sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

É preciso discordar de Martin Heidegger (1889-1976)...

Heidegger foi um erudito e um grande contribuidor para a expansão do pensamento ocidental. Ele recolocou o problema do ser e refundou a questão da Ontologia, quer pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Apesar de várias contradições nos seus estudos, ele pensou alguma coisa interessante sobre metafísica.

Foi um homem desequilibrado nos seus posicionamentos. Em maio de 1933, ele inscreveu-se no partido Nazi. Justamente neste ano Hitler chegou ano poder. Depois Heidegger se colocou contra a perseguição antisemita (Nova Ortografia da Língua Portuguesa). Passou algum tempo, Heidegger envolveu-se novamente com o Nazismo. Entre tantas outras coisas, assim foi Heidegger.

Nestas outras formas de ser que Heidegger foi, está a dificuldade de entender uma afirmação cunhada por ele: “Aquilo que surge na consciência revela o que o homem é”. Surge uma outra questão – “não sabemos o porque que pensamos aquilo que pensamos”. O Zenbudismo (Nova Ortografia da Língua Portuguesa) diz que o homem controla todos os seus pensamentos. Mas o desenvolvimento deste artigo não parte deste princípio. “Não sabemos porque pensamos o que pensamos” é de fato, uma constatação clara. Se o homem se resumir naquilo que passa por sua consciência ele está fadado a uma série de loucuras e tormentos. São tantos os pensamentos que vão e vem na mente humana que não são capazes de determinar o ser humano. Isto porque o pensamento não é um ponto fixo. Assim também é o ser humano – integração mente e corpo. Se aquilo que passa na consciência do ser humano o revela, ele é tudo e nada ao mesmo tempo. Isto cria um estado de desordem e fatalismo. Acaba com a possibilidade do ser humano inverter o seu pensamento e mudar não somente a própria realidade como o estado da sua consciência. O que passa pela consciência de um indivíduo hoje não passará necessariamente amanha. O que ele será amanha? Neste sentido não se sabe. Embora o homem seja um mundo de possibilidades, é preciso ressaltar que estas possibilidades estão na sua ação de construção de vida. Estas possibilidades existem para não reduzir o ser humano unicamente a um fato da consciência. O que é o homem? Será consciência? É preciso pensar para existir? O pensamento é uma atividade que se elabora sobre a condição de existir e existir é mais do que pensar. Se for levado em consideração que a consciência é formada por aquilo que se apresenta, então, o ser humano não é consciência, mas um aglomerado de ações e fatores que estão ao seu redor. Aquilo que o homem pensa de si não está isolado do seu entorno. A consciência do eu não se separa do entorno. Neste sentido o outro é importantíssimo para a formação da consciência. Existe um filme chamado “A última das guerras”, ele é extraordinário porque revela muito bem isto. Tem uma frase utilizada por um soldado que é a seguinte: “Quando olhamos dentro dos olhos do nosso inimigo e nos vemos, entendemos porque o odiamos”. Mas o filme traz um outro ensinamento que é a capacidade de amar. Outrora o sentimento era de ódio e vingança pelo inimigo. Agora o sentimento é de amor e compaixão. A capacidade de mudar o pensamento ligado ao sentimento é de segundos.

Portanto, nem tudo que passa pela consciência pode determinar o que é o homem. Se um indivíduo pensar em assassinato, será ele um assassino? Se alguém pensar na possibilidade de embriagar-se, será ele um alcoólatra? Se um indivíduo pensar sobre o que aconteceria com ele se cometesse um suicídio, seria ele um suicida em potencial? Não se pode afirmar categoricamente estas questões. Desta forma, é preciso discordar de Heidegger. Na complexidade da mente humana não se pode dizer que ela seja um sistema definitivo porque simplesmente pensou ou cogitou algo.

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