terça-feira, 30 de setembro de 2008

A grande dualidade humana...

Paulo quando escreve para a igreja em Roma ele diz:

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.

Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço.

E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.

Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.

Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.

Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.

Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. [1]

Ou poderia ser expresso com outra propriedade:

A alegria do pecado às vezes toma conta de mim

E é tão bom não ser divi.....na

E me aproxima do céu

E eu gosto de estar na terra cada vez mais

[...] O direito ainda que profano

[...]Quem se diz muito perfeito

Na certa encontrou um jeito, insosso

Pra não ser de carne e osso [2]

Esta tensão marca a vida de qualquer ser humano. O homem deseja ser o que não consegue ser. Para o cristão é a grande crise de ser santo. Muitos então, criam sistemas disciplinares para a vida cristã na busca de atingir uma realidade que não seja a sua guerra interna. Há uma certa inquietação no coração do homem. Ser o que não pode ser.

As criaturas são ávidas por desejarem satisfazer as demandas da sua finitude. Finitudes estas que são tantas que chegam ao ponto de serem infinitas. Neste ambiente são aflorados a devassidão, a depravação e todos os desejos loucos que o ser humano se entrega.

Mesmo que seja passageira existe alegria em conceber o pecado. Será que ninguém sente um prazer quando peca? Na luta entre pecar ou não pecar, a tensão é imensa. Quando o pecado é realizado o sentimento é de alívio. Mesmo que a tristeza venha depois, a sensação é – acabou a tensão.

A grande questão é que o ser humano está à procura da plena satisfação. É preciso reconhecer que não existe outra fonte que não seja as delícias da presença augusta de Deus. Mesmo no pecado, mas de forma perversa o homem está na busca de Deus. O homem quer o prazer e o prazer é Deus. O prazer no proibido fascina o homem. Mas este fascínio poderia se voltar para o Deus inacessível. Para o Deus absconditus.

Agostinho já disse com muita propriedade sobre esta questão:

Todos aqueles que se afastam de ti e contra ti se rebelam, a ti estão imitando de forma pervertida. Ainda que imitando-te desse modo, mostram que és o criador do universo e, portanto, que não há para onde nos possamos afastar totalmente de ti. [3]

Além de rebeldia o pecado tem uma dimensão de procura por Deus. O que de fato o homem deseja é a liberdade que a libertação proporciona de romper com a tensão que ele vive o tempo todo. Pode até soar escandaloso, mas no pecado é possível encontrar Deus que chama o homem para descansar nele.



[1] Romanos 7: 14-20.

[2] Música Carne e Osso. Composição: Zélia Duncan e Moska.

[3] AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 1997. p. 59.

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