sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Só funciona assim?

Não compreendo a devoção de algumas pessoas. Para elas, o único modo de se achegar a Deus é a criação da autocomiseração. Elas necessitam dizer algumas palavras: “Eu não presto. Sou um imundo. Sou um sem vergonha. O verme é melhor do que eu”. Reconheço que é preciso o momento da confissão. Mas basear o relacionamento com Deus em sentimentos ou confissões que menosprezam a própria humanidade, não é possível entender isso como algo normativo da Bíblia. Será que não posso reconhecer diante de Deus as minhas qualidades? Será que se torna um pecado dizer em oração ou numa conversa do dia com Deus que fiz algo benéfico e que possa existir alguma coisa boa em mim? Será que negar tudo isso não seria negar a vida do próprio Deus em mim? Ora, se tudo de ruim habita em mim, onde está a presença de Deus? Será que a impressão da pessoa de Deus na minha alma ficou refreada em se manifestar por forças do pecado? Ao mesmo tempo em que Paulo se considerava um miserável, ele destacava várias de suas qualidades.

Algumas pessoas imaginam ou criaram esta imagem – Para se relacionar com Deus é preciso se considerar um nada! Isto gera um problema – se não tenho nenhum valor porque Deus se interessa tanto por mim? Pois quem despreza a si e ao outro não poderá fazer nada por si e pelo o outro. De alguma forma isso cria um relacionamento retribucionista – se o ser humano se menospreza ou se inferioriza diante de Deus, Deus então, passa a amá-lo e a aceitá-lo.

Deus não rejeita as potencialidades que temos. Isto é o reflexo da sua presença em nós. Sob a perspectiva de que somos imagem e semelhança de Deus, é possível dizer que temos algo de bom. Não é um processo de divinização do ser humano como pensou a modernidade. Muito menos de um suposto ufanismo do humanismo em pensar que o ser humano é tudo de bom. Mas a possibilidade de pensar como Lutero de que o pecado não ofuscou a beleza da presença de Deus no ser humano.

É preciso manter um equilíbrio do pessimismo antropológico de Agostinho e de um certo humanismo de Lutero. A maneira de se achegar a Deus pode ser diferente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Christopher,

Temos dificuldades de equilibrar a realidade de que somos criados de forma especial por Deus e que entramos neste mundo com marcados pela Queda.

O pior dos pecadores tem o valor da dignidade humana, pois a imagem de Deus, que foi seriamente ofuscada, ainda permanece nele. Assim, o mais baixo nível humano permanece como a coroa da Criação.

O por outro lado, o mais santo dos convertidos, é absolutamente indigno do céu, e somente pelo que Jesus fez em seu favor poderá adentrar os portões da glória.

Se pudermos compreender isso, então veremos em nós qualidades que podem até nos distinguir no plano humano, e por elas daremos graças a Deus, pois "nEle existimos, no movemos e respiramos". Mas nãos eremos loucos de pensar que tais qualidades nos credenciam diante de Deus, e confiaremos completa e unicamente nEle, para recebermos suas bênçãos na terra e a glória no céu.