terça-feira, 19 de maio de 2009

O povo erra por falta de conhecimento...

Não consigo entender o imenso desprezo de alguns cristãos em relação à cultura. Será que não podemos encontrar nada de bom e útil na literatura machadiana? Nos escritos de Eça de Queiroz não existi beleza? Djavan, Lulu Santos, Roupa Nova e outros não conseguem transmitir beleza, verdade e conceitos da fé cristã. Já ouvi canções do Lulu Santos que abordam a restauração da humanidade, de onde ele tirou este conceito?
Quando se despreza a cultura, mas por outro lado se mantêm ativo, seja no nível político e social, a ação de tal pessoa torna-se estridente, severa e iracunda. Não parecemos com os que tem interesse em transformar a cultura, mas como alguns dos anabatistas que derrubaram a cidade Munster (Alemanha), na tentativa de destruir a cultura para implantar um paraíso sobre a terra. Esta atitude leva qualquer individuo a confundir a sua vontade com o reino de Deus.
É fácil entender a razão da subcultura da mediocridade que norteia o ambiente cristão. As pessoas que confundem as coisas celestes e as terrenas tendem a trivializar as terrestres quando acham que, em razão da Queda não existe nada (ou quase nada) verdadeiro, bom ou belo no mundo que não seja especificamente cristão. Assim, temos a subcultura de livros “cristãos”, música cristã e arte cristã. Existe até o “entretenimento cristão”, político cristão, turismo cristão em navios cristãos e assim por diante. Portanto, é imprescindível um retorno para o período áureo da história em que este debate boçal foi refutado. Essa confusão era presente na Idade Média, antes que a Reforma distinguisse e devolvesse a dignidade às duas esferas. Note o comentário de Calvino a esse respeito, contra os “fanáticos” que consideravam os afazeres seculares como “não espirituais” e, portanto, desnecessários:

Negaremos nós a verdade que brilhou sobre os antigos juristas que estabeleceram a ordem e disciplinas cívicas com grande equidade? Diremos que os filósofos eram cegos em sua fina observação e artística descrição da natureza? Diremos que os homens eram faltos de entendimento que conceberam a arte do discurso e nos ensinaram a falar razoavelmente? Diremos que são insanos os que desenvolvem a medicina, devotando o seu labor em nosso favor? Não, não podemos ler os escritos dos antigos sem grande admiração. Maravilhamo-nos com eles porque somos compelidos a reconhecer o quanto eram eminentes.
Mas contaremos qualquer coisa como digna de louvor ou nobre sem ao mesmo tempo reconhecermos que vem de Deus? Que nos envergonhemos de nossa ingratidão, na qual nem os poetas pagãos caíram, pois eles confessavam que os deuses tinham inventado a filosofia, as leis e todas as artes úteis. Esses homens a quem as Escrituras denominam “homens naturais” eram verdadeiramente argutos e sagazes na sua investigação das coisas inferiores. Que nós, de acordo, aprendamos de seu exemplo quantos dons o Senhor deixou a natureza humana, até mesmo após ela ter perdido seu verdadeiro bem.

Nenhum comentário: