segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Militares Reagem a Tarso; Evento Lembrará ''Passado Terrorista'' do Governo Lula. Fazem Muito Bem!

por Christiane Samarco, no Estadão.

Os militares decidiram dar o troco ao ministro da Justiça, Tarso Genro, por causa da audiência pública convocada por ele na semana passada para debater a punição de "agentes do Estado" que tenham praticado tortura, assassinatos e violações dos direitos humanos durante o regime militar. Revoltados com o que consideram "conduta revanchista" do ministro, oficiais da reserva, com o apoio de comandantes da ativa, patrocinarão uma espécie de anti-seminário no Clube Militar do Rio de Janeiro, na próxima quinta.
Em recente conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, disse que é preciso "pôr uma pedra sobre este assunto", até porque o tema está saturado e o objetivo da Lei da Anistia foi encerrar um debate que "abre feridas e provoca indignação". Um general da ativa que acompanha a movimentação dos colegas reformados disse ao Estado que os militares vão se manter calados, mas avisa que a reserva se manifestar.
Segundo este general, o objetivo do seminário de 7 de agosto é debater o que consideram "passado terrorista" de autoridades do governo Lula e de personalidades do PT, discutindo, inclusive, se não seria o caso de puni-los pelos excessos cometidos na luta armada. O que mais irrita oficiais das três Forças é o fato de a maioria deles ter recebido indenizações. A queixa geral é de que eles também mataram e seqüestraram e agora querem provocar os militares.
No seminário, uma das idéias é aproveitar a estrutura do Clube Militar, como agremiação que desde a República Velha vem funcionando como uma espécie de porta-voz do setor, para exibir uma série de slides com fotos e uma biografia resumida de ministros de Estado e petistas ilustres. A lista começa pelo ex-ministro José Dirceu e tem o próprio Tarso Genro em quinto lugar. O segundo posto é dado à ministra da Casa Civil, Dilma Roussef.
O ministro da Comunicação, Franklin Martins, aparece em quarto, logo atrás do deputado José Genoino (PT-SP). Mais atrás, estão os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
"Será que quem seqüestrou o embaixador norte-americano e o prendeu, dizendo todo dia que ia matá-lo, não cometeu ato de tortura igualmente condenável?", questionou o presidente do Clube Militar, general da reserva Gilberto Barbosa de Figueiredo, em recente entrevista ao Estado. Ele não mencionou Franklin como um dos idealizadores do seqüestro, mas antecipou o tom do seminário.
O general defende a tese de que, se for para julgar quem torturou, como sugeriu Tarso, o julgamento deve ser estendido a todos, incluindo os que estão na cúpula do governo. A lista já circula entre oficiais da ativa e da reserva por meio de mensagens pela internet. Nela, os militares se queixam de que o presidente Lula governa "cercado por remanescentes da luta armada".

Comento
Vocês sabem: já escrevi bastante sobre esse assunto, e minha opinião é rigorosamente a que vai acima, expressa pelos militares — contra os quais lutei a partir dos 14 anos: no começo, entre 1975 e 1981, contaminado, infelizmente, pela esquerdopatia. Também já escrevi muito a respeito da excrescência em que se transformaram as indenizações e pensões. A tal comissão que cuida do assunto, uma das promotoras, junto com Tarso Genro e Paulo Vannuchi, do surto revanchista, evidencia bem a sua credibilidade ao embarcar na tese. Transformou o próprio trabalho de reparação numa militância.

Eu defendo a Lei da Anistia, de 1979 — aquela que perdoou os crimes políticos e conexos e que abriu caminho para a redemocratização. Mas, se é o caso de revê-la, então que seja para todo mundo: com efeito, o estado de exceção implantado em 1964 não previa a tortura, mas também não previa o terrorismo — nem aquele nem este, democrático.

E eu lhes digo, hein? Não fosse o caráter revanchista da coisa, que pretende punir só um dos lados, eu talvez aderisse alegremente à defesa da revogação daquela lei: seria um bem para o Brasil meter em cana todos os ex-torturadores e todos os que aderiram ao terrorismo. Os primeiros, felizmente, são hoje de uma irrelevância danada. Já os segundos... Eu não tenho dúvida de que, de quebra, teríamos um país mais decentes também na administração da coisa pública.

Mas, obviamente, a brincadeira é outra. O que alguns estão tentando fazer é nada menos do que aderir de novo ao terrorismo: desta feita, é o terrorismo legal. Faz sentido: nunca foram democratas. Continuam a não ser. Quando retornaram à cena política, depois da anistia, resolveram usar a democracia apenas como um meio tático para conquistar os velhos objetivos. Será que ainda querem o socialismo de velho estilo? Ah, não. Eles sabem que isso e impossível. Contentam-se com uma ditadura branca do “partido”. Não por acaso, alguns desses valentes estão nos e-mails trocados pelos terroristas das Farc.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo.

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