Quem sou eu?
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que deixo a minha cela
sereno, alegre e firme
qual dono que sai de seu castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que falo como os que me guardam
livre amável e com clareza
como se fosse eu a mandar.
Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e altivo
como alguém acostumado a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem a meu respeito?
Ou sou apenas o que sei a respeito de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
respirando com dificuldade, como se me apartassem a garganta,
faminto de cores, de flores, do canto dos pássaros,
sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira por causa da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
irrequieto à espera de grandes coisas,
sm angustia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para criar,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo? Diante das pessoas um hipócrita?
E diante de mim mesmo um covarde queixoso e desprezível?
Ou aquilo que ainda há em mim será como um exército derrotado,
que foge desordenado à vista da vitória já obtida?
Quem sou eu? O solitário perguntar zomba de mim.
Quem quer que eu seja, ó Deus, tu me conheces,
sou teu.
(Dietrich Bonhoeffer)
Um comentário:
Christopher,
Tenho notado que você tem postado várias texto do Bonhoeffer. É um cristão que tenho interesse de conhecer mais. Você sabe se tem alguma obra dele em português?
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