sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Quando percebi já tinha acabado...

O tempo não pára já dizia Cazuza. Existe uma dificuldade com qualquer ser humano em lidar com tempo. Um dia ouvi de um grande pastor – “O tempo deve estar ao nosso favor e não contra”. Concordo plenamente! Porém, é tão difícil. A vida pede uma correria desnecessária. A vida pós-moderna é repleta de competições e tarefas fúteis. Se não houver um atinar para o tempo e para os acontecimentos tudo se vai rápido – a vida torna-se correr atrás do vento.

Enquanto escrevo lembro-me de quatro anos atrás. Foram quatro anos de ralação. Dor. Sofrimento intenso. Saudade. Alegria. Medo. Ansiedade. Angustia. Melancolia. Altos e baixos. São tantos sentimentos e estágios que se tornam incomensuráveis. Somente quem vive sabe quanto dói à cura de um ferimento. Viver quatro anos num seminário é um ferimento profundo. Direi o porque:

- Você é separado de suas raízes;

- Os seus amigos ficam distantes;

- Uma mudança abrupta é pedida;

- A dor da saudade;

- O sentimento de que não será mais igual;

- A perda da estabilidade;

- Novas fronteiras;

- Novas conquistas;

- Novos amigos;

- Novos empregos;

- Uma igreja nova para adaptar-se;

- Casa diferente (não é a do sonho);

- Estilo de vida nunca sonhado;

- Crises de fé;

- Crises de existência.

Será que tudo isto não é uma dor(es)? Não é um ferimento quando é tirado de você a sua parte de vida? Por isso, somente quem viveu no seminário sabe do que falo. Principalmente para quem vem de lugares remotos. São anos em que filho chora e a mãe não vê. Mas a experiência é única e rica. Valeu passar por tudo isso e muito mais. Faria tudo de novo com algumas correções.

Neste mês concluí o meu bacharelado em teologia. Ufa! Consegui atingir a minha meta. Algumas igrejas contribuíram para este feito. Investiram e muito para a minha formação. Aproveitei cada dia e cada oportunidade. Digo com toda a certeza de que fiz um excelente seminário. Tudo que esteve ao meu alcance para ler e conhecer, eu assim fiz. A minha igreja não perdeu quando investiu na minha formação. Foram muitos livros. Muitos encontros teológicos. Muitas amizades acadêmicas.

Quando entrei para o seminário olhava somente para o fim do curso. A minha esperança era para que passasse logo os quatro anos. Infelizmente isto aconteceu. Na correria de trabalhos, leituras, viagens, compromissos com a igreja os anos passaram. Quando percebi já estava no fim. A pergunta é – será que foi suficiente? Será que consegui absorver tudo? O sentimento é de fazer tudo de novo, mas não há possibilidades. É preciso continuar a estudar. Para o próximo ano o curso será de filosofia. Serão mais anos de leituras e trabalhos. Quando terminar, imagino que terei o mesmo sentimento – ué, já acabou?

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