segunda-feira, 24 de março de 2008

O cuidado de alimentar devidamente a alma

I Timóteo 4:16 – “Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem”.

Antes de tudo, eu preciso dar uma atenção especial para o versículo anterior que diz: “Ocupa-te destas coisas, dedica-te inteiramente a elas, para que o teu progresso seja manifesto a todos”.

Paulo exorta e lembra a Timóteo para que ele não se esqueça em minuto algum da importância de meditar em todo ensino que foi ministrado para ele.

A palavra “ocupar/meditar” deve ser entendida num empenho esportivo. Paulo diz para Timóteo “praticar” todas estas coisas. É a idéia de um atleta que treina muito para atingir seus objetivos.

Todo o progresso da alma de Timóteo está nesta ação de praticar todo ensino das Escrituras e se empenhar na vida piedosa – na oração. Aqui quero lembrar a vida do grande pregador Charles H. Spurgeon, ele não trocava a sua imensa biblioteca pela sua sala de oração. Tanto é que quando ele abria a boca muitos diziam que ele tinha cinqüenta anos de idade mesmo tendo dezessete anos. Não existe desenvolvimento na vida cristã se negligenciarmos o nosso momento de quebrantamento.

A recomendação de Paulo é fantástica. Ele faz alusão a vida de um atleta. Existe uma profunda diferença em treinar e tentar.

Treinar é se dedicar. Por mais que haja fracassos, mas a minha fidelidade e a minha vontade de crescer a cada dia e de assemelhar-me a Cristo supera tudo. Transformação espiritual não é questão de empenho, mas de treinamento aliado à sabedoria. É isso que o apóstolo Paulo quer dizer quando encoraja Timóteo com as palavras “exercite-se na piedade” [I Timóteo 4:7].

Um fator de extrema importância que quero destacar – Não podemos ficar sobrecarregados por acharmos que Deus mede seu desempenho espiritual com base em determinadas disciplinas espirituais. Precisamos entender que estamos livres da tentativa de impressionar Deus ou quem quer que seja com nosso comprometimento espiritual. E isso acontece e muito dentro da igreja. Vários irmãos querem sobressair sobre o outro irmão no quesito espiritualidade. O verdadeiro crente espiritual não diz e nem faz propaganda da sua vida com Deus, os seus atos demonstrarão que ele está na fonte certa.

Existem vários livros de oração hoje no mercado. Livros que descrevem passos, métodos e receitas para ter uma vida cristã bem sucedida. Para mim, grande parte para não dizer a maioria destes livros deveriam ser queimados. Existem tantos livros para ler sobre oração que não há tempo se quer para orar e ler a Bíblia. O problema disso tudo é que quando não alcançamos o resultado nos tornamos hipócritas – ah, Deus não me ouve, ou ele está indiferente para comigo – e assim vamos tocar a vida do jeito que está. Por exemplo, livros como do pastor Paul Young Chu sobre oração semelhante à onda. Também do pastor Kenneth E. HaginA oração que prevalece para a paz” vários passos para alcançar o favor de Deus. O que é perceptível em tudo isso é que os recursos que vem do próprio Deus são deixados de lado.

Santo Agostinho quando queria ensinar a sua igreja e as paróquias da filiação a orar ele pregava nos Salmos. O Livro de Salmos é melhor do que tudo que já foi produzido sobre oração. É o coração de um homem que se abre diante de Deus. É visível a comunicação direta de Deus em responder os apelos da alma do salmista. O livro de Salmos é a graça de Deus para um homem pecador que deseja ardentemente viver um relacionamento profundo e sincero com Deus. Se você quer aprender a orar leia os Salmos. O interessante é que até o século XVII não havia nenhum livro sobre oração ou como viver uma vida piedosa. Todo esta mudança foi o resultado do ministério de um pastor chamado Charles Finney que deturpou o Evangelho para uma moralidade. O cristão para ser aceito, ele precisaria cumprir uma série de novos mandamentos. O que Finney fez foi criar um novo mandamento para a vida do cristão. A vida do cristão se tornou um estereótipo, não vale mais o que está no coração, mas o exterior tomou o lugar de uma vida regenerada.

A oração faz o homem parar de pecar, mas o pecado leva o homem a parar de orarJohn Bunyan

1) Porque devo dirigir-me a Deus em oração?

Um relacionamento de amor com Deus é mais importante do que qualquer outro fator em sua vida

Deus é o único suficientemente capaz de nos satisfazer e preencher o nosso vazio existencial.

A nossa sociedade deturpou a definição de satisfação. A definição que nos é passada está ligada aos bens materiais e momentâneos – tenha, seja e conquiste. A satisfação que as Escrituras nos apresentam não é um estado temporário, mas uma eternidade. Não é possuir, mas ser possuído pelo sumo bem. Não é uma conquista, mas uma dádiva.

A nossa busca desenfreada precisa ser concertada e redirecionada para o foco certo. Precisamos voltar ao manancial de águas vivas. Precisamos voltar para fonte que emana toda vida.

Enfatizo esta volta, porque ela significa a nossa extrema valorização pela glória de Deus. Todo pecado resulta de não darmos valor supremo à glória de Deus – essa é a própria essência do pecado. Quando valorizamos outras fontes de vida, o que estamos afirmando é que Deus não nos basta, que ele não é suficiente.

Ó Senhor, tu nos criastes para ti e nossos corações não descansarão até encontrar descanso em ti

Os nossos pecados e a nossa distorção visual nos levam para outra fonte. A preguiça parece desejar apenas a tranqüilidade e o nosso descanso, mas que repouso seguro existe fora de Deus? A luxúria quer ser chamada de saciedade e abundancia, mas somente Deus é a plenitude. Ele é a fonte da suavidade inesgotável e incorruptível. Salmo 16:11 – “Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita”. A avareza quer possuir muito, mas Deus é rico e possuidor de todas as coisas. A inveja pleiteia a primazia, mas quem é mais excelente do que o próprio Deus? A cólera procura a vingança, mas qual é a vingança mais justa e perfeita senão a de Deus? Quando cometemos estas inversões de valores cometemos um crime. Jeremias 2:13 – “O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva, e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não tem água ”.

O que esta passagem nos diz, é que Deus é a nossa única fonte de vida. Quando alguém está sedento e bebe da sua água, ele reanima-se. Qual a fonte que te irrigará? Qual é a fonte que flui tamanha correnteza de delícias da vida? Quem é a fonte da vida, senão o Cristo? Abandonar esta fonte é o primeiro mal, isto é feito quando o povo de Deus deixa de andar com ele. A nossa mente deve correr para a Escritura e lembrar das palavras de Pedro – João 6:68(...)Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna”.

Santo Agostinho nas suas confissões ele expressa a seguinte afirmação – “Tenho dentro de mim uma fome de alimento interior – fome de ti, ó meu Deus”.

Deus é mais doce do que qualquer prazer. Blase Pascal disse: “O homem tem um profundo vazio que somente Deus pode preenché-lo”. Fazemos aquilo que o filho pródigo fez. Temos um intenso desejo pela comida dos porcos e nos esquecemos da casa de nosso Pai. Lembre-se: podemos fazer alfarrobas até de nossas formas de cristianismo. O nosso problema reside na nossa facilidade de satisfazer-nos com coisas fúteis.

Sem este espírito de oração e submissão as Escrituras, não podemos manter a seriedade e a vida que gravitam nos arredores do trono da graça de Deus

2) O que acontece comigo quando tenho um pequeno desvelar da grandeza de Deus?

Pessoas estão morrendo famintas da grandeza de Deus, mas muitas delas não fariam este diagnóstico de suas vidas perturbadas. A majestade de Deus é uma cura desconhecida. Há prescrições muito mais populares no mercado, mas o benefício de qualquer outro remédio é sumário e pouco profundo. Uma vida que não contém a grandeza de Deus pode viver e enganar por pouco tempo, mas não se satisfará e não será tocada no clamor mais profundo da sua alma: ‘Mostra-me a sua glória!’”

Portanto, estou persuadido de que a visão de um grande Deus é a chave na vida da igreja, tanto no cuidado pastoral quanto na expansão de todo reino. Nosso povo precisa mais de uma vida permeada da presença transformadora de Deus. É preciso que cada um levante dia a dia sua voz e exalte a supremacia de Deus. A nossa consciência deve despertar diante da santidade Deus. Devemos alimentar a mente com a verdade de Deus, purificar a imaginação através da beleza de Deus, abrir o coração para o amor de Deus, devotar a vontade ao propósito de Deus.

Spurgeon disse a respeito de John Bunyan – “Fure-o em qualquer parte; e você verá que seu sangue é bíblico, a própria essência da Bíblia flui dele. Ele não consegue falar sem citar um texto, pois sua alma está cheia da Palavra de Deus”. Nossa alma também deveria estar cheia da essência da Bíblia. Isto é o que significa estar impregnado do Espírito Santo e da sua Palavra.

Os nossos olhos precisam se voltar para dentro do nosso coração e verificarmos se ali existe a manifestação da glória de Deus

Uma pergunta que deve ser feita é – Como sei que Deus é grande e suficiente para mim?

Não podemos negar que toda a nossa compreensão e conhecimento sobre Deus e os seus atos na história, são adquiridos na comunhão dos santos, ou seja, no seio da igreja. O autor de Hebreus faz uma excelente recomendação – “consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” [Hebreus 10:24-25]. É na igreja que vemos o agir de Deus. Pessoas são salvas e curadas. Famílias são restauradas. Corações são religados através do perdão. Há consolo, esperança e amor. Por isso, devemos investir na vida coletiva. Não há progresso na vida, seja em todas as áreas, se você vive isolado. As Escrituras apontam sempre para a vida comunitária. Precisamos ser sinceros neste momento: será que você consegue orar duas horas por dia? Será que toda a sua compreensão bíblica é o resultado do isolamento do seu quarto? Claro que não. Muitos insistem na vida de oração ou do culto individual, mas isto não é verdade. O meu crescimento não vem do particular, mas do coletivo. Na reunião de oração eu sou coagido ou motivado pelos meus irmãos a oração, a leitura bíblica. Nestes momentos eu aprendo palavras sobre oração. Entendo a seriedade da comunhão com Deus. A sua vida individual é o resultado do culto do domingo. Se o culto foi abençoador, se Deus agiu com poder e graça e houve a manifestação gloriosa de Deus, você terá então estimulo e prazer para orar a semana inteira até o próximo culto. Porque quando estamos reunidos como corpo de Cristo, prestando o culto vivo a Deus, na verdade este momento é especial. Ele toca a igreja visível e a invisível. A visível porque estamos juntos no espaço e no tempo. Estamos juntos e unidos no Espírito de Deus a outros irmãos que estão se reunindo para adorar ao Senhor. A invisível porque também pelo poder do Espírito de Cristo estamos unidos à igreja que já triunfa. Nos unimos com todos os nossos pais na fé. Por isso, para que ocorra um avivamento não pode existir isolamento, individualismo. O avivamento ocorre com toda a igreja e vai além, ele impacta toda a sociedade. Portanto, quero encorajá-los e desafiá-los para uma humilhação diante de Deus. Foi isso que fizeram os homens presbiterianos da Coréia em 1906, durante uma longa e grave crise espiritual na Igreja Coreana. Durante uma semana se reuniram para orar, confessar seus pecados, se reconciliarem uns com os outros e com Deus. Durante aquela semana Deus os atendeu e começou o grande avivamento coreano, provocando milhares e milhares de conversões genuínas meses a fio, e dando início ao crescimento espantoso dos evangélicos na Coréia.

Aqueles que não querem viver vidas piedosas descobrem, por si mesmos, que não são eleitos; aqueles que querem viver vidas piedosas descobriram, por si mesmos, que são eleitos

3) E o que acontece na minha vida prática?

Pontuamos a importância de nos aproximarmos de Deus e o impacto da grandeza Dele em nossa vida. Diante disso, o que nos resta é saber de que maneira prática isso funciona na vida. A aplicação deste ensinamento deve fazer parte de todas as áreas da nossa vida.

Atanásio de Alexandria, conhecido como o “Anão Negro”. Os seus tratados teológicos eram as suas orações escritas, e com isso ele derrotou todo movimento herético do século III d.C. E o que dizer de Basílio de Cesaréia conhecido como o fundador do monasticismo oriental. A cidade de Cesaréia entrou num período de crise. Falta de alimentos, fome, crise moral, econômica, política e teológica. Como bispo, ele procurou colocar em prática a vida cristã e chamou toda a comunidade cristã a fazerem o mesmo. Ele dizia que, se cada um tomasse apenas o suficiente e desse o restante aos que estavam precisando, não haveria ricos nem pobres. E atacou fortemente aquelas pessoas que acumulavam riquezas enquanto outras morriam de fome, acusando-as de homicídio, declarando que quem tivesse sapatos e não os calçasse, enquanto outros andavam descalços, não era melhor que um ladrão.

Toda a nossa sistematização da doutrina do Espírito Santo se deve em grande medida a este homem que lutou pela fé cristã.

Consideração: A doença da nossa geração é o abandonado da mente com a prática. A nossa maneira de pensar, ou melhor, o nosso conhecimento deve determinar as nossas ações. Eu não posso pensar em algo e fazer outra coisa. Digo isso no âmbito da razão. Um teólogo e pastor chamado Rodolf Bultmann disse que o ensino, ele estava se referindo a razão do homem, não tem nada haver com o púlpito. Não existe esta dissociação – mente e ação.

Conclusão

Temos todas as ferramentas disponíveis para fazermos a diferença. As minhas ações falam muito mais do que as minhas palavras. Treine e se dedique para que todas as áreas da sua vida sejam norteadas pelos princípios das Sagradas Escrituras. Quando a nossa alma está bem cuidada, todos que estão ao nosso redor são juntamente alimentados do mesmo banquete.

O prazer em Deus é a única felicidade com o qual nossas almas podem ser satisfeitas


A Renovação do Discípulo

Uma Oração Puritana

Ó MEU SALVADOR,

ajuda-me.

Sou tão lento para aprender,

tão propenso a esquecer,

tão fraco para progredir;

Permaneço no sopé, quando deveria estar nas alturas;

Sou afligido por meu coração carente de graça,

meus dias desprovidos de oração,

minha pobreza de amor,

minha indolência na corrida celestial,

minha consciência suja,

minhas horas desperdiçadas,

minhas oportunidades perdidas.

Estou cego enquanto as luzes brilham ao meu redor:

desembaça meus olhos,

reduz a pó a perversa raiz de incredulidade.

Faz com que minha principal alegria seja te conhecer,

meditar sobre ti,

te contemplar,

sentar aos teus pés, como Maria,

me reclinar sobre teu peito, como João,

ser, como Pedro, atraído a teu amor,

como Paulo, considerar todas as coisas esterco.

Dá-me, tanto quanto possível, crescimento e progresso na graça;

mais firmeza em meu caráter,

mais vigor em meus propósitos,

mais consagração em minha vida,

mais fervor em minha devoção,

mais constância em meu zelo.

Embora eu ocupe um lugar no mundo,

livra-me de fazer do mundo o meu lugar;

Que eu nunca venha a buscar na criatura

aquilo que só pode ser encontrado no criador;

Que a fé não cesse de ti buscar, até quando ela não for mais necessária.

Vai adiante de mim, tu rei dos reis e senhor dos senhores,

que eu possa viver vitoriosamente, e em vitória atinja meu fim.

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