sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Gerdau, P-SOL & Cia. Ilimitada...

por Heitor De Paola

É impressionante, mesmo para quem é do ramo, a pasmaceira que reina entre o que deveria ser a “direita” no Brasil. Em qualquer país do mundo a notícia que comentarei a seguir daria pano para manga, aqui nem para lencinho de limpar batom de madame.

Segundo despacho de 30/08 da repórter Sinara Sandri, da Agência Reuters, “Doação da Gerdau ao Psol abre debate ideológico na esquerda”, noticia-se que a Metalúrgica GERDAU doou R$ 100.000,00 à campanha da candidata do Psol, Luciana Genro à prefeitura de Porto Alegre. A doação, que representaria cerca de 15% de todo o orçamento da sua campanha, causou frisson entre as esquerdas, abrindo “uma batalha ideológica entre integrantes de partidos de esquerda”.

Segundo o despacho “a questão se transformou em disputa ideológica já que o financiamento de campanha é apontado como origem das práticas de corrupção e vem sendo criticado por políticos de esquerda. No caso de Luciana Genro, a doação já serve como combustível para seus adversários. ‘A Luciana era vista como alguém que não se entregava (aos interesses econômicos). Infelizmente, ela aceitou o financiamento da Gerdau’, disse Fernando Correa, assessor de imprensa do PSTU em Porto Alegre”.

Segundo o Psol, a Gerdau teria procurado a candidata para oferecer o financiamento, o que é contrariado pelo grupo empresarial que declarou à Reuters, por meio de nota, que “apoiou de forma igualitária” doando 100 mil aos “candidatos à Prefeitura de Porto Alegre que procuraram a empresa”.

Enquanto a esquerda debate se a doação – e sua aceitação - é ou não uma atitude ética, onde está a “direita”? Ah, a direita brasileira, cad’ela? Pelo andar da carruagem foi passear com a Conceição, aquela que, “se sumiu, ninguém sabe, ninguém viu!” Mas não é que a direita é representada exatamente pelo “Dr. Jorge”, como é carinhosamente chamado pelos seus pupilos ao dono do grupo, Jorge Gerdau Johannpeter?

A tal direita, em Porto Alegre e adjacências, é controlada com mão de ferro - e subsidiada - pelo “Dr. Jorge” através do IEE (Instituto de Estudos Empresariais) e do IL (Instituto Liberdade). Desde 1989 promovem anualmente um tal de “Fórum da Liberdade”, o “maior espaço de debate político, econômico e social da América Latina” que chamam de contraponto do Fórum Social Mundial. A agenda para o próximo, abrilde 2009, “Agora o Mercado é o Mundo” já está pronta. Nestes fóruns geralmente são convocados palestrantes direitistas do quilate de Frei Betto e Ciro Gomes, supostamente para debater com intelectuais ‘liberais’.

De há muito se conhece a história do financiamento das esquerdas pelos empresários. A doação dos banqueiros à campanha do Lula tornou-se pública e a razão para tal estão aos olhos de quem quiser ver: os banqueiros jamais ganharam tanto dinheiro quanto nos últimos seis anos – melhor seria dizer 14, pois FHC os beneficiou quase tanto quanto Lula, vide o vergonhoso PROER. Desde então, os bancos imperam soberanos, cobram o que querem dos correntistas.

Historicamente, nenhum movimento revolucionário conseguiu nada sem o financiamento do empresariado. No Capítulo XVI do livro O Eixo do Mal Latino-Americano (Uma aliança improvável... mas real) abordo este assunto, mas para maiores detalhes ver de Anthony C. Sutton, Wall Street and the Bolshevik Revolution (Buccaneer Bokks, NY) e The Wall Street and the Rise of Hitler (GSC Associates, San Pedro, CA).

Enquanto as esquerdas debatem se é ou não moral receber a doação, ninguém do outro lado contesta a moralidade da doação feita por “Dr. Jorge”. Ninguém se pergunta: qual o interesse do Grupo Gerdau em doar dinheiro para um partido que tem em seu programa a destruição do capitalismo e da livre empresa? Ninguém pergunta por que exatamente para a filha do Ministro da Justiça de um governo com o qual o Grupo tem milionárias parcerias. Uma amiga e correspondente comentou comigo: “Imoral não é o P-SOL aceitar, mas a Gerdau oferecer (ou aceitar doar)”.

Além do aspecto moral existe aqui a hipocrisia de se travestir de paladino da liberdade. Não creio que empresários deste tipo estejam comprando a corda com que serão enforcados, como dizia Lenin: estão comprando a corda com que seremos nós os enforcados, tal qual Armand Hammer, que morreu de velho freqüentando os círculos do poder de Washington enquanto seu amigo e aliado Lenin – e seus descendentes diretos – trucidaram dezenas de milhões.

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