quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Uma passagem para Nínive...

Senhor,

a vida é uma mestra exigente:

devo apresentar-me diante dela de cabeça erguida,

olhos brilhantes,

todo o rosto transformado num sorriso.

E isto somente é possível

se demorar-me na tua presença.

O mundo não sabe,

talvez não saiba nunca,

que “somente é possível ficar de pé diante dos homens,

enquanto estiver de joelhos diante de Ti”.

Isto é um segredo

e me faz mais teu.

No entanto, quantas vezes não perguntei:

– Será que tomei o navio errado?

quase podia ouvir os habitantes de Társis

congratulando-se pela minha chegada.

Eram tão simpáticos

e Nínive ficava tão longe...

Mas que adianta fugir,

esconder,

sofismar,

se Tua presença está dentro de mim?

No entanto, se existem tantos sábios,

decididos e fortes

por que te lembras sempre dos pequeninos?

Será pelo teu amor grande demais

ou pelo teu poder que só se aperfeiçoa

na fraqueza?

Gostaria bem de não desapontar-te,

tenho um desesperado medo de trair-te,

um grande temor de perder-te

uma angustiante necessidade de ti.

Talvez fosse melhor

que estivesses aqui:

assim eu não veria os navios

que partem para Társis,

não teria ambições além do desejo de seguir-te


Sabes bem que não quero ser uma reprodução da coroa que magoou tua fronte,

não quero ser um espinho no teu coração.

Entregarei teu recado,

antes que as portas se fechem,

que a noite chegue.

O caminho ainda é o mesmo:

difícil e longo,

mas a Paz tem gosto de submissão:

custa uma passagem para Nínive...

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo texto! As vezes acho que passo a vida tentando ir para Társis enquanto Nínive me espera.

Em Clóvis
http://cincosolas.blogspot.com