A existência humana cria um espanto. Um universo complexo e vasto faz da vida humana um grande mistério. Muitos pensaram e falaram sobre este enigma. Palavras faltam para descrever o mistério da vida.
O que constrói a vida humana? Será o mundo a sua volta? O próprio ser humano? Ou será um determinismo biológico ou transcendente? Pensar sobre a existência humana e sua formação requer no mínimo um diálogo com outras fontes do saber. A teologia não terá a única resposta.
Um filósofo alemão de ascendência judaica de nome Edmund Husserl desenvolveu um trabalho interessante sobre o ser humano. Ele não duvidava da existência do que está a nossa volta. A sua compreensão de mundo era a comunhão do que está dentro e fora do homem.
Esta apresentação do mundo é um fenômeno. Deve entender-se este termo fenômeno não como uma fenomenologia humana ou religiosa. Apenas no sentido de que como os fenômenos do mundo organizado impactam a formação do ser humano. São algumas questões preconcebidas da realidade que interverem a leitura da própria realidade. Isto recebe então, o nome de fenômeno.
A consciência recebe quase que de uma maneira imposta os aparecimentos de fenômeno. A consciência possa por um processo de aprendizagem antes de qualquer reflexão. Ou seja, as coisas entram na consciência sem uma balança. É depois que acontece a apuração do entendimento reflexivo. Kant nos seus estudos mostrou que o que denominamos mundo é o que se apresenta espontaneamente a nossa consciência. Husserl chamou esta ação cognoscitiva de mundo vivido. É interessante notar que existe um mundo vivo e espontâneo que não precisa receber nenhuma ação para criar uma ação. É perfeitamente um organismo vivo. Isto cria sérias dificuldades. A consciência humana não é capaz de elaborar um sistema organizacional para tantas informações e formações que recebe deste mundo vivo. A realidade torna-se incompreensível para a consciência.
Husserl faz uma construção nova sobre esta interpretação dos fatos fenomenológicos. O seu novo método faz um corte histórico no pensamento filosófico moderno. Ele desenvolveu um método de redução eidética. No pensamento kantiano, a filosofia não mais entende que o significado das coisas origina-se nelas próprias. A redução eidética é um procedimento, uma espécie de selo de garantia que atesta o que as coisas são. Isto é de grande importância para captar o mundo. E não somente o mundo como fenômeno, mas todas as demais realidades, isto se aplica à dimensão da fé. Reduzir significa entender o fato na consciência. Se este processo não for feito, não haverá compreensão. Uma vez não havendo compreensão não há consciência. Reduzir não é empobrecer, mas é tornar o incompreensível, a realidade infinita para perto do indivíduo. Portanto, é o indivíduo que vai dizer o que as coisas são. Existe nisso uma convicção de que o mundo dos significados não seja inato. Sendo assim, o entendimento não pode vir da experiência. Kant então elabora um novo conceito a partir disto – a subjetividade transcendental.
Husserl lapidou e aprimorou este conceito kantiano. Ele percebeu algumas falhas e traduziu um conceito aparentemente novo também – “mundo vivido” e “ser-no-mundo”. Assim pensava Husserl: “Tudo quanto existe somente pode ser para nós um fenômeno da Existência e não uma realidade em si mesma”.
Surge uma pequena diferença entre os dois pensadores. A diferença entre Kant e Husserl, é que para Husserl, a intencionalidade da consciência é criadora, permite não apenas pensar o mundo, mas faze-lo aparecer. Somente a consciência pode gerar vida para o mundo. Aqui nasce um questionamento – será que mundo deixa de ser mundo para um indivíduo particular que fechou a consciência para ele? Isto produz um absolutismo incrível. Neste conceito não há espaço para o relativismo. Todo ser humano tem uma consciência. Todo ser humano cria e entende a sua própria realidade. Até mesmo um deficiente mental tem a sua própria consciência e cria a sua visão de mundo. Ou seja, a consciência é inerente a natureza humana.
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