segunda-feira, 14 de abril de 2008

Dengue: muitas vítimas e algumas lições...

Este artigo é de um grande amigo. Considero o autor uma pessoa erudita e de profundo conhecimento. Ele compõe o trio dos meus conselheiros. O texto é uma reação diante da lastimável realidade.

Pr. Elio Portella Júnior

Enquanto uma grande multidão de cariocas se previne como pode da ação do mosquito, uma pequena multidão de cariocas padece, ou já padeceu dos sintomas provocados pelo vírus. Por ora, a tal dengue alcançou pouco mais de 50 mil pessoas, mas já vitimou toda a cidade. E, seja passando repelente ou tomando soro, todos nós somos forçados a pensar onde falhamos e como pudemos nos tornar reféns de um inseto.

A realidade é que, enquanto faz suas vítimas, a dengue também ensina algumas lições. Como imaginar que todo o seu esforço para eliminar de sua casa os possíveis criadouros do Aedes Aegypti pode valer muito pouco se seus vizinhos não fizerem o mesmo? Implacavelmente, a dengue nos faz precisar dos outros. A verdade é esta: eu preciso de você tanto quanto você precisa de mim e qualquer desequilíbrio nesta mútua dependência punirá ambos.

Esta curiosa situação não deixa calar a questão: o que não nos faz pensar que a vida, e não somente a dengue, também nos impõe esta realidade? Nós nos precisamos. Não nos criamos sós, não aprendemos sós, e não vencemos e perdemos sós. Vivemos em busca de gente com quem possamos compartilhar lágrimas e sorrisos e horrorizamo-nos só de pensar na idéia de passarmos nossos últimos dias privados da companhia daqueles de quem não ousamos viver longe. E mais: ao denunciar nossa fragilidade física, essa famigerada doença nos ensina quanto precisamos de Deus. Que tolice a nossa pensarmos que somos auto-suficientes, quando um mero mosquito é capaz de nos deixar às moscas!

Que vá logo a dengue, mas que fiquem suas lições. E que Ele, Deus - mesmo não precisando de nós - permaneça atento às nossas demandas, plenamente interessado em dar fim à nossa solidão e em afastar de vez das nossas mentes a falsa e precária certeza de que não precisamos de ninguém.

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