terça-feira, 19 de maio de 2009

Quem está no controle?

Via de regra, quando converso com algum cristão sobre as lutas que existem na vida cristã, a tendência é supervalorizar a força do mal. Muitos procuram o diabo em tudo. Outros atribuem todas as catástrofes ao mal. Este mal é a força que se opõe à ação de Deus.
Na mentalidade cristã desta geração, tudo deve ser evitado. As pessoas não conseguem lidar com as múltiplas facetas do agir de Deus na humanidade. Recentemente conversei com uma pessoa que passou por diversas denominações sobre a graça comum e os dons que Deus derramou sobre a humanidade. Ela não conseguia entender que Deus poderia usar uma pessoa não-cristã para transmitir verdades sobre Si mesmo e sobre a fé cristã. Cabe aqui inserir o que Justino Mártir disse: “Toda verdade é verdade de Deus onde quer que se encontre”. Interagir com a cultura e as suas variantes formas é um pecado gravíssimo para esta pessoa. Ao mesmo tempo em que esta pessoa condena os ímpios porque seu entendimento está obscurecido pelo deus deste mundo, ao mesmo tempo a mente deste cristão está obscurecida da mesma forma. O problema agora é: quem está mais no escuro.
Muitos têm concluído que o mundo está sob o controle de Satanás e suas hostes. Os livros tremendamente populares de muitos escritores e líderes contemporâneos sobre “batalha espiritual” contribuíram para um dualismo desenfreado. Este dualismo toca na ação cósmica entre Deus e Satanás, luz e trevas, o bem e o mal. Na atualidade temos uma Bíblia que é voltada para a batalha espiritual. Isso nada mais é que heresia ou uma seita. O autor criou uma Bíblia dentro da Bíblia. Este tem sido um aspecto do impulso gnóstico que sempre volta a aparecer, vendo este mundo como um campo de batalha cósmica entre forças espirituais cujo destino será decidido pela habilidade de seres humanos terrestres com conhecimento e destreza espiritual. Muitos cânticos atuais desenvolvem este conceito de que o homem ter o poder para entrar em dimensões metafísicas para determinar um novo rumo.
Podemos constatar uma nova categoria de caçadores – os caçadores de demônios. O mapeamento espiritual, promulgado por um crescente número de missiólogos, pastores e líderes na tentativa de identificar “pontos quentes” de atividade do mal. O poder de refrear o mal e de anular a sua ação ficou sob a incumbência de homens que não passam de neblina da manhã. Naturalmente, isso soa como algo que foi retirado de um livro medieval de superstições, ma é levado muito a sério por bom número de líderes evangélicos. Se porventura alguém discordar de sua suposta teologia bíblica, tal pessoa será rotulada como um cristão de quinta categoria, ou alguém que foi cegado pelo inimigo para não compreender essa dimensão espiritual.Faz-se necessário destacar a passagem que muitos gostam de usar – “O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” [II Coríntios 4:4]. Não são “encontros de poder” que Paulo tinha em mente ao referir-se a Satanás como “o deus deste século”. Ele não argumentava que um bom Deus reina no âmbito espiritual enquanto um deus mau reina nas arenas “seculares” e “mundanas”. Satanás é apenas um deus deste mundo no sentido que ele está sendo servido como se fosse um deus. Como ministro da ira, Satanás cegou os corações de judeus e gentios, mas é sempre dentro da permissão divina, e essa permissão poderá ser retirada sempre que Deus quiser. Lembre-se da máxima de Lutero: “O diabo é o diabo de Deus”. Ressalto a importância da reflexão de Calvino sobre o tema em que argumentava que todas as influências demoníacas e satânicas do mal estavam e estão sob o comando soberano de Deus que controla tudo. Ele é o verdadeiro Senhor do Universo.

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