sexta-feira, 16 de maio de 2008

Você provavelmente é um cessacionista, também...

por Phillip Johnson

Se você crê que algum dos dons espirituais miraculosos foram operantes somente na era apostólica, e que alguns ou todos aqueles dons cessaram gradualmente antes do final do primeiro século, então você é um cessacionista.

Se você crê que todos os dons espirituais descritos no Novo Testamento têm continuado com toda a sua intensidade, sem mudança ou alteração desde o derramamento inicial de línguas em Pentecoste, então você é um continuísta.

É muito difícil encontrar um continuísta real. Não-cessacionistas absolutos existem somente no segmento bizarro do movimento carismático. Eles são o tipo de pessoas que gostam de declarar outras como sendo “apóstolos”, reivindicando (e inevitavelmente abusando de) todas as prerrogativas apostólicas, algumas vezes inventados histórias fantásticas sobre pessoas ressuscitando dentre os mortos, torcendo e corrompendo virtualmente quase toda categoria de doutrina relacionada ao evangelho, à expiação, ou ao discipulado e auto-negação cristã.

Mas os carismáticos evangélicos (especialmente a variedade Reformada) não crêem realmente que haja apóstolos hoje que tenham a mesma autoridade que os Apóstolos na igreja primitiva. Alguns podem usar o termo apóstolo, mas eles invariavelmente insistem que o apostolado que eles reconhecem hoje é um tipo de apostolado inferior ao ofício e dom que pertenceram aos apóstolos no primeiro século.

Agora, considere as implicações dessa posição: ao argumentar a favor de um tipo de apostolado inferior, eles estão realmente concordando que o dom de apostolado autêntico e original do Novo Testamento (Efésios 4:11) cessou. Eles mesmo têm, de fato, abraçado um tipo de cessacionismo.

Nota: Não há uma garantia bíblica maior ou menor para essa visão do que para qualquer outro tipo de cessacionismo.

Apesar de tudo, todo verdadeiro evangélico sustenta alguma forma de cessacionismo. Todos nós cremos que o cânon da Escritura está fechado, correto? Nós não cremos que devemos procurar adicionar novos materiais inspirados ao cânon do Novo Testamento. Nós sustentamos a fé que foi de uma vez por todos entregue aos santos (Judas 3) – entregue na pessoa de Cristo, através do ensino dos seus apóstolos, e escrituralizada no Novo Testamento. Cremos que a Escritura, como a temos, está completa. E aqueles que não crêem que ela está, não são realmente evangélicos. Eles são hereges e falsos mestres, que querem adicionar algo à Palavra de Deus.

Mas note isso: se você reconhece que o cânon está fechado e que o dom de apostolado cessou, você já concordou com o cerne do argumento cessacionista.

De qualquer forma, isso não é tudo. A maioria dos “carismáticos reformados” famosos vão mais adiante ainda. Eles livremente admitem que todos os dons carismáticos em operação hoje são de uma qualidade inferior àqueles dons sobre os quais lemos no Novo Testamento.

Por exemplo, no livro o The Gift of Prophecy in the New Testament and Today (O Dom da Profecia no Novo Testamento e Hoje) de Wayne Grudem – provavelmente a obra mais importante e influente escrita para defender a profecia moderna (Nota do tradutor: Publicado no Brasil pela Editora Vida) – Grudem escreve que “nenhum carismático responsável sustenta” a visão de que a profecia hoje é a revelação infalível e inerrante de Deus (p. 111). Ele diz que os carismáticos estão argumentando a favor de um “tipo inferior de profecia” (112), que não é do mesmo nível que as profecias inspiradas dos profetas do Antigo Testamento ou dos apóstolos do Novo Testamento – e que podem até mesmo ser (e mui frequentemente são ) falíveis.

Grudem escreve,

há quase um testemunho uniforme a partir de todas as seções do movimento carismático de que a profecia [de hoje] é impura, e contém elementos que não devem ser obedecidos ou confiados.

Jack Deere, anterior professor do Seminário de Dallas, que se tornou um advogado do movimento carismático, admite da mesma forma em seu livro Surprised by the Power of the Holy Spirit (Surpreendido pelo Poder do Espírito Santo), que ele não tem visto ninguém hoje realizando milagres ou possuindo dons da mesma qualidade que os sinais e maravilhas da era apostólica. De fato, Deere argumenta veementemente por todo o seu livro que os carismáticos modernos nem mesmo reivindicam ter dons de qualidade apostólica e capacidades de operar milagres. Uma das principais linhas de defesa de Deere contra os críticos do movimento carismático é sua insistência que os dons carismáticos modernos são realmente inferiores àqueles disponíveis na era apostólica, e, portanto, ele sugere, eles não devem ser sustentados como padrões apostólicos.

Novamente, considere as implicações dessa reivindicação: Deere e Grudem têm, com efeito, concordado com todo o argumento cessacionista. Eles têm admitido que eles mesmo são um tipo diferente de cessacionistas. Eles crêem que os verdadeiros dons apostólicos e milagres cessaram, e eles estão admitindo que o que eles estão reivindicando hoje não é o mesmo charismata descrito no Novo Testamento.

Em outras palavras, os carismáticos modernos já têm adotado uma posição cessacionista. Quando pressionados sobre o assunto, todos os carismáticos honestos são forçados a admitir que os “dons” que eles recebem hoje são de qualidade inferior àqueles da era apostólica.

Aqueles que falam em línguas hoje não falam em dialetos inteligíveis ou traduzíveis, da forma como os apóstolos e seus seguidores fizeram em Pentecoste. Os carismáticos que ministram em campos missionários estrangeiros não são tipicamente capazes de pregar o evangelho miraculosamente nas línguas dos seus ouvintes. Os missionários carismáticos têm que entrar na escola de idioma como qualquer outra pessoa.

Se todos os lados já reconhecem que não há operadores modernos de sinais e maravilhas que possam realmente duplicar o poder apostólico, então não temos nenhum argumento real sobre o princípio do cessacionismo, e, portanto, todas as demandas histéricas para o suporte bíblico e exegético para o cessacionismo são supérfluas. O ponto real de nossa discordância se reduz somente a uma questão de grau.

Num livro muito útil, Satisfied by the Promise of the Spirit (Satisfeito pela Promessa do Espírito), Thomas Edgar escreve,

O movimento carismático ganhou credibilidade e aceitação inicial ao reivindicar que seus dons eram os mesmos daqueles de Atos. Para a maioria este é o porquê eles são confiáveis hoje. Todavia, agora, umas das suas defesas primárias é a reivindicação de que [os dons] não são os mesmos [que aqueles no Novo Testamento]. Confrontados com os fatos, eles têm tido que revogar a própria fundação da sua razão original de existência. (p. 32)

Quanto aos argumentos bíblicos, na própria Escritura, há ampla evidência de que os milagres eram eventos extraordinários e raros, usualmente associados de alguma forma significante com as pessoas que pronunciavam discursos inspirados e infalíveis. É óbvio a partir da narrativa bíblica que os milagres foram declinando na freqüência mesmo antes da era apostólica aproximar-se do fim. A Escritura diz que os milagres foram sinais apostólicos (2 Coríntios 12:12), e, portanto, por definição, eles pertenceram especificamente e unicamente à era apostólica.


Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 18 de Janeiro de 2006.

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