Corporeidade e espiritualidade fazem parte da dimensão integral da pessoa humana, daí que é preciso defender a sua dignidade em meio às apreensões dos riscos de manipulação da vida e as possibilidades promissoras dos avanços biotecnológicos
“É preciso reconhecer que, definitivamente, nos encontramos diante de uma nova realidade e com repercussões sobre a natureza dos seres vivos. É com este horizonte de fundo que hoje se fala sempre mais em 'biopoder'. Quem tem o domínio dos segredos da vida pretende dominar a própria vida”.1
Muitos cientistas, eufóricos com os avanços da biotecnologia, acreditam que as inúmeras intervenções artificiais, hoje possíveis com as tecnologias disponíveis, poderão trazer grandes benefícios, especialmente no combate às doenças, garantindo assim uma melhor qualidade de vida, sob muitos aspectos.
Em meio à euforia, há muitas apreensões. “As possibilidades que surgiram através do domínio técnico do mundo criaram também novas categorias do mal”.2 É certo que há possibilidades promissoras, como também riscos de manipulação da vida e tantas outras formas de violência de causar assombro. De todas as agressões, a mais grave é a que atenta contra a dignidade da pessoa humana. “Um ser humano não pode ser, em hipótese alguma, tratado como um meio, para qualquer fim, nem mesmo no caso em que esse fim fosse prolongar a vida de um semelhante”..3
Como Igreja que somos, cremos que a pessoa humana, à luz da fé católica, não é constituída apenas de células, moléculas e genes, que podem ser manipulados sem provocar alterações nos outros componentes, inclusive transcendentes, que a caracterizam como ser vivo, dotado daquele “algo mais” que supera todas as demais manifestações de vida no planeta. “A dignidade da pessoa depende do espírito ou alma espiritual, que informa e qualifica a corporeidade do indivíduo humano singular”.4
Há na pessoa humana um nível de sofisticação (em termos de memória, linguagem, inteligência e percepção) superior a todas as formas vivas existentes. Por isso a Igreja rejeita “as manipulações da corporeidade que alteram o seu significado humano”. 5
Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica que “por ser a imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor, que ninguém mais pode dar em seu lugar”. 6
A identidade de cada pessoa é única e insubstituível, expressão de uma realidade feita para se afirmar com suas próprias características por toda a eternidade.
A dimensão da pessoalidade é chave fundamental para o entendimento e a aceitação daquilo que a Igreja anuncia como valor de vida. “O princípio da dignidade inviolável da pessoa humana desde a concepção até o seu fim natural, em qualquer fase ou condição em que se encontre, fundamenta a reflexão cristã”. 7
A dimensão integral da pessoa humana
Com o cristianismo foi possível vislumbrar um conceito de pessoa humana mais abrangente e profundo que o de outras culturas ao longo da história, novidade esta (uma boa nova), de alcance filosófico e teológico até então desconhecido pelos pensadores da Antigüidade. “A revelação cristã projeta uma nova luz sobre a identidade, sobre a vocação e sobre o destino último da pessoa e do gênero humano”.8 Trata-se da resposta às questões fundamentais: “Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que é que existirá depois desta vida?” 9
Julian Marías explica que “o cristianismo parte de duas noções fundamentais: a primeira, que a outra vida tem a ver com esta, isto é, que a continua como vida da mesma pessoa; em segundo lugar, que esse desenlace e extremo, a suma felicidade ou a suma infelicidade, e que em alguma medida depende da própria pessoa”.10 E ressalta que “'podemos imaginar esta vida como a escolha da outra, a outra como a realização desta'; se pensamos que 'tudo aquilo realmente querido, será'; que nos condenamos 'a ser de verdade e para sempre o que quisermos', então aparece a conexão entre este mundo e o outro, sua unidade radical por referência a mim, já que 'mundo' é sempre o mundo de alguém”. 11
A vida de cada pessoa humana é dada como um bem perene, e que só tem sentido na inter-relação de todos entre si e de cada um com o Criador. Esta vida foi dada para sempre como promissão de plenitude, mas que somente alcançará sua plena realização na outra vida, a partir das opções feitas nesta vida. “Minha vida é minha, a de cada um, única e irrepetível, e é dela de que se trata, a que interessa”. 12 É vida prometida, mas não entregue concluída, pois exige construí-la como algo nosso, pois “a raiz última da pessoa humana é o que chamamos vocação.. Sentimo-nos chamados a fazer algo e, mais ainda, a ser alguém. As limitações, os acasos, as interferências, são obstáculos para que a vocação se cumpra inteiramente”. 13
O que se quer salvar é a pessoa inteira: “O homem é uma realidade imperfeita, inconclusa, in via, se é homo viator, o termo da viagem tem que ser a plenitude de suas possibilidades, a maturidade e integridade do projeto em que consiste. Entende-se, cada um sem perda da peculiaridade de cada vida. Esse ou essa que fomos, que somos é quem há de salvar-se e viver para sempre. A ressurreição da carne dá sua última consistência a esta interpretação. Nossa realidade pessoal, inteligente, amorosa, carnal, ligada às formas históricas, feita de projetos de vária sorte, articulados em trajetórias de desigual autenticidade, é a que há de perpetuar-se, transfigurar-se, salvar-se”. 14
A corporeidade e espiritualidade da pessoa humana fazem parte da realidade a ser salva, pois só se alcança a vida plena na glorificação da dimensão integral da pessoa humana. “A salvação cristã é para todos os homens e do homem todo: é salvação universal e integral. Diz respeito à pessoa humana em todas as suas dimensões: pessoal, social, espiritual, corpórea, histórica e transcendente”. 15
No âmbito individual, a pessoa humana está constituída por uma alma e corpo que “formam uma unidade dinâmica, sendo a alma o elemento determinante. (...) Não há justaposição de dois elementos irreconciliáveis, como aparece na idéia da 'alma prisioneira do corpo' que suspira pela 'libertação'. (...) A natureza humana não é uma casa com diversos compartimentos, a alma não 'habita' o corpo”16, mas é parte integrada ao corpo que forma uma mesma realidade, cuja união é fundamental para a autêntica expressão da vida humana.
Na discussão sobre quando exatamente começa a vida humana está hoje todo o x da questão no debate bioético que envolve diversos segmentos do conhecimento, onde biólogos, filósofos, religiosos e juristas buscam um consenso para que prevaleça uma ética em defesa da vida humana.
“O sujeito, cuja identidade humana tentamos definir, costuma designar-se habitualmente pelos termos 'embrião' (nos dois primeiros meses de existência) e 'feto' (no resto do tempo antes do tempo do nascimento). Recentemente, o vocabulário foi-se enriquecendo com novas palavras, mas ater-nos-emos à terminologia habitual de embrião e feto..
Mais importante que a terminologia relativa a sujeito, são as formulações da pergunta que pretendemos saber acerca dele, já que apontam para conteúdos diferentes. Uns querem saber quando começa a vida humana, enquanto outros se interrogam sobre o fato e o momento da humanização dessa vida. A preocupação de uns terceiros centra-se sobre a pessoa: será o embrião, logo desde o princípio, uma pessoa real ou só potencial, isto é, só uma possibilidade de pessoa?A alguns, o que mais lhe interessa é por de relevo a presença da alma espiritual, questionando-se então, sobre o momento em que tem lugar a animação, isto é, a infusão da alma. Uma formulação mais moderna fala de 'status' ou estatuto antropológico, ontológico, do embrião e do feto.
A diversidade de formulações parecem confluir numa intenção e fundo comuns a todos: o que são, ao fim e ao cabo, o embrião e o feto em relação a essa realidade a que chamamos de ser humano? Que tomadas de posição morais exigem de nós?17
Muitos pesquisadores (influenciados pelo relativismo e materialismo) questionam inclusive a própria existência da alma humana, numa visão reducionista da pessoa. Diante da falta de consenso entre os especialistas, principalmente entre os cientistas, o Direito deve assegurar a proteção da vida, em todas as circunstâncias, por isso a Igreja afirma que “o ser humano deve ser respeitado e tratado como pessoa desde o instante da sua concepção”.18
A intervenção técnica pode ferir a dignidade da pessoa humana
A pessoa humana não é apenas um design que se pode redesenhar e moldar segundo a lógica de uma engenharia genética que visa alterar a estrutura, a forma e a função dos órgãos que compõem o todo em sua constituição original, para fins puramente utilitários. A pessoa é um todo integrado, em que a ação da técnica (por melhor que seja a intenção) pode significar uma intervenção artificial capaz de ferir o que há de mais importante na sua constituição como ser humano (aquilo que é a sua dignidade), ocasionando assim conseqüências, sofrimentos e danos à sua integridade.
O corpo, em nossa sociedade fortemente hedonista, tornou-se instrumento de perversões e obsessões que atentam contra a dignidade da pessoa humana. As falsas necessidades, motivadas por um conceito estranho de felicidade, têm levado milhões de homens e mulheres a fazerem opções a estilos de vida que contrariam a lei natural e ameaçam o bem da pessoa.
“No âmbito da investigação científica, foi-se impondo uma mentalidade positivista, que não apenas se afastou de toda a referência à visão cristã do mundo, mas sobretudo deixou cair qualquer alusão à visão metafísica e moral. Por causa disso, certos cientistas, privados de qualquer referimento ético, correm o risco de não manterem, ao centro do seu interesse, a pessoa e a globalidade da sua vida. Mais, alguns deles, cientes das potencialidades contidas no progresso tecnológico, parecem ceder à lógica do mercado e ainda a tentação dum poder demiúrgico sobre a natureza e o próprio ser humano”. 19
Parte do processo
O corpo é parte de um processo, não é o processo em si. Muitos cientistas – ao lidarem com o corpo, manipulam parte de uma realidade, e não a realidade em sua misteriosa totalidade e transcendência.
A materialidade da realidade terrena também faz parte daquele conjunto de contextos e mistérios que compõem o universo da pessoa humana e contribuem para a sua realização integral. Tanto é que a ressurreição da carne vem restabelecer a dignidade da pessoa humana em sua totalidade. O corpo ressuscitado (e glorificado), “é essa carne, regada de sangue, sustentada por ossos, entremeada de nervos, entrelaçada de veias; uma carne que nasceu e que morre, indubitavelmente humana”20, mas que será transfigurada.
Como cristãos, cremos que a alma humana “se une naturalmente ao corpo, pois é essencialmente forma do corpo”21, ela “é naturalmente parte da natureza humana”. 22 Como lembra o papa João Paulo II, “corpo e alma são inseparáveis: na pessoa, no agente voluntário e no ato deliberado, eles salvam-se ou perdem-se juntos”. 23
Certas experiências da biotecnologia são resultado de uma interferência em parte da realidade, dissociando-a de vínculos essenciais, para que esta parte se complete no todo. Os cientificistas não levam em conta a possibilidade do homem ser mais que sua realidade física, por isso vêem com naturalidade as intervenções técnicas que visam reproduzir indivíduos por meios artificiais. “O cientificismo considera tudo o que se refere à questão do sentido da vida como fazendo parte do domínio do irracional ou da fantasia”. 24
A pessoa humana, quando não concebida em sua dimensão integral, vista apenas sob o enfoque de sua realidade física, se torna objeto manipulável, reduzido em sua significância, podendo ser aviltada em sua vocação original, transformando-a naquilo para o qual ela não está destinada a ser, em algo inteiramente estranho à sua natureza, deformando-a e asfixiando suas verdadeiras potencialidades. Como lembra Mario Stoppino, em obra organizada por Norberto Bobbio: “a manipulação é um fenômeno unívoca e insofismavelmente negativo. Entre todas as formas de poder, é ela que acarreta mais grave condenação moral. Tem-se afirmado, por exemplo, que ela constitui 'a face mais ignóbil do poder' e 'a forma mais inumana de violência', ou quem dela é vítima 'é espoliado da alma'”25, nesse sentido, “a manipulação é sempre um mal; nega radicalmente o valor do homem”26.
A dimensão integral da pessoa humana se manifesta na pessoalidade, isto é, na qualidade específica da pessoa humana que a torna um ser que pensa, sente e se relaciona com o outro – e toma decisões morais – e cuja relação perfeita a ser atingida é a comunhão amorosa com o outro; pois é esta a própria relação de Deus com cada criatura humana que criou. “Ser pessoa à imagem e semelhança de Deus comporta... um existir em relação, em referência ao outro 'eu', porque Deus mesmo, uno e trino, é comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. 27
A dimensão natural e sobrenatural determina a condição humana, mistério pelo qual a pessoa é chamada a viver e a constituir uma história, a partir do conjunto de elementos que compõem a sua realidade existencial. “Vocação não é o que temos que fazer na vida, é o que temos que ser. (...) Trata-se de ser eu mesmo, de encontrar minha modulação pessoal na ordem das coisas, de uma certa maneira de situar-me no mundo e de tratar com o outro”28. É o que Píndaro expressara em sua máxima poética: “torna-te aquilo que és”.
Não se é pessoa satisfazendo apenas um ou outro aspecto da sua dimensão como um todo, mas cumprindo as exigências da corporeidade e da espiritualidade. A Igreja reconhece “a verdade integral da pessoa humana enquanto ser espiritual e corpóreo, em relação com Deus, com outros seres humanos e com todas as demais criaturas”.29
O corpo como utopia
Vivemos hoje sob a égide da transgressão. Muitas de nossas atitudes são movidas por imediatismos e se tornam escapismos em busca de sensações que mais iludem do que garantem um bem-estar autêntico. O estresse, a angústia, um vazio existencial, a falta de um sentido de vida verdadeiramente humano, são resultados concretos da cultura transgressora do nosso tempo.
O corpo perfeito tornou-se a utopia da pós-modernidade.. Muitos não sonham mais com uma sociedade ou um reino de bem-aventuranças e paz que valham a pena alcançar. A cultura transgressora e permissiva dos dias atuais levam homens e mulheres a empreenderem esforços para garantirem o máximo de prazer. Em nome do conforto tudo é justificável, inclusive a imoralidade, desde que praticada com sutileza e astúcia. “Para milhares de brasileiros, incentivados pela publicidade e pela indústria cultural, o sentido da vida reduziu-se à produção de um corpo. A possibilidade de 'inventar' um corpo ideal, com a ajuda de técnicos e químicos do ramo, confunde-se com a construção de um destino, de um nome, de uma obra. 'Hoje, eu sei que posso traçar meu próprio destino', declara um jovem freqüentador de academias de musculação, associando o aumento do seu volume muscular à conquista de respeito por si mesmo”.30
O corpo utópico, como expressão máxima do individualismo, substituiu a utopia dos valores solidários. Tudo se volta para o corpo, como fim último de uma concepção de vida sem transcendência. “O corpo é um escravo que devemos submeter à rigorosa indústria da forma (enganosamente chamada de indústria da saúde) e um senhor ao qual sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos”. 31
O corpo ficou então prisioneiro de artifícios que pouco contribuem para a sua real função socializadora. Para o crítico português José Bragança, “o 'corpo utópico' implica não só a substituição do 'mundo' pelo corpo, mas uma 'crise' do próprio corpo, que explode e se dissipa ao tomar o lugar do mundo. Um corpo que resume em si todas as esperanças e ameaças, que traz a chave da felicidade, mas se precipita para a destruição, um corpo problemático”. 32
Com o desmoronamento das ideologias temporais (que desejaram edificar sociedades perfeitas), emerge como um sintoma do desespero pós-moderno a utopia do corpo perfeito. “A promessa de 'viver melhor', que congrega os homens e os induzem a se submeterem às limitações que a cultura impõe, declara como direito o bem-estar do corpo, o desenvolvimento físico e a felicidade sensual”. 33
Um capítulo a preceder o “pecado final”?
É neste contexto e clima cultural de crasso materialismo, perverso hedonismo, em meio ao nevoeiro do relativismo, desesperança no transcendente, hiper-individualismo, e os extremos do niilismo, que se insere “as questões éticas decorrentes das novas biotecnologias”34, em que se impõe a “impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas e dos povos”. 35
Multiplicam-se então as interrogações: que extraordinárias possibilidades trarão este tempo prometéico? Estaremos vivendo uma nova tentação adâmica, como um capítulo a preceder um pecado final, que poderá provocar uma queda ainda mais dolorosa de condição da vida humana, a um maior absurdo e angústia? Como salvaguardar e defender a pessoa e a dignidade da vida humana, em meio a tantas ameaças? Como intervir de forma construtiva para afirmar a cultura da vida num panorama de tão grandes apreensões e também promissões?
“As interrogações radicais, que acompanham desde os inícios o caminho dos homens, adquirem, no nosso tempo, ainda maior significância, pela vastidão dos desafios, pela novidade dos cenários, pelas opções decisivas que as atuais gerações são chamadas a efetuar.
O primeiro dentre os maiores desafios, ante as quais a humanidade se encontra, é o da verdade mesma de ser-homem. A fronteira e a relação entre natureza, técnica e moral são questões que interpelam decisivamente a responsabilidade pessoal e coletiva, em vista dos comportamentos que se devem ter em face daquilo que o homem é, do que pode fazer e do que deve ser. Um segundo desafio é posto pela compreensão e pela gestão do pluralismo e das diferenças em todos os níveis: de pensamento, de opção moral, de cultura, de adesão religiosa, de filosofia do progresso humano e social. O terceiro desafio é a globalização, que tem um significado mais amplo e profundo do que o simplesmente econômico, pois que se abriu na história uma nova época, que concerne ao destino da humanidade”. 36
O que se teme não são as promessas biotecnológicas. Espera-se até que elas tragam benefícios à vida humana. A questão está no furor da hybris, na ausência de critério ético a regular estas possibilidades; no abuso da liberdade que poderá escravizar o homem e a mulher a uma situação de contingência, de pós-humanidade, onde não será mais possível respirar as maravilhas de Deus. E então, derrotado em seu orgulho, a consciência humana clamará por aqueles dias em que o afeto e o discernimento permitam liames que davam sabor à vida, humanizando-a em meio às violências que ameaçavam a expressão da pessoalidade, em suas relações naturais.
“O homem de hoje parece estar sempre ameaçado por aquilo mesmo que produz, ou seja, pelo resultado do trabalho das suas mãos e, ainda mais, pelo resultado do trabalho da sua inteligência e das tendências da sua vontade. Os frutos desta multiforme atividade do homem, com grande rapidez e de modo muitas vezes imprevisível, passam a ser não tanto objeto de 'alienação', no sentido de que são simplesmente tirados àqueles que os produzem, como sobretudo, pelo menos parcialmente, num círculo conseqüente e indireto dos seus efeitos, tais frutos voltam-se contra o próprio homem. Eles são de fato dirigidos, ou podem sê-lo, contra o homem. Nisto parece consistir o ato principal do drama da existência humana contemporânea, na sua dimensão mais ampla e universal. Assim, o homem vive mergulhado cada vez mais no medo. Teme que os seus produtos, naturalmente não todos nem a maior parte, mas alguns e precisamente aqueles que encerram uma especial porção da sua genialidade e da sua iniciativa, possam ser voltados de maneira radical contra si mesmo”. 37
O medo e o desespero levam a pessoa humana ferida em sua dignidade a descrer na vida como um dom e um bem. Fica então mais vulnerável aos estilos suicidas que destroem não apenas as possibilidades concretas já existentes dos sinais de esperança, como aquele olhar para a frente e para o alto, que permite vislumbrar perspectivas renovadas de vida. “O tema da morte pode tornar-se, para todo pensador, um severo apelo a procurar dentro de si mesmo o sentido autêntico da própria existência”..38 O absurdo é a ausência de um sentido pessoal de vida, portanto, de desumanidade. Por isso, uma via suicida.39
O “psiu” da serpente persiste dizendo: “sereis como Deus”
“A liberdade é a condição mesma da pessoa humana. (...) O homem, por não estar 'feito', por ser 'autor' de si mesmo partindo de sua realidade dada, 'recebida', não se pode predizer, nem dominar, nem regular. Pode imaginar, inventar, descobrir novas realidades ou novos modos de entendê-las; pode, certamente, errar, pode dizer sim ou não, até mesmo ao próprio Deus que o criou. A liberdade é perigosa, se não se ama a condição pessoal, se a vê com desconfiança e hostilidade”..40 Se a pessoa humana “não tivesse que escolher quem pretende ser, com risco de erro, não seria um homem, e sim outra realidade, que não é a que Deus quis criar”. 41
O pecado final insere-se no mesmo contexto e drama narrado no Gênesis. Com as obsessões e possibilidades biotecnológicas, podemos estar revivendo a mesma tragédia adâmica. “Proibindo ao homem de comer da 'árvore da ciência do bem e do mal', Deus afirma que o homem não possui originariamente como própria esta 'ciência', mas só participa nela através da luz da razão natural e da revelação divina, que lhe manifestam as exigências e os apelos da sabedoria eterna”.42 Algo, porém, continua a insistir, como o “psiu” da serpente, a nos tentar a fazer o que não devemos, mesmo tendo ao alcance tantas possibilidades.
As perspectivas genômicas podem permitir ao homem repetir o orgulho adâmico, não aceitando Deus como seu criador e buscando, ele mesmo, obter o controle total sobre a vida, voltando as costas Àquele que lhe deu o “sopro vital”43. Cometido o pecado final, a pessoa humana poderá estar exilada de vez da própria humanidade e, portanto, da sua verdadeira felicidade.
A Igreja em meio a esta dura e nova provação
Que respostas podemos dar, como cristãos, a tão grandes desafios? A Igreja sabe que “Jesus Cristo é o caminho de salvação e a resposta para os graves problemas que nos afligem”44, pois, “a decisão incondicional a favor da vida atinge em plenitude o seu significado religioso e moral, quando brota, é plasmada e alimentada pela fé em Cristo”. 45
Há sinais de esperança nestes tempos convulsivos. Muitas iniciativas têm surgido no seio da Igreja e da sociedade – heróicas e proféticas – como também dos poderes públicos, da iniciativa privada, enfim, dos mais diversos segmentos sociais que sinalizam outra perspectiva e querem afirmar os valores que permitam construir uma civilização que cultive a vida, em todos os aspectos.
Faz parte da missão bimilenar da Igreja não transigir com o mal, apesar de muitos daqueles que se dizem cristãos (ainda por conveniência) estarem coniventes com o mal, minando a sã doutrina, por dentro das estruturas. Mesmo perseguida, não compreendida e constrangida pela loucura dos homens, a Igreja não deixará de contar com a proteção d'Àquele que a instituiu para ser a via de salvação dos homens. Em meio a tudo isso, a Igreja é chamada a ser sempre sinal de contradição. Por isso sua voz clama em todo o mundo como um alerta e um clamor para um renovado empenho em favor da dignidade da pessoa humana. “A todos os membros da Igreja, povo da vida e pela vida – conclamou o papa João Paulo II, em sua encíclica Evangelium Vitae – dirijo o mais premente convite para que, juntos, possamos dar novos sinais de esperança a este nosso mundo, esforçando-nos por que cresçam a justiça e a solidariedade e se afirme uma nova cultura da vida humana, para a edificação de uma autêntica civilização da verdade e do amor”. 46
Bibliografia:
Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 105].
Joseph Ratzinger, O Sal da Terra – O Cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio – Um Diálogo com Peter Seewald , Ed. Imago, 1997, Pág. 31.
(Dom Geraldo Majella Agnelo, Em Defesa da Vida Humana, artigo disponibilizado no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 18 de agosto de 2004).
Dom Elio Sgreccia, Léxicon, termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas, Pontifício Conselho para a Família, Edições CNBB, 2007, p. 53.
Papa João Paulo II, Encíclica Veritatis Splendor, 50 – Edições Paulinas, 1993, p. 83).
Catecismo da Igreja Católica, 357, Editora Vozes, Edições Paulinas, Edições Loyola, Editora Ave Maria, 1993, p. 92.
Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 110].
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 9.
João Paulo II, Encíclica Fides et Ratio, 1, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 4.
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 9.
Júlian Marías, Problemas do Cristianismo, Editora Convívio, 1979, p. 38.
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 80.
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 84.
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 83-84.
Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Edições Paulinas, 2005, p. 35.
Dom Valfredo Tepe, O Sentido da Vida – Psicologia e Ascese Cristã, Editora Vozes, 1993, p.p 34-35.
Francisco Javier Elizari, Questões de Bioética, Editora Santuário, 1996, p. 41.
Gaudium et Spes, 51 – Francisco Javier Elizari, Questões de Bioética, Editora Santuário, 1996, p. 45.
João Paulo II, Encíclica Fides et Ratio, 46, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 72.
Tertuliano, De Carne Christi, 5.
São Tomás de Aquino, Suma Contra os Gentios, Volume II, Livros IIIº e IVº, EDIPUCRS em co-edição com Edições EST, Porto Alegre, 1996, p. 877.
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Papa João Paulo II, Encíclica Veritatis Splendor, 49, Edições Paulinas, 1993, p. 81.
Papa João Paulo II, Encíclica Fides et Ratio, 88, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 134.
Mario Stoppino, Verbete “Manipulação”, do Dicionário de Política (Org. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino), Editora Universidade de Brasília, p. 728.
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Papa João Paulo II, Carta apostólica Mulieris dignitatem, 7: AAS 80 1988) 1664; Compêndio da Doutrina Social da Igreja, Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Edições Paulinas, 2005, p. 33.
Júlian Marías, Problemas do Cristianismo, Editora Convívio, 1979.
Papa João Paulo II, Carta enc. Veritatis Splendor, 13.50.79: AAS85 (1993) 1143-1144; Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 75, pág. 52.
Folha de São Paulo, Mais, p. 12, 25 de março de 2001.
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Stefano de Fiores e Tullo Goffi, Dicionário de Espiritualidade, Corpo, Paulus, 2ª edição, 1993, p. 205.
Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 105].
Papa João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 3.
Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 15, Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Edições Paulinas, 2005, p. 23.
João Paulo II, Encíclica Redemptor Hominis (4 de março de 1979), 15: ASS 71 (1979), p. 286.
Papa João Paulo II, Fides et Ratio, 48, Libreria Editrice Vaticana, 1998, Pág. 75.
Em O Mito de Sísifo, Albert Camus começa a sua obra afirmando: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”. Editora Guanabara, 3ª edição, p. 23.
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Martins Fontes, 2000, p. p. 121-122.
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Martins Fontes, 2000, p. 122.
Papa João Paulo II, Veritatis Splendor, 41, Edições Paulinas, 1993, p. 68.
Gn 2, 7.
Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 22].
Papa João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 28.
Papa João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 6.
* Prof. Hermes Rodrigues Nery é Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté.
“É preciso reconhecer que, definitivamente, nos encontramos diante de uma nova realidade e com repercussões sobre a natureza dos seres vivos. É com este horizonte de fundo que hoje se fala sempre mais em 'biopoder'. Quem tem o domínio dos segredos da vida pretende dominar a própria vida”.1
Muitos cientistas, eufóricos com os avanços da biotecnologia, acreditam que as inúmeras intervenções artificiais, hoje possíveis com as tecnologias disponíveis, poderão trazer grandes benefícios, especialmente no combate às doenças, garantindo assim uma melhor qualidade de vida, sob muitos aspectos.
Em meio à euforia, há muitas apreensões. “As possibilidades que surgiram através do domínio técnico do mundo criaram também novas categorias do mal”.2 É certo que há possibilidades promissoras, como também riscos de manipulação da vida e tantas outras formas de violência de causar assombro. De todas as agressões, a mais grave é a que atenta contra a dignidade da pessoa humana. “Um ser humano não pode ser, em hipótese alguma, tratado como um meio, para qualquer fim, nem mesmo no caso em que esse fim fosse prolongar a vida de um semelhante”..3
Como Igreja que somos, cremos que a pessoa humana, à luz da fé católica, não é constituída apenas de células, moléculas e genes, que podem ser manipulados sem provocar alterações nos outros componentes, inclusive transcendentes, que a caracterizam como ser vivo, dotado daquele “algo mais” que supera todas as demais manifestações de vida no planeta. “A dignidade da pessoa depende do espírito ou alma espiritual, que informa e qualifica a corporeidade do indivíduo humano singular”.4
Há na pessoa humana um nível de sofisticação (em termos de memória, linguagem, inteligência e percepção) superior a todas as formas vivas existentes. Por isso a Igreja rejeita “as manipulações da corporeidade que alteram o seu significado humano”. 5
Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica que “por ser a imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor, que ninguém mais pode dar em seu lugar”. 6
A identidade de cada pessoa é única e insubstituível, expressão de uma realidade feita para se afirmar com suas próprias características por toda a eternidade.
A dimensão da pessoalidade é chave fundamental para o entendimento e a aceitação daquilo que a Igreja anuncia como valor de vida. “O princípio da dignidade inviolável da pessoa humana desde a concepção até o seu fim natural, em qualquer fase ou condição em que se encontre, fundamenta a reflexão cristã”. 7
A dimensão integral da pessoa humana
Com o cristianismo foi possível vislumbrar um conceito de pessoa humana mais abrangente e profundo que o de outras culturas ao longo da história, novidade esta (uma boa nova), de alcance filosófico e teológico até então desconhecido pelos pensadores da Antigüidade. “A revelação cristã projeta uma nova luz sobre a identidade, sobre a vocação e sobre o destino último da pessoa e do gênero humano”.8 Trata-se da resposta às questões fundamentais: “Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que é que existirá depois desta vida?” 9
Julian Marías explica que “o cristianismo parte de duas noções fundamentais: a primeira, que a outra vida tem a ver com esta, isto é, que a continua como vida da mesma pessoa; em segundo lugar, que esse desenlace e extremo, a suma felicidade ou a suma infelicidade, e que em alguma medida depende da própria pessoa”.10 E ressalta que “'podemos imaginar esta vida como a escolha da outra, a outra como a realização desta'; se pensamos que 'tudo aquilo realmente querido, será'; que nos condenamos 'a ser de verdade e para sempre o que quisermos', então aparece a conexão entre este mundo e o outro, sua unidade radical por referência a mim, já que 'mundo' é sempre o mundo de alguém”. 11
A vida de cada pessoa humana é dada como um bem perene, e que só tem sentido na inter-relação de todos entre si e de cada um com o Criador. Esta vida foi dada para sempre como promissão de plenitude, mas que somente alcançará sua plena realização na outra vida, a partir das opções feitas nesta vida. “Minha vida é minha, a de cada um, única e irrepetível, e é dela de que se trata, a que interessa”. 12 É vida prometida, mas não entregue concluída, pois exige construí-la como algo nosso, pois “a raiz última da pessoa humana é o que chamamos vocação.. Sentimo-nos chamados a fazer algo e, mais ainda, a ser alguém. As limitações, os acasos, as interferências, são obstáculos para que a vocação se cumpra inteiramente”. 13
O que se quer salvar é a pessoa inteira: “O homem é uma realidade imperfeita, inconclusa, in via, se é homo viator, o termo da viagem tem que ser a plenitude de suas possibilidades, a maturidade e integridade do projeto em que consiste. Entende-se, cada um sem perda da peculiaridade de cada vida. Esse ou essa que fomos, que somos é quem há de salvar-se e viver para sempre. A ressurreição da carne dá sua última consistência a esta interpretação. Nossa realidade pessoal, inteligente, amorosa, carnal, ligada às formas históricas, feita de projetos de vária sorte, articulados em trajetórias de desigual autenticidade, é a que há de perpetuar-se, transfigurar-se, salvar-se”. 14
A corporeidade e espiritualidade da pessoa humana fazem parte da realidade a ser salva, pois só se alcança a vida plena na glorificação da dimensão integral da pessoa humana. “A salvação cristã é para todos os homens e do homem todo: é salvação universal e integral. Diz respeito à pessoa humana em todas as suas dimensões: pessoal, social, espiritual, corpórea, histórica e transcendente”. 15
No âmbito individual, a pessoa humana está constituída por uma alma e corpo que “formam uma unidade dinâmica, sendo a alma o elemento determinante. (...) Não há justaposição de dois elementos irreconciliáveis, como aparece na idéia da 'alma prisioneira do corpo' que suspira pela 'libertação'. (...) A natureza humana não é uma casa com diversos compartimentos, a alma não 'habita' o corpo”16, mas é parte integrada ao corpo que forma uma mesma realidade, cuja união é fundamental para a autêntica expressão da vida humana.
Na discussão sobre quando exatamente começa a vida humana está hoje todo o x da questão no debate bioético que envolve diversos segmentos do conhecimento, onde biólogos, filósofos, religiosos e juristas buscam um consenso para que prevaleça uma ética em defesa da vida humana.
“O sujeito, cuja identidade humana tentamos definir, costuma designar-se habitualmente pelos termos 'embrião' (nos dois primeiros meses de existência) e 'feto' (no resto do tempo antes do tempo do nascimento). Recentemente, o vocabulário foi-se enriquecendo com novas palavras, mas ater-nos-emos à terminologia habitual de embrião e feto..
Mais importante que a terminologia relativa a sujeito, são as formulações da pergunta que pretendemos saber acerca dele, já que apontam para conteúdos diferentes. Uns querem saber quando começa a vida humana, enquanto outros se interrogam sobre o fato e o momento da humanização dessa vida. A preocupação de uns terceiros centra-se sobre a pessoa: será o embrião, logo desde o princípio, uma pessoa real ou só potencial, isto é, só uma possibilidade de pessoa?A alguns, o que mais lhe interessa é por de relevo a presença da alma espiritual, questionando-se então, sobre o momento em que tem lugar a animação, isto é, a infusão da alma. Uma formulação mais moderna fala de 'status' ou estatuto antropológico, ontológico, do embrião e do feto.
A diversidade de formulações parecem confluir numa intenção e fundo comuns a todos: o que são, ao fim e ao cabo, o embrião e o feto em relação a essa realidade a que chamamos de ser humano? Que tomadas de posição morais exigem de nós?17
Muitos pesquisadores (influenciados pelo relativismo e materialismo) questionam inclusive a própria existência da alma humana, numa visão reducionista da pessoa. Diante da falta de consenso entre os especialistas, principalmente entre os cientistas, o Direito deve assegurar a proteção da vida, em todas as circunstâncias, por isso a Igreja afirma que “o ser humano deve ser respeitado e tratado como pessoa desde o instante da sua concepção”.18
A intervenção técnica pode ferir a dignidade da pessoa humana
A pessoa humana não é apenas um design que se pode redesenhar e moldar segundo a lógica de uma engenharia genética que visa alterar a estrutura, a forma e a função dos órgãos que compõem o todo em sua constituição original, para fins puramente utilitários. A pessoa é um todo integrado, em que a ação da técnica (por melhor que seja a intenção) pode significar uma intervenção artificial capaz de ferir o que há de mais importante na sua constituição como ser humano (aquilo que é a sua dignidade), ocasionando assim conseqüências, sofrimentos e danos à sua integridade.
O corpo, em nossa sociedade fortemente hedonista, tornou-se instrumento de perversões e obsessões que atentam contra a dignidade da pessoa humana. As falsas necessidades, motivadas por um conceito estranho de felicidade, têm levado milhões de homens e mulheres a fazerem opções a estilos de vida que contrariam a lei natural e ameaçam o bem da pessoa.
“No âmbito da investigação científica, foi-se impondo uma mentalidade positivista, que não apenas se afastou de toda a referência à visão cristã do mundo, mas sobretudo deixou cair qualquer alusão à visão metafísica e moral. Por causa disso, certos cientistas, privados de qualquer referimento ético, correm o risco de não manterem, ao centro do seu interesse, a pessoa e a globalidade da sua vida. Mais, alguns deles, cientes das potencialidades contidas no progresso tecnológico, parecem ceder à lógica do mercado e ainda a tentação dum poder demiúrgico sobre a natureza e o próprio ser humano”. 19
Parte do processo
O corpo é parte de um processo, não é o processo em si. Muitos cientistas – ao lidarem com o corpo, manipulam parte de uma realidade, e não a realidade em sua misteriosa totalidade e transcendência.
A materialidade da realidade terrena também faz parte daquele conjunto de contextos e mistérios que compõem o universo da pessoa humana e contribuem para a sua realização integral. Tanto é que a ressurreição da carne vem restabelecer a dignidade da pessoa humana em sua totalidade. O corpo ressuscitado (e glorificado), “é essa carne, regada de sangue, sustentada por ossos, entremeada de nervos, entrelaçada de veias; uma carne que nasceu e que morre, indubitavelmente humana”20, mas que será transfigurada.
Como cristãos, cremos que a alma humana “se une naturalmente ao corpo, pois é essencialmente forma do corpo”21, ela “é naturalmente parte da natureza humana”. 22 Como lembra o papa João Paulo II, “corpo e alma são inseparáveis: na pessoa, no agente voluntário e no ato deliberado, eles salvam-se ou perdem-se juntos”. 23
Certas experiências da biotecnologia são resultado de uma interferência em parte da realidade, dissociando-a de vínculos essenciais, para que esta parte se complete no todo. Os cientificistas não levam em conta a possibilidade do homem ser mais que sua realidade física, por isso vêem com naturalidade as intervenções técnicas que visam reproduzir indivíduos por meios artificiais. “O cientificismo considera tudo o que se refere à questão do sentido da vida como fazendo parte do domínio do irracional ou da fantasia”. 24
A pessoa humana, quando não concebida em sua dimensão integral, vista apenas sob o enfoque de sua realidade física, se torna objeto manipulável, reduzido em sua significância, podendo ser aviltada em sua vocação original, transformando-a naquilo para o qual ela não está destinada a ser, em algo inteiramente estranho à sua natureza, deformando-a e asfixiando suas verdadeiras potencialidades. Como lembra Mario Stoppino, em obra organizada por Norberto Bobbio: “a manipulação é um fenômeno unívoca e insofismavelmente negativo. Entre todas as formas de poder, é ela que acarreta mais grave condenação moral. Tem-se afirmado, por exemplo, que ela constitui 'a face mais ignóbil do poder' e 'a forma mais inumana de violência', ou quem dela é vítima 'é espoliado da alma'”25, nesse sentido, “a manipulação é sempre um mal; nega radicalmente o valor do homem”26.
A dimensão integral da pessoa humana se manifesta na pessoalidade, isto é, na qualidade específica da pessoa humana que a torna um ser que pensa, sente e se relaciona com o outro – e toma decisões morais – e cuja relação perfeita a ser atingida é a comunhão amorosa com o outro; pois é esta a própria relação de Deus com cada criatura humana que criou. “Ser pessoa à imagem e semelhança de Deus comporta... um existir em relação, em referência ao outro 'eu', porque Deus mesmo, uno e trino, é comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. 27
A dimensão natural e sobrenatural determina a condição humana, mistério pelo qual a pessoa é chamada a viver e a constituir uma história, a partir do conjunto de elementos que compõem a sua realidade existencial. “Vocação não é o que temos que fazer na vida, é o que temos que ser. (...) Trata-se de ser eu mesmo, de encontrar minha modulação pessoal na ordem das coisas, de uma certa maneira de situar-me no mundo e de tratar com o outro”28. É o que Píndaro expressara em sua máxima poética: “torna-te aquilo que és”.
Não se é pessoa satisfazendo apenas um ou outro aspecto da sua dimensão como um todo, mas cumprindo as exigências da corporeidade e da espiritualidade. A Igreja reconhece “a verdade integral da pessoa humana enquanto ser espiritual e corpóreo, em relação com Deus, com outros seres humanos e com todas as demais criaturas”.29
O corpo como utopia
Vivemos hoje sob a égide da transgressão. Muitas de nossas atitudes são movidas por imediatismos e se tornam escapismos em busca de sensações que mais iludem do que garantem um bem-estar autêntico. O estresse, a angústia, um vazio existencial, a falta de um sentido de vida verdadeiramente humano, são resultados concretos da cultura transgressora do nosso tempo.
O corpo perfeito tornou-se a utopia da pós-modernidade.. Muitos não sonham mais com uma sociedade ou um reino de bem-aventuranças e paz que valham a pena alcançar. A cultura transgressora e permissiva dos dias atuais levam homens e mulheres a empreenderem esforços para garantirem o máximo de prazer. Em nome do conforto tudo é justificável, inclusive a imoralidade, desde que praticada com sutileza e astúcia. “Para milhares de brasileiros, incentivados pela publicidade e pela indústria cultural, o sentido da vida reduziu-se à produção de um corpo. A possibilidade de 'inventar' um corpo ideal, com a ajuda de técnicos e químicos do ramo, confunde-se com a construção de um destino, de um nome, de uma obra. 'Hoje, eu sei que posso traçar meu próprio destino', declara um jovem freqüentador de academias de musculação, associando o aumento do seu volume muscular à conquista de respeito por si mesmo”.30
O corpo utópico, como expressão máxima do individualismo, substituiu a utopia dos valores solidários. Tudo se volta para o corpo, como fim último de uma concepção de vida sem transcendência. “O corpo é um escravo que devemos submeter à rigorosa indústria da forma (enganosamente chamada de indústria da saúde) e um senhor ao qual sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos”. 31
O corpo ficou então prisioneiro de artifícios que pouco contribuem para a sua real função socializadora. Para o crítico português José Bragança, “o 'corpo utópico' implica não só a substituição do 'mundo' pelo corpo, mas uma 'crise' do próprio corpo, que explode e se dissipa ao tomar o lugar do mundo. Um corpo que resume em si todas as esperanças e ameaças, que traz a chave da felicidade, mas se precipita para a destruição, um corpo problemático”. 32
Com o desmoronamento das ideologias temporais (que desejaram edificar sociedades perfeitas), emerge como um sintoma do desespero pós-moderno a utopia do corpo perfeito. “A promessa de 'viver melhor', que congrega os homens e os induzem a se submeterem às limitações que a cultura impõe, declara como direito o bem-estar do corpo, o desenvolvimento físico e a felicidade sensual”. 33
Um capítulo a preceder o “pecado final”?
É neste contexto e clima cultural de crasso materialismo, perverso hedonismo, em meio ao nevoeiro do relativismo, desesperança no transcendente, hiper-individualismo, e os extremos do niilismo, que se insere “as questões éticas decorrentes das novas biotecnologias”34, em que se impõe a “impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas e dos povos”. 35
Multiplicam-se então as interrogações: que extraordinárias possibilidades trarão este tempo prometéico? Estaremos vivendo uma nova tentação adâmica, como um capítulo a preceder um pecado final, que poderá provocar uma queda ainda mais dolorosa de condição da vida humana, a um maior absurdo e angústia? Como salvaguardar e defender a pessoa e a dignidade da vida humana, em meio a tantas ameaças? Como intervir de forma construtiva para afirmar a cultura da vida num panorama de tão grandes apreensões e também promissões?
“As interrogações radicais, que acompanham desde os inícios o caminho dos homens, adquirem, no nosso tempo, ainda maior significância, pela vastidão dos desafios, pela novidade dos cenários, pelas opções decisivas que as atuais gerações são chamadas a efetuar.
O primeiro dentre os maiores desafios, ante as quais a humanidade se encontra, é o da verdade mesma de ser-homem. A fronteira e a relação entre natureza, técnica e moral são questões que interpelam decisivamente a responsabilidade pessoal e coletiva, em vista dos comportamentos que se devem ter em face daquilo que o homem é, do que pode fazer e do que deve ser. Um segundo desafio é posto pela compreensão e pela gestão do pluralismo e das diferenças em todos os níveis: de pensamento, de opção moral, de cultura, de adesão religiosa, de filosofia do progresso humano e social. O terceiro desafio é a globalização, que tem um significado mais amplo e profundo do que o simplesmente econômico, pois que se abriu na história uma nova época, que concerne ao destino da humanidade”. 36
O que se teme não são as promessas biotecnológicas. Espera-se até que elas tragam benefícios à vida humana. A questão está no furor da hybris, na ausência de critério ético a regular estas possibilidades; no abuso da liberdade que poderá escravizar o homem e a mulher a uma situação de contingência, de pós-humanidade, onde não será mais possível respirar as maravilhas de Deus. E então, derrotado em seu orgulho, a consciência humana clamará por aqueles dias em que o afeto e o discernimento permitam liames que davam sabor à vida, humanizando-a em meio às violências que ameaçavam a expressão da pessoalidade, em suas relações naturais.
“O homem de hoje parece estar sempre ameaçado por aquilo mesmo que produz, ou seja, pelo resultado do trabalho das suas mãos e, ainda mais, pelo resultado do trabalho da sua inteligência e das tendências da sua vontade. Os frutos desta multiforme atividade do homem, com grande rapidez e de modo muitas vezes imprevisível, passam a ser não tanto objeto de 'alienação', no sentido de que são simplesmente tirados àqueles que os produzem, como sobretudo, pelo menos parcialmente, num círculo conseqüente e indireto dos seus efeitos, tais frutos voltam-se contra o próprio homem. Eles são de fato dirigidos, ou podem sê-lo, contra o homem. Nisto parece consistir o ato principal do drama da existência humana contemporânea, na sua dimensão mais ampla e universal. Assim, o homem vive mergulhado cada vez mais no medo. Teme que os seus produtos, naturalmente não todos nem a maior parte, mas alguns e precisamente aqueles que encerram uma especial porção da sua genialidade e da sua iniciativa, possam ser voltados de maneira radical contra si mesmo”. 37
O medo e o desespero levam a pessoa humana ferida em sua dignidade a descrer na vida como um dom e um bem. Fica então mais vulnerável aos estilos suicidas que destroem não apenas as possibilidades concretas já existentes dos sinais de esperança, como aquele olhar para a frente e para o alto, que permite vislumbrar perspectivas renovadas de vida. “O tema da morte pode tornar-se, para todo pensador, um severo apelo a procurar dentro de si mesmo o sentido autêntico da própria existência”..38 O absurdo é a ausência de um sentido pessoal de vida, portanto, de desumanidade. Por isso, uma via suicida.39
O “psiu” da serpente persiste dizendo: “sereis como Deus”
“A liberdade é a condição mesma da pessoa humana. (...) O homem, por não estar 'feito', por ser 'autor' de si mesmo partindo de sua realidade dada, 'recebida', não se pode predizer, nem dominar, nem regular. Pode imaginar, inventar, descobrir novas realidades ou novos modos de entendê-las; pode, certamente, errar, pode dizer sim ou não, até mesmo ao próprio Deus que o criou. A liberdade é perigosa, se não se ama a condição pessoal, se a vê com desconfiança e hostilidade”..40 Se a pessoa humana “não tivesse que escolher quem pretende ser, com risco de erro, não seria um homem, e sim outra realidade, que não é a que Deus quis criar”. 41
O pecado final insere-se no mesmo contexto e drama narrado no Gênesis. Com as obsessões e possibilidades biotecnológicas, podemos estar revivendo a mesma tragédia adâmica. “Proibindo ao homem de comer da 'árvore da ciência do bem e do mal', Deus afirma que o homem não possui originariamente como própria esta 'ciência', mas só participa nela através da luz da razão natural e da revelação divina, que lhe manifestam as exigências e os apelos da sabedoria eterna”.42 Algo, porém, continua a insistir, como o “psiu” da serpente, a nos tentar a fazer o que não devemos, mesmo tendo ao alcance tantas possibilidades.
As perspectivas genômicas podem permitir ao homem repetir o orgulho adâmico, não aceitando Deus como seu criador e buscando, ele mesmo, obter o controle total sobre a vida, voltando as costas Àquele que lhe deu o “sopro vital”43. Cometido o pecado final, a pessoa humana poderá estar exilada de vez da própria humanidade e, portanto, da sua verdadeira felicidade.
A Igreja em meio a esta dura e nova provação
Que respostas podemos dar, como cristãos, a tão grandes desafios? A Igreja sabe que “Jesus Cristo é o caminho de salvação e a resposta para os graves problemas que nos afligem”44, pois, “a decisão incondicional a favor da vida atinge em plenitude o seu significado religioso e moral, quando brota, é plasmada e alimentada pela fé em Cristo”. 45
Há sinais de esperança nestes tempos convulsivos. Muitas iniciativas têm surgido no seio da Igreja e da sociedade – heróicas e proféticas – como também dos poderes públicos, da iniciativa privada, enfim, dos mais diversos segmentos sociais que sinalizam outra perspectiva e querem afirmar os valores que permitam construir uma civilização que cultive a vida, em todos os aspectos.
Faz parte da missão bimilenar da Igreja não transigir com o mal, apesar de muitos daqueles que se dizem cristãos (ainda por conveniência) estarem coniventes com o mal, minando a sã doutrina, por dentro das estruturas. Mesmo perseguida, não compreendida e constrangida pela loucura dos homens, a Igreja não deixará de contar com a proteção d'Àquele que a instituiu para ser a via de salvação dos homens. Em meio a tudo isso, a Igreja é chamada a ser sempre sinal de contradição. Por isso sua voz clama em todo o mundo como um alerta e um clamor para um renovado empenho em favor da dignidade da pessoa humana. “A todos os membros da Igreja, povo da vida e pela vida – conclamou o papa João Paulo II, em sua encíclica Evangelium Vitae – dirijo o mais premente convite para que, juntos, possamos dar novos sinais de esperança a este nosso mundo, esforçando-nos por que cresçam a justiça e a solidariedade e se afirme uma nova cultura da vida humana, para a edificação de uma autêntica civilização da verdade e do amor”. 46
Bibliografia:
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Joseph Ratzinger, O Sal da Terra – O Cristianismo e a Igreja Católica no Limiar do Terceiro Milênio – Um Diálogo com Peter Seewald , Ed. Imago, 1997, Pág. 31.
(Dom Geraldo Majella Agnelo, Em Defesa da Vida Humana, artigo disponibilizado no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 18 de agosto de 2004).
Dom Elio Sgreccia, Léxicon, termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas, Pontifício Conselho para a Família, Edições CNBB, 2007, p. 53.
Papa João Paulo II, Encíclica Veritatis Splendor, 50 – Edições Paulinas, 1993, p. 83).
Catecismo da Igreja Católica, 357, Editora Vozes, Edições Paulinas, Edições Loyola, Editora Ave Maria, 1993, p. 92.
Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 110].
Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Ed. Martins Fontes, 2000, p. 9.
João Paulo II, Encíclica Fides et Ratio, 1, Libreria Editrice Vaticana, 1998, p. 4.
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Gaudium et Spes, 51 – Francisco Javier Elizari, Questões de Bioética, Editora Santuário, 1996, p. 45.
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João Paulo II, Encíclica Redemptor Hominis (4 de março de 1979), 15: ASS 71 (1979), p. 286.
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Em O Mito de Sísifo, Albert Camus começa a sua obra afirmando: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”. Editora Guanabara, 3ª edição, p. 23.
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Júlian Marías, A Perspectiva Cristã, Martins Fontes, 2000, p. 122.
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Gn 2, 7.
Evangelização e Missão Profética da Igreja. Novos Desafios (Doc. 80 da CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005 [p. 22].
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Papa João Paulo II, Encíclica Evangelium Vitae, 6.
* Prof. Hermes Rodrigues Nery é Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté.
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