para o poder de Deus. Vendo o presente, sim, mas relembrando o passado, um passado de ação de Deus. Ele não morreu nem se tornou apático. Apenas está gestando sua ação. Mesmo que dias negros venham, ele nos dará o porte altivo da corça e nos fará andar nos lugares altos. O justo vive pela fé, anda pela fé, é confortado por sua fé.
1) A esperança provém do conhecimento glorioso de Deus em conduzir a história.
“Senhor, ouvi falar da tua fama; tremo diante dos teus atos, Senhor”
a) Habacuque ouviu. “Eu ouvi, Iahweh, a tua fama”. Ele se lembra dos atos do passado. Ele olha para a história passada. Eis uma lição por aprender. Devemos olhar para o passado, para os atos de Deus na história. Isto nos anima a crer na sua direção no presente, e em melhores dias, para o futuro.
“Conhecer a história é sentar sobre os ombros de gigantes e olhar o presente e o futuro”
b) Todo verdadeiro conhecimento de Deus decorre do fato de que Deus, em sua misericórdia, houve por bem revelar-se. Deus desce ao nosso nível, adapta-se à nossa capacidade. Vemos isso na encarnação, nas Escrituras, nos sacramentos e na pregação.
Nas Escrituras, Deus balbucia a nós, fala-nos como uma ama fala a um bebê. Outra figura: a Bíblia é como óculos divinos para os que são espiritualmente míopes. Assim, o verdadeiro conhecimento é uma reverente reflexão sobre a revelação escrita de Deus; não deve, pois perder-se em “vãs especulações”, mas ater-se às Escrituras.
c) A verdadeira sabedoria consiste de dois elementos: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Daí a importância da revelação. Não podemos conhecer a Deus em sua essência, mas somente na medida em que ele se dá a conhecer a nós.
“Deus se revela a seu povo por meio do que ele faz”
Um dos pontos mais fortes na teologia de Habacuque é a idéia de que Deus é moral. A injustiça não se perpetuará no seu mundo. Ele intervirá, no momento adequado. A intervenção é súbita, por isso o injusto é sempre mostrado como sofrendo uma destruição quando menos espera. Isto é fundamental até mesmo para nós. Há uma moralidade, há nexo no mundo e na história. Não por eles, mas por Deus, que sendo moral dá moralidade à sua criação. A justiça triunfará e a iniqüidade será vencida. Isto anima a pregação: nossa causa é certa. Não existe nenhuma possibilidade de dar errado. O projeto de Deus é de que o mundo volte à ordem. Fazemos parte disto.
2) A esperança neste glorioso Deus nos leva ao derramamento da nossa alma.
“Realiza de novo, em nossa época, as mesmas obras, faze-as conhecidas em nosso tempo; em tua ira, lembra-te da misericórdia”
Habacuque suplica a Deus por seu povo – Não por algo bom que tenham (ou não tenham) feito, mas somente por causa do caráter e da misericórdia de Deus. A palavra oração parece ser usada aqui no sentido de ato de devoção. O Senhor avivará a sua obra entre o povo em meio aos anos da adversidade. Isto pode ser aplicado a cada época que a Igreja ou os crentes sofrem aflições e provas. A misericórdia é para onde devemos fugir em busca de refúgio, e confiar nela como nosso argumento. Não devemos dizer: lembra-te de nossos méritos, mas, Senhor, lembra-te da misericórdia.
“Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos” – O profeta mostra-se grato pela revelação da obra de Deus e exibe temor diante dela. Na expectativa da consumação definitiva do Dia do Senhor, ele suplica misericórdia em meio à ira. A obra é Judá, o povo de Deus. O pedido é que, no juízo, ele não deixe Judá morrer – “Na ira lembra-te da misericórdia”. Quando chegar o juízo sobre Judá, usa de misericórdia, Iahweh! Ele tempera sua santidade que não pode suportar o mal, como o próprio Habacuque reconhece, com sua graça, que se compadece do seu povo. Como diz um hino do Cantor Cristão: “Em ti concilia-se à santa justiça, que não pode a culpa deixar sem castigo, com a compaixão que por graça recebe, e exime de culpas o réu pecador”.
A condição de Habacuque diante de Deus é de chamar a nossa atenção. Ele está num cenário totalmente catastrófico. A marca deste cenário é a escassez. Não sei o que você pensa sobre isso, mas para mim surgem várias indagações. Habacuque tem prazer e se satisfaz na presença de Deus, mas situação de Judá é desfavorável em todos os sentidos. O ímpio cercava o justo e pervertia a justiça de Deus. Por que Deus não interveio a tempo? A semelhança, porque Deus não interveio no Tsunami, em Auschwitz, no massacre que acontece agora no Quênia? Por que Deus fica quieto no caso da fome e das guerras tribais na África? Não é esta a sensação que muitos de nós temos, em certos momentos?
Isaías 57:15 – “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos”
Não há condições nenhuma para o ser humano ser condicional na sua devoção. Para Habacuque ter esta satisfação na providencia de Deus, ele precisou olhar para a história que Deus já havia construído. Mesmo numa situação tão dolorosa Deus utiliza este momento e aviva a sua obra.
Os grandes avivamentos aconteceram em tempos de crise. Quando o homem esgota seus recursos, reconhece sua falência e clama pelo socorro divino, Deus restaura a sua sorte. Quando a terra está seca é que Deus derrama sobre ela as suas torrentes. Quando os pecadores se humilham e choram pelos seus pecados é que Deus envia do céu a sua cura. Quando todas as esperanças terrenas sofrem um colapso, é que Deus se manifesta poderosamente trazendo restauração para o seu povo. Mesmo quando o povo de Deus perde sua vitalidade espiritual e se torna como um vale de ossos secos, sem alegria, sem entusiasmo com a prática do cristianismo autêntico, Deus sopra o seu sopro de vida e o levanta como um exército poderoso. Nenhuma crise pode superar a capacidade divina de intervir na vida do seu povo.
O avivamento põe a igreja de pé em tempos de desânimo, põe a igreja em marcha em tempos de cansaço e põe a igreja na intimidade de Deus em tempos de corrupção e impiedade. O avivamento é uma ação soberana de Deus e não resultado do esforço humano. O homem não pode produzir o avivamento. O avivamento não pode ser agendado, programado nem domesticado pelo homem. O que leva Deus a agir, beneficiando os homens, é a sua graça. Numa época de tanta culpa, remorso, frustração, vazio e desorientação. A maior necessidade da igreja hoje é de um genuíno avivamento. Antes da igreja convocar o mundo a se arrepender, ela precisa estar quebrantada. O juízo deve começar pela casa de Deus. Quando o povo de Deus se humilha, ora, e se converte de seus maus caminhos, é que Deus intervém sarando a terra. Assim, o verdadeiro avivamento é caracterizado por: Ouvir a Palavra de Deus; temer a palavra de Deus e colocar-se na posição para ser usado independente do lugar, tempo ou situação.
Precisamos ter uma oração sincera e submissa. Calvino disse que “o coração de Deus é um ‘Santo dos Santos’, inacessível a todos os homens”, sendo o Espírito Quem nos conduz a Ele.
A graça, o perdão, a misericórdia, são os antídotos divinos à depressão do mundo moderno. Esta é a nossa grande segurança e garantia: acima de nossas limitações, paira a graça de Deus.
Conclusão
Portanto, o que se requer de nós agora em diante, é uma forte ênfase no conhecimento, na obediência e na proclamação da Palavra de Deus. Fica claro que precisamos de um...
- Renascimento do amor pela Palavra, leitura devocional e estudo individual, familiar, em grupos e na igreja;
- Renascimento do amor pelo Senhor da Palavra obediência;
- Renascimento da certeza sobre a Palavra fé e proclamação.
- Renascimento do amor pela sua presença, seu conselho e sua vontade;
- Fortalecimento da alma que é a oração o pulmão da alma;
- Vidas que desfrutam da oração como a entrada do invisível no exercício da fé.
O Clamor de um Pecador Convicto
Uma Oração Puritana
TU, SANTO E JUSTO SOBERANO,
Em cujas mãos estão minha vida e todos os meus caminhos,
Livra-me da instabilidade religiosa;
fixa-me firme,
pois estou irresoluto;
minhas decisões são fumaça e vapor,
e eu não glorifico a ti,
nem me comporto de acordo com a tua vontade;
Não me cortes antes que eu possa crescer à altura das respostas,
E minha alma desabrochar em plena flor,
pois tu és bom e longânimo,
paciente e amável.
Salva-me de mim mesmo,
dos artifícios e enganos do pecado,
da traição da minha natureza perversa,
de condenar tua repreensão às minhas ofensas,
de uma vida de rebelião contínua contra ti,
de princípios, visões, e objetivos errados;
porque sei que todos os meus pensamentos, afeições,
desejos e propósitos estão alienados de ti.
Tenho agido como se odiasse a ti, apesar de seres o próprio amor;
tenho te tentado ao extremo,
abusado da tua paciência;
tenho vivido impiamente por palavra e ação.
Fosse eu príncipe,
há muito tempo teria esmagado um tal rebelde;
Fosse eu pai,
há tempos teria rejeitado um tal filho.
Ó, tu, pai do meu espírito,
tu, rei da minha vida,
livra-me da destruição,
conduz-me à tua presença,
mas fere meu coração para que ele possa ser curado;
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